Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 28
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Sem muito papo.
Esse capítulo está bem grande, e olhe que estou postando parte dele para não deixar vocês esperando mais. Já estou trabalhando no próximo.
Beijos, boa leitura!
Obs: as palavras que estão em negrito e com hiperlink direcionam para as páginas do modelo do vestido de Ally e das músicas mencionadas no capítulo.



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Ally PDV

Após a saída de Roger, voltei para meu quarto quase flutuando. Eu não conseguia raciocinar com muita coerência, pois meu coração e minha mente estavam permeados de emoções, o que comprovou para mim que os setores da ‘razão’ e da ‘emoção’ vivem em extremidades opostas no meu cérebro e cortaram relações eternamente. Não sei explicar como em uma questão de segundos, Roger conseguiu minar todas as minhas resoluções de ‘ser forte e não me render aos seus encantos’, que eu tanto tinha trabalhado em minha cabeça semanas antes de vir para o Rio.

Fui até a janela para ver a multidão que Roger havia mencionado antes de sair. Desde que cheguei, não tinha me aproximado da janela, muito menos aberto as cortinas para deixar entrar um pouco de luz. Foi com surpresa que constatei que meu quarto tinha vista para o mar! E lá embaixo, no calçadão estavam centenas de pessoas, algumas sentadas à sombra das árvores, outras de pé, outras em grupos com cartazes, camisas e faixas com fotos e o nome Roger Peterson em todas elas. Fiz uma pequena careta ao ver um cartaz com os dizeres “Nós amamos RPeter + CatSey”.

Ugh.

A realidade sempre aparece nas formas mais perniciosas para me dar um tapa na cara e me despertar do meu sonho dourado. Decidi por ignorar os pensamentos indesejados que surgiram graças ao “tapa na cara” e reviver em minha memória os momentos doces que acabara de viver com Roger.

Uma vez eu disse que estava disposta a aceitar o que Roger tivesse a oferecer, fosse amizade ou algo mais. Pois bem, os abraços, beijos na bochecha e carícias em meu rosto e suas mãos deslizando por meus cabelos foram mais do que eu jamais poderia sonhar. Eu não queria acordar do estado de torpor em que sua presença havia me induzido. Eu queria mais e mais e mais.

Eventualmente eu tive que abandonar esses pensamentos agradáveis e me preparar para o jantar do Sr. Steiner. Sarah havia marcado de encontrar no saguão do hotel às dezenove horas, e eu não tinha a menor intenção de atrasar. Eu não lhe daria o gostinho de ter motivos para me acusar de antiprofissional. Além do mais, estava ansiosa para ver Roger novamente.

Escolhi cuidadosamente a roupa para o evento desta noite, considerando o que poderia agradar o Roger. Eu me sentia muito bem e queria que ele percebesse isso, queria que ele sentisse mais vontade de estar perto de mim. Acabei optando por um vestido preto com renda preta e apliques dourados. Era um modelo comportado, que ia até o joelho, mas tinha um pouco de transparência na altura do colo. E não tinha mangas. Meio retrô. Eu tinha que manter em mente que apesar das minhas intenções, eu estava ali a trabalho, então discrição e decoro eram fundamentais. Como não conhecia nenhum salão na cidade, tive que me virar com meu secador e chapinha para dar um jeito no cabelo. No final das contas fiz uma escova com as pontas curvadas, para dar um ar natural e com a chapinha fiz o acabamento na franja. Coloquei uma maquiagem bem natural, passei perfume e estava pronta para ir!

Cheguei ao saguão do hotel faltavam quinze minutos para as dezenove horas. Até então, ninguém havia chegado. Sentei em uma das poltronas próximas aos elevadores para não correr o risco de não ser vista quando Sarah e os outros chegassem. Estavam todos elegantes porém discretos, o que me deixou mais tranquila quanto à minha própria escolha de roupa. Exceto pela Daniela, que usava um vestido vermelho tomara que caia, um pouco justo demais.

Roger apareceu vestindo jeans escuro, camisa de botão branca e um casaco de couro surrado, completando o visual com botas coturno – bem incomum ao seu estilo. Meu coração acelerou um pouco ao vê-lo tão perfeito. Era como se ele tivesse escolhido meu estilo favorito de propósito para me agradar. Mas é claro que eu sabia que isso estava longe de ser verdade. A composição caiu como uma luva nele, e eu tive que me controlar para não ficar lhe admirando descaradamente. Nossos olhares se cruzaram por um segundo, ele me encarava com tamanha admiração, que senti como se estivesse sem roupa. Eu provavelmente estava lhe estudando da mesma forma, pois ele tinha um sorriso convencido no canto da boca.

Seguimos para a residência do Sr. Steiner em carros separados. Roger, Sarah, seu segurança Dave em uma Range Rover, e eu, Larry, Daniela e André em um sedan Corolla. Estavam todos silenciosos dentro do carro, então aproveitei para enviar um whatsapp no grupo do Eurotrio Feliz:

Alicia Curtis:

Indo a uma festa mega exclusiva cheia de ricos e poderosos. Me invejem!

