Chocolate escrita por Nina_Waka
A aula de Física demorou tempo demais para passar, e a professora ainda segurou a sala por mais cinco minutos. Pela janela da sala, vi o Erick entrando em sua BMW-X5, e ir embora. Eu teria que ligar para ele mais tarde pedindo desculpas.
Quando a professora liberou a sala, eu já estava pensando no caminho mais curto para ir para casa a pé. Em geral iria com o meu carro ou com o meu amigo sabe, o‘‘ Senhor Lobisomens existem’’ entretanto, ele já tinha ido e com certeza Jessye também.
Porém, tive uma ótima surpresa, Jessye estava no corredor dando pulinhos de alegria e com um envelope azul-marinho nas mãos.
— Valeu por ter me esperado.
— Não foi nada. Selina sabe o que é isso na minha mão? – ela levantou o envelope com muito orgulho.
—Huumm. – Fiz cara de pensativa. – Um envelope azul-marinho! – sorri irônica.
— Sem graça. – Olhou-me séria, só que imediatamente, ela voltou a dar pulinhos. – É um convite.
— Convite?
— Sim. Sim. Sim! – Jessye estava entusiasmada demais. E isso me deixava assustada.
— Um convite para quem? E para onde? – fiz cada pergunta com o máximo de cuidado e com medo de cada resposta.
— Para você e para a festa na colina. – Ela deu um grito no final da última palavra.
— Você pegou um convite pra mim? – falei tentando esconder minha decepção.
— Claro. Você é minha melhor amiga, achava que eu não conseguiria um convite pra você, não é?
— Para falar a verdade, sim. – Eu contava que ela não conseguisse, odiava festas assim: cheia de gente popular, em uma colina, com rock pesado e garotos com testosterona trabalhando a mil. – Como você fez isso?
— Falei com o Lucas. Eu joguei um charminho para ele sabe, falei que você e o Erick são meus melhores amigos e que seria muito chato se vocês não fossem. Ele então falou que se isso me deixava feliz, então estava tudo bem. – Um sorriso enorme surgia em seu rosto.
— Uau, você é demais mesmo Jessye. – Nunca que eu iria a uma festa assim, portanto, daria a notícia com um toque bem delicado. Já que ela se magoava muito fácil. – Sabe, não tem como eu ir. Eu tenho... um monte de dever sabe, e tipo, hum...não tem como eu ir mesmo.
— É verdade, muito dever... – sua voz ficou muito triste. Ela queria mesmo que eu fosse nessa festa. – Então fica para próxima Selina, eu vou só com o Lucas mesmo.
Sentia-me tão mal, Jessye sempre ficava do meu lado, mesmo quando não gostava. E como eu retribuía? Fazendo isso. Um grande sentimento de culpa estava crescendo em mim. Cadê o Erick quando eu preciso dele.
— Está bem.
— O que? – ela olhou-me cheia de dúvida.
— Eu vou à festa com você. – Não acredito que estava fazendo isso.
—Você vai mesmo, e o seu dever?
— O dever eu faço depois. O Google me ajuda. – Nós duas rimos.
— Mas o Erick vai? – perguntei como quem não queria nada.
—Vai sim.
— Ele vai do tipo... Você acha que ele vai, ou ele vai, porque falou que vai?
— Nossa Selina!Ele vai, porque falou que vai. – Olhou-me rindo – Por quê?
— Ele não parecia gostar de festas assim.
— É, mas gosta. De vez em quando, até vai. – Essa eu não sabia, o Erick, o garoto de roupa social. – Você também vai gostar. – Falou-me com certeza em cada palavra. – Vai ser a festa do ano. – Jessye ergueu os braços para cima. – E minha melhor amiga vai estar comigo.
Nossa, em que eu fui me meter. Só não entendia o porquê essa festa seria tão importante, em geral a uma festa toda semana.
— Sabe Jessye, por que essa festa é tão importante?
— É a festa da virada da lua.
