Pigananda!!! escrita por almightymag


Capítulo 32
Sooner or later it's over…


Notas iniciais do capítulo

Não sei se vocês notaram, mas os títulos dos últimos capítulos são versos tirados da musica Iris de Goo Goo Dolls *-* Sim, eu ouvi essa musica enquanto escrevia o último capítulo, e seria bom se vocês pudessem ouvi-la enquanto lia também :3 Vai valer a pena *-*



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Eu não dormi.

Simplesmente não consegui pregar os olhos a noite toda. De repente o colchão não era confortável. As cobertas me esquentavam demais, mas eu as tirava eu sentia frio. O quarto parecia escuro demais, mas quando eu abria as cortinas ele parecia perturbadoramente claro. Foi aí que eu desisti e fiquei sentada, com as pernas encolhidas, no peito da janela, olhando a chuva que ameaçava a cair, mas quando caía eram apenas chuviscos.

Eu estava com um baby-doll de malha, mas o frio não me incomodava. E para completar, Johnny Rzeznik, de Goo Goo Dolls, estava cantando Iris nos meus fones – isso realmente não me ajudava a me sentir melhor, a letra da musica me fazia lembrar o que eu realmente queria esquecer. E também, por incrível que pareça, eu não estava chorando. Meu coração estava doendo, meus olhos estavam ardendo – provavelmente pelo sono perdido –, mas não havia nenhuma gota nos meus canais lacrimais.

E eu esperava que ficasse assim. Eu não suporto despedidas e agora estava arranjando um jeito de evitar essa.

Quando me preocupei em olhar para o relógio vi que passava das quatro da madrugada. E se eu quisesse que as coisas acontecessem do meu jeito eu teria de acordar as meninas que pareciam estar absurdamente bem dormindo.

– Anna – sussurrei.

– Hmmm – ela murmurou sem se mexer.

– Acorda.

– Pra quê? Que horas são?

– Hora de voltar para casa – falei tão baixo que tenho certeza que ela não ouviu. – Vamos Ann. Me ajuda a arrumar as malas.

– Hmmm – resmungou ela finalmente abrindo os olhos. Ou metade deles. – Você enlouqueceu? E que horas são?

– Quatro – sussurrei coçando a sobrancelha.

Ela franziu o cenho e me encarou por alguns segundos antes de jogar a coberta para o lado de Sunie e se levantar. Anna bocejou, coçou os olhos, ajeitou a franja – o que ela sempre faz quando acorda – e começou a dobrar suas roupas e arrumar sua mala.

– Obrigada – sussurrei para ela.

Ela apenas assentiu.

Uma coisa que se equilibrava perfeitamente na balança de defeitos e qualidade da Anna era que ela faria qualquer coisa por você. Qualquer coisa mesmo, não importa se isso a prejudicasse ou não. No entanto, eu sempre me sentia incomodada com isso. Quer dizer, o que eu menos queria era deixar ela mais magoada do que ela provavelmente já estava.

– Ann... – murmurei.

– Tá tudo bem – falou ela, baixinho. – Eu também não curto despedidas. – Seus olhos cor de mel procuraram pelos meus no escuro. – Num é isso?

– Uhum.

– Então... Você vai me ajudar ou vai ficar aí só me olhando? – Ela voltou a dobrar as roupas. – Depois a gente acorda a Sun.

Eu mordi o lábio inferior e olhei para Sunie que dormia que nem um anjo e então fui ajudar a Ann.

Dessa vez não demorou muito para que a gente enfiasse todas as roupas na mala. Não nos importamos em colocar jeans de um lado, malha num canto ou couro e moletom no outro. Simplesmente empilhamos tudo.

Eu dei apenas uma pausa para tomar banho e me arrumar antes de colocar todas as roupas na mala. Estava com minha calça jeans preta e um hoodie rosa que achei no fundo da mala, havia me esquecido completamente dele.

Antes de voltar para o quarto eu dei uma espiada na sala. Lá estavam os cinco dormindo tão sublimemente como filhotes de cachorrinhos.

Eu me aproximei deles com toda a cautela para não esbarrar em nada e nem fazer nenhum barulho, e me agachei perto da onde a cabeça do Key estava deitada. O que eu achava incrível era que eles não roncavam, não necessariamente. Claro que suas respirações ficavam mais pesadas, mas eles não roncavam.

