1.

O aroma de grama recém cortada penetrava em seus pulmões trazendo uma paz plena que há muito ele não sentia. O som dos pássaros era calmante e o leve calor do sol sobre sua pele trazia uma gostosa sensação de aconchego.

Sombra, paz e tranquilidade...

Epa! Essas não são coisas comuns na vida de um Luxer. É de se estranhar tanta calmaria! Onde estavam as tentações? A música frequente? Todas as pessoas, o barulho, a gritaria?

Danilo Luxer estava preste a abrir os olhos e despertar da calmaria quando algo lhe ocorreu: “férias!”. Ah, sim! Então era isso! Férias. Um tempo sem agitação?

“Não para um Luxer...” – Ele continuou teimando, estranhando o momento de sossego.

Quando menos esperava, Danilo sentiu algo estalar em seu ouvido. Levantou-se num salto, assustado, com a mão ao lado esquerdo do rosto, onde o estalo ainda zumbia. Estava atordoado. Quando conseguiu se centrar, depois de alguns segundos, pôde distinguir, além do zumbido, uma risada leve e gostosa. Ele soube antes mesmo de virar quem era a dona do beijo ensurdecedor que recebeu.

— Pô, Rachel! Quer me deixar surdo de um lado? – Perguntou ainda alterado pelo som estridente que ia e vinha em ondas dentro de seu ouvido.

— Ah, desculpa... Só queria te fazer uma surpresa, mal-agradecido! – Rachel fez um biquinho e cruzou os braços, fingindo estar magoada.

Danilo olhou para a moça. Estava com sua melhor aparência de verão: vestido de babadinhos, sandália rasteira, pele bronzeada e os cabelos cheios e cacheados que tanto fazia sucesso na escola. Perante sua cara amarrada, não havia como ficar com raiva!

— Ah, qual foi Rachel? Você quase me ensurdece! Não vai ficar brava comigo... – Danilo se aproximou da amiga alçando bandeira branca, mas Rachel se afastou.

— Não! Eu venho com a maior boa vontade e você me trata às pedras!

Danilo viu a amiga virar as costas e ir até a borda da piscina cintilante, no formato de oito, que havia no meio do extenso jardim verde da pousada. Foi até ela sorrateiramente e segurou seus ombros.

— Tudo certo... Desculpa, Raquetezinha... Vai! Fica de bem comigo! – Pediu no seu melhor tom manhoso.

— Só se você fizer uma coisa pra mim! – Ela virou de frente para ele com os olhos brilhando. Sabia que era só fazer um beicinho que conseguiria fazer da cara de Danilo o que ela quisesse.

Rachel ficou sorrindo para o amigo de forma nada ingênua. Logo, percebeu o sorriso atraente se formar nos lábios de Danilo. Ela olhou para baixo e de volta para os olhos dele – um truque que sempre o fazia ficar ainda mais interessado.

— O que você quiser, Raquetezinha... O que você manda chorando que eu não obedeço sorrindo?

Rachel alargou seu sorriso vitorioso, mas segurou seu impulso. A trama ainda não estava pronta.

Manhosa e carinhosamente pegou as mãos de Danilo de seus ombros e passou os braços em torno do pescoço dele. Viu a cara do amigo assumir sua melhor expressão travessa. Continuou contendo seus impulsos, o que não era tarefa muito fácil, pois, mesmo sabendo que era uma brincadeira, que entre os dois nada de mais aconteceria, Danilo era exatamente o tipo de cara que costumava ganhar tudo e todas com seu sorriso badboy debochado, ou seus olhos castanhos esverdeados. Contudo, com Rachel, seu charmezinho nunca venceu facilmente, mas isso não significava que nenhum efeito surtisse.

— O que você tá planejando, em pestinha? – Danilo perguntou preocupado. Estava de olhos-nos-olhos com a amiga, abraçado a ela, enquanto ela sorria de maneira travessa.

Danilo sabia que Rachel não estava com a cabeça vazia. Ele a conhecia. Contudo, não estava nem um pouco a fim de cortar o barato dela, a final, apesar de serem esclarecidamente apenas amigos, não havia nada de mal em se dar ao prazer de ficar tão perto de uma garota espetacular como ela.

— Dar um belo sacode no meu amiguinho sonolento! – Respondeu Rachel.

Num segundo, Danilo não entendeu bem o que ela disse, mas, no segundo seguinte, não precisou de mais esclarecimento nenhum:

Rachel lançara-o na piscina, de costas, enquanto estava desprevenido.

Danilo sentiu o impacto da água e emergiu depois de tocar o fundo da piscina. Sacudiu a cabeça fazendo seu cabelo liso ficar igual ao de um Rask Siberiano ensopado, de certa forma, bem charmoso até. Olhou para a borda da piscina e Rachel praticamente se dobrava de rir.

— Belo truque, malandrinha! – Berrou do meio da piscina.

— Ah! Você é tão, tão, tão fácil Danizinho... – Rachel cantarolou caindo na gargalhada em seguida.

— Fácil? Eu? Você é quem não resiste ao meu charme! Vive tentando fugir dele!

— HAHA! Até parece! – Desdenhou.

— Ah, você jura que resiste então? Então você não entraria aqui na água se eu te pedisse... Com jeitinho? – Danilo começou a fazer a voz manhosa de novo.

Apesar de estar provocando Rachel, Danilo sabia que tudo que ele estava dizendo não era bem verdade. Rachel sabia como “não ceder” a ele. Era uma das poucas. Quase a única. E é isso que a faz ser sua melhor amiga.

Rachel se abaixou na borda da piscina e tocou a água com a ponta dos dedos. Seus longos cabelos chegavam a encostar à superfície azul brilhante e se molhavam. Ela olhou para o amigo com o rosto um pouco abaixado, fazendo charminho.

— Eu não entraria aí com você nem que você implorasse, amore mio! – Sorriu de lado salpicando água na direção do rosto de Danilo.

Por um momento Danilo não soube o que responder. Começou a prestar atenção no pequeno detalhe que Rachel não percebia (ou pelo menos ele achava que não): Rachel não se tocara de seu vestido havia se erguido um pouco mais na cocha. Mas, claro, Danilo não estava nem um pouco inclinado a informá-la disso. Se bem que nada além de pernas estava aparecendo!

Rachel, por sua vez, adorava e se divertia com o jeito que seu amigo ficava: bobo e embasbacado, todas as vezes que ela amanhecia com um humor bem... Afiado. Ela se sentia bem em testar seus dons de sedução com Danilo, mesmo que não quisesse seduzi-lo de fato. Na verdade, era enriquecedor para ela, de certa forma, saber que tinha o poder de atrair um cara como Danilo, que é sempre tão chamativo e playboy.

Os dois ficaram se encarando por um tempo. Haviam perdido o fio da meada do flerte e se perderam na contemplação um do outro. Era sete horas da manhã, e toda parte da piscina estava vazia. A maioria dos hóspedes da pousada a frequentava mais pela parte da tarde. Assim, eles ficaram em silêncio, e se esqueceram do tempo. Porém...

Uns minutos depois:

BUM!

Uma bala de canhão deve ter caído exatamente na parte da piscina entre Danilo e Rachel, pois algo imergiu na água com uma força e tanto! A água saltou e espirrou para todos os lados. Rachel deu um grito agudo. A coisa surgira por cima da sua cabeça.

— Droga! Que diabos foi isso? – Danilo exclamou sobressaltado, tentando se restabelecer, cuspindo um pouco de água que engolira quando o projétil caiu fazendo com que ele se afogasse um pouco.

— SEI LÁ! – Rachel gritou de volta. Ficou de pé ajeitando a saia do vestido e, tentando se firmar no equilíbrio olhou para o fundo da piscina. Enquanto isso, Danilo nadava tentando circundar o espaço onde o troço caiu, por precaução.

Quando os dois menos esperaram, aquilo que caiu emergiu de volta, espirrando água para todo o lado.

Bem... Não era uma bola de canhão. Não era bem uma bomba (se bem que poderia ser comparado a uma). Era apenas...

— STARK! – Danilo e Rachel berraram juntos.

Um garoto de pele pálida e cabelos castanhos começou a gargalhar escandalosamente no meio da água. Seu sorriso era largo e engraçado, mas, no momento, seus amigos estavam era muito fulos.

— Pô, cara! Endoidou? – Danilo ainda tossia um pouco já alcançara a borda da piscina. Rachel lhe estendeu a mão.

— Quis me matar de susto, isso sim! – Rachel disse puxando Danilo e o firmando no chão ao seu lado.

Stark parou de gargalhar com dificuldade e começou:

— Foi mal, galera! Não sabia que vocês estavam tão entretidos assim... Um no outro! – Ele riu mais. Rachel corou levemente, enquanto Danilo pulava com a cabeça para o lado, tirando água do ouvido.

— E você decidiu que ia me afogar? – Danilo replicou.

— Já disse: foi mal. Até parece que vocês não sabem que eu os amo! – Stark mandou beijos, todo gaiato.

— Ah sei. AMA TANTO! – Ironizou Danilo.

— Você está me magoando, Luxer! – Stark fingiu enxugar uma lágrima.

— É sério projétil de catástrofe, saia dessa piscina Star! – Rachel mandou. Não estava brava. Ao contrário: divertia-se com os dois amigos.

