12.

— Vickie, Vickie, Vickie... O que uma dança não faz... – Stark disse enquanto os dois estavam sentados num dos bancos dentro do salão.

A loira ergueu uma sobrancelha.

— Eu dancei com você, mas não significa que eu vá te dar bola!

— Não, bola não...

Vickie sorriu de canto, mas preferiu não responder. Deu uma olhada ao redor e alguns dos rapazes que ela chutara estavam reunidos numa mesa, encarando Stark com inveja e despeito.

— Fala aí: mostrei pra eles não foi? – Stark perguntou todo garboso.

Vickie riu ironicamente bebendo um gole de refrigerante.

— Só por que você é meu amigo, dei uma mãozinha...

— Então foi só isso? Nossa! Pensei que tivesse mais! – Stark choramingou fingidamente, fazendo Vickie rir de seu jeito gay.

— Você sabe ser bem sensível... – Disse ela.

— Amiga você não tem ideia! – Stark afeminou a voz.

Vickie gargalhou um pouco mais. Ela não percebia, mas o fato de estar se divertindo na presença de Stark fazia os meninos chutados os fitarem ainda mais. Stark estava orgulhoso por dentro.

— E aí pessoal? – Uma voz saudou os amigos. Ambos se viraram para se deparar com Danilo.

— Dondoca! – Vcikie disse docemente.

— E aí, já largou o osso?

Danilo juntou as sobrancelhas, desentendido, enquanto Vickie ria.

— O osso... Tipo, a Rachel... Minha maninha do peito... – Stark explicou.

— Ah, sim! – Danilo caiu no entendimento. — Essa de “o osso” foi péssima, só para constar... Mas, bem... Rachel está conversando com Alan.

Stark e Vickie se encararam preocupados.

— Acha que ela está muito brava? – Stark perguntou.

— Pela cara dela, brava é pouco! – Disse Danilo.

— Rae está muito magoada com ele... – Vickie disse docemente. — Mas se bem que vocês dois poderiam ajudá-la.

— Como? Deixando ela e Alan sozinhos na Dark-Room? – Propôs Stark.

— Ignore, Vi – Danilo intercedeu, — diz como a gente pode ajudar!

— Veja bem, Rachel está de saco cheio com Alan, por que há mais de um mês ele está nessa frescura de segredinhos, e ela o pressiona. Vocês sabem... Ele virou um do-cu-mentado...

— HÃ? – Os garotos interromperam.

— É quando a menta arde e... haham... Bem, AQUILO se fecha... Metaforicamente quer dizer quando algo acontece e alguém começa a ficar esquisito, e se distancia.

— AH... – Os meninos disseram impressionados.

— Então, Alan virou um desses, e claro, Rachel não tem a mínima paciência com isso, vocês sabem como ela é! – Os garotos balançaram a cabeça em concordância. — Alan nunca vai falar nada sob pressão, e talvez ele se abra apenas com alguém que demonstrar condescendência. Alguém do qual ele tenha certeza que não vai julgá-lo!

Danilo e Stark ficaram congelados encarando Vickie como se ela fosse uma deusa da sabedoria.

— Tudo bem, vocês já estão molhando o chão! – Disse a loira enquanto fechava a boca dos meninos.

— Você pode ter razão... – Stark ponderou.

— Eu sei que posso!

— Modesta... – Ele ironizou.

— O único problema é: eu não posso fazer isso! – Danilo disse surpreendendo os outros.

— Por quê? – Eles perguntaram juntos.

— Por que Alan e eu não somos íntimos o bastante pra que eu chegue, de uma hora para outra dizendo: “fala, irmão, conta teus segredos! Juro que não o julgarei, nem o espalharei!”. – Disse Danilo ironicamente. — Qual é? Vocês não acham que ele pode estranhar?

— Mas você pode tentar! A final, você é um garoto! – Vickie falou.

— E daí?

— E daí que esse segredo pode ser relacionado a “alguma coisa de homem” que ele não queira compartilhar com a Rachel!

— Algo tipo: ele virou prostituto gay? – Stark deu palpite.

— Isso é coisa de homem? – Vickie olhou para ele duramente.

— Pergunta pro Dondoca, eu não sei disso não!