Key dormia com os lábios separados. E foi preciso tirar uma mecha de seu cabelo do rosto para poder enxergar seus olhos. Nunca havia notado o quanto seus cílios eram curtos e volumosos. Ou o quanto a sua pele era invejavelmente macia. Assim, antes que eu desse por mim, estava deslizando um dedo por sua bochecha.

Key se remexeu por debaixo das cobertas e eu recolhi minha mão, temendo que ele acordasse. Certo, é melhor eu voltar para o quarto e terminar de arrumar minhas coisas.

– Acho que já pode acordar a Sun – disse enquanto fechava a minha mala.

– Awh – resmungou Anna olhando para ela. – Num dá. Ela tá tão fofa dormindo.

Eu olhei para ela com os olhos estreitos e suspirei.

– Tá, eu faço o sacrifício – disse ironicamente engatinhando até onde Sunie estava deitada.

Afastei com delicadeza uma mecha dourada de seu cabelo e aproximei meu rosto do seu ouvido.

– Acorda! – Eu não gritei, mas ela deu um pulo. – Bom dia – disse com a voz suave.

– Mas o quê...? – Sunie coçou o alto de sua cabeça e depois os olhos. – Que horas são?

– Quase seis – respondi, voltando para fechar a mala da Sunie.

– O que vocês estão fazendo? – Sunie perguntou confusa.

– Aqui – disse Anna entregando a Sun uma calça jeans, uma blusa e um casaco de moletom.

– Por que vocês estão fazendo isso?

– Para de fazer perguntas – resmunguei cansada – Vai se arrumar.

Sunie franziu os lábios e inflou as bochechas antes de levantar e ir para o banheiro.

No fundo eu podia dizer que isso era mais difícil para elas do que para mim. Não que elas fossem necessariamente frágeis, mas eu tenho certeza de que de alguma maneira eu era mais forte do que elas. Eu era do tipo que se apaixonava fácil, por isso tive o coração estilhaçado inúmeras vezes. Houve um momento em que eu prometi a mim mesma que nunca mais iria me apaixonar, por ninguém. Mas o destino, muito irônico, jogou o Key bem na frente e... bom, você sabe de todo o resto.

Quando Sunie voltou do banheiro com os cabelos úmidos, foi à vez de Anna se arrumar. Agora era exatamente seis e vinte e eu pretendia sair bem antes das sete. E preciso me lembrar que o Taemin é o primeiro a pular da cama ao primeiro mínimo ruído – ele não acorda, ele só levanta. Porém, de qualquer maneira, seria bom evitar isso.

Não queria ter de olhar nos olhos deles antes de sair por aquela porta.

– Prontas? – perguntei quando Anna voltou do banheiro, só para confirmar, enquanto dava mais uma olhada no quarto vazio. E só agora eu parei para pensar sobre isso.

Quer dizer, o quarto deles era vazio. Não havia camas, apenas colchonetes. O que me fez deduzir que essa casa é apenas um “esconderijo” dentre todos os apartamentos que eles devem ter espalhados pela Coréia. Aliás, eles estavam tirando umas feriazinhas da SM.

Feriazinhas que durou dois meses, ou mais, talvez menos, porque eu perdi a total noção do tempo enquanto estive aqui. Então eu nos proíbo de atrasá-los mais, e de interferir na carreira deles. Porque, como eu sempre digo: nossas vidas seguem caminhos completamente diferentes e não tem como nós continuarmos de mãos dadas.

O aeroporto de Daejeon ainda estava meio deserto. Só havia algumas poucas pessoas – ou zumbis, já que todos ainda estavam com cara de sono – perambulando para lá e para cá para não perder seus voos. E agora era a nossa vez de seguir para o portão do voo 764 que nos levaria de volta para Nova York.

Dez minutos depois estávamos dentro do avião. E eu, subitamente, fui coberta por um manto de nostalgia. Era como se tivesse esquecido meu coração lá (o que era bem provável, uma vez que eu entreguei ao Key) e só agora estivesse sentindo a dor do vazio. E lhe garanto que essa dor é bem maior a que a do abandono. Era como um suicídio. Não, melhor, masoquismo, já que eu mesma estava provocando essa dor.

– Maggy – chamou Sunie que estava sentada em uma cadeira depois de Anna. – Seu PSP tá aí na sua bolsa?

