Eu já não sabia o quão ruim tudo podia torna-se. Era como se cada vez a cada segundo eu conseguisse visualizar os erros que cometia com meu anjo. Era como se cada erro do meu passado se refletisse no meu bem mais precioso, como se cada novo acontecimento se fizesse presente só pra mostrar as nossas diferenças, o quanto eu não a merecia, o quanto nessa luta perdida, por mais que eu a amasse, por mais que eu fosse correspondido nesse amor, não fosse o bastante para fazer de mim alguém digno dela.

Então mais uma vez eu enfrentava o medo de perdê-la. Mais uma vez eu via o monstro ri de mim ao dizer que nunca nada que eu fizesse seria merecedor. Afinal como dois opostos, como duas criaturas diferentes poderiam dar certo? E este fora meu maior erro. Apesar de todas as diferenças que se mostravam claras entre nós, ignorei-as dando voz a um sentimento tão desconhecido tanto pra mim quanto pra ela, o desejo tão humano e tão normal para aqueles que amam quanto perigoso pra nós.

Ao mesmo tempo, todo meu amor e devoção cresciam mais. Como não amá-la mais? Como não admirar-se com sua bravura e coragem? Como não entregar tudo de mim em prol da única coisa que me trazia a vida? Como não entender seus motivos – mesmos errados – em insistir naquela loucura. Ou como entender que em toda sua perfeição ela ainda poderia ser melhor, ser mais extraordinária? Como não lutar pra conseguir tê-la por toda eternidade? Como não querer isso, por mais egoísta que fosse esse desejo.