Capítulo 26

Tão óbvio

I need you here, but you're always so far away

Preciso de você aqui, mas você está sempre tão longe

(…)

It’s obvious that my heart beats for you

É óbvio que o meu coração bate por você

So obvious – Runner Runner

O resto da tarde passou tranquilamente. Eu, Alice e Jasper – esse último contra a minha vontade, mas era impossível tirá-lo do caminho quando ele não estava com vontade de ser útil – conversamos mais um pouco sobre diversas coisas, inclusive Emmett, é claro.

Entre um assunto e outro, o telefone tocou. Até pensei que pudesse ser Emmett, mas não acho que ele se rebaixaria a tal ponto. A nossa situação ainda não tinha tido um encerramento, realmente, mas nada seria resolvido naquele mesmo dia.

Atendi ao telefone no terceiro toque.

-Alô? – saudei.

-Lie? – a voz familiar irrompeu do outro lado da linha. Obviamente era Royce e o apelido idiota que ele tinha dado para mim há alguns anos.

-O que foi? – perguntei de má vontade, suspirando. Eu não estava querendo nenhuma briga; apenas me livrar daquela peça logo. Ainda não tinha superado aquela história de que ele queria reunir a família novamente... Eu só queria que esse meu ex-marido não aprontasse uma das suas.

-Eu só liguei para avisar que as crianças estão comigo. – ele pareceu sorrir do outro lado da linha. Eu sorri também; era bonito de ver Royce interagindo com os filhos. E, além disso, estava aliviada por alguém ter se lembrado de ir buscar Travis e Ella na casa dos King; porque eu mesma não tinha.

-Ah. – suspirei. – Obrigada.

-Não me agradeça ainda... – ele começou. O que viria dessa vez? – Meu carro deu um problema na bateria. Você se importa de vir até a minha casa?

-Hmmm... – fiz uma careta. Eu nunca gostei de ir à casa de Royce... Mas tinha um bom motivo dessa vez. Eu tinha que fazer isso pelas crianças, não? Ele já tinha me feito um favor de tê-las buscado na casa de sua mãe, agora eu só tinha que pegar Travis e Ella e trazê-los de volta para cá. Simples demais. – Tudo bem, Royce. Eu já estou indo.

-Ok. Tchau, Lie. – ele se despediu, dizendo novamente aquele apelido irritante. Revirei os olhos e coloquei o telefone de volta ao gancho, sem nem me importar em dizer nada.

-O que ele queria?  - Jasper perguntou com curiosidade no olhar e Alice parecia bem atenta para a resposta que eu daria a seguir.

-Royce buscou as crianças na casa da mãe dele... – comecei.

-Nada mais do que a obrigação dele. – Jasper bufou, revirando os olhos.

-... Mas o carro dele deu um problema na bateria, pelo que ele disse... – continuei, ignorando meu irmão. – Então eu vou até a casa dele para trazer as crianças.

-Espera aí, Rose. – Alice disse, se pronunciando pela primeira vez depois da minha conversa com meu ex-marido. – Pra que ele precisa...

-Nós conversamos depois, pode ser? – eu a ignorei também, pegando um casaco e as chaves do carro e saindo em disparada. Eu não faria Royce esperar, ele já tinha feito um tremendo favor para mim. Alice poderia esperar um pouco para saciar a sua curiosidade infinita.

Alice POV

-Rose! – levantei-me tentando, em vão, alcançar minha amiga antes que ela trancasse a porta. Aquela história estava muito estranha.

-O que foi? - Jasper, ao meu lado, me encarava com incredulidade. Será possível que só eu tinha percebido o óbvio?  - Ela já volta Allie. Vocês podem conversar depois.

-Você não vê? – minha expressão, eu acreditava, conseguia ser mais incrédula que a dele. Era ridículo ninguém conseguir entender o mesmo que eu!

-Ver o que? – Jasper perguntou. Bufei e fui até o chaveiro da cozinha para pegar a chave da porta a fim de destrancá-la. Pela janela, consegui ver Rose dando ré em seu carro para sair da garagem. – Alice, o que você está fazendo?

Jasper se levantou e veio até mim. Eu finalmente consegui arrumar uma chave e já abria a porta que dava acesso à rua, quando Jasper simplesmente se postou em minha frente impedindo-me de sair.

-Saia daí, é importante! – me enfureci, batendo meus pés.

-O que está acontecendo? – ele não se mexeu nem um centímetro. Eu passei a empurrá-lo com toda a força em mim e, vendo todo o meu desespero, ele saiu do caminho... Por conta própria é claro, se dependesse de mim Jasper nunca sairia do lugar.

Consegui abrir a porta a tempo de ver Rose dirigir e sumir no horizonte.

-Droga. – fiz um bico e cruzei os braços. Jasper riu pelo nariz e me deu um abraço desajeitado.

-Pode me dizer o que te incomodava tanto agora? – ele perguntou finalmente. Eu me virei para ele e nós ficamos próximos... Demais, até; mas eu não tinha tempo para isso.

-Royce está aprontando alguma, Jazz. – respondi-o. – Ele não precisa de carro nenhum para trazer as crianças até aqui.

Era tão óbvio que Jasper até levou suas mãos ao rosto, irritado consigo mesmo por não ter percebido aquilo antes.

-Ele só mora a algumas quadras daqui... - continuei. – Sempre veio andando.

-Nossa... – ele falou meio arrastado e eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava desapontado. - O que esse crápula quer com a minha irmã agora?

-Não sei Jazz... – respondi sinceramente e peguei em sua mão, sorrindo fraco. Ele retribuiu meu gesto. – Mas vamos descobrir.

-Descobrir o quê? – e então eu basicamente pulei nos braços de Jasper, assustada. Não fora ele que tinha falado aquilo.

Eu me virei para a direção de onde a voz saíra e o vi, então. Encostado ali no portão da casa de Rose, Emmett parecia ter acabado de acordar.