Eu suspirei abrindo a bolsa. Eu nunca deixava meu PSP na mala porque... porque ele era meu xodó eu o havia abandonado completamente enquanto estive lá.

– Cadê? – murmurei para mim mesma enquanto enfiava minha mão por debaixo de tudo que havia dentro daquela bolsa. Carteira, identidade, celular, carregador de celular, livro, creme para as mãos, espelhinho, filtro solar... mas nada de PSP.

– Você deve ter deixado ele na mala Mag – disse Anna com a voz calma.

– Não, eu nunca deixo ele na mala – minha voz enfraqueceu no final da frase.

Uma vez o Minho o pegou emprestado, mas logo o largou de lado porque preferiu passar mais tempo com a Sunie jogando basquete.

– Cadê meu PSP, Choi? – perguntara enquanto eu lavava a louça e ele havia entrado na cozinha para pegar uma lata de refrigerante de maçã verde (esqueci o nome do refrigerante).

– Deixei ele em cima da estante – respondera ele.

E agora eu sentia vontade de arrancar meus olhos com meus próprios dedos. Como eu pude me esquecer do meu PSP?

– Eu esqueci lá – murmurei para as meninas.

– Fala sério!

– Mag, você é muito descuidada – suspirou Anna.

– Desculpa se minha mente estava muito cheia para ter que se lembrar da droga de um PSP! – exclamei. – Trezentos dólares esquecidos lá.

– Você compra outro... – Anna ainda mantinha seu tom de voz calmo. – Aliás, aquele estava velho já. Os novos modelos são bem mais bonitinhos.

Velho? Você tem noção dos jogos que tinha ali?

– Margareth – Anna me cortou, sua voz ainda inalterável.

O que fez me perguntar se ela num estava em seu estado de “desligado”. Ela sempre faz isso quando está mal, para simplesmente não ter que demonstrar isso para mim e para Sun. Mas acho que depois de seis anos isso não funciona mais. Depois de todo esse tempo eu aprendi a decifrar cada gesto delas. Como também aprendemos a decifrar frases completas através de um simples olhar.

Sunie só sossegou no banco quando deitou a cabeça no ombro da Anna e finalmente dormiu. Eu estava sentada na janela, o que era o mesmo que nada no momento quando tudo que eu via eram nuvens. Porém, de qualquer maneira, era uma paisagem deslumbrante. Porque não é todos os dias que você tem a chance de estar sobre as nuvens e ver o sol refletir nelas, deixando-as com uma cor rosada e convidativa – sim, parecia um infinito de algodão doce.

– Maggy – chamou Anna. Eu olhei para ela. – Num quer dormir um pouco não? Você ficou a noite inteira acordada. E você ta cheia de olheiras.

 Eu desci meus olhos para meu espelhinho. Havia duas suaves bolsas abaixo de meus olhos, denunciando que eu havia passado a noite em claro. Levei minha mão ao meu rosto e estiquei a pele da minha bochecha. Eu parecia uns cinco anos mais velha, pela noite não dormida mais a falta de maquiagem.

– Não, eu to bem – disse fechando a bolsa e dando um sorriso de gratidão a Anna por se preocupar comigo.

Um sorriso forçado, mesmo que a gratidão fosse verdadeira, mas todos os meus músculos faciais estavam dormentes. Eu não queria sorrir, nem falar e mal conseguia bocejar direito. Meus olhos permaneceram abertos à vista lá de fora enquanto a luz do sol ficava cada vez mais intensa, agora deixando as nuvens num tom alaranjado.

Não sei ao certo quantas horas são daqui até lá. Mas sei que chegaríamos ao final da tarde de acordo com o horário de Nova York. Eu poderia começar a reler o livro que estava na bolsa, o qual eu também estava com preguiça de lembrar o nome. Ou talvez a minha mente não tivesse mais espaço para se lembrar de nada. O rosto do Key era a única coisa que eu via toda vez que fechava os olhos. Mas ficar de olhos abertos também não era uma boa opção, porque eu não era tomada pelas imagens nostálgicas, mas sim pelos sentimentos dela.

E a cada quilometro que nos afastava da Coréia era o mesmo que assistir um castelo de areia ser destruído e você não poder fazer absolutamente nada.

Depois do que me pareceu quase um ano, nós pousamos.   

