Prefácio - Despedida

5 anos depois do fim de KH II

Em algum lugar deserto e sombrio, Kairi, escondida em um sobretudo preto, carregando um bebê dentro de uma cesta, corre desesperadamente em direção à luz de uma cidade vista ao longe. Nesse momento, o chão ao redor dela se transforma em sombras, da qual saem pequenos seres negros de olhos amarelos. Quando ela já estava pensando que não conseguiria chegar à cidade, eis que aparece um rapaz de cabelos castanhos, empunhando uma espada com um formato de chave começa a lutar com eles.

–Sora, o que você faz aqui? - sibilou a ruiva

–O que importa, Kairi? - rebateu ele - Vai...

–Você sabe que não está tão forte quanto antes! - reclamou ela

–Sai logo daqui e salva a nossa filha! - Sora diz quase em tom de ordem

Kairi, embora preocupada, o obedece e sai correndo. Logo chega à cidade, anda um pouco para ver se nenhum heartless a seguiu e bate em uma porta e deixa o cesto lá.

–Adeus, filha. - diz Kairi, não segurando uma lágrima que escorreu por seu rosto - Talvez, um dia, nos encontremos...

Saiu rapidamente atrás de Sora, não sem se sentir um pouco angustiada.

15 anos depois...

Capítulo I - Conhecer

Juno penteava seus longos cabelos ruivo-acastanhados. Como de costume, prendeu-os num rabo-de-cavalo pela sua fita azul e se debruçou na janela de seu quarto. Saiu assim que seu olhar recaiu nos garotos brincando na rua, lembrando-se de todas as vezes que eles implicaram com ela. A culpa era dela se era adotada? Agradecia por finalmente se mudar daquela cidade.

Deitou-se em sua cama, achando que seria um sono tranquilo por amanhã já estar indo para Twilight town, uma cidade vizinha, que soava familiar. Achando.

Mal dormiu, se viu em um lugar em que não havia nada, com exceção do vitral em que estava pisando e que tinha o desenho de um garoto de cabelo castanhos, olhos azuis, roupa predominantemente preta; e uma garota muito parecida com ela, a não ser pelo cabelo um pouco mais ruivo e pelo vestido rosa – Juno usava uma blusa rosa com capuz preto, uma calça azul com uma corrente que tinha no final a forma de uma coroa, e botas pretas que iam até quase o joelho. Enquanto ainda estava observando, ela começou a ouvir algo em sua cabeça:

Don’t ever forget: wherever you go, I’m always with you

Kingdom Hearts is light!

keyblade...

Antes que Juno pudesse perguntar quem tinha falado, uma porta abriu-se na sua frente. Ela foi correndo até lá, e quando abriu, tinha um caminho que levava a outro vitral, mas nessa havia um desenho diferente, do mesmo garoto que havia visto antes, mas agora com uma espada com formato de uma chave, e outro garoto loiro, usando um casaco branco por cima da camisa preta e uma calça cinza, e segurando a mesma espada que o outro estava segurando. E ambos cercados por seres negros de olhos amarelos.

Nesse momento, começam a aparecer uns cinco desses mesmos seres. No mesmo instante, aparece na mão de Juno uma espada que remete também à forma de chave, mas era diferente: Era toda prata, com exceção da ponta, na qual se encontra uma estrela azul e amarela e sua keychain tem uma estrela.

Juno fica surpresa, mas não o bastante para não atacar. De relance, ela vê outra pessoa no mesmo lugar, lutando com algo que parecia a sua espada, só que era negra. Mas não dava muito pra prestar atenção, devido à luta com os heartless. Quando parecia que iam perder, uma luz brilhou no local e Juno acordou na hora.

Ainda demorou um pouco para Juno perceber que estava de volta no seu quarto. Depois de alguns minutos é que sua respiração voltou ao normal. Olhou em volta, para ter certeza de que nenhum daqueles seres negros estavam lá.

Bobagem. - pensou ela– Sonhos são apenas isso. Por mais estranhos e reais que sejam.

Levantou-se da cama e pegou a sua mochila, se despedindo mentalmente do quarto enquanto caminhava até a sala. Encontrou sua mãe acabando de arrumar a mala.

–Bom dia, Juno. - disse sua mãe - Dormiu bem?

As imagens daquele sonho continuavam na sua mente. Mesmo assim, afirmou com a cabeça. Mas o seu olhar a entregava.

–Tem certeza? Você está me parecendo um pouco difere...

–Deve ser a mudança.- interrompeu Juno - Então, já estamos indo?

–Está com fome? A viagem é curta, mas se quiser fazer um lanche...