— E tem isso agora?
— Sempre teve. É a festa da lua cheia!
— Fala sério?
— Claro. Por isso vai com roupas marcantes sabe, não é? – ela viu a minha cara e continuou – Pink, vermelho, preto... Cores marcantes.
— Ah!Entendi.
— Então, você tem roupas assim?
— Acho que tenho.
— Você acha? – Olhou-me incrédula.
— Eu tenho um vestido vermelho.
— Vermelho... – pausou fingindo pensar. – Você deve ficar muito sexy de vermelho.
— Jessye. – A empurrei corando.
— Quer carona?
— Claro que eu quero. Já estava pensando na distância da escola até a minha casa.
Meus pais sempre gostaram da natureza, e morar no meio do mato, longe da cidade era a melhor coisa ‘‘ para eles’’, para a minha irmã era o fim do mundo. Eu já não ligava muito, desde que fosse de carro ou tivesse uma carona.
Jessye levou-me para casa pelo mesmo caminho de sempre, só que os minutos estavam passando rápido. Viemos ouvindo rádio, tudo bem normal. Quando ela parou em frente de casa,vi a minha irmã trocando sorrisos com a minha melhor amiga.Nick – a minha irmã. – não gostava muito das amizades que eu tinha, porém, as duas concordavam que eu deveria sair mais de casa, então consegui sentir uma certa aliança entre elas naquele momento.
— Bom, eu já vou indo. Você deve querer se arrumar mais para a festa. – Falei saindo do carro.
— É verdade, tenho que dar um ‘‘ up’’ no meu ‘‘ look star’’. Ah, liga para o Erick. Ele deve estar do lado do telefone perguntando-se, porque o drama dele não funcionou. – Começamos a rir.
—Vou ligar sim. Tchau.
— Até daqui a pouco. A propósito, passo para te levar?
— Não precisa, tenho certeza que minha irmã vai também.
— Então, tchau.
O Prisma dela já dobrava a esquina, quando acenei. Olhei para minha casa e senti vontade de acorrentar-me a ela.
Só estava indo a essa festa pela Jessye.
Uma gota de chuva pingou bem no alto da minha cabeça, e assim que olhei para o céu, vi que sua cor havia mudado de claro para um tom acinzentado.
Nick estava na varanda olhando para o céu também, entretanto, não parecia preocupada com o tempo, o meu olhar acompanhou o dela e de novo vi-me olhando para cima. Resolvi parar com aquilo e entrar em casa.
A nossa casa era um sobrado branco, feito de madeira, tinha uma varanda na frente com uma rede montada, havia várias árvores cercando o outro lado da rua. O diferente é que a casa não possuía portões nem muros, apenas uma cerca simples e branca marcando até onde se localizava a frente da casa.
Desde que nós nos mudamos para cá, – faz uns quatro meses – eu nunca gostei dessas árvores do outro lado da rua, era uma espécie de bosque. Sempre que olhava, sentia um arrepio. Como se alguma coisa estivesse olhando-me também.
Parei na varanda ao lado da minha irmã.
— Oi. – Nick estava estranhamente animada.
— Olá, adorei a blusa.
— Linda, você não acha?
— Sim, principalmente pelo fato de ser minha. – Nick tinha suas próprias roupas, mas mesmo assim, teimava em usar as minhas. – Não sei como minhas roupas ainda servem em você. – Minha irmã tinha um e setenta e cinco, um corpo lindo, cabelos pretos até o queixo e vinte e três anos. Contudo, ela insistia em usar as roupas de uma garota de um e sessenta e com dezessete anos.
— Muito menos eu, mas serve. Você vai à festa? – perguntou-me preocupada.
— Eu não estava a fim de ir, mas vou pela Jessye.
— Vai fazer esse sacrifício? – zombou ela.
— Vou tomar um banho que eu ganho mais. – Bufei e entrei. Não consegui deixar de não rir pelo tom que ela havia brincado comigo.
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