No dia antes de sairmos de viajem para começarmos os concertos pela Alemanha e Europa fizemos uma pequena festa de despedida na casa do Bill. onde todos estavam presentes, inclusive a equipe que estaria nos acompanhando, minha mãe e Gordon. Tessie estava absolutamente adorável em um vestido listrado azul marinho e branco que Bill lhe dera e uma tiara vermelha que ela arrancou logo na primeira hora de festa. Eu e Beatrice finalmente furamos a orelha dela e agora Teresa desfilava por aí com dois pequenos brilhantes nas orelhas.

-Veja... Ela está tentando engatinhar. – todos riam das tentativas frustradas de Tessie, que tentava mover os braços e as pernas descoordenadamente e sempre acabava de cara no chão.

-E aí, Tom? Vai sentir falta das duas? – Georg questionou-me, propositalmente na frente da Beatrice que me lançou um olhar curioso e divertido ao mesmo tempo. Ela sabia que mesmo se eu fosse sentir saudades eu nunca admitiria na sua frente.

-Da Tessie eu acredito que sim, já da Beatrice... – fiz uma careta e um sinal de mais ou menos com as mãos. – Acho que o que vou sentir está mais para um alívio por poder dormir em uma cama sem ninguém babando do meu lado. – todos caíram na risada, inclusive Beatrice.

-Ontem você não reclamou quando eu estava babando em você... – comentou olhando diretamente para o meio das minhas pernas. Houve um enorme coro de gritos e risadas ao nosso redor.

    Beatrice ria de uma maneira tão espontânea e genuinamente verdadeira que eu me perdi do resto do barulho ao observá-la, era agradável vê-la rir daquele jeito. Ela olhou para mim e ficou séria por um segundo, talvez analisando o que meu olhar lhe dizia, aqueles olhos azuis me encaravam com tanta intensidade que pela primeira vez eu senti como se não conseguisse sustentar o olhar de uma mulher, me vendo obrigado a desviar os olhos e olhar par meus pés completamente sem graça. Ela depositou um rápido beijo no canto da minha boca e eu voltei a olhar para ela sorrindo.

     Tessie começou a chorar e Beatrice se levantou rapidamente, deixando em algum lugar dentro de mim uma sensação de confusão, desconforto e felicidade.

-E como vão as coisas entre vocês? – Gustav perguntou sentando-se ao meu lado no lugar que Beatrice acabara de deixar vago.

-Melhores... – confessei. – Quer dizer, eu contei a vocês sobre aquele dia que eu fiquei bêbado, armei o barraco, soquei o amigo de infância sagrado dela e ainda sumi com a Tessie sem avisar. – todos assentiram com a cabeça, rolando os olhos. – Meio que depois que nós superamos isso, superar as nossas brigas se tornou fichinha. – Georg bateu em meus ombros.

-Parabéns, Tom. Você está oficialmente em um relacionamento.

-Eu acho que isso merece um brinde. Meu irmãozinho está tão maduro! – Bill levantou sua lata de cerveja, sendo imitado por todos os outros da mesa.

-Para de ser patético, engomado. Esqueceu que eu sou o irmão mais velho? Irmãozinho... – rolei os olhos dando um gole em minha cerveja.

-Não... E você? Esqueceu que eu sou o irmão mais alto? – Bill retrucou rindo como só os bêbados fazem. Ele ficava irritantemente convencido quando ficava bêbado. Mais do que o normal.

     Dei-lhe um tapa na cabeça e segui em uma direção contrária, fugindo do barulho e da confusão. Minha cabeça já estava confusa o bastante. Eu sempre achei que não haveria espaço para nenhuma outra mulher depois da Katherine, sempre achei que ela seria a única a me conquistar daquela maneira. Eu ainda não tinha certeza de que tipo de sentimento havia desenvolvido pela Beatrice, mas eu gostava da sua presença, gostava do seu sorriso, gostava das mudanças que ela trouxe. Talvez não fosse amor, mas era um sentimento bom de qualquer forma. Deitei-me em um dos bancos do jardim e observei o céu nublado. Acendi um cigarro e me deliciei com aquele sentimento estranho que aos poucos ia tomando conta de meu peito.

   Beatrice estava sentada na cama. Abraçava seus joelhos e apesar de aparentar estar olhando para a Tessie deitada á sua frente, seus olhos estavam completamente vidrados no nada.

-Que foi? – questionei-a.

-Nada. – chacoalhou sua cabeça. – Apenas acabei de perceber que não gosto de pensar nessas viagens que você vai fazer, não gosto de me imaginar sozinha de novo. Meio que me acostumei com sua presença. – sorriu sem graça, mexendo em seus cabelos molhados, já que ela acabara de sair do banho.

-É nisso que está pensando? – ri, deitando-me na cama ao seu lado. Peguei a Tessie e aconcheguei-a em meu peito. – Eu vou voltar... Mesmo se você não quisesse, eu ia acabar voltando.

-O que isso significa?

-Significa o que eu e o Bill sempre dizemos um ao outro. Nós voltamos ás nossas origens. Minha origem é a minha família, você e a Teresa são parte dela agora, então de uma forma ou outra eu sempre vou voltar para vocês.