— Ah, qual é! – Danilo fez cara de enjoo.

— Mas, falando sério, Dani, essa pode ser uma boa chance de ele se abrir e de a gente acalmar a Rachel...

— Anda, Dani, faz do Alan se abrir pra você! – Stark provocou.

— Essa é uma conversa séria, seu desmiolado! – Vickie ralhou.

— Mas você pensa que só eu vou tentar é? – Danilo falou.

— Isso mesmo, você também vai tentar, Stark! – A loira disse autoritária. Stark ia fazendo menção de falar, mas ela impediu: — Você vai e PONTO!

De repente:

— Opa! Vai pra onde?

— AHHH! – Os amigos berraram quando ouviram a voz de Rachel. Eles desfizeram a rodinha e se viraram para ela com suas piores caras de culpa.

— Nossa! O que vocês já estão aprontando? – Rachel falou.

— Nada.

— Nada.

— Nadinha.

— Não sei por que não acredito... – A morena falou e sorriu para eles. Estava visivelmente contente, mas seus olhos estavam sem maquiagem e com manchas vermelhas, demonstrando marcas de choro.

— Não foi nada! A gente tava falando sobre... – Vickie ia enrolando quando Stark sobressaltou:

— LIMÃO!

Danilo desatou numa risada nervosa, mas ao mesmo tempo lembrando da conversa que teve com o amigo, e completou:

— É que, quando você recebe um limão, tem que ter cuidado para não espirrar no olho...

— Vocês pegaram a mesma loucura foi? – Vickie perguntou com estranheza.

— Eu em... Cruzes! – Rachel se benzeu.

Os garotos ficaram rindo enquanto as garotas olhavam totalmente desentendidas.

— Nossa, que patético! – Vickie suspirou com seu habitual tom irônico.

— Ah, esqueçam esse negócio de limão! – Rachel disse determinada. — Vem logo comigo, Danizinho, que eu quero dançar mais!

A morena pegou Danilo pelo paletó e, antes que ele sequer respirasse para falar, o levou de volta para o meio do povão. Vickie e Stark ficaram embasbacados, lerdos, olhando para onde eles sumiram.

— Eu choquei, e você? – Stark perguntou.

— Eu também, amiga! – Vickie disse abobalhada.

Stark e ela se fitaram por certo tempo, mediram um ao outro com um olhar... Intenso. Vickie não percebeu quando seu típico sorriso irônico perdeu a pose e amenizou. Stark não percebeu que sua expressão era de contemplação total.

— Eu acho que... – Vickie começou soando desconsertada.

Stark fez menção de falar algo, estava parecendo tenso pela primeira vez em meses de convivência quando, de repente, um borrão vermelho cruzou sua frente, entre ele e Vickie.

— Olá! – Uma ruiva disse.

Stark demorou a entender que era com ele.

— O-o-oi.

— Então, gato, quer dançar comigo? – A ruiva não esperou a resposta, segurou o colarinho de Stark e o levou consigo.

O garoto continuava embasbacado. Virou o que pôde do pescoço para trás, mas logo estava cercado de gente, e a garota ruiva dançando em sua frente. Vickie estava de boca aberta, e seu rosto já assumia um tom vivo de vermelho. Podes crer: não era de vergonha...

Assim que os garotos chutados a viram sozinha de novo, lançaram um olhar interessado grupal em direção a ela que, exasperada, bufou, bateu o pé e se virou em direção à saída.

***

— Estúpidos! Estúpidos! Estúpidos além do limite de um ser humano! – Vicktoria ia quase soltando fumaça, marchando pelo gramado da pousada sem ter um caminho exatamente. Queria poder proferir milhões de ofensas sem que ninguém se intrometesse. — Todos eles são assim!

“Nem o Stark se salva!” – Ela pensou.

— MUITO MENOS ELE! – Exclamou.

“Mas pelo menos ele sabe ser divertido...”.

— Mas isso não conta! Todos eles sabem fazer isso!

“Faz parte do conceito de idiota!”.

— Exatamente!

— Exatamente o que?

— AAAAHHH! – Vickie gritou quando uma voz masculina soou vinda de algum lugar indefinido. — Quem está aí? – Ela se virou para todos os lados, mas não via ninguém.

