Segredo Familiar. escrita por mokoli-me


Capítulo 13
Ferida.


Notas iniciais do capítulo

Recompensa pelo atraso do outro capítulo.Espero que vocês gostem.



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Ferida.

Primeira folha do diário:

“Aqui eu irei compartilhar todas as minhas decisões, ou pelo menos parte delas.

Meu nome é Cláudia. Recebi o diagnóstico de doente mental aos 18 anos. Eu não sou completamente incapacitada, eu penso, mas minha mente é suja, eu sou errada por dentro.

Eu vejo graça na morte, eu amo o sofrimento dos outros, só quero o meu próprio bem e faço de tudo para conseguir o que quero.

Já fiz diversas coisas, desde colocar o pé para as pessoas caírem até deixar uma pessoa inconsciente de tanto que eu bati.

Eu sou assim e não posso negar. Eu escuto vozes, tenho alucinações e sou propensa a fazer o mal.

Eu me defino em apenas uma palavra: psicopata. Meu dom é manipular as pessoas e meu maior sonho é ver todos aos meus pés.

Esperei até os 18 anos para recorrer até a minha família, porque tudo que eu fazia, eu não podia ser responsabilizada, pois era menor de idade. Após completar 18, os riscos seriam maiores e eu confirmei o que eu já sabia. Eu sou louca.

Se eu roubar, se eu matar, por nada disso eu irei pagar, o máximo que vai acontecer comigo é eu ir parar em um hospício. Analisando um todo, o hospício não é tão mal assim.

Minha família é rica, ela tem o poder. Extorquir o médico foi uma solução, demos uma vida de príncipe para ele e o tolo declarou caso esquecido. Uma trama que não envolve só ele, mas toda a minha família e todos que colocaram as mãos naquelas folhas, o decreto da minha doença mental.

O bom de ser uma psicopata é que você pode viver em uma sociedade normalmente, manipulando as pessoas e ninguém nunca descobrirá o que você é de verdade.

Aos 16 anos eu joguei no Google a palavra psicopata e li toda a matéria da Wikipédia, foi aí que eu me descobri.

Sou sado masoquista assumida. Amor, o que é isso? Se existe isso eu não sei o que é.

Talvez eu só escreva aqui quando eu tiver uma grande revelação. Essa é minha caixinha dos segredos.”

Ela parecia bem lúcida quando escreveu isso, agora o mistério dos papéis foi solucionado. Minha garganta está entalada, eu não consigo imaginar no que pode ter acontecido todos esses anos em que minha mãe ficou solta por aí. Meu coração já está machucado demais hoje.

―O que está escrito aí Bela?

―Os papéis pertencem à Cláudia.

Piloto automático ligado. Faço o resto das coisas por simples impulso do corpo. O nó dentro de mim está apertado demais, é como um chute na barriga.

O que tem nos CDs eu só vou descobrir mais tarde, hoje eu já passei do meu limite.

Minha mente agora pesa 100 quilos. Meu corpo não tem lugar para mais marcas.

Deito na cama, mas as frases do diário passam na minha cabeça sem parar.

“Cortei-me na pia do banheiro e chupei meu sangue até que fiquei tonta”.

Mal sabia eu que carregava alguns traços de minha mãe.

“Dei um soco na cara da minha mãe e foi uma das melhores experiências que já tive”.

As frases não paravam de passar desesperadamente pela minha cabeça.

“Eu estou grávida e o monstrinho não pára de se mexer dentro de mim, minha vontade é de matar ele, eu o odeio”.

A este ponto não pude mais conter o choro.

“Todos estão na minha mão, meu filho está arisco demais é hora de pôr um fim nisso tudo.”

Não, eu não quero pensar nisso.

“Morte, matar, matar, matar, eu vou te matar Bryan.”

Meu corpo deu um impulso e eu apaguei.

Acordei tarde no outro dia, não sei se desmaiei ou se dormi talvez os dois.

Domingo, todo mundo está em casa, não tem como fazer nada hoje, pelo menos é uma forma de descanso pra mim.