Finalmente estávamos em Manhattan, e eu havia me desacostumado com o ar de lá. Com as pessoas agitadas e a correria diária. Havia até me desacostumado do nosso apartamento (depois de pegarmos um taxi no aeroporto mesmo) que, apesar de aconchegante, parecia não ter o mesmo conforto de casa. O mesmo conforto que eu sentia lá.

– Lar doce lar – disse Sunie tristonha largando sua mala na sala e indo direto para o seu quarto.

Eu também precisava ir para o meu – aliás, acho que cada uma de nós precisava de algumas horas sozinhas. Tudo o que eu queria era me jogar na cama e deixar vir à tona tudo aquilo que eu havia prendido desde que saímos da Coréia. Fui tirando meu All Star pelo caminho e meu hoodie. Lá em Manhattan não estava frio, mas também não chegava a fazer calor.

Meus olhos já estavam cheios de água quando abri a porta do meu quarto e a fechei atrás de mim. Meu quarto. Nem ele me parecia tão confortavelmente familiar como antes. Mesmo que estivesse bem óbvio de que ele era meu, sem duvidas. As paredes rosa claro, o carpete lilás, a colcha estendida na cama com o Rilakkuma... tudo isso gritava que o quarto só podia ser meu.

Eu me joguei na cama de bruços.

Fechei meus olhos e desejei não abri-los até que toda essa angustia e esse drama passasse.

O que ia demorar bastante.      

Já havia se passado dois dias. A sorte era que era sexta-feira o dia em que chegamos então ainda não voltamos a nossa rotina. Pelo menos não completamente.

No sábado eu fui visitar meus pais. Só percebi o quanto senti saudade deles quando minha mãe abriu a porta, disse meu nome e me abraçou forte, tão forte que quase pude sentir meus ossos estalando, mas, mesmo assim, ainda com seu toque sublime e maternal. Já o meu pai, ele não é exatamente uma pessoa fria, só não é de demonstrar muito seus sentimentos, por isso eu me surpreendi quando ele se levantou do sofá gritando “minha filha!” e me cobrindo com o seu abraço. E minha irmã já era uma adolescente de quatorze anos.

Pelo menos seu corpo era de uma adolescente.

E ela era bem diferente de mim. Dizem que eu sou idêntica ao meu pai, mas Lory puxou a minha mãe. Seus cabelos eram bem encaracolados e havia crescido bastante desde a ultima vez que a vi, sua pele era parda, as linhas de seu rosto eram fortes como as de uma modelo e seus cílios eram grossos; ela veio me abraçar ainda com os fones pendurados nos ouvidos.

Eu não passei a tarde toda lá. Fui embora uma hora depois do almoço – minha mãe fez meu prato preferido: lasanha. Depois eu a ajudei com a louça enquanto colocava o papo em dia, incluindo a minha ida a Coréia e as divindades que eu encontrei lá. E mesmo sorrindo e rindo enquanto eu contava tudo a ela (tirando todos os fatos desnecessários, tipo, os amassos e tudo mais) eu sentia meu coração se dilacerar por dentro.

– Você ama mesmo esse Key, hum? – quis saber minha mãe enxaguando a panela depois de eu ter ficado uns vinte minutos falando dele... ou só do cabelo dele.

Eu sorri abaixando a cabeça, enrolando uma linha solta do pano de prato no meu dedo.

– É... mais do que deveria – murmurei.

– Ah, Margareth – suspirou ela – Por que você sempre complica seus relacionamentos?

Eu encolhi os ombros.

– Nenhum relacionamento é perfeito, mãe. Eu aproveitei cada segundo que estive lá com eles, mas o ruim dos sonhos é que, cedo ou tarde, a gente precisa acordar.

Ela olhou para mim com seus olhos de prata (sim, eu me orgulho de ter os mesmos olhos que ela) e sorriu, logo me abraçando.

Isso tudo, quer dizer, a conversa e o abraço ternamente maternal, foram o suficiente para eu voltar para o apartamento com lágrimas nos olhos. Sério cara, o que eu fiz? Deixei o garoto que mais amei e os garotos mais engraçados e gentis que eu já conheci em toda a minha vida para trás. Por um lado eu tentava me convencer de que fiz a coisa certa, e que a parte mais difícil seria ter que me desapegar àquilo tudo e transformá-los apenas em lembranças. Porém, por outro lado, eu queria ter abraçado cada um deles um pouco mais forte e dizer um modesto “até mais”. Mas a ultima coisa que eu ouvi do Key foi um “boa noite, durma bem, pérola” que eu respondi sorrindo com um “boa noite” e um beijo bem significativo.

