Changing Lifes escrita por Maty


Capítulo 4
Orgulho doentio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/112536/chapter/4

     Sai correndo, desesperado para acabar com o barulho insuportável de choro. Tirei a Tessie do berço atrapalhado, a segurei em meus braços ainda extremamente inseguro de minha capacidade de o fazer. Tom Kaulitz podia ser bom em tudo, infelizmente lidar com bebês barulhentos não fazia parte do “tudo”.

-O que eu faço?! – exclamei andando até a sala cada vez mais nervoso. Haviam 6 pessoas espelhadas pelo lugar e nenhuma delas abriu a boca – Qual é o problema?! O choro dela já ensurdeceu todo mundo!??!

-Me dá ela aqui... – Britney finalmente soltou a mão de Bill e as estendeu em minha direção.

Entreguei Tessie a ela que a segurou carinhosamente, então me deu as costas e seguiu calma até o quarto.

    Empurrei com força as pernas de Andreas de cima do sofá e me sentei também. Ficamos nos encarando em silêncio por alguns segundos, o único som no apartamento era o choro e a pequena melodia que a Britney entoava para Tessie.

-Então... – Andreas se aproximou de meu rosto e me olhou atentamente – Você esqueceu a Katharine? – fechei a cara. -Você ainda é apaixonado por ela?! Pelo amor de Deus, Tom... Aquela vadia não te merece e você sabe!

-Não quero falar disso. – disse seco. – Não faz diferença agora de qualquer maneira.

-Segura ela um pouco. – Britney pediu reaparecendo na sala. Tessie ainda chorava e eu fiz uma careta antes de estender relutantemente meus braços.

-Hey, Brit! Se você vai á cozinha faça alguma para mim comer... – Bill pediu. – Estou morrendo de fome.

-Faça você! – ela exclamou entre um grande sorriso e ao perceber a careta emburrada dele sorriu mais ainda. – Anda logo! Levanta! Eu te ajudo... – piscou um olho e continuou seu caminho até a cozinha. Bill resmungou alguma coisa inaudível e a seguiu.

-Ahh! Como você pode gritar tão alto?!? – exclamei irritado para aquela coisinha barulhenta em meus braços, a levantei até a altura de meus olhos observando seu rosto vermelho devido ao choro que escondia seus olhos azuis.

-Aqui está... – Britney veio correndo segurando uma mamadeira. – Dê para ela, isso deve resolver.

    Olhei para a mamadeira e para a Tessie. Como eu fazia isso? Há alguma posição específica para segurá-la?

-O que você está tentando fazer? – Gustav perguntou ao perceber que eu movia meus braços e Tessie de maneira confusa. Melany se levantou do lado de Georg e ajeitou Tessie em meus braços.

-Obrigado. – sussurrei um tanto envergonhado.

    Finalmente peguei a mamadeira completamente preenchida pelo líquido branco e morno e estendi próxima á boca de Tessie, ela abriu-a permitindo a entrada do bico o qual passou a chupar com gosto, finalmente se calando. Era um sentimento estranho estar fazendo isso pela primeira vez, eu quase me sentia... Um pai.

-Ela é tão linda, não é? – Britney perguntou se aconchegando próxima á Bill no tapete. – Você não vai me dar uma? – perguntou fazendo Georg estourar em risadas altas que contagiaram Andreas, Gustav e até mesmo eu.

-O que?! Pelo amor de Deus, Brit! Não acha que somos um pouco novos para isso?

-O seu irmão tem uma... – fez bico olhando para o namorado.

-Meu irmão é um cafageste inconseqüente que ficou com preguiça de colocar a camisinha.

   Britney fechou a cara como uma criança mimada e soltou a mão de Bill cruzando os braços. Ele sorriu e a abraçou beijando sua testa carinhosamente, provocando um sorriso enorme nela. Os dois namoravam há anos e mesmo assim a relação permanecia como aquela que eu presenciei no primeiro ano de namoro deles. Eu os invejava de certa forma.

-Cara, ela é linda! – Andreas exclamou hipnotizado pelos grandes olhos azuis que Tessie exibia. O sentimento de orgulho que senti me fez sorrir. - Eu estive fora e estou desatualizado, mas como o grande amigo que sou tenho o direito de saber todos os detalhes... Katharine, Beatrice... Tanta coisa mudou.

    Soltei um grande suspiro de desagrado. Não queria voltar àquele assunto, que passava longe de me agradar. Mas mesmo assim o fiz pelo meu amigo.

-Eu liguei para Katharine aquele dia, ela disse que estava no apartamento. Cheguei lá uma hora depois e o encontrei vazio, esperei por horas e horas até ela chegar. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, eu fiquei nervoso. Quando ela finalmente chegou nós acabamos brigando e as coisas saíram um pouco do controle...

-Chega, Kat!! – gritei empurrando sua mão para longe de meu braço que ela segurava com força. – Não posso esperar por você para sempre, será que não vê?!

-Você fala como se fosse perfeito! E todas as vacas com as quais você dorme pelas minhas costas?! Eu sei de todas elas!

-Faço isso para acabar com a dor que você me causa! Estou cansado de chegar no seu apartamento e encontrá-lo vazio! Estou cansado de ficar o dia inteiro ligando para você sem resposta!

-Você não quer me deixar. – a certeza em sua voz fez meus pelos se arrepiarem. – Você me ama, não ama? – sua voz vacilou, assim como a minha decisão de deixá-la.

