16.

Vickie seguia pelo pátio externo em direção à primeira aula que seria no laboratório de biologia. Ainda ria da cara de Rachel, e sinceramente lutava para não pensar nem estipular nenhuma impressão que poderia não ser verdadeira. Bem, seus amigos eram lúcidos e sabiam o que estavam fazendo...

Ou pelo menos ela gostava de crer nisso.

Enfim, caminhava tranquilamente quando de repente, alguém se chegou ao seu lado:

— OLÁ!

— Alanis? Olá! Ficou na nossa turma? – Vickie perguntou tentando ser simpática, mas, realmente, Alanis nunca se aproximara dela antes.

Fazendo um breve histórico, Alanis era a segunda melhor da turma depois de Rachel, ela tinha seu grupinho assim como todo mundo, até que, no reveillon, no passeio para o qual foi convidada cortesmente, alguma coisa aconteceu que ela foi embora de repente.

Antes, não era muito de conversar, mas nunca foi mal educada, porém, depois disso, nunca mais se soube dela, exceto que aparentemente ela ia embora. Então, de repente, ela continua por aqui, mudada desse jeito e ainda falando com Vickie? Bem... Muito estranho.

— Sim, estamos na mesma turma. Legal, não acha? – Continuou.

— Bem... Se você diz!  - Vickie deu de ombros. — A propósito, você ficou bem de cabelo curto.

— Obrigada. E a Rachel? – Perguntou despretensiosamente.

— Ah! Essa aí deve estar de agarra-agarra com o Dani! – Vickie soltou antes que pudesse se conter.

— Como? – Alanis pareceu chocada.

— Desculpa. Eu falei besteira. Quer dizer... Eles devem estar... – Bem, nenhum termo parecia mais eufêmico. — Ah, não sei bem...

— Hum... – Alanis pareceu sombria.

— Há algum problema?

— Comigo? Nenhum, porquê? – Alanis disparou.

— Não, nada... Você só me deu a impressão de que não gostou muito...

— Ah, Vickie! – Alanis interrompeu. — Eu esqueci de que preciso de um caderno extra. Vou buscar, ok? Até mais...

A garota deu às costas e correu de volta para onde veio. Vickie ficou embasbacada na porta do laboratório olhando Alanis desaparecer. Seja lá o que tenha acontecido com ela, deve ter sido algo muito sério.

— Pensando em mim? – Falaram ao pé do ouvido de Vickie, e a loira deu um salto e um grito sem querer.

— Cacete, Stark! – Disse assustada quando o reconheceu.

— Nossa! Vickie, pela sua cara, ou estava pensando em algo muito forte, ou realmente estava sonhando comigo! – Disse ele alarmado.

— HAHA, com certeza não. Podes crer! – Vi assumiu seu tom irônico.

— Ah, não mente pro seu coração! Agora, se me der licença! – Stark passou pela loira esbarrando em seu ombro e entrando na frente no laboratório.

— Seu energúmeno! – Ela xingou.

— Olha o palavrão!

— Isso não é palavrão, gênio!

— Mesmo assim! Não xingue a quem ama!

— Ai, Stark como você se ilude...

— E como você finge...

Vickie estava preste a dar uma resposta quando alguém pigarreou. Ambos olharam para frente e repararam que havia uma professora já à espera. A turma reparava na conversa deles.

— Para seus lugares! – A tal mulher disse rispidamente.

Vickie esbarrou no ombro de Stark e seguiu com o nariz empinado em direção a um lugar na terceira bancada.

Rachel entrou logo em seguida e depois Alan e Danilo. Sentaram-se espalhados pelo laboratório enquanto a professora distribuía uma apostila com o assunto.

***

— Reprodução? – Perguntou Stark quando recebeu a apostila.

— Sim, esse é o primeiro assunto que estudaremos. Sou a professora Márcia e gosto de alunos calados e disciplinados!

— Ótimo! Já vi que não vai gostar de mim! – Stark cochichou e fez a turma toda soltar risinhos.

Márcia olhou por cima dos óculos tentando identificar o engraçadinho, mas não conseguiu. Então, continuou:

— Formem duplas! Agora!

— OBA! – Stark soltou antes que pudesse se conter.

Enquanto todo mundo se remexia e tentava se juntar a alguém, Rachel preferiu ficar no seu lugar. Logo, Alan se aproximou.

— Posso? – Disse indicando o assento.

— Tá. Claro.

Rachel amontoou seu material deixando espaço para o dele. Alan sorriu simpaticamente e começou a folhear sua apostila. Sentiu que Rachel estava rígida e séria demais. Danilo passou por perto e se sentou bem à frente, num lugar vazio já que ficara sem parceiro.

Alan analisou a situação e se limitou a ler o tema da apostila, preferindo não olhar para Rachel nessa hora.

Vickie estava preste a se levantar e ir ficar com Danilo quando de repente o lugar ao seu lado foi ocupado subitamente a fazendo recuar assustada.

—Olá, mon cherry! – Stark disse sedutoramente.

— Engole seu francês se for querer ficar aqui!

— Legal!

— Acho bom.

Estava quase tudo certo, porém, dois alunos chegaram atrasados. A turma não se importou com eles, e muitos nem repararam. Logo, esses formaram uma dupla e se sentaram no fim da sala sem dar muita importância a ninguém.

Um deles era Alanis. O outro era Jan Dulaine.

***

— Pois bem, - Márcia prosseguiu. — Começaremos com a análise do sistema reprodutor feminino...

— Mara! Deve ser legal! – Stark disse verdadeiramente.

Vickie olhou para ele com assombro.

— Ficou louco moleque?

— Ué? Por quê? Por acaso você já viu o sistema reprodutor masculino?

— Bem... Acho que faltei nessa aula...

— Então não queira nem ver! É um horror! – Stark realmente falava sério, o que era ainda mais hilário. Vickie riu.

— Interessante você dizendo isso...

—Só por que eu sou um homem não significa que eu me orgulhe com tudo que tem na parte de dentro de mim! – Pela primeira vez Vickie viu Stark corar. — Só em pensar que “escroto” é devido ao...

— Está bem, Stark, eu acho que entendi! – Vickie tirou por menos.

— Em contrapartida, mulher é mesmo bonita...

— Seria muito bom da sua parte se parasse de falar nisso... – Vickie pediu sentindo seu rosto todo formigar.

— Por quê? Deixa você constrangida? – Stark assumiu um tom gaiato.

— Não! – Ela tentou fingir.

— Ótimo! Pois tudo que pode ser visto sobre o interior de uma garota, ou seja, o seu interior, será exibido naquele telão logo, logo, então... Se tiver vergonha de falar COMIGO sobre isso, imagino que seria péssimo ser exposta dessa forma... – Vickie se encolhia na cadeira conforme Stark tagarelava. Ele estava atingindo bem a fortaleza da garota, que esquentava de vergonha mais e mais. —Eu entendo... Deve ser tenso para uma garota fazer dupla com um cara gostosão e tudo de bom como eu enquanto todo seu sistema está sendo declaradamente mostrado num TELÃO... Sinto muito por você Vickie, mas não devia se envergonhar... Você é o que você é...

— AI STARK CALA A BOCA! – Vickie perdeu as estribeiras e berrou para todo mundo.

Márcia estancou em frente ao data-show e olhou para a pequena loira que estava no meio da turma. Stark ficou vermelho por conter o riso veementemente enquanto Vickie se encolhida de volta no seu assento. Os demais alunos notaram a dupla estranha e uma pessoa em especial segurou um impulso quando reconheceu... Bem... Isso é assunto para outra hora.

— Desculpa professora, minha amiga tem um pequeno problema no sistema nervoso... Não vai repetir! – Stark conseguiu dizer fingindo muito bem.

Vickie sentiu as forças a deixarem e a vergonha tomar todo seu corpo. Limitou-se a enterrar as mãos no rosto, derrotada.

— SILÊNCIO! – A professora ordenou. —Ou eu ponho os arruaceiros para fora agora mesmo! Não me importa o problema que tiverem!

Stark se voltou para Vickie ao mesmo tempo em que Márcia se voltava para os slides.

— Não se preocupe, Vi, eu te dou apoio moral nessa hora tão... Difícil! – Disse ele condescendente.

Vickie lançou um olhar homicida para Stark, que o ignorou. Ambos se voltaram para o telão e as imagens do sistema reprodutor feminino começaram a serem exibidas enquanto Márcia explicava.

***

— Alan, você já respondeu seu questionário? – Rachel perguntou um pouco carrancuda enquanto reparava no rapaz ao seu lado, que rabiscava a última página do caderno.

— Ah, o que disse? – Perguntou debilmente.

— Onde está sua cabeça, Alan? O questionário! Por acaso já acabou a sua parte? – Rae inquiriu bravamente.

— Ah, sim, sim. Está aqui!

O rapaz calmamente puxou a folha de papel de dentro do livro e entregou à Rachel. Ela olhou assustada para as respostas, que batiam com todas as que ela já fizera, e sabia que estavam certas.

— Por que, Rae? Quer ajuda com alguma? – Alan ofereceu.

Rachel o olhou de soslaio.

— Não obrigada. – De fato ela estava tendo dificuldades, e não acreditava que ALAN já tivesse terminado antes dela!

— Ah, qual é, Rae! Até quando você vai ficar brava comigo? Sabe... Isso não combina com você e está visivelmente te fazendo infeliz! – Ele disse definitivo.

Rachel avaliou a situação e engoliu qualquer resposta dura. Pela primeira vez abaixou sua guarda.

— Certo. Acho que dá pra ser. Uma trégua! – Propôs fazendo um sorriso crescer em seu rosto, e só depois notou o quanto quis fazer isto desde sempre.

Alan não poderia ter sorrido mais satisfeito. Segurou a mão de Rachel e deu um singelo beijo nas suas costas.

— É assim que se fala, Raquetinha!

— Corta o papo, Castellan, e me passa essas questões vai! – Disse ela sorrindo marota, enquanto Alan se continha cheio de satisfação.

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