Mas se houvesse despedidas eu me prenderia a elas por um bom tempo, sendo que eu queria guardar apenas as boas lembranças de lá.

Aproveitei o sinal vermelho para tirar as mãos do volante e secar as lagrimas que não paravam de cair. E fiz um bom exercício de respiração antes de voltar a passar a marcha e pousar as mãos no volante de novo.

E foi nos três segundos seguinte que tudo aconteceu muito rápido.

Certo que eu estava passando por um cruzamento e, por cautela, como eu sempre faço, eu espero alguns segundos antes de arrancar com o carro, porque enquanto um sinal abriu, o outro ainda está no amarelo. Mas eu estava tão absorta nos meus pensamentos (e fazia tanto tempo que eu não dirigia pelas ruas de Manhattan) que eu acabei me esquecendo dessa regrinha que criei para mim mesma e o carro que vinha pela minha direita bateu na lateral do meu Cabriolet vermelho.

Eu bati as mãos no volante soltando um palavrão e abri a porta do carro. Fala sério! Depois disso tudo a ultima coisa que eu precisava era isso! Uma batida de carro!

– Senhora eu... – ia se desculpando o cara da van.

Sério! Foi uma van! Eu afundei meus pés até a outra lateral do carro só para ver o estrago e soltei outro palavrão quando vi o tamanho do amassado e o quanto de tinta tinha descascado.

– Er... senhora...

– Senhora é a sua mãe! – exclamei, já a ponto de enlouquecer.

– Senhorita – ele se corrigiu – Eu...

– Sabia que sinal amarelo significa “atenção, se você continuar você vai acabar ferrando com a vida de alguém”?!

– Realmente foi um descuido meu...

– Há! Descuido?

– Vamos arcar com o prejuízo – disse uma voz atrás de mim.

Eu estava pronta para me virar e dizer um obrigado banhado por sarcasmo, voltar para meu carro (que pesar de estar com a lateral amassada ainda dava para dirigir, mas ninguém merece andar por aí com um Cabriolet amassado) e continuar meu trajeto até em casa. Mas quando eu fiz isso, eu perdi a respiração. Não da mesma maneira que se perde a respiração quando aquele garoto te beija, parecia mais como se eu tivesse perdido meus pulmões.

O pior é que eu estava feliz por isso. Não por perder os pulmões, quero dizer, pelo que estava acontecendo ali.

E nos segundos que se seguiram ali eu havia me esquecido completamente do amassado do meu carro e que também estava parada praticamente no meio de um cruzamento (felizmente os motoristas desviavam numa boa, xingando e tudo mais, mas numa boa).

As lágrimas amargas que antes derramavam de meus olhos, agora haviam se transformado no transbordar da minha felicidade quando ele abriu um sorriso e me esmagou num abraço bem mais forte do que aquele da minha mãe que quase quebrou minhas costelas. A diferença era que eu não me importaria se ele quebrasse minhas costelas. Talvez eu continuasse sorrindo mesmo assim; sem costelas, sem pulmões.

– Por que você fez isso, pérola? – perguntou Key com a voz embargada.

– Eu sou tão estupida – Minha voz quase que não saia.

– Sim, você é.

Eu ri.

– Obrigada.

– Por ser estupida? – ele desmanchou o abraço sem tirar os braços da minha volta, mas o suficiente para olhar para meu rosto.

– Não, por vim atrás de mim quando eu menos merecia – Eu pisquei. A essa altura meu rosto estava encharcado. E ver o Key chorando também não ajudava. Quer dizer, é estranho ver uma pessoa tão alegre, que sorri e ri o dia inteiro, e até, quem sabe, dormindo, chorando.

Ele sorriu balançando a cabeça e me abraçou de novo. Então pude ver Taemin, Jong, Minho e Onew por sobre o ombro dele e estiquei meus braços, os chamando com a mão, para um abraço em grupo.

Sabe, não adianta fugir de muita coisa, o destino vai arranjar um jeito de jogá-las de volta no seu caminho da maneira mais brusca possível... literalmente.


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