O que Juno mais queria era sair logo daquela cidade. Deixar tudo aquilo para trás. E ainda por cima aquele sonho tinha tirado a sua fome.

–Não, eu estou bem. - falou Juno, por fim - Vamos?

Quando saíram, havia três garotos, mais ou menos da mesma idade de Juno, conversando na rua. Assim que a viram, o primeiro gritou:

–E, olha só se não é a adotada.

–E de mala na mão - acrescentou o segundo.

–O que houve? - falou o terceiro - Já não te querem mais nessa casa também?

Os três começaram a rir assim que ele acabou de dizer isso. Juno ainda pensou em brigar com eles, mas não. Já tinha decidido. Deixaria aquilo tudo pra trás. Ia para um lugar novo, uma vizinhança nova, uma vida nova. Ela só não sabia o quão nova seria.

Enquanto isso, não tão distante dali...

 O garoto despertou em um pulo, sobressaltado. Não poderia culpar a luz alaranjada, que entrava devido às cortinas terem se afastado com o vento, por ter acordado daquela maneira. Embora ela lhe transmitisse a segurança da certeza de estar em casa.

 -Sonho mais maluco... – pensou alto

 -Que sonho?

 Automaticamente, moveu o rosto na direção da voz do pai. O rapaz loiro estava no limiar do quarto, com uma expressão de leve curiosidade.

 -Veio me vigiar enquanto dormia? – perguntou o mais novo, em tom de brincadeira

 -Na verdade, te acordar. – respondeu o recém-chegado – Você geralmente é uma pilha de energia desde as sete da manhã, então estranhei quando o relógio indicava nove horas e você ainda não tinha descido. – conforme falava, ele tinha caminhado até a cama, sentando na mesma antes de retomar a conversa – Mas não mude de assunto. Teve algum sonho estranho, Lukas?

 -Nem sei como descrever direito. – suspirou o primeiro – Ah, deixa para lá. Deve ser loucura de uma mente adolescente. Avisa para a mamãe que só vou tomar um banho rápido e já desço.

 O garoto se levantou rapidamente, seguindo para uma porta na parede ao lado. Seu pai ainda continuou sentado por mais alguns instantes, pensativo.

 Sonhos estranhos... Já faz tanto tempo desde que passei por isso... Será que...? ele sacudiu a cabeça Não, fora de cogitação. Os mundos estão em paz por tantos anos...

 Mesmo sentir a água quente em contato com sua pele não lhe tirava todas as lembranças daquele sonho. Tinha sido real demais, a sensação de suave queda, o estranhamento ao ver quem estava nos desenhos daqueles vitrais, o medo ao encarar aqueles olhos amarelos, a surpresa de quando aquela arma apareceu em sua mão... Aliás, o que era aquilo? Uma chave, uma espada? Não sabia qual alternativa era a verdadeira. E essa não era a única questão girando em sua mente.

 Decidiu-se por sair logo de debaixo do chuveiro – se fosse ficar ali até suas dúvidas serem respondidas, provavelmente gastaria a água do mundo. Não demorou muito tempo pensando em uma roupa, escolhendo uma camiseta preta, contrastando com seu colete sem mangas branco, uma bermuda de tom cinzento e, para finalizar, um par de tênis azul-claro com detalhes negros.

 Desceu as escadas praticamente pulando os degraus, como de hábito. Ao entrar na cozinha, percebeu que sua mãe estava de costas para ele, pegando alguma coisa na geladeira. De maneira silenciosa, para que sua presença não fosse percebida, pegou uma maçã da fruteira que estava na mesa que havia no meio da cozinha. Estava com um sorriso de sucesso no rosto quando se virou, e bateu de cara com o pai.

 -Olha só, Naminé, parece que temos um pretendente a fugitivo. – riu o mais velho

 A loira se virou quase que no automático, com uma expressão de desagrado.

 -Lukas! – repreendeu – Será que se esqueceu de que os novos vizinhos chegarão hoje?

 -Ah, mãe, eu vejo eles quando voltar. – rebateu ele – Deixa eu ir encontrar meus amigos.

 -Custa ficar pelo menos para se apresentar? – argumentou a primeira, conseguindo um suspiro como resposta – Nós te liberamos depois disso.

 Não muito satisfeito, Lukas assentiu, sentando-se em uma das cadeiras. Mais do que nunca, queria estar ao lado de seus amigos. A companhia deles com certeza distrairia sua mente, que continuava a girar em torno daquele sonho.

 Por que algo parecia lhe dizer que aquela era a prenuncia de que sua vida não seria mais a mesma?