O que aconteceu ontem vai ser difícil pra eu tirar da minha cabeça, mas eu tenho que evitar aqueles pensamentos a qualquer custo.

A primeira prova eu já encontrei, mas apesar de tudo eu teria torcido para que não fosse eu.

Apesar da minha dor, não quis compartilhar isto com Bruno, o papel dele só seria me representar, nós dois sabemos que ele não precisa ficar sabendo dos detalhes, pois isso lhe causaria um mal tremendo.

Passei o resto do dia pensando em como eu estou perto do fim, como eu estou perto de provar a morte de meu irmão.

Tentei ao máximo evitar o contato com minha mãe. As maldades que ela já fez a transformou em um monstro para mim.

Juntei forças para o dia de amanhã e fiz um pedido para que Juliana me ajudasse a vencer este desafio, o desafio final.

Segunda-feira.

Vou para a escola, meu tempo é curto. Hoje vou conseguir desviar a atenção da Rose fácil, afinal eu tenho o Bruno e posso dar a desculpa de que quero ficar com ele.

O Bruno anda meio desorientado, ele ainda anda abalado por tudo que ele soube.

Minha caminhada está chegando ao fim, assim espero.

Nós dois fomos até o meu quarto e pegamos os CDs. Eu estava nervosa, eu sabia mais ou menos o que continha neles.

Ele ligou o computador e colocou o Cd. Ele parecia ter tomado coragem.

Finalmente a grande prova, a filmagem da morte do meu irmão.

Ele sendo afogado, indefeso naquela posição, eu amarrada nas cordas, minha mãe com um sorriso de satisfação. Não aguentei a dor e corri para o banheiro, não queria ter que passar por aquele sofrimento de novo.

Talvez essa lembrança seja a mais real de todas, pois ela persiste apesar de eu tentar afastá-la de minha mente agora.

Meu irmão estava no banho, lá em casa tinha uma banheira grande.

Eu estava no meu quarto treinando uns passos de balé, quando minha mãe entra no quarto, tapa minha boca com uma mordaça, me amarra e me leva até o quarto de Bryan e me prende na maçaneta da porta do banheiro. Não consigo mexer um dedo sequer.

Ela pega uma chave no bolso, abre a porta e corre em direção ao Bryan que toma banho. No momento em que ela abriu a porta eu fiquei virada para a cena, olhando tudo.

Ela o pegou de surpresa, afundou sua cabeça na água, onde ele agonizou até a morte e tudo isso eu presenciei.

Ao final ela me soltou, me ameaçou e a família da minha mãe encobriu tudo e a história que ficou foi a que ele desmaiou no banho e morreu afogado.

Na minha frente ela nunca mostrou nenhum sinal de arrependimento, ela sempre se referia a ele como um monstrinho.

Eu sofri por dias intermináveis, aquelas imagens não paravam de preencher a minha mente e encobri a história porque achei que eu não seria capaz de provar o contrário.

Saí do banheiro e me juntei ao Bruno, que estava com as mãos no rosto aos prantos.

Quando nos recuperamos guardamos todas as provas atrás de meu guarda-roupa e por fim decidimos que amanhã seria o dia em que iríamos acabar com tudo isso.

Amanhã eu me veria livre para sempre desse pesadelo, eu poderia talvez ter uma vida.

Mas nada, nada poderá apagar as marcas que estão no meu coração, nada irá conseguir conter minha dor, nada fará com que essas lembranças persistam em minha memória, eu estou presa em mim mesma, as minhas memórias vão me destruir aos poucos, pois a justiça já estará feita, eu vou provar o que tanto quis para o meu irmão, mas eu não vou conseguir fazer mais nada.

Essa vida não foi feita para mim, eu queria poder viver como todo mundo, mas eu só vou viver uma vida influenciada pelos erros de outros.

Uma ferida aberta domina meu coração e não sei se vou conseguir viver tempo o suficiente para poder fechá-la.


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Notas finais do capítulo

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