— Sair da piscina? – Uma voz BEM conhecida soou atrás de Danilo e Rachel. Eles se viraram simultaneamente para ver Vickie, uma garota maguinha e loirinha, de aparência angelical... Eu disse “aparência”. — Como assim “sair”? Eu acabei de chegar! Agora que todo mundo vai cair na água!

Sua postura altiva contrastava com seu rostinho doce. Seu sorriso arteiro quebrava toda e qualquer seriedade de seus traços harmoniosos e maduros.

Vickie caminhou até perto de Danilo e Rachel e à borda da piscina, desamarrou a tanga da cintura, fazendo charminho e afastando o casalzinho de amigos, se pondo entre eles.

— Uhul! Isso sim é que é disposição! – Stark assobiou enquanto Vickie ria.

— Eu que o diga! – Rachel sorriu para a amiga que, no momento seguinte já estava dando um belo e harmonioso salto para dentro d’água.

— FIU-FIU! – Danilo assobiou e começou a gargalhar. — Tá todo mundo se molhando agora é? – Ele notou e olhou de canto para Rachel.

— UH! A água está ótima! – Vickie gritou quando emergiu. Stark a alcançou e passou o braço por seus ombros concordando. — O que vocês estão esperando?

— É Raquetinha, o que você está esperando? – Danilo perguntou todo gaiato, tentando segurar a amiga pela cintura, que tentava se afastar, sem sucesso.

— Acho que ela está esperando por mim! – Uma voz masculina soou do outro lado da piscina. Toda a galera se virou, mesmo já sabendo quem era.

— Alan! – Rachel gritou ao passar por Danilo e ir ao encontro do outro amigo. Eles se abraçaram e ela deu um beijo estalado em seu rosto, assim como fizera com Danilo.

— Agora a festa tá completa! – Danilo falou, seu tom não demonstrava ironia. Ele tirou a camisa molhada, exibindo seu corpo “Ai Deus!”. Arrancou as calças, ficando de sunga e se jogou de volta na água.

Bem, Danilo não tinha músculos muito bem definidos. Tinha apenas dezesseis anos. Mas era dono de um corpo de formas naturalmente bonitas: ombros largos que afunilavam até os quadris, dando a ele uma curvatura nas costas que o deixava muito bonito.

— Oh! Meu santo dos gatinhos-solteiros! – exclamou Vickie — Obrigada por me dar amigos tão gostosos! – Brincou quando Danilo foi até ela e a abraçou junto com Stark.

Toda a turma caiu na gargalhada.

— Gostosos? Estrelinha e Dondoquinha? – Alan desdenhou de brincadeira, apontando para Stark e Danilo, respectivamente. Riu de maneira teatral, depois, virou de frente para Rachel. — Se me der sua licença... – Beijou a mão dela.

Todos ficaram prestando atenção no rapaz. Rachel por um momento pensou que o que Vickie acabara de dizer não era algo vago... Elas tinham, sim, amigos bem... “Gostosos”.

Alan tomou espaço e começou a tirar a camiseta e a bermuda.

— UHUL! Sessão strip-tease! – Vickie gritou.

— FIU-FIU! – Rachel assobiou enquanto os outros meninos faziam som de vômito.

— Certo, aí vou eu! – Alan gritou esfregando as mãos. Preparou-se e... Começou a correr.

Rapidamente, antes de cair na água, freou com precisão e alcançou Rachel que, desprevenida, só teve tempo de se segurar no amigo e ser lançada na água junto dele.

Risos e assobios foram ouvidos enquanto ela imergia. No fundo, se separou de Alan para conseguir emergir. Seu vestido, a este ponto, nem se ela quisesse era capaz de cobrir alguma coisa. Sorte de ela estar de biquíni por baixo.

Rachel deitou na água e nadou de costas. Os rapazes estenderam os braços, fazendo uma “caminha” para ela.

— Oh, céus! É o paraíso! – Ela brincou.

— Todo pra você! – Stark falou gaiato piscando para ela.

De repente, os três moços se entreolharam. Rachel percebeu a trama.

Logo, os três a soltaram e a levaram para o fundo. Ela se debatia lutando para não rir dentro d’água enquanto tentava se desvencilhar deles.

— Ah, eu quero festinha também! – Vickie disse e imergiu.

Nadou até a baderna de gente e puxou a primeira parte de algum corpo que sentiu. Nada de mais. Foi a mão de Stark.

Ele virou para ela e se impulsionou levanto-a pela mão para dar uma volta subaquática. Enquanto isso, Danilo e Alan beijavam as bochechas de Rachel simultaneamente, como trégua para ela poder emergir.

Eles voltaram à superfície e continuaram brincando. À medida que outros hóspedes foram aparecendo pelas redondezas, o grupinho baderneiro foi saindo da água. Cinco adolescentes encharcados e cada um com menos cara de santo que o outro.

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