Eu sou alguém, uma pessoa, um ser humano, pensante, aleatório, um rosto, um corpo, uma mente, algo indefinidamente definido, a alma que viaja nos sonhos, os olhos que enxergam o mundo.

Sou a voz que soa em minha cabeça. Sou a a incompetência em transformar meus pensamentos em palavras dizíveis, e por isso escrevo, somente por isso. Aliviar, quem sabe, meu espirito atormentado pelos sentimentos concretos que nunca se concretizaram no mundo material.

E se por dentro mostro uma face, ao mundo a face muda, não por falsidade, mas por sobrevivência. Não a sobrevivência da mascara, mas a sobrevivência dos sentimentos escuros que existem, e que são devidamente valorizados, para que, num contraste romântico com os sentimentos claros, formem a minha personalidade tal qual ela é. Como ela é vista, já que nunca nos vemos, apenas nos sentimos.

E o que eu sinto, meu caro, ora me machuca, ora me alegra. Eu sou a minha pior inimiga, minha melhor amiga. Meu amor próprio é devoto, meu ódio por mim mesma é implacável.

Sou a existência resumida num livro, encontrada na solidão daquele canto esquecido do quarto, amando a chuva que cai, purificando minhas mãos, permitindo que estas, mais tarde, reproduzam o rosto de alguém que me ama, mas que não existe.

Sou a voz que soa solitária na sala de aula vazia, cantando qualquer canção triste de qualquer cantor triste ou que finge ser.

Sou... Sou eu, mim, Gabriela, Gabi...

E, ainda sim, deseja me conhecer?

Eu gosto mesmo é dos amores difíceis.