Meus olhos estavam fechados, eu estava completamente perdida. Na verdade eu sabia exatamente onde estava, permanecia na Rua 23, sentada no chão frio e encostada na parede suja. Mas agora, sem nenhuma ajuda e sem ninguém, eu estava perdida no pior lugar de todos: minha mente.

Senti uma pele quente me tocar, me balançando ferozmente.

“Alice!!!” Gritou uma voz fina e conhecida, enquanto me chacoalhavam. “Acorde, você está bem!?”

Levantei as pálpebras, olhando em volta. Demorou um pouco para focalizar Hinata em minha frente, os olhos brancos preocupados me fitando com muito medo.

“Você está gelada!! O que houve, o que aconteceu??” Ela praticamente gritava, me cobrindo com um de seus grossos casacos. Eu continuava tremendo, os lábios roxos e frios, tentando me manter acordada. “Alice, me responda!!”

Pisquei fortemente, agora olhando perfeitamente minha amiga. “Ah, Hina! Você veio!!” Abracei-a, sorrindo muito enquanto tremia e meus olhos soltavam lágrimas sem minha permissão. “Foi tudo tão horrível, parecia tão real, tinha que ser real...!”

“O que tinha que ser real?” Perguntou ela, sentando ao meu lado, agora com uma cara repreensiva. “Você veio aqui mesmo quando eu falei para não vir, não é??” Eu olhei para baixo, assentindo silenciosamente. “Liss, eu falei para não fazer isso!! Tenho certeza de que é nessa rua que tem um cara que mexe com drogas...!”

Comecei a chorar mais, a abraçando novamente. “Eu sei, Hina, agora eu sei...! Mas eu me sentia feliz, uma vez na vida, depois que meus pais morreram...!”

Ela afagou minhas lágrimas, sorrindo um pouco. “Eu entendo, entendo... Mas o que exatamente aconteceu?”

Balancei a cabeça, totalmente perdida. “Era real, era verdadeiro! Tinha um lugar, uma história, uma vida...! E tinha ele, aah, o Tiago...” Parei, me arrepiando. “Tinha que ser verdadeiro, Hina, por favor, me diga que foi real!!”

Ela não sabia o que dizer para me consolar. Eu estava mesmo perdida, não podia acreditar que fora tudo engano.

“Por favor, me faça voltar para o País das Maravílhas...!” Disse, tremendo e chorando. “Tem que ser real, tenho que voltar para lá, tenho que voltar para o País das Maravilhas!!” Continuei a pedir, chorando mais. “Tenho que voltar, por favor, me ajude a voltar...”

De tanto que tremi me senti quente. As lágrimas em meus olhos caiam e voavam com o vento constante, mas agora nem tudo parecia tão frio. Tinha, mais agora do que nunca, certeza de que era a morte invadindo meu corpo gelado e trêmulo.

“Tenho que voltar para o País das Maravilhas...!” Flava continuamente, usando essa frase agora sem nexo comparado à morte evidente que estava chegando.

“Ham... Liss...?” Disse, vagarosamente, minha amiga ao meu lado.

“Não, não, não me faça olhar...” Chorei, a abraçando mais.

“Alice, abra os olhos...” Hinata falou novamente, se afastando calmamente.

Abri os olhos, olhando em volta. Meu queixo caiu em uma exclamação muda. Estava sem palavras, sem expressão.

“É aqui...!” Exclamei, sorrindo e levantando. Eu estava no meio de um grande gramado florido, o sol quente e confortante me rodeava. Sorri abertamente, as lágrimas agora de felicidade caindo. “O País das Maravilhas existe!!!”