O corpo de Bella, totalmente avermelhado, começou a se contorcer, se debatendo nos

braços de Rosalie como se estivesse sendo eletrocutada. Todo esse tempo, o seu rosto estava vazio – inconsciente. Era uma sacudida selvagem que vinha do centro do seu corpo e que a agitava. Enquanto ela tinha convulsões, sons de algo rachando e se partindo mantinham o ritmo dos espasmos.

Por milésimos de segundo Rose e eu congelamos devido ao choque e ao agonizante estado de Bella. Rosalie jogou o corpo de Bella nos braços, gritando.

- O parto terá de ser feito agora. Vamos Edward, faremos isso sem Carlisle.

Toda a dor o medo e a culpa que eu senti nesses últimos dias não se comparavam ao que eu agora. Ver Bella ali, inconsciente, toda ensanguentada e mutilada me fez entrar em um pânico sem precedentes. Eu não sabia se podia fazer aquilo correndo um risco tão real de perder Bella ali em minhas mãos. Balancei a cabeça. Eu não tinha tempo para aquilo. Agora precisávamos fazer com que tudo desse certo e eu sei que daria, eu precisava acreditar nisso.

Subimos num átimo para a sala preparada por Carlisle. Tê-lo aqui me daria mais segurança. Rose me bombardeava com pensamentos sobre meu filho. Ela dizia para eu agir rápido senão perderíamos os dois.

Quando ela gritou o que eu estava esperando eu respondi aos gritos.

- Morfina!

- Alice – ligue para Carlisle! - Rosalie gritou agudamente.

As luzes eram brilhantes e brancas e Bella estava na mesa embaixo delas, sua pele fantasmagórica debaixo do brilho. O corpo dela se debatia, um peixe na areia. Rosalie prendeu Bella, puxando e arrancando suas roupas,enquanto eu aplicava o anestésico rezando para que ele diminuísse a dor dela.

Desde o momento em que Bella começou a passar mal sua respiração era superficial mas existia. Assim que morfina entrou em seu sistema a situação piorou vertiginosamente. Sua pele começou a ficar roxa. Uma hemorragia começou a partir de seu útero já dilacerado.

- O que está acontecendo, Edward? – Rose me perguntou.

- Ele está sufocando!

- A placenta deve ter se descolado!

A algum momento, Bella recobrou a consciência. Ela respondeu às palavras minhas e de Rose com um grito.

- TIREM ele daí! - Ela gritou. - Ele não consegue RESPIRAR! Faça isso AGORA!

Pontos vermelhos apareceram quando os gritos fizeram os vasos nos olhos dela se

romperem.

- A morfina – Eu gritei tentado fazer com que ela entendesse que aquilo a ajudaria..

- NÃO! AGORA-! - Outra golfada de sangue saiu enquanto ela gritava. Eu segurei a cabeça dela pra cima, tentando desesperadamente limpar sua boca para que ela pudesse respirar de novo.

Eu mal notei Alice entrar para colocar os fones no ouvido de Rose. Por onde nos comunicaríamos com Carlisle.

- Não Carlisle você não compreende. Ela já entrou em trabalho de parto. Ela já não tá conseguindo respirar. Nós faremos.

- Então tire a criança. Bella não vai resistir por muito tempo.

Rosalie apareceu com um bisturi.

- Deixe a morfina de espalhar! – Eu gritei pra Rose. Bella já tinha sentido dores inimagináveis.

- Não há tempo - Rosalie assobiou. - Ele está morrendo!

Então antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a mão dela desceu para o estômago de Bella, e um ponto vermelho vívido esguichou onde ela perfurou a pele. Era como um balde sendo virado de cabeça pra baixo, uma mangueira ligada na máxima potência. Bella se contorceu, mas não gritou. Ela ainda estava sufocando.

E então Rosalie perdeu o foco. Eu vi a expressão em seu rosto mudar, e vi seus lábios se

erguerem sobre os dentes e seus olhos negros brilhando de sede.

- Não, Rose! - Eu rosnei, mas minhas mãos estavam presas, tentando segurar Bella na

posição vertical para que ela pudesse respirar.