Anita:

Ai. Meu. Deuris! Cadê o Rogeris? Como foi o encontro de vocês?????????

Helena:

Conta tudo Alix! Ele foi legal com você? E o trabalho, tá gostando?

Alicia Curtis:

Não posso falar muito agora. Ele veio falar comigo e foi muito fofo. Estou a caminho de um jantar que o dono da grife está dando especialmente para o Roger. Até agora está tudo ok.

Achei melhor não contar sobre a chatinha da Sarah, afinal, ela era apenas um efeito colateral que não diminuía em nada o que eu sentia por Roger agora, e não apagaria o momento extraordinário que tivemos hoje à tarde. Um segundo nos braços do Roger compensava qualquer sermão ridículo que ela me passasse. De todo modo, eu estava com o lucro. Sorri comigo mesma relembrando suas palavras e o jeito como me observava. Ele gostava de mim mesmo com o rosto inchado e cabelo bagunçado. Não era o visual ideal, mas desde quando tinha algo de convencional em nosso relacionamento? A começar pelo modo desastrado como nos conhecemos.

Ao chegarmos na residência do Sr. Steiner, descobri que se tratava, na verdade, de um apartamento tríplex em um condomínio de alto luxo, com um esquema de segurança tão bem equipado, que fazia inveja a qualquer banco. Fiquei até com medo de ser barrada na entrada.

Eu, Daniela, André e Larry nos reunimos com o restante do grupo no saguão do edifício. O salão exalava luxo por todos os poros dos mármores exóticos que formavam padrões geométricos pelo piso inteiro, subindo até pelas paredes. Em algumas delas, o mármore era como vidro, meio transparente com umas rajas douradas e cor de bronze, belíssimas. De trás do painel vinha uma luz que atravessava a pedra, exaltando ainda mais a cor dos veios bronze e dourados. Lembraram-me um pouco a cor do cabelo de Roger.

Ele estava poucos metros à minha frente, onde havia uma recepcionista que, me pareceu, estava lá exclusivamente para indicar qual o andar do apartamento. Ela nos saudou educadamente em português e inglês, fazendo referência especialmente a Roger. Eu ainda não consegui me habituar com essas excentricidades dos milionários. Parece que fazem questão de desperdiçar dinheiro com coisas inúteis. Eu nem conseguia imaginar o que nos esperava lá em cima.

Ficamos parados formando uma espécie de semicírculo aguardando o elevador chegar. Roger estava diante da porta do elevador, ao lado de Sarah e Dave, que conversavam em um tom tão baixo que pareciam estar sussurrando. Daniela aproveitou que Larry estava em silêncio ao lado de Dave para aproximar-se e puxar conversa. Ele não pareceu muito animado com sua presença. André parou diante da porta do elevador ao lado de Roger, olhando concentrado para o painel luminoso que indicava os andares por onde o elevador passava. E eu acabei ficando ao lado de André, observando a decoração da sala para não ter que encarar as tentativas frustradas de Daniela para captar a atenção do Larry, bem diante de mim. Roger olhou discretamente em minha direção e deslizou até o meu lado, mais próximo da porta do elevador.

Congelei em meu lugar. Não vou mentir que não passou pela minha cabeça que ele pudesse fazer alguma coisa que denunciasse mais intimidade entre nós do que nossas companhias pudessem imaginar. Mas Roger permaneceu quieto, mantendo uma distância respeitável entre nós, o que me fez desejar, inconscientemente que ele estivesse mais perto. Ele apenas sorriu educadamente para mim, tirou o celular do bolso e ficou conferindo alguma coisa que eu não tinha como saber o que.

Quando o elevador chegou, Roger adiantou-se para a entrada quase em um salto, mas antes de entrar parou de repente, hesitou, e virou-se para mim meio desconcertado, gesticulando para que eu entrasse primeiro. Eu sorri agradecendo a gentileza e entrei no elevador, parando com as costas apoiadas na parede espelhada. Roger seguiu logo atrás de mim, posicionando-se ao meu lado. Ele permaneceu em silêncio, olhando para frente enquanto as pessoas entravam no elevador, me fazendo ficar encurralada no canto, entre Roger, que estava ao meu lado e André na minha frente. Eu podia sentir o calor que o corpo de Roger emanava, seu cheiro de banho me lembrava um lugar à beira mar, a brisa vindo da praia, a sombra de uma árvore, e muito verde, por toda parte. Nem sei se isso faz sentido, mas fechei os olhos por um milésimo de segundo desejando estar sozinha com Roger em outro lugar, onde eu pudesse ficar tão próxima dele a ponto de eu me embriagar com aquele cheiro, e pudesse tocar seu rosto, deslizar meus dedos por seus cabelos e...

Meu pