A Menina e o Gigante escrita por Megurine Jackie


Capítulo 2
Dia 2


Notas iniciais do capítulo

A chuva faz com que pensamentos surjam. Sejam eles bons ou maus.



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Aquele dia amanhece com nuvens pesadas no céu. Rena olha para o tempo e pensa:

'Acho melhor ficar bem abrigada hoje. Parece-me que uma tempestade está por vir... '

Além do mais, ela sente dores nas pernas devido ao desgaste físico que ela sofreu no dia anterior. Ela deve ter andado por muitos quilômetros.

Ela está dentro de uma grande loja de departamentos. Ela caminha pela seção de eletrônicos. Em um momento ela liga um aparelho de TV, mas só vê chuviscos no monitor. É impressionante que ainda haja eletricidade. Ela foi até a seção de alimentos da loja, pegou uma cesta de compras e saiu escolhendo o que levaria consigo. Mas de repente ela parou.

- Nossa, será que isso que estou fazendo é roubar? - Pensa Rena, em voz alta. 

Ela pensa por alguns instantes e deduz que já que não existe ninguém ali para consumir os produtos, eles estragariam. E ela morreria de fome se não os comesse.

- Acho que posso pegar só o que for comer. - Ela juntou as mãos e fez uma reverência. - Me desculpe senhor dono desta loja. Vou pegar só o que comer e se algum dia tiver como pagar-lhe, o farei.

 Ela caminhou na área da loja onde ficavam os DVDs e pegou alguns títulos que pareciam interessantes. Levou para a área das TVs, sentou-se confortavelmente em um sofá e começou a assistir um dos filmes que tinha escolhido.

- Ah, mas estão em inglês... - Reclamou baixinho. Rena não sabia inglês.

Em algum lugar longe dali, o gigante preocupava-se em encontrar logo um abrigo. Seu desespero era aparente. Parecia que ele não poderia estar sem proteção quando aquela tempestade chegasse.

O gigante caminhou até chegar a um grande viaduto, que atravessava uma rodovia. Ele sentou-se embaixo da construção, encolhendo-se ao máximo, quando os primeiros pingos da chuva caíam.

A tempestade desabou forte, com pingos grossos e pesados. A colossal criatura tentava a todo custo evitar que a água da chuva tocasse seu corpo, como se sentisse medo daquilo. Parecia que nunca havia visto chuva antes. Ou a temia muito.

Rena conseguia ouvir a chuva caindo de onde ela estava. Por algum motivo ela se sentia desconfortável com aquele ruído. Eram as pesadas gotas de chuva batendo na cobertura da loja. E como o espaço era amplo, o som reverberava por todos os lados.

- Mas que coisa! Assim não posso ouvir ao filme...

Ela caminhou até a janela e olhou para fora. A chuva era realmente intensa. Ela temeu que ocorresse algum tipo de alagamento enquanto ela estivesse dentro da loja.

- Ainda bem que estou abrigada! - Pensou alto, novamente. - Credo! Tenho que parar de falar sozinha...

Ela sorriu com esse pensamento. Depois seu sorriso se foi, pois outro pensamento surgiu:

'E se eu nunca mais falar com outra pessoa?'

Ela sacudiu fortemente a cabeça nesse momento.

- Não posso ter pensamentos ruins! - Disse bem alto para si mesma.

 Ela caminhou em direção do sofá onde se encontrava anteriormente. Mas algo lhe ocorreu. Ela teve um desejo de tomar um banho.

Ela procurou onde seria a área dos funcionários. Lá haveria de ter chuveiros quentes.

E ela estava certa. Rena entra debaixo da água quente do chuveiro.

- Ahh, que gostoso... - Sorrindo.

Ela pensa em como é bom ainda ter eletricidade nesse lugar tão destruído. E novamente vem outro pensamento negativo à sua mente.

'Será que vou ter eletricidade para sempre? Ou comida? Ou abrigo?'

Aquele pensamente tirou-lhe o sossego por toda aquela tarde.

A chuva começa a cessar, finalmente. O colosso começa a se acalmar. Ele não se recorda de ter passado por situação mais difícil de que essa última. Ele queria muito voltar ao seu mundo. Ele ainda procurava o ser que produziu a bela melodia que ele ouvira no dia anterior.

Assim que a chuva parou por completo, o gigante recomeça sua caminhada. Ele parece sentir-se incomodado com o chão molhado que está sob seus pés. Ele caminha de maneira estranha, sacudindo um pé, depois o outro.

 Rena nota que a chuva parou. Também percebe que suas pernas não estão doendo mais. Ela se anima um pouco.

- Não vou ficar aqui tanto tempo assim! - Falou consigo mesma. - Não preciso me preocupar com essas coisas!

Resolveu que deveria voltar à sua jornada. Pegou seu violino e seguiu caminho. Mas antes, desligou a TV.

Os caminhos estavam todos molhados, cheio de pequenas poças. Ela se lembrou de quando era uma garotinha costumava a pular nessas poças, molhando toda a roupa.

Teve vontade de pular uma poça, mas não o fez. Não queria sujar sua calça. Apenas pisou um pouco mais firme em uma pequena poça.

O céu estava se abrindo sobre sua cabeça, e o sol começou a aparecer, meio tímido ainda. Ela olha para o alto e vê um lindo arco íris.

- Ai que lindo! - Suspira feliz.

A gigantesca criatura continua sua jornada, um pouco mais tranquilo agora. Ainda procura por um rio, continua se guiando pelo sol poente. Ele olha para o céu e vê aquele arco colorido. Ele não entende o que é aquilo, mas fica ali, maravilhado com as cores que se formam com o reflexo do sol nas gotículas de água no céu.

Nesse momento o gigante pensa que aquele mundo tão estranho, tão diferente do seu, pode não ser tão horrível assim. Pois aquela imagem refletida no céu foi a coisa mais linda que ele já havia visto em sua vida.

 Rena tem vontade de tocar seu violino mais uma vez. Aquele arco íris merecia aquilo. O dono daquela loja de departamentos merecia uma canção por ter lhe oferecido comida e abrigo.

Ela tira o instrumento de seu estojo, posiciona-o em seu ombro apoiando com o pescoço e começa a tocar.

Uma belíssima canção sai daquele instrumento, com acordes suaves e melodiosos. Tem um ritmo alegre, como a céu depois da tempestade. Rena toca e, naquele momento, ela é muito feliz!

De repente o gigante pára. Ele consegue ouvir novamente a canção. De onde estará vindo? Provavelmente é o que ele pensa. Ele fecha os olhos para sentir a canção, para tentar descobrir de que lado ela vem. E, repentinamente, sai em disparada em direção ao som.

A terra estremece sob seus pés, devido ao seu peso. Estruturas próximas a ele começam a desabar, causando um caos imenso. Mas ele não pode evitar! Ele sente que precisa muito encontrar a criatura que produz aquela melodia.

Rena pára de tocar o violino. Ela ouve distante um som. Parece o som de uma explosão. Ela fica preocupada.

- Será um terremoto?

Ela guarda seu violino no estojo. Mas mantém sua atenção à direção de onde veio o ruído estranho.

'O que será que foi aquilo?'

Ela decidiu continuar por aquele caminho para investigar. Rena sempre foi uma garota muito curiosa. E na sua atual situação, tudo que fosse diferente do que ela havia descoberto até então poderia ser bom. Ou não.

A música cessa. O gigante diminui sua marcha até parar por completo. Novamente ele não tem idéia de onde ele está. Ele olha ao seu redor e vê todo aquele amontoado de pedras, areia e fumaça, produzido por ele enquanto corria.

Ele não entendia aquilo, mas sentiu-se muito triste por ter causado aquela confusão toda. A criatura gigantesca pensou que deveria ter mais cuidado quando decidisse correr por aí já que ele poderia vir a esmagar alguma criatura viva sem querer, apenas por não poder vê-la. E isso não era o desejo do gigante. Ele desejava encontrar alguma outra criatura que o ajudasse a sair daquele lugar.

Rena continuou caminhando em direção do crepúsculo. Talvez, em algum lugar ela conseguisse encontrar alguém que a ajudasse a sair daquele mundo tão vazio. Ela tinha medo de ficar ali sozinha, mas decidiu que sentir medo não a ajudaria a sair dali.

- Vou continuar andando até encontrar alguém. E daí vou voltar para casa! - Disse ela novamente em voz alta.

Rena nunca mais se incomodaria de pensar alto. Era a forma que ela encontrou de se manter sã e ativa para achar uma solução para o seu problema.

O gigante também pensou que deveria se mantiver calmo para conseguir encontrar alguém que pudesse ajudá-lo a sair daquele mundo. O desespero não o levaria a lugar algum.

E naquele dia, os dois caminharam tranquilamente. Um em direção do outro.


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, vou demorar um pouco mais para postar essa história a partir de agora, por que o "Projeto Crônicas do Inferno" está literalmente me infernizando. Quando eu terminar lá eu retomo a parábola.
Obrigada, leitores, pela compreensão.