O que aconteceu a seguir eu não consegui assimilar direito. De repente Jacob - que eu nem tinha notado estar lá conosco se atirou em Rosalie sem se transformar. Ainda concentrado em Bella eu senti o cheiro do sangue de Jacob e o barulho oco de alguém batendo no concreto. Pude sentir Alice aparecer, puxando Rose e a arrastando para o corredor.

- Alice, tire ela daqui! - Eu gritei, enquanto ouvia Rose em seus pensamentos lutando para se recompor. - Leve-a pra Jasper, e mantenha ela por lá! Jacob, eu preciso de você!

Enquanto eu ainda lutava para tentar fazer Bella voltar a respirar eu ouvi os passos apressados do lobo. - Primeiros socorros? – Eu disse quando ele finalmente chegou a mesa.

- Sim!

- Faça-a respirar! Eu tenho que tira-lo antes que –

Outro barulho de algo se partindo dentro dela, o mais alto até agora, tão alto que nós dois esperamos, chocados, pelo seu grito de resposta. Nada. Suas pernas, que haviam estado curvadas de agonia, agora estavam sem vida, espalhadas de uma forma não natural.

- A coluna dela - eu conclui horrorizado e cada vez mais desesperançoso..

- Tire isso de dentro dela! – Jacob gritou pra mim me dando o bisturi. - Ela não vai sentir nada agora!

Então o lobo se inclinou mandando ar nos pulmões dela. Eu respirei fundo. Não haveria outra maneira de fazer. Abri ainda mais o corte feito por Rose. Era agora me inclinei e mordi.

Era a mesma sensação de morder e desmembrar um vampiro. O barulho a partir da placenta era como metal sendo rasgado. Uma parte da minha mente processou o fato que essa era minha última oportunidade de provar o sangue doce de Bella. Quando tudo acabasse na melhor das hipóteses ela seria como eu. Eu ouvi Jacob estremecer quando ele ouviu também.

Bella tossiu, seus olhos piscando, revirando cegamente.

- Fique comigo agora, Bella! - Jacob gritou pra ela. - Você me ouviu? Fique! Você não vai me deixar. Mantenha seu coração batendo!

Enquanto isso eu continuava tentado abrir um espaço suficiente para tirar a criança de lá. No momento que eu finalmente consegui tirar o bebe de dentro dela, seu corpo ficou rígido, apesar da respiração dela ter aumentado de ritmo e seu coração continuava a bater.

Naquele momento eu quase perdi o foco. Era ela. Reneesme. Com os olhos exatamente iguais a mãe me encarava fascinada. Feliz por esta ali em meus braços.

Eu sussurrei – Renesmee. - E um novo e arrebatador sentimento se apossando de mim. Não era o menino que Bella esperava, era minha filha.

Então eu ouvi a voz fraquinha de Bella consciente e ainda em estado de graça- Me deixe... - ela gaguejou num sussurro partido. - Dá ela pra mim.

Eu observei em transe minha esposa segurar minha filha nos braços. Nunca eu poderia ver uma imagem mais perfeita do que essa.

- Renes... mee. Tão... linda.

Então Reneesme faminta e por estar num ambiente coberto de sangue se aconchegou ao seio de Bella e a mordeu ali, deixando duas cicatrizes em formato de meia lua.

- Não, Renesmee - Eu murmurei, tentando faze-la entender que ela não poderia se comportar desta maneira.

Então com uma última batida fraquinha, seu coração falhou e ficou em silêncio.

Ela perdeu, talvez, meia batida, e em seguida eu ouvi as mãos de Jacob estavam em seu peito, fazendo compressões. Pra logo depois soprar ar nos pulmões dela.

- O que você está esperando? – Jacob gritou sem fôlego, pressionando seu coração novamente.

Um. Dois. Três. Quatro.

- Pegue o bebê – Eu disse urgentemente, ainda meio atordoado.

- Jogue-o pela janela. - Um. Dois. Três. Quatro.

- Me dê ela - uma voz baixa soou na porta.

Jacob e eu rosnamos ao mesmo tempo.

Um. Dois. Três. Quatro.

- Eu estou controlada - Rosalie prometeu. - Me dê o bebê, Edward. Eu vou cuidar dela até que Bella...Voltando a ter foco novamente eu me concentrei em salvar Bella. Agora eu tava ali lutando pelo dobro de motivos. Nossa filha precisava da mãe, assim como eu.

