O Juramento Quebrado escrita por vivaopato


Capítulo 6
Muita coisa pode acontecer em uma conversa


Notas iniciais do capítulo

gente, desculpem a demora
aproveitem a leitura
ajuda é bem vinda, ok?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/100169/chapter/6

               Sabe, acordar com a cabeça latejando, sem sentir uma das pernas e com os olhos ardendo não é uma das melhores formas de começar o dia. E foi exatamente assim que eu acordei. Me lembrava de todos os acontecimentos da noite da Captura à Bandeira, mas não me lembrava de ter ido me deitar em uma cama confortável. Antes de abrir os olhos ouvi conversas alheias que pareciam vir de cima de mim.

                - Ainda não acredito que papai emprestou para ela o raio. – escutei a voz de Dean.

                - Isso é ridículo. Ela está dormindo há dois dias. E seus ferimentos nem são graves. Quer dizer, até Sophia já acordou! – ouvi Layla dizer.

                Espere aí, eu dormi por dois dias?! Que tipo de animal dorme por dois dias?! E é claro que não estou gravemente ferida, aquela vaca nunca conseguiria fazer mais que me arranhar. Escutei também um ‘é’ inexpressivo, o qual não consegui identificar quem havia dito.

                Franzi a testa milimetricamente, mas pelo visto, Dean havia notado, porque falou apressadamente para os outros:

                - Shh! Calem as bocas, seus idiotas, ela está acordando! – esse é o meu irmãozinho! Sua voz ficou mais calma – Thalia? Consegue me ouvir?

                Não respondi de imediato, só para provocar. Então falei:

                - Claro que consigo te ouvir, retardado, não sou surda!

                Minha voz estava rouca e desgastada. Abri os olhos lentamente ouvindo um risinho de Dean. Havia três pares de olhos me encarando por cima. Os olhos da esquerda tinham o ar de quem rira há pouco tempo. Eram azuis, num tom elétrico, iguais aos meus, e exibiam um ar aliviado. Ao lado desses, um par de olhos femininos negros como o Tártaro (Não que eu já tenha estado lá. É só força de expressão.) me olhavam num misto de alívio, decepção e pena.

                Os olhos à minha direita não eram marcantes, mas eu nunca me esqueceria deles. Tinham um tom claro e leve de azul. E expressavam algo entre alívio, raiva, confusão, felicidade e paixão. Eles tinham a capacidade de exibir muitas coisas ao mesmo tempo. Isso era o que eu mais amava e odiava neles. Eu saberia quem era mesmo que não pudesse ver o rosto todo. Luke.

                Encarei Layla.

                - Que horas são, Layla? – perguntei.

                Ela me olhou por umsegundo. Então olhou para o próprio pulso, onde havia um relógio prateado e disse:

                - 10:30 da manhã.

                Não gostei do tom inexpressivo, mas ela tinha razão para estar zangada comigo. Falaria com ela.

                - Dean. – chamei-o, fazendo ele me encarar. – Eu quero falar com Layla. A sós. – falei, esperando que ele entendesse a mensagem.

                Graças aos deuses, ele entendeu e se levantou, levando Luke consigo. Me deu um beijinho na testa que limpei com as costas da mão no mesmo instante, fazendo uma careta que o fez rir, e saiu, acompanhado pelo deus.

                Olhei Layla. Ela me encarou. Dei dois tapinhas na cama para que ela se sentasse mais perto de mim. Ela o fez.

                - Que bom que você acordou, Thalia. – ela disse, mas continuava com o mesmo tom inexpressivo.

                - Olhe, Layla, sobre aquelas coisas que você ouviu na clareira... – ela me interrompeu.

                - Não, Thalia, eu não preciso saber. – dois segundos depois, ela se corrigiu. – Tá, preciso sim! Era verdade?

                Ri de leve.

                - Claro que não, Layla. Era pura mentira. Eu nunca trairia a Caçada. Eu vivo por ela. – falei tentando me convencer da última parte.

                Então percebi que eu não precisava me convencer de nada. Era pura verdade. Eu nunca trairia a Caçada. Eu só não tinha me matado, morrido ou sido morta por ela. Ela era minha motivação. Até o momento, pelo menos.

                Layla sorriu. Continuei.

                - Eu amei ele, realmente. Mas isso já faz muito tempo. Muito, muito, muito tempo. E, você sabe, todas nós já passamos por algo assim. E eles nos decepcionaram. E por isso estamos na Caçada. Para que não sejamos mais decepcionadas.

                Ela assentiu de leve.

                - Então, por favor, Layla, não se decepcione comigo, ok? Nem se zangue. Por favor. – falei.

                Vi seus olhos lacrimejarem.

                - Eu não contei para ninguém. – murmurou baixinho, enquanto se abaixava para me abraçar. Abracei-a de volta.

                - Obrigada. – murmurei para ela.

                Ela se afastou.

                - Thalia, me desculpe, mas... quem era? – perguntou.

                Ri de leve.

                - Um garoto. Ele me ajudou a chegar aqui pela primeira vez. Nós viajávamos juntos tentando alcançar o Acampamento. Ele era um semideus. Mas então, no fim, ele decepcionou a todos. – falei.

                - Pode dizer seu nome? – perguntou.

                Sorri fracamente.

                - Não, Layla. Infelizmente não posso.

                Ela assentiu. Murmurou um ‘tchau’ e saiu, fechando a porta atrás de si. Suspriei longamente. Então a porta se abriu de novo. E Luke entrou. Ele veio até mim e sentou-se na beirada da cama. Virei a cara para o lado oposto onde ele estava, como uma criancinha mimada faria ao ver que sua professora de piano menos favorita havia chegado. [N/A Nossa, Thalia, criatividade fértil, hein?]

                Ouvi Luke suspirar. Se alguém me perguntasse eu negaria até a morte, mas o que eu mais queria naquela hora era ouvir sua voz. Por mais que eu sentisse o desgosto e a raiva me preencherem à simples menção de seu nome, eu sentia sua falta. Demais.

                - Oi, Thalis. – ele falou, usando o apelido que ele tinha me dado na época em que viajávamos juntos. Há muitos anos atrás.

                - Thalia. – corrigi contra minha vontade, ainda de cara virada.

                - Está bem. Oi, Thalia. Está melhor? – ele me perguntou.

                Não respondi.

                - Não vai me responder? – ele perguntou.

                Balancei a cabeça em negação num gesto mimado e cruzei os braços. Ouvi-lo rir. Sentei na cama com as pernas penduradas pela borda, ainda de costas para Luke, e o simples gesto de me mexer fez com que minha cabeça latejasse com mais força e meus olhos arderem tanto que eu tive a impressão de que eles iam saltar fora.

                - Olha, Thalis, eu quero pedir desculpas. – Luke disse.

                Ignorei.

                - Tem muito o que eu quero falar. Claro. Mas o que mais me importa é que você saiba que eu me arrependi. Eu estava cego. E não me perdôo por isso, nem posso ser considerado inocente por isso. Magoei a todos. Principalmente a você. A única que não merecia nada de ruim. Então... me desculpe. – ele falou.

                Ignorei de novo. Mas só por fora. Porque por dentro as palavras dele me deliciavam. Percebi que estava limpa, e com roupas que não eram minhas, nem de caçadora. Meu cabelo estava trançado delicadamente numa trança bagunçada que caía sobre um dos ombros, e estava limpo. Eu usava uma blusa lilás folgadinha que me caía muito bem, mas eu tinha certeza de que não era minha. E usava um short jeans claro que era particularmente muito curto para uma caçadora. Não me incomodei de verdade, exceto pelo fato de que não pude deixar de me sentir um pouco envergonhada ao imaginar quem havia me limpado e vestido. Tomara que tivesse sido uma ninfa.

                Luke veio até mim e sentou-se da mesma forma que eu, ao meu lado.

                - Tem tanto que eu queria fazer, Thalis. – ele começou a dizer, de uma forma que parecia mais para si mesmo que para mim. – Queria poder cheirar seus cabelos de novo e te abraçar...

                É, definitivamente ele havia perdido a consciência de que eu estava lá, pensei.

                - Nunca poderia esquecer da sua presença, Thalis. – ele disse parecendo recuperar a consciência.

                Ah, então o vagabundo estava lendo a minha mente? Ah, mas ele ia ver!

                Saia da minha mente, Luke. Agora!, pensei, repentinamente furiosa, me levantando e encarando-o com ar de superioridade.

                Levantar fez minha perna ferida fraquejar, mas eu ignorei. Luke me olhou pasmo.

                Saia, Telepatia!, pensei outra vez, usando um apelido recém-adquirido. Se você não o entendeu, sinto muito por você.

                Luke engoliu em seco e fez uma careta como se fosse ter que fazer algo do qual se arrependeria mais tarde. Ele se levantou e me encarou tentando fazer uma expressão imponente.

                - Não. Você não manda em mim, Thalia! Eu sou um deus! – ele esbravejou com fingida raiva.

                Mas ainda assim pude senti-lo deixar minha mente. O fulminei com meu melhor olhar de ‘venci!’. Ele fez algo que poderia tê-lo feito ser fulminado por um raio. Sério. Ele me beijou. Ele me pegou de surpresa, encostando seus lábios nos meus com rapidez, mantendo-os ali e passando a língua por meus lábios, pedindo permissão. Eu o soquei, mas ele me prendeu num abraço apertado.

                E eu cedi ao meu maior erro. Sabia que era errado. E que era errado com a Caçada. Mas eu não pude evitar. Entreabri os lábios deixando que a língua do meu deus favorito invadisse minha boca com urgência. Aos poucos fui retribuindo. Estremeci por completo quando senti minha língua entrelaçar-se com a de Luke. O beijo tornou-se mais urgente. E eu fui perdendo a consciência do que fazia. Até que senti a mão de Luke descer até meus quadris.

                Era como se eu tivesse sido acordada de um sono profundo com um balde de água fria. Recuperei de repente a consciência e empurrei Luke com força. Fulminei-o com os olhos com raiva. Como ele pôde?! Ele me encarou surpreso. E corado. Dei um soco muito bem dado no seu rosto. Não que tivesse surgido grande efeito, mas o fez segurar o maxilar e soltar um gemido de dor.

                - Como ousa?! – esbravejei.

                - Olhe como fala comigo, Grace! Eu sou um deus! Me respeite! – ele falou, numa óbvia tentativa de parecer enfurecido. O máximo que ele conseguia era parecer irritado.

                - Não, garotinho! Você é que me deve respeito! Os deuses me veneram! Eu não os venero! – exclamei.

                Ok, talvez eu estivesse sendo precipitada e desrespeitosa com todos os deuses, não só Luke, mas eu precisava de todos os argumentos que pudesse obter. Mesmo que depois estivesse encrencada.

                - Fale direito comigo, Grace! Não discuta comigo! Ou eu... – ele começou, mas eu o interrompi.

                - Ou você o quê, Castellan? – pronunciei seu sobrenome com nojo, como se fosse um palavrão, com tanta raiva que realmente pareceu um.

                Eu sentia a raiva me preencher, como acontecia comigo quando me preparava instintivamente para uma luta.

                - Ou eu posso te mandar para o Tártaro! – ele esbravejou, ainda que não parecesse mais do que indignado.

                - Ah, é? É mesmo, Castellan? Você vai me mandar pro Tártaro? Você nunca teria coragem de me fazer mal, Telepatia! – gritei.

                - Cale a boca, garota! – ele gritou.

