I'll tell you one time, girl I love you, I love you...

  Meu toque de celular me acordou, as sete horas da manhã. Sim, meu toque é One Time do Justin Bieber. Sim, eu sou incondicionalmente apaixonada por ele. Xinguei em voz baixa e olhei o visor. Era Quíron. Bufei e apertei o botão de viva-voz.

  -Quíron? A que devo sua ilustre chamada as sete da manhã de um domingo? - perguntei, com raiva.

  -Corinne? Corinne Backer? - perguntou Quíron do outro lado. Revirei os olhos. - Precisamos de você.

 -Sério? - perguntei irônica.

 -Sim... olhe, você pode vir até aqui?

 -Até o acampamento? Sonha... - eu disse, pronta para desligar.

-Calma... tem haver com seu pai.

Congelei.

     -Eu não tenho pai. - falei e desliguei o telefone. Me espreguiçei longamente e sai do quarto. Fui até a cozinha.

     -Bom dia, mamãe. - cumprimentei minha mãe, que fazia Waffles. Ainda me surpreendia com sua inebriante beleza. Minha mãe parecia um verdadeiro anjo com seus cabelos loiro-platinados e olhos verdes elétricos. Ela era filha de Afrodite, então já era de se esperar que fosse linda. Mas ela... tinha essa pele de porcelana e essas bochechas rosadas que foram capazes de conquistar Zeus. E que continuavam iguais, mesmo agora, dezesseis anos depois.

 Já eu... bem, eu não era nem um pouco assim. Quer dizer, eu tinha o mesmo cabelo claro de minha mãe, em um tom mais escuros, olhos cinzas como os de Zeus e pele de um tom que eu costumo chamar de "vômito de bode", pois não é branca, nem morena, nem bronzeada e sou baixinha - muito, na realidade.

     -Bom dia, querida. - minha mãe, Olívia, me cumprimentou com um beijo na bochecha e um olhar culpado. - Cori... não acha melhor obedecer Quíron?

     -Você ouviu?! - perguntei, abismada. Ela abaixou a cabeça.

    -Apenas o suficiente. Vamos querida, ambas sabemos que aqui não é seguro. - minha mãe disse. - Seja flexível.

     -Mãe... - eu disse a olhando com pesar. Eu sabia o quanto era difícil para ela - e consequentemente para Tom, seu marido humano - viverem comigo, sempre sujeitos a ataques de monstros e tendo que mudar de lar. Ela nunca demonstrara, mas eu sabia. Ainda assim, não podia voltar para o acampamento. Não para lá. Onde eu era... literalmente indesejada.

    -Bom-dia! - Tom disse descendo as escadas. Quando me viu, ficou surpreso. - Já acordada, Little Miss Lighting? - Tom disse, usando o apelido que inocentemente me dera: Pequena Miss Raio, com a desculpa de que eu tinha a energia de um raio. Irônico, não?

    -Fazer o quê... - lamentei, com um suspiro. Tom riu e pegou um Waffles.

    -Cuidado, estão quentes, querido. - minha mãe disse, com amor. Ainda me pergunto o que ela viu no Tom: um quarentão que está começando a ficar calvo, com uma barriga nada em forma e barba rala. Mas então eu lembro do que ela me disse em seu casamento: aparência não é tudo. E Tom pode ser feio, mas é uma ótima pessoa. Eles são um casal tão perfeito... seria ainda melhor se não tivessem de mudar de casa cada vez que um monstro me ataca. Suspirei, tomando uma decisão.

     -Mãe, pensei no que me disse, sobre aquele acampamento de férias. - falei. - Acho que tem razão. Vou lá hoje, visitá-lo.

     Minha mãe me olhou com ternura.

     -Faça isso, filha. Afinal, já está de férias mesmo. - ela disse, sorrindo. Sorri de volta e subi. Coloquei uma roupa simples: saia jeans, botas ugg pretas, uma blusa branca com os ombros a mostra. Passei um pouco de maquiagem - queria abalar minha chegada - e sai de casa, com uma bolsa no ombro cheia de roupas e coisas necessárias. Entrei no meu pequeno New Beattle amarelo e joguei as coisas no banco de trás, abaixando o teto automático. Coloquei meus óculos de sol. Seria uma longa viagem de Los Angeles até Nova York.

                                              l l

   Uma meia hora depois, a gasolina começou a abaixar. Xinguei em voz baixa e comecei a procurar um posto. Depois de alguns quilômetros, avistei um posto rasoavelmente normal, com uma lojinha de conveniência que podia ser muito... conveniente. Parei o carro e liguei a torneirinha. Enquanto esperava, entrei na loja. Estava escuro. Procurei um interromptor e acendi a luz.

     Olhei algumas prateleiras empoeradas. Foi quando ouvi um barulho estranho. Me virei e...

      -AAAAAAAAAAAAAAAAAH!