Rapidamente eu me encaminhei até onde estavam as seringas pegando a de metal para extrair o veneno da minha boca. - Afaste suas mãos, Jacob. Aquela foi uma idéia que me ocorreu de de repente. O sangue era bombeado pelo coração se então eu conseguisse fazer com que ele se espalhasse mais rápido...

- O que é isso?

Eu tirei a mão dele depressa do tórax dela ouvindo um som do golpe do seu dedo sendo quebrado. E rezando para que minha idéia realmente fizesse tanto sentido quanto na minha mente desesperada.

- Meu veneno – eu respondi enquanto injetava.

O coração dela deu um salto, como se ele tivesse tomado uma descarga elétrica. Agora não havia mais volta tudo que eu anda relutava e me culpava por fazer eu tinha feito sem outra escolha. Foi naquele momento que eu questionei por que tudo que eu quis e pude fazer para Bella dava tão errado. Não importava o quanto eu tentasse.

Não! Não podia ser assim. Bella ficaria bem e voltaria para mim e para Reneesme.

- Continue se movendo – eu gritei pra Jacob eu quase não reconheci minha voz quando a ouvi.

Ele pareceu ignorei a dor pulsante no seu dedo e continuou a pressionar o coração dela. Então eu comecei morder cada parte possível do corpo dela. Lábios, pescoço, pulsos, parte interna dos braços. E ao fim de cada mordida eu lambia a ferida para que ela se fechasse aprisionando em seu corpo o próprio sangue e também o meu veneno que em breve seria seu.

Jacob soprou mais ar em sua boca mas o que ele viu foi apenas um peito sem vida se

erguendo em resposta. Ele continuou pressionando seu coração, contando, enquanto eu forçava cada vez mais veneno em seu corpo.

Só naquele momento eu me concentrava o suficiente para ouvir os pensamentos de Jacob.

Mas não havia nada ali, apenas eu, apenas ele.

Trabalhando num cadáver.

Porque isso era tudo o que restava da garota que nós dois amamos. Esse cadáver quebrado, ensangüentado, feito em pedaços. Não podíamos reconstruir Bella. Era tarde demais. Eu sabia que ela estava morta. Eu tinha certeza, porque o imã já não existia mais. Eu não sentia nenhum motivo para ficar perto dela. Ela não estava mais aqui. Então esse corpo já não tinha nada para me atraia pra ela. A necessidade sem sentido de ficar perto dela havia desaparecido.

Ou talvez tirada fosse uma palavra melhor. Agora parecia que o imã vinha da outra direção. Das escadas, porta afora. A vontade de sair daqui e nunca, nunca mais voltar.

- Então vá – eu gritei querendo que ele e falta de esperança e de garra fosse para o inferno.

Na ânsia de afastar suas mãos acho que ouvi mais alguns dedos se quebrarem da mão dele. Então ele ficou ereto de forma indiferente, sem se importar com as pontadas de dor. Eu assumi seu trabalho bombeando freneticamente seu coração. Pensando na fala de Jacob eu me enfureci.- Ela não está morta. Ela vai ficar bem.

Eu precisava desesperadamente acreditar nisso.

- Bella meu amor tudo vai ficar bem, você ta me ouvindo? Tudo vai ficar bem agüente só mais um pouquinho que isso vai acabar rápido. Eu te amo. Continue lutando meu amor, por mim, por nossa filha por favor Bella. Não me deixa... – Eu falava enquanto forçava ainda seu peito fazendo-o bater.

Por favor, Bella eu preciso tanto de você meu anjo. Tudo vai ficar bem. Eu te amo.

Esse era o meu mantra.

Eu não sei por quanto tempo exatamente eu fiquei ali a repetir aquelas palavras e forçando o coração de Bella a bater.

Então de repente um novo barulho preencheu o quarto era como a hélice de um helicóptero trabalhando as engrenagens e depois acelerando até estar a toda velocidade pronto pra alçar vôo. Aquele era o som da sentença de Bella. Do não haver mais volta.

O som que eu amava mas que no momento também me angustiava proporcionalmente:

O frenético batimento, um batimento apressado...

Um coração em transformação