Rena já não se lembrava que dia da semana era. Ficou muito triste por causa disso, pois o que ela mais queria era continuar tendo consciência de tudo a sua volta. Esquecer-se do sai era como começar a perder o controle das coisas.

Ela olhou para Toeto. O gigante estava sentado displicente, comendo pedras.

‘Ah, como eu queria ser como ele, não pensa em nada...’

O gigante estava distante naquele momento, perdido em devaneios. Ele se lembrava de como era sua casa, sentia muita saudade de seus pais. O que estariam fazendo? Será que sentiam falta dele?

- Hey, Toeto! Vamos, temos que ir andando se quisermos voltar para casa!

O gigante olhou para a garota. Ele não entendera nenhuma palavra, mas sorriu mesmo assim. Aquela gigantesca criatura precisava muito de um amigo naquele momento.

Os dois caminharam para o leste. Rena pensava que se seguisse sempre para a mesma direção talvez eles encontrassem alguém. Era a melhor idéia que ela tivera até então.

O cenário era sempre o mesmo, prédios em ruínas, sem vento ou qualquer ser vivo.

A menina começou a se sentir cansada. Cansada de caminhar, cansada de não conseguir encontrar ninguém até agora. Cansada de tentar se lembrar de que dia era esse.

Ela, de repente, se sentou, ali mesmo no chão. Colocou as mãos no rosto e começou a chorar. Foi a primeira vez que ela chorou de cansaço, desde que começou a sua jornada.

Toeto ficou desconcertado. Até aquele momento ele tinha visto a garota sempre sorrindo, forte, determinada. Agora ele vê a menina ali, sentada, chorando. Ele não sabia o que fazer. Então, o gigante teve uma idéia.

Ele se afastou da menina e caminhou em direção a uma grande loja que havia ali perto. Andou com cuidado para não derrubar nada no caminho. Ele parou na frente da grande loja e, com muito cuidado, ele tirou parte do telhando, expondo o interior da loja. Com sua gigantesca mão ele pegou algumas prateleiras e refrigeradores do interior da loja e, cuidadosamente, caminhou para onde estava a menina.

Rena ainda estava chorando, soluçava muito, não via o que seu amigo estava fazendo. Ela só prestou atenção quando ouviu o tremendo estrondo que fez quando o gigante soltou as coisas que ele trouxera da loja, bem na sua frente.

Tinha metal e madeira retorcidos, junto com centenas de produtos da loja.

O gigante gesticulou para que ela fosse até lá. Talvez para que ela pegasse algo dali e comesse.

Rena se levantou e caminhou em direção daquela montanha de coisas. Limpou o rosto com as mãos.

- Você pegou essas coisas para mim? – Disse a garota, olhando para o seu grande amigo.

Ele sentou-se à sua frente, fazendo o chão tremer. Ela riu, pois sempre que ele fazia isso ela achava muito engraçado.

Ele também sorriu. Toeto se sentia muito feliz por ter feito sua pequena amiga parar de chorar.

Ela mexeu nas coisas que ele havia trazido, encontrou algumas frutas, sentou-se e comeu. Pensava em como começou a se comunicar com seu novo amigo. Era estranho, ela não conseguia entende-lo, mas parecia que ele a entendia muito bem.

Já no final da tarde, depois de muito caminhar ela resolveu que deviam achar um abrigo para passar a noite. E estava esfriando também.

- Toeto, vamos descansar debaixo daquele viaduto. – Disse a menina, apontando para uma grande construção a sua frente.

Ela caminhava com dificuldade, pois seus pés estavam cheios de bolhas. Ela já começava a sentir a exaustão por andar tanto e se alimentar mal.

O gigante observa a menina mancando enquanto caminha e resolve que pode ajudá-la. Ele põe sua mão gigantesca no chão, do lado dela.

Rena leva um susto, nunca tinha chegado tão perto de Toeto daquele jeito.

- O que foi? O que você quer? – Perguntou ao amigo, não entendendo muito bem.

O gigante sinalizou com o dedo da outra mão, como se dissesse que ele queria que ela entrasse ali.

Claro que Rena havia entendido, mas se sentia um pouco insegura, principalmente por que ela tinha medo de altura. Mas ela olhou para o rosto de Toeto, ele parecia tão tranqüilo que lhe transmitiu segurança.

Ela caminhou lentamente em direção de sua mão. Escalou cuidadosamente aquela gigantesca mão de pedra. Ela nunca tinha tocado seu amigo. Ele era frio, como uma rocha mesmo. Meio sem jeito ela conseguiu sentar-se na palma da mão de Toeto. Ele se levantou e começou a caminhar lentamente em direção do viaduto.

Rena estava tremendo. Ela devia estar à uns oito metros do chão. Mas achou a gentileza de seu amigo uma coisa muito doce.

- Obrigada, Toeto. – Disse a garota, com os olhos rasos de lágrimas.

Chegando ao viaduto, Toeto baixa sua mão para que Rena desça. Ela desce, senta-se no chão e tira os sapatos. Seus pés estão realmente muito machucados.

- Vamos descansar aqui, Toeto. Amanhã nós continuaremos a procurar, está bem?

O gigante que não entendera uma só palavra, apenas sorriu, sentando-se a sua frente. O chão treme novamente. Rena teme pela estrutura do viaduto, mas parece estar tudo bem.

A menina começa a pensar sobre o que ela estava procurando mesmo. Aquele pensamento que a atormentou o dia todo voltou. Ela decide tocar seu violino, para distrair-se.

Toeto ficou muito feliz de vê-la tocando aquela melodia tão bela. Os dois ficaram felizes por estarem ali, naquele momento.

Rena se encosta-se à gigantesca perna de Toeto, e ali adormece. Ela não caminhou o bastante para ver que, na colina logo à sua frente havia uma mensagem deixada por alguém, escrita com pedras no gramado.

Naquela noite, Rena sonhou com sua família. Seu pai e sua mãe sentados à mesa. Ela se senta e começa a agradecer pela comida. Assim que termina, sua mãe olha para ela e diz:

- Filha, como hoje é sexta-feira fiz frango assado. Sei que você adora!

Ela olha curiosa para sua mãe e diz:

- Ahh, então hoje é sexta-feira...

Rena se sente imensamente feliz, mesmo dormindo, mesmo sonhando, ela ainda não perdeu o controle.