Andar sem Rumo

      Várias vezes me pego olhando pro chão... ou pro céu... Pensando em pra onde ir. Sentir que o mundo se dissolve a sua volta e asas se abrem e você pode voar. Já se sentiu assim? Gosto de andar sem rumo quando tenho para onde ir. Minha mente flutua nas ondas de pensamento que chegam à praia da minha consciência e eu me deixo levar, sem rumo, apenas confiando nesse fluxo de ondas que promete me trazer algo especial que ficará guardado no fundo do mar e eu nunca poderei alcançar.
      Sinto personas dentro de mim tentando escapar. Elas riem do quão perdida elas sabem que eu sou. Personas que me acorrentam dentro de mim mesma. Elas me completam. Não sou só mais uma perdida nesse mundo. O vento levanta meu cabelo e eu sei que ele gosta de mim. Confio nele.
      Balanço na rede da casa de praia e vejo as nuvens brancas em contraste com o azul do céu e de repente estrelas me olham do escuro sideral. Eu alcanço as estrelas quando sonho. Você também. Mesmo que não lembre. Já tentou deixar as palavras fluírem como se a vida delas dependesse disso? E a sua. Sempre a sua. Sua vida depende de você. Não sei se todo mundo sabe disso. Deveria.
      Bolhas de sabão pegam carona com os deuses gregos. A criança não sabe mas imagina. E o que imagina é real. Porque a realidade não tem graça e a criança sabe usar seus sonhos. Nós já esquecemos. Pergunte para uma criança, talvez ainda dê tempo.
      Vou correr pela savana africana. Os leões me olham mas sabem que sou intocável. Eu quero ser intocável. Corro com guepardos e elefantes. O fogo não me queima, brinca comigo, me encanta. Sei como o fogo é hipnotizante, sonho com ele. E ele corre em minhas veias. Um fogo terrível que consome meus pensamentos e impulsiona meus atos. Libero meus sonhos no mundo através de palavras não ditas. Um olhar. E eu me perdi novamente.
      Nessa rua escura só a lua pode me guiar. Ela é minha guardiã e amiga mais querida, escuta meus lamentos e pedidos. Sabe dos meus segredos. Aqueles que nem eu conheço. A caixinha guardada pelas ondas no fundo do mar. O rei dos mares também ri e canta. Sua voz é doce e poderosa. Trás tempestade. Os anjos sabem que as nuvens negras gostam de brincar com eletricidade então eles fogem. Mas deixam as estrelas para olhar por elas, são só crianças brincando de guerra. Somos só crianças brincando de guerra.
      A Terra chora. Perdeu seus filhos num terremoto que rasgou suas entranhas e os engoliu. E afogou suas mágoas destroindo o que sobrou. Ventos se irritaram com os filhos da Terra e machucaram sua mãe. O Sol chora, mas a Lua o abraça. E sempre as estrelas. Não se esqueça de mim.
      Sou princesa e maga e sei enfeitiçar. Faço a água me seguir para o mistério do buraco negro do coração de alguém que chora. Minha magia só serve para ajudar quem sabe se cuidar. Não tenho inimigos mas eles existem e vão me pegar. Não me preocupo, o dia já vai nascer. E a lua se despede.
      Começou a chover. E a cortina balança suave. Abro a porta e danço. Giro e giro até cair. Riso de criança. Choro de uma alma que esqueceu a própria história. Ainda há esperança. Mas ela já quer ir embora. Eu sou feliz.
      Os pensamentos se confundem numa garrafa de encolher e um gato sorri para mim. Me ensina a desaparecer? O mistério cerca os sonhos e os sonhos iluminam a vida. Deixe-se levar pela corretenza, ela sabe o que faz.
      E agora eu pergunto: ainda quer vir comigo?