30.

Stark acordou e deu de cara com uma das suas camas vizinhas desarrumadas. Igual a uma criança que encontra um presente de natal, ele pulou da cama alegremente e escancarou a porta do banheiro deles.

O grito que Danilo deu assustou Stark, que gritou junto. O loiro tapou os olhos e Danilo tratou de se esconder atrás da cortina do chuveiro.

— O que deu em você STARK!? – O moreno falou alarmado.

— Foi mal, irmão! Eu não queria invadir sua... Intimidade! Eu só queria saber se alguém tinha voltado!

— E não dava pra bater na porta não? – Danilo perguntou num misto de vergonha e aborrecimento.

— Estranho... Isso ta parecendo com a vez que eu entrei no banheiro da Vickie... – Stark deixou escapar. — Por que eu vivo fazendo merda?

— VOCÊ O QUE?

— Vivo fazendo...

— Não, não... A parte da Vickie... Você fez o que?

— Ah, foi um acidente, quando eu entrei no banheiro e ela estava lá. Foi sem querer... Foi até na sua pousada!

— NA MINHA...? Seu imoral! – Danilo exclamou indignado. — Me admiro da Vickie ter... ARGH?! QUE NOJO!

— Relaxa, cara, não houve nada! Quer dizer, não pra ela né? Mas eu saí de lá esfolado e espancado!

— Bem feito pra você! Ficar invadindo o banheiro da garota!

— Eu já disse que foi sem querer!

— Ok, agora será que dá pra você sair do banheiro e deixar eu terminar de me arrumar? – Danilo disparou.

— AH É MESMO! – Stark abriu os olhos, virados para o chão, e saiu de volta pro quarto.

Danilo terminou de se enxugar e vestiu a roupa, vestindo a blusa da escola e enrolando as mangas dela até os cotovelos. Saiu do banheiro e encontrou Stark roendo as unhas de nervosismo.

― E então? Como foi? – Ele perguntou ansioso.

― Ah, o Alan está bem... – Danilo esperou Stark suspirar aliviado para terminar: ― Bem arrebentado!

― O QUE? – O loiro saltou da cama. ― COMO ASSIM? Ele está na U.T.I.? Na C.T.I.?

― E essas não são as mesmas coisas? – Danilo deu de ombros.

― Ah, cara, para de fazer suspense! Diz de uma vez!

― OK, Ok... Ele está legal. Nada quebrado, nenhuma fratura, tudo bem mesmo...

― UFA! – Stark expirou. ― Menos mal... Mas então? Conta tudo!

― Às vezes seu jeito me assusta sabia? – Danilo se esquivou indo até o espelho da porta. ― Mas eu não vou contar mais nada!

― Como? Por que não...?

― Por que você está despreparado e com cara de zumbi! É sério cabeça-de-estrela, vai tomar seu banho e a gente vai encontrar as meninas! Preciso ver a Rachel!

Stark sorriu sacana e olhou maroto para Danilo.

― A Rae? Andou rolando alguma coisa foi?

― Rolando... Rolando... Eu não sei direito! – O moreno desabafou se jogando na sua cama.

― AHRRR? Como assim não sabe? Ou tá ou não tá!

― É difícil de explicar, Estrelinha... Eu... Não sei se está... Pelo menos não pra ela!

― Para a Rachel? Uma garota tão decidida! Minha inspiração como pessoa! Como ela pode te deixar incerto? – Stark parecia surpreso.

― É que... Talvez ela não goste de... De mim, exatamente...

― Por que diz isso?

― Ah... Por que...

― Danilo Luxer, você está gostando da minha Raquetinha? – Stark ergueu uma sobrancelha arteira, fazendo Danilo ficar desconcertado.

― Gostando da Rachel? EU? De onde tirou isso?

― Dessa sua cara e esse seu jeito de lerdo, talvez!

― Ah, não enche Stark!

— É sério, Dan! A Rae é apaixonante. Não me admiraria se você estivesse!

― Mas é claro que eu não estou! Rachel não é do tipo que vai gostar do melhor amigo... Quer dizer, segundo melhor amigo!

― Segundo?

― Todo mundo sabe que o melhor amigo dela é o Alan!

― Então você só pode ser o Terceiro, por que o se o Alan é o número Um eu sou o Dois! – Stark disse convencidamente mostrando a língua.

― Nossa! Isso ajudou! Obrigado!

― Falando sério Daniquinho... Você pode dizer se está gostando dela ou não! Pode confiar em mim!

Danilo ergueu um olhar meticuloso para Stark, que parecia sincero.

— Tudo bem, se você quer levar pra esse lado... – Danilo se sentou de frente para Stark. — Supondo, hipoteticamente, que eu goste dela... E se eu a ouvi dizendo que ama outro?

— E esse outro seria o Alan? – Stark procurou entender. Danilo hesitou. — Hipoteticamente!

— Sim, hipoteticamente sim!

— Bem, se hipoteticamente você a ouvisse dizendo que ama o Alan, é por que ela ama! Mas isso não significa que ela não possa te amar também! Porém, não é certeza que ela o ame do jeito que você queria. Mas também é possível que ela ame o Alan como o melhor amigo que ele é! Ou seja, isto te dá uma vantagem de poder ser o verdadeiro amor!

Danilo apenas ergueu uma sobrancelha e seu olho direito tremeu de leve.

— Como é que é?

— AFF! Burro! – Stark passou a mão pelo cabelo e continuou. — Sinceramente, Dan? Seria muito mais fácil se você admitisse de uma vez que gosta da Rachel! Quem está querendo enganar?

— Acho que você está viajando, amigo! – Danilo se levantou, desconversando.

