Eu estou sentado no mesmo lugar que ontem, tentando (eu juro que estou) prestar atenção na aula, mas tudo está tão chato... Eu estou desenhando o Raito e o Ryuuku fingindo que estou prestando atenção. O recreio já passou (foi traumatizante, o Dennis me fez sentar na mesa com ele e seus amigos, e fiquei parado olhando eles conversarem) e estou no primeiro horário depois dele.

  Enquanto eu meditava por que diabos eu fui escolher essa matéria, e se eu poderia mudá-la, algo que eu realmente não esperava aconteceu. Ouvi passos correndo no corredor (será que isso é pleonasmo?), e em instantes Annabeth aparece desesperada na porta me procurando. O professor olhou surpreso com a ousadia dela, e todo mundo na sala ficou encarando ela. Ofegando, ela ficou vasculhando a sala, e assim que os meninos começaram a assoviar para ela, ela me achou.

  --Nico! –gritou, e me olhou com aquela cara tipo S.O.S..

  Entendi o que aquilo queria dizer: monstros. Fechei meu caderno correndo e o joguei dentro da mochila com o lápis, joguei a mochila encima do ombro e corri em direção a ela. Pedi desculpas para o professor na porta, ela pegou a minha mão e saímos correndo.

  Depois que tínhamos saído da escola (sob os protestos de alguns funcionários), parei e a puxei.

  --O que aconteceu? Cadê os outros?

  Ela parou e disse ofegando:

  --Eles foram atrás da gente, aí os outros atraíram eles para matar antes que viessem atrás de você, e eu vim avisar e te arrastar para longe da escola caso viessem outros.

  --Eles?

  --Lestrigões. Os mesmos que vieram atrás do Percy. Ah! Você ainda não o conhecia...

  --Monstros que já tentaram nos matar? Como isso facilita as coisas...

  --Vamos ajudá-los...
  E voltamos a correr atrás deles. Chegando lá, a briga estava quase acabada, três campistas contra dois deles, e nós dois chegamos lá e os atingimos de surpresa.

  --Oi—disseram Chris e Clarisse em uníssono, tentando recuperar o ar, enquanto pó de monstro voava.

  --Oi—respondemos eu e Annabeth.

  Depois que já tínhamos nos sentado no meio-fio e descansado, Chris se pronunciou.

  --Desculpe por te arrastar da aula assim... Ficamos muito preocupados, pois temos que te tirar de lá antes que alguma coisa te alcance para você não lutar sozinho. E se te ligássemos aí sim que iriam atrás de você mais rápido. Antes prevenir do que remediar, e acreditar na nossa capacidade antes de saber a dos monstros não vai ser legal, tinha a chance de deixarmos eles fugirem, e eles te pegarem...

  --Já entendi Chris... Agradeço (falei que nem a cobra do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal)

  --Hãn?—perguntou Annabeth confusa com o fato de eu agradecer ser arrasrado pela rua correndo.

  --Aquela aula tava um saco.—Falei e todos começaram a rir.

  --Mas não pense que vai escapar assim não. Você vai voltar para lá ainda hoje.

  --Não antes de ir em casa tomar banho. Já carrego roupa reserva sim, mas não vou aparecer lá sujo de pó de monstro. Bom que eu almoço por lá.

  --O que é ruim lá? O almoço ou quem almoça?

  --Os dois. Caramba Percy, não sei como você agüentou estudar tanto tempo!—me deitei na calçada e de repente me lembrei de uma coisa. Pus a mão na testa e escorreguei ela até o queixo.

  --O que foi, Nico?—perguntou Chris preocupado.

  --Pensando bem, preferia que tivessem me ligado para todos os monstros no raio de três quilômetros terem me procurado.

  Ele me olharam com uma cara de desentendimento, e eu justifiquei.

  --Já não basta eu ter brigado com uma retardada que acha que eu sou um galinha, aparece a Annabeth, que, desculpe Percy, é maravilhosa lá na porta e nós saímos correndo de mãos dadas. E sem avisar a ninguém nem dar justificativas. O que vamos dizer?

  --Querido, não queria te falar, mas nós podemos sair a hora que quisermos sem justificar nada. Estamos na faculdade—falou Clarisse.

  --Obrigada pela ajuda—respondi com ironia à Clarisse—O que EU vou dizer? Se a Annabeth tivesse aparecido lá na porta gritando algo grave tipo “Nico, nossa tia ta morrendo!”, mas ela não falou nada, e se eu falar que ela tinha avisado o motivo da correria antes e dito que ia me buscar, ele vai xingar por eu não tê-lo avisado. EU TÔ FERRADO!