                - Não, Castellan! Cale você a boca! – de repente senti um jogo de palavras cruéis me invadir de repente. E as lancei. – O que você poderia fazer comigo, hein, Castellan? Me fazer enlouquecer como fez com sua mãe? Porque foi tudo sua culpa, Castellan! Você mancha o nome de sua família! Você fez tudo errado! Por isso seu pai nunca falou com você! Porque ele se envergonha de você! E você traz desgraça ao nome dos deuses! Deus dos pensamentos sagrados? Que patético!

                Ele me encarava cada vez mais surpreso e triste. Mas eu é que não ia me parar.

                - E a destruição do Olimpo, hein, Luke? – continuei, falando seu nome de modo a parecer um palavrão inominável. – Foi sua culpa! A minha morte! A morte de todos! O seqüestro de Annabeth! Ela quase morreu segurando os céus, Castellan! E por sua culpa! – falei usando um ponto fraco dele. Annabeth. Também me doía falar da minha amiga. Que havia morrido há muito tempo.

                - Ah, e Annabeth, hein, Luke? E ela? Ela significou algo para você? Ou você também deixou que ela morresse? Foi sua culpa também, Castellan? Tudo que aconteceu de ruim foi sua culpa, Castellan! Eu ter voltado! Eu ter morrido! Zöe ter morrido! – eu já estava sendo ferida pelas minhas próprias palavras, que traziam enxurradas de lembranças. Eu tinha lágrimas nos olhos, que escorriam pelas bochechas. E Luke também. Eu estava ferindo a nós dois.

                - Mas por que você iria se preocupar com isso? É por sua culpa que Zeus está fazendo isso! – continuei, libertando sentimentos há muito ocultos. – Eu deveria ter me juntado às Caçadoras quando as encontramos, há muito tempo! Eu não teria que ter estado aqui! – eu ia dizer muito mais, mas Luke me interrompeu.

                - Se você tivesse se unido a elas, Grace, nada teria acontecido! – ele gritou. Agora ele parecia realmente zangado. – Eu não teria traído o Acampamento e não teria morrido! Nem você teria se transformado em um pinheiro! E nada teria acontecido! Eu já teria morrido de velhice! E há muito tempo! E os deuses não te veneram, garota! Eles te admiram, idiota! Minha mãe enlouqueceu porque meu pai tirou sua virgindade! E por isso o Oráculo não pôde entrar nela! E não é minha culpa que Zeus esteja fazendo o que está fazendo!

                Ele parecia ter perdido a surpresa do choque das minhas palavras. E cada esclarecimento da distorção que eu havia feito me feria. Ele continuou.

                - E meu pai não podia falar comigo porque seu pai o impedia! Não seja burra! E todas as mortes foram sua culpa, Thalia, porque se você tivesse se unido às Caçadoras antes estariam todos vivos! Eu errei, Thalis! Mas eu me arrependi! E você? Se arrependeu de algo? – ele desabafou.

                Eu sentia as lágrimas correrem por meu rosto. E as via no rosto de Luke. Eu sentia a raiva me abandonar e me sentia preenchida por um sentimento de tristeza, solidão e abandono. Eu queria dizer que me arrependia de não ter lhe desculpado e lhe abraçar. Mas a Caçada ainda era o que me fazia viver.

                - Sim. Eu me arrependo até hoje de um dia ter te ouvido, Luke. – falei, seca.

                Ele pareceu surpreso. E ainda mais triste.

                - Agora saia, Castellan. – ordenei, seca.

                Ele obedeceu, me lançando um olhar magoado antes de fechar a porta atrás de si. Me senti ainda mais sozinha. Desamparada, me sentei na cama. E chorei. Chorei todas as lágrimas. Até ouvir alguém bater na porta. 

--------------------------------------------------------000------------------------------------------


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

POR FAVOR! DEIXE UM REVIEW! EU IMPLORO!

p.s.: apareceu o patinho?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Juramento Quebrado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.