— Eu viajo... Você foge... Não estamos indo muito bem...

— Certo! E o que quer que eu faça? A Rachel ama o Alan e ficamos nessa! Ponto! É isso! Acabou!

— Acho que você está sendo covarde... – Stark disse num tom provocador, o que atiçou Danilo profundamente.

— COVARDE? EU?

— NÃÃÃÃO! A Madona! Quem é que não consegue sequer admitir o que sente aqui? Eu? - Stark prosseguiu atilado.

— Seria uma boa hipótese. Mas não. É melhor a gente deixar essa conversa de lado, que já foi longe demais! A final, o ponto inicial não era o Alan?

— Ah é! – Stark deu um salto e puxou uma toalha da sua cômoda. — Eu vou tomar meu banho!

— É. Vai logo, vai!

Stark entrou no banheiro trancando a porta ruidosamente. Danilo se virou de frente para o espelho enquanto tentava passar o pente pelo cabelo.

“Se hipoteticamente ela me amasse...” – Ele pensava. “Mas Rachel nunca gosta dos garotos que arrastam asa pra ela!”. – Ele sorriu ironicamente. “Porém, se eu não a amo... Então eu corro perigo...”.

O pente passou, enfim, por um nó de forma doída, fazendo Danilo despertar.

***

Rachel terminava de amarrar o cabelo num rabo de cavalo alto e firme. Vestia uma camiseta e um short de educação física. Usava tênis e uma liga na altura do joelho esquerdo por proteção. Nem parecia a mesma Rachel. Estava sentada sozinha na lanchonete da escola. Ninguém havia descido para o café ainda. Ninguém até...

— BÚH! – Vickie a assustou por trás.

— Oi maluca! Quer me matar antes de eu morrer no jogo? – Rachel tinha um olhar meio vidrado, meio paranóico.

— Ah não... Você não começou com sua nóia, né amiga! Mas falai! Não está cedo demais pra você estar por aqui? Poderia ter dormido mais um pouco! – Vickie se sentou junto dela e começou a mordiscar um bolinho que estava no balcão.

— SE eu tivesse conseguindo dormir eu estaria dormindo! Acha que dá pra fechar os olhos com tudo que está acontecendo?

— Rae... Você é ótima! Não precisa se preocupar!

— Ótima pra você! Mas e pra todo o resto da escola? Os professores e os técnicos?

— TAMBÉM!

— Mas e meu mal-pressentimento? – Rachel estava tão apavorada que seus olhos brilharam úmidos.

— Mas que papo é esse agora?

— Não estou com uma boa sensação... Alguma besteira vai acontecer. Só não sei que diabos é!

— CRUZES! Para com isso Rachel! Você é linda e poderosa e vai arrasar! Como sempre, esqueceu? – Vickie disse sorridente para a amiga, que sorriu mesmo que incerta.

— Tudo bem... Eu vou tentar melhorar. Acho que vou indo para o campo me preparar... – Disse Rachel antes de se levantar e deixar Vickie comendo seu café da manhã.

***

— Ótimo! E lá vai ela para o campo! É sua hora Jam! – Alanis disse. — Você espera a Vickie aparecer por lá e executa o plano!

— Ainda me parece doidice! – Disse o garoto apertando os dedos entre as mãos.

— AFF! De novo não, né? Por favor!

— Sabe, Alanis, eu não confio muito nessa idéia...

— Problema seu! Não sou eu quem está tentando reconquistar a Vickie!

Alanis deu de ombros e virou as costas, saindo sem dar ibope.

Jam se encostou atrás da porta da lanchonete e espiou através do vidro Vickie sentada lá dentro, sozinha. Alguma coisa de estranho restara dentro dele. Olhava para Vickie e não era a mesma coisa. O que o motivou a deixar tudo e se mudar para esta escola, de repente, não parecia mais igual... Era como se visse Vickie e lembrasse do garoto que estava a beijando. E via os dois juntos de novo. Por algum motivo ela não parecia feliz mesmo assim. Ela definitivamente não era a mesma das férias. Talvez fosse tempo de ELE cair na real e entender que o que mudou, mudou.

— Devaneando, amor? – Uma voz naturalmente sedutora falou ao pé do ouvido dele, fazendo Jam sobressaltar.

— OH, Luana! Nunca mais me pegue desprevenido!

— Não. Desprevenido não... Mas, fala aí: o que tem de interessante na porta? – Perguntou ela se chegando ao vidro.

— Adivinha! – Jam ironizou.

— Hum... Saquei. A sua Afrodite! – Luana se voltou para Jam com um tom diferente. — Sabe Jam... Você está certo!

— Como? Sobre o que?

— Sobre achar a idéia da louca da Alanis uma maluquice. Eu também acho!

Jam olhou confuso para Luana.

— Então segundo você eu não devo ir até a amiga da Vicktoria e provocar ciúmes com ela?

— Não vou te induzir a nada! Mas a escolha é sua! – A ruiva deu de ombros e falou por cima do ombro ao sair pelo corredor: — Bye-Bye mon amour!

— AFF! Eu mereço! – Disse ele estressado saindo pela direção oposta.

Quando deu por si, estava no saguão entre a arquibancada e o prédio dos vestiários. Avistou Rachel chutando a bola despreocupadamente sobre a linha lateral do campo.

“Deus! Isso não faz o mínimo sentido!” - Pensou ele recuando um passo. Porém, parou em seguida. “Mas pra quem não tem pra onde ir... Qualquer caminho serve!”

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E aí? o Jam vai executar o planinho da Alanis??

Já sacaram qual é o plano? ou eu camuflei demais?