– Tá frio lá fora, noona – murmurou Taemin puxando minha mão quando já havia posto meus pés para fora do carro.

Nem estava tão frio assim. O vento estava gelado, de fato, mas era um friozinho suportável, daqueles que faz você querer abraçar aquela pessoa e nunca mais soltar. Mas era difícil discutir com o Tae sobre isso quando ele me olhava com aqueles olhos castanhos suaves e grandes.

E foi com um suspiro que eu pus minhas pernas para dentro e fechei a porta.

– Mas o que a gente vai fazer aqui? Brincar de adoleta como antes?

Eu vi um sorriso tímido se formar em seu rosto quando ele abaixou a cabeça para fitar seus joelhos que se balançavam devagar de um lado para o outro, vez ou outra se roçando ao meu.

Desde o dia na floresta que ele me presenteou com um cordão e um papel amassado me pedindo em namoro que ele vem fazendo papel de homem protetor, romântico e doce. Tipo, eu não estou reclamando. Nem de longe eu to reclamando. Só to querendo chegar ao ponto de dizer que quando ele fazia essa carinha de criança pidona eu simplesmente não conseguia resistir, e um impulso enorme de apertar aquelas bochechas e encher ele de beijos me consumia.

Mas eu conseguia me controlar muito bem.

Muito bem mesmo.

Porém, como eu não tinha muitos motivos para deixar de fazer isso, eu segurei seu queixo entre meu polegar e indicador e afundei um beijo naquela bochecha gostosa.

– Você é muito mimado – murmurei sorrindo.

Ele passou a língua nos lábios, olhando nos meus olhos.

– A gente não precisa brincar de adoleta... – Ele pigarreou e desaviou o olhar quando eu ergui uma sobrancelha. – Já que estamos sozinhos...

Eu ri. Não consegui me controlar por tempo o suficiente. Tipo, por que nessas horas ele não fazia o mesmo papel de homem? Por que ele não parava de falar e simplesmente...? Bom, deu para entender.

– Taemin – disse ainda com um sorriso no rosto e baguncei seus cabelos castanhos. Eles eram tão finos e macios, quer dizer, o cabelo dele. Eu sentia até uma pontada de inveja porque homens não precisam de cabelo tanto quanto as mulheres.

 Mas não era exatamente nisso que eu pensava depois que ele pousou a cabeça no meu colo e eu comecei a fazer carinho nele. Não. Eu só conseguia pensar no quanto a vida era cruel e o quanto o destino é irônico. Porque quando finalmente eles te dão a ferramenta certa para ser a pessoa mais feliz do mundo, eles dão um jeito de tirá-la de você. É como se a felicidade tivesse um prazo de validade. Não que eu não fosse feliz com a Maggy e a Sunie, muito pelo contrário, elas são uma das poucas melhores coisas que aconteceram na minha vida. E agora o Taemin era uma dessas melhores coisas também (ok, não só o Tae, todos eles, o Onew, o Jong, o Minho e o Key. Mas o Taemin é prioridade).

Então comecei a me perguntar se ter me permitido se apaixonar por ele teria sido a coisa certa. Pode até parecer masoquismo ou frieza da minha parte, mas eu desejaria voltar no tempo e não ter me apaixonado por ele. Nem ter conhecido eles. Ou melhor, não ter ido atrás da ideia maluca da Maggy de vim para Coréia, porque era um lugar que nós simplesmente nunca pensamos em visitar.  Tudo isso para quê? Só para evitar ter outra melhor coisa na minha vida e depois ter de abandoná-la, porque de fato, nada disso era para ter acontecido. 

Mas aconteceu.

E o cordão preso em volta do meu pescoço parecia estar pesando uns cinquenta quilos agora porque tive que segurar ele com os dedos, e aproveitei para sentir a silhueta dos corações entrelaçados e do pequeno cristal que havia entre eles.

TAEMIN’S POV

Coragem... Coragem. Coragem! Era isso que o Key vivia me dizendo para ter. Pra parar com a timidez, ou dar uma amenizada nela, e ter mais coragem, mais atitude, ao invés de deixar ela fazer quase tudo. Mas isso é porque ele nunca saiu com uma garota três anos mais velha que ele e mais inteligente que ele. Não to dizendo que a Maggy é menos inteligente, não, ela e o Key tem o mesmo nível mental – se é que me entende. E o Minho... a qual é! Deve ser bem mais fácil lidar com garotas mais novas, e não to dizendo que a Sunie é facilmente manipulável. Só to dizendo que relacionamentos com garotas mais velhas você é obrigado a se sentir inseguro com cada movimento que faz, por medo e porque, de alguma forma, ela é mais experiente que você.

Mesmo eu sempre tentando mostrar o contrário.

Só tentando. Porque para conseguir um beijo dela eu fazia biquinho ou beicinho. Porque eu ainda não tinha coragem o suficiente para tomar iniciativa nisso. Tipo, nisso, beijar!

E agora o que eu estava fazendo? Deitado no colo dela, deixando-a fazer carinho nos meus cabelos como se eu fosse uma criança.

Isso era maravilho, ela tinha a mão leve e fazia movimentos entorpecedores, mas eu precisava deixar de ser passivo.

Agora!

Então, sem pensar muito, eu me levantei. Sua mão deslizou da minha cabeça para o meu ombro e eu fiquei ali um bom tempo olhando naqueles olhos cor de mel que – mesmo com toda pouca iluminação, já que estava de noite, e tudo que nos fornecia a visibilidade era a luz da lua – eram tão luminosos e tão doces como um par de verdadeiras poças de mel. Que faziam minhas mãos e joelhos tremerem. E meu coração acelerar.

Mas mesmo assim eu me inclinei. Levei uma mão até a sua nuca enquanto a outra a puxava pela cintura e a beijei. Anna pousou suas mãos em meus ombros, se virando para mim de modo a ficar com os joelhos nos meus quadris, sentada nas minhas coxas. Sem desgrudar seus lábios delicados dos meus.

Minhas mãos desceram parando na base de suas costas e voltando a subir sob sua camisa de malha do R2D2.

– Noona – sussurrei ofegante voltando a segurar seu rosto. Eu olhei em seus olhos mais uma vez e respirei fundo. – Koishiteru.

E ela meio que parou de respirar.

Pronto! É por isso que eu não tenho coragem de tomar muitas atitudes e relacionamento com garotas mais velhas é mais complicado. Eu poderia ter dito um eu te amo em japonês simples, tipo o “aishiteru”, mas eu precisava partir para uma coisa mais intensa como o “koishiteru”. Quer dizer, koishiteru é o tipo de eu te amo que só se diz para aquela pessoa que você tem certeza de que vai passar o resto da vida ao lado dela.

E eu quero passar o resto da minha vida ao lado da Anna. De verdade. Mas acho que fui muito precipitado...

– Tae... – ofegou ela soltando a respiração. E soltou uma risada. – Prove – ela sussurrou mordendo minha bochecha. – Diga para o mundo inteiro ouvir – Ela riu um pouco mais.

Eu sorri. Ela não devia estar me levando a sério, mas eu sorri.

– Koishiteru, noona – sussurrei.

Ela afastou seu rosto do meu para franzir o cenho.

– E você é o meu mundo – completei.

E vi o brilho de uma lágrima lampejar naquelas poças de mel enquanto um sorriso se formava no rosto dela.

– Koishiteru, maknae – murmurou ela antes de em abraçar.

E tudo que eu mais queria era parar no tempo agora para num ter de acordar amanhã e pensar como seria viver sem ela.