  --Diga que você tinha saído de casa e deixado a sua prima lá, e que disse para a Annabeth avisá-lo quando acontecesse algo com ela, mas você esqueceu o celular em casa, e na hora que ela apareceu lá na porta você sabia que algo tinha acontecido com a sua doce prima, e vocês saíram correndo, o que justifica seu estado de desespero. —disse, por incrível que pareça, Percy.

  Todos nós começamos a olhar estáticos para ele, que fez uma expressão engraçada que indicava que ele não sabia o porquê de o estarmos encarando.

  --O que? Não foi boa idéia?

  --Percy, por um acaso foi seu pai que te deu essa idéia? Porque cá entre nós você não parece capaz de pensar nela sozinho...—pela sinceridade nem precisa dizer que foi a Clarisse quem disse isso.

  --Vocês por um acaso acham que eu não tenho cérebro?

  Nós nos olhamos e dissemos em uníssono:

  --Temos certeza!—e começamos a rir.

  --Mas quem é a minha prima? Preciso dizer que uma pessoa que eu conheço passou mal, mas nada de internar. Clarisse, querida, florzinha de pessoa, se importaria de ficar em casa hoje?

  --Pra que?—disse ela rolando os olhos.

  --Porque do jeito que aquele professor já me odeia, é capaz dele perguntar onde “minha prima” estuda, para ligar lá e confirmar que ela faltou.

  --É, mas se a gente for seguir esse plano, você não vai poder voltar para escola—disse Annabeth preocupada antes de perceber que era esse o meu plano.—Ah, não! O senhor não vai faltar de aula com a Clarisse!

  --É! O que vocês vão fazer sozinhos em casa?—perguntou Chris enciumado.—Quando Clarisse olhou para ele com uma cara que dizia “Não vem com essa bobagem agora”, ele respondeu: Qualé, o Nico é mais bonito que eu! Não me surpreenderia se me trocasse por ele!

  --Quem você acha que eu sou,,,--começou Clarisse, ates que eu interrompesse.

  --Annabeth, você é minha prima, ok? Até porque você é de verdade... Eu sei que você vai protestar por faltar e me deixar faltar, mas doença é o único motivo plausível para faltar, e se eu voltar vai parecer que eu abandonei minha “prima”. Não vou levar Clarisse porque não quero que nenhum dos dois me mate, estressada do jeito que ela ta... –levantei da calçada me empurrando, sem sentar antes, e quando cheguei em cima, peguei Annabeth e a joguei no ombro, antes que ela protestasse por não querer faltar. Claro como ela foi treinada no acampamento como eu, começou a se debater, e cara, como ela era forte!

  Soltei ela, fui na direção do Chris e falei:

  --Cara, quer uma dica? Visite um oftamologista, aposto que ele vai te receitar um óculos bem grosso. Você corre sério risco de vida enxergando mal desse jeito...—dei dois tapinhas na cabeça dele, peguei Annabeth pelo pulso e saí correndo com ela.

  Quando chegamos na frente, ela puxou o braço dela e me virou.

  --O que você pensa que está fazendo?

  --Nos levando para longe de uma briga da Clarisse e do Chris. Você sabe o desastre que vai ser. A gente tinha que decidir logo o que fazer de qualquer maneira, então eu decidi e dei o fora de lá...

  --Mas você vai me fazer levar uma falta na primeira semana de aula?

  --Você vai me fazer levar uma suspensão na primeira semana de aula? O Quíron sairia louco de lá e me mandaria de volta, dizendo que corro risco ficando tão separado de vocês. Como eles apareceram lá?

  --Na hora que do intervalo já tínhamos suspeitado de alguma coisa, aí eles bateram na nossa porta, mas eu os vi, e bom, falei que ia te avisar, mandei eles levarem os monstros para longe da vizinhança enquanto eu ia atrás de você.Você acha mesmo que o seu professor vai ligar lá para saber se eu fui vista por lá ou fui na aula?

  --E ele vai perder a oportunidade de fazer um mau aluno ser descoberto pelos pais...

  --Então ta, já que é assim eu falto, mas será que eu posso melhorar até de tarde, porque aí é aula de verdade...

  --Não senhora...

  --Então tá, vamos para casa, e rezar para que o Percy não tenha a brilhante idéia de nos ligar, porque tem chance e muita de ainda haver monstros por perto.

  --Vamos então.

  E fomos a pé para a nossa casa.