Antes que a noite chegasse, fui falar com Gustav. 

- Gustav, você está muito ocupado? 

- Não, Kate. Por quê? Você está melhor? - Gustav se virara para ver olhar. 

- Eu preciso falar com você. Sim, estou melhor sim. 

- Ótimo, mas sobre o que você quer falar comigo? Sobre Bill? - Ele ergueu uma sobrancelha ao falar o nome de Bill. 

- Sim, sei que ele virá falar comigo hoje. Preciso de uns conselhos do meu sábio Gustav...

Gustav seguiu comigo até o rio, onde sempre conversávamos. Nos sentamos lá, ele se virou para mim e disse: 

- Então, o que é tão importante assim? 

- Eu não sei o que pensar sobre o que Bill falará comigo. Eu sei que você sabe, por favor, me dê uma dica, eu não sei o que esperar... 

- Eu não posso, Kate, me desculpe. Isso é algo que apenas o Bill pode falar para você... Mas não parece que é só isso que te preocupa... - ele me olhara nos olhos e percebera isso, ele sempre me decifrava.

Olhei em seus olhos e soube que desta vez ele estava irredutível, ele não me diria o que Bill queria comigo nem com ameaça de morte...

- A outra coisa que me preocupa pode parecer idiota, mas... eu estava pensando sobre nossas precárias condições aqui, sabe... É quase como se estivéssemos mortos, ninguém sabe de nós, e nós estamos incomunicáveis... Sim, temos celulares, mas as baterias já acabaram e mesmo assim, aqui não tem sinal nenhum... 

- Eu sei, isso também tem me preocupado um pouco. Já faz três semanas que nos perdemos. Mas talvez estejam nos procurando, mas ainda não nos encontraram ... É questão de tempo, Kate...

- Mas quanto tempo mais teremos que esperar? Nós não sabemos.. Gustav, pode parecer egoísmo, mas eu preciso de um banho quente, de energia e de uma cama macia. 

- Todos nós precisamos, Kate. Não fique mais abalada do que já está. Você é esperta e eu preciso de você para me ajudar aqui. Você é a única mais ajuizada entre nós. Por favor, não enlouqueça.  - Gustav segurou minhas mãos enquanto falava. 

- Gustav, tudo ficará bem! - Dei um sorriso e me levantei. 

Eu sorri e dei por encerrado esse assunto porque sabia que não tinha como prolongar aquilo, não podíamos ficar lamentando pelo resto do dia, não adiantaria nada. 

- Obrigada por tudo... você tem sido um grande amigo! 

- Eu sempre estarei aqui... - Ele se levantou também. 

Juntos voltamos para o acampamento e nos reunimos aos outros. Manoela estava ao lado de Bill. Fiz questão de sentar-me entre os dois, como se não percebesse o que estava fazendo. Depois que comemos, Manoela parecia aborrecida com minha presença entre os dois, eu amei isso. 

- Bill, vamos sair um pouco, ficar um pouco sozinhos? 

Manoela já ia se levantando...

- Não, eu fiquei de conversar com a Kate agora a noite... Me desculpe, não dá mesmo! - Bill se lamentara, mas eu sabia que era em vão. 

Senti um orgulho em ouvir Bill dando, de certa forma, um fora nela. 

- Kate, vamos? Acho que temos muito o que conversar... 

Bill se levantou e me estendeu a mão. 

- Sim, acho que temos muito o que conversar mesmo! Não precisa, sei me levantar sozinha, obrigada.

Fomos para a gruta, sem dizer nada. Eu não o toquei e ele não tocou em mim. Ele sabia que eu o estava evitando. Eu o fazia por mim, não queria ceder aos encantos do meu amor por ele. 

Agora sim, estávamos apenas nós dois, poderíamos conversar de igual para igual...

sem interrupções...