-Você sabe que sim. Sabe que não quero te deixar, mas também sabe que um dia eu ia cansar de ser seu brinquedo. – andei até ela e toquei de leve em seu braço, imaginando que talvez aquela seria a última vez. Toquei meus lábios nos dela. Aquele último beijo foi salgado devido ás lágrimas que ela derrubou, salgado e amargo como todo último beijo.

-Por favor, não me deixa. – sussurrou quando eu já estava ao pé da porta. Olhei para o lado e observei o buquê de rosas que havia comprado, mas depois de esperar por 4 horas joguei no lixo. Senti vontade de chorar, meu rosto se contorceu involuntariamente e as lágrimas encheram meus olhos, mas me recusei a deixá-las cair, não ia ser fraco agora. – Não vai embora.

    Fechei os olhos e inspirei o ar com força, fechei as mãos em dois punhos e continuei andando. À medida que ia guiando meus passos pelo longo corredor o silêncio era quebrado por soluços. Katharine sempre era escandalosa, até mesmo quando chorava. Eu não ia voltar. Parei em frente ao elevador e apertei o botão, esperei alguns segundos, a porta se abriu e eu entrei. Foi então que ouvi o barulho de vidro, alto o bastante para ser ouvido de longe, para mim dolorido o bastante para me obrigar a prender a respiração.

    A porta do elevador começou a fechar, e eu enfiei meu braço por entre a pequena fresta e o obriguei a se abrir novamente. Aprendera a nunca duvidar de Katharine, tive medo do que ela tinha feito dessa vez. Sai correndo trilhando meu caminho de volta àquele apartamento que havia prometido nunca mais voltar. Encontrei-a em meio aos cacos de vidro que abriram milhares de pequenos cortes em sua pele macia que meus lábios tantas vezes tocaram. Chamei uma ambulância, e depois esperei por quase um dia inteiro no hospital até que ela acordasse, mas quando isso finalmente aconteceu ela foi fria, suas palavras insensíveis e eu senti que como se seu pedido para que eu ficasse nunca tivesse existido.

-Vai embora, Tom. – disse.

-Você pediu para mim ficar e agora me manda ir embora. – ri confuso e indignado. - Você tem idéia do quanto me deixou preocupado?! O que faria se não tivesse mais você?

-Se me lembro bem você estava prestes a me deixar.

-Mas com a certeza de que você estava bem, que se fraquejasse podia voltar e te encontrar de novo.

-Isso é sua culpa. – me acusou e eu senti como se aquilo me cortasse fundo. – Eu consegui uma bolsa de estudos em Londres, vou deixar a Alemanha, vou deixar você e tudo isso para trás.

    Ela ia me deixar antes mesmo de eu decidir deixá-la. A viajem estava arranjada á um mês. Katharine só me pediu para ficar para que pudesse ela mesma me deixar depois, com seu orgulho intacto. E foi isso que ela me falou aquele dia, naquele hospital, proferindo cada palavra sem vacilar, sem pensar no quanto elas me machucavam. Ela havia perdido completamente a cabeça. Ver a sombra em seus olhos, a sombra doentia e escuro me machucava ainda mais. De tantas mulheres, por que eu tinha que ter me apaixonado justo por essa?

   Os jornais me acusaram de tê-la empurrado, eu nunca desmenti. Talvez por que sentia que aquilo era minha culpa, acabei por assumir a responsabilidade, talvez por que eu sabia que era assim que a Katharine queria. Me ver humilhado e machucado. Naquela noite eu só queria voltar para casa, me enterrar na cama e deixar escorrer as lágrimas que apesar de não terem surgido ainda, eu sabia que estavam lá, podia senti-las corroendo meu peito, causando uma dor lancinante. Entrei no carro e alguns minutos depois me encontrei parado na frente do tão conhecido bar... Incrível como eu sempre vinha parar nesse mesmo lugar.

    Sentei em frente ao balcão já velho e pedi qualquer merda, não me importava com o que ia beber, desde que tivesse álcool e me fizesse esquecer a vadia que destruía a minha vida, mas sem a qual eu parecia não conseguir viver. Já estava lá a algumas horas, o álcool descia como água pela minha garganta e eu finalmente começava a sentir como se nada do que Katharine fazia me afetava. Mesmo tendo total consciência de que tudo voltaria a me machucar em dobro no dia seguinte.

    Foi então que ela se sentou ao meu lado, seu perfume inebriante chamando minha atenção imediatamente, com seu rosto delicado e sem vestígios de maquiagem. Me perguntei o que ela fazia em um lugar como aquele, repleto de putas e bêbados. Mas o que ela disse a seguir me fez sorrir e indiretamente respondeu minha pergunta.

-Me dê qualquer merda forte, que me faça esquecer o meu próprio nome, compreende?

     Talvez tenha sido o jeito como a voz dela soou aos meus ouvidos, sensualmente natural... Típicamente Katharine. Era como música, uma música irresistivelmente deliciosa. Ou talvez tenha sido sua expressão desanimada e nervosa, o reflexo da que eu exibia em meu rosto também. Desde o momento em que eu entrei pela porta daquele bar disposto a encher a cara eu sabia que sairia por ela acompanhado, e agora eu sabia por quem.

-Deixa eu adivinhar... Apaixonada pelo cara errado? – perguntei e ela me olhou curiosa. – Eu sou Tom.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!