— Sua consciência! – Disse ele.

— Minha consciência é um homem?

A consciência riu.

— Quando me convém!

— Você é muito estranho... – Vickie continuou olhando em volta atenta, mas decidiu sentar na grama e tirar o salto, massageando um pouco os pés.

— É, é o que dizem... Mas então, o que te aflige?

— Ora! Você já não deveria saber?

— Não sou adivinho!

— Bem... São os homens... – Vickie começou a achar que estava doida, mas não tinha o que perder. O Consciência riu. — Não tem graça, andrógino!

— Ok, ok... Os homens... O Stark te fez alguma coisa?

— O QUE? COMO ASSIM? Como você sabe do Stark? – Vickie quase perdeu os olhos de susto.

— Sabendo. Agora, ele tem ou não a ver com isso?

— Bem... Ele é um homem, não é?

— Eu não teria tanta certeza! – Consciência riu.

— Você sabe ficar sem fazer graça da minha ira?

— Ok, não está mais aqui quem riu! Então... Os homens não são tão ruins!

— E o que você sabe deles, coisa?

— Nossa! Precisa tratar tão mal sua consciência? – Ele disse em tom ofendido.

— AH! Tanto faz! Não enche o saco, ok? Você não sabe o que dizer: cala a boca! – Vickie abraçou as pernas tomando cuidado com o vestido e apoiou o queijo nos joelhos.

Sua “consciência” se aproximou por trás dela silenciosamente.

— Você poderia ouvir melhor sua razão, parece estar triste mesmo... – Ele disse seriamente desta vez.

— Eu estou de saco cheio, só isso! – Vickie falou brava, mas com a voz afetada por um choro contido. Não havia nada pior do que estar impotente perante sentimentos tão angustiantes.

— Vi, não chora, por favor! – O rapaz pediu e tocou o ombro da garota esquecendo sua brincadeira de “consciência”. Vickie sobressaltou e gritou assustada. Logo, ele falou: — Sou eu, Alan, está tudo bem!

Vicktoria olhou para o garoto escurecido pela sombra das árvores e, depois que o reconheceu, desferiu vários tabefes nos braços dele.

— SEU CRETINO! Nunca mais faça isso comigo!

— Vickie! Para! – Disse ele alcançando as mãos dela e as segurando. — Desculpa tá bom? Foi mal.

— Foi mal! Por que os garotos são tão idiotas?

— Não precisa generalizar!

— Não estou exagerando! Todos os que já conheci são perfeitos imbecis. Então, só há duas alternativas: ou eu sou ímã de idiotas, ou só existem homens estúpidos no mundo! – Ela esbravejou.

— Vickie, na minha situação, não sou capaz de tirar sua razão. – Alan falou num tom derrotado.

Vickie o olhou surpresa.

— É! Pelo menos um admite! – Disse ela. Alan concordou com a cabeça. Vickie o encarou de esguelha. — O que houve com você? Por que está concordando?

— Como se você não soubesse!

— É. Acho que eu sei. Mas, a final, onde você estava?

— Eu? Fui resolver uns...

— Não! – Vickie o interrompeu. — Não quero saber onde estava realmente, quero saber onde estava que eu não te vi aqui!

— Ah, sim! Menos mal... Eu estava na árvore. Pensando...

— Que milagre! – Ironizou ela.

— Ah, não chateia! Eu penso, ok?

— Mas não é tão inteligente.

— Infelizmente não ando obtendo sucesso.

— Eu percebi! – Vickie deu de ombros e sentou novamente no gramado.

Era bom poder ofender um garoto que assentia às ofensas. Isso a fez se sentir mais leve. Para Alan, foi bom alguém finalmente não ter perguntado sobre seus segredos, e isso também o aliviou.

Entre eles dois nunca houve muito mais diálogo do que o necessário. Naquela situação não era diferente. Ela sabia do comportamento estranho dele e seus mistérios, e os efeitos que isso estava provocando. Ele sabia que ela tinha crises contra-garotos e que não adiantava, ela não contaria isso a um homem. Então, os dois ficaram sentados no gramado olhando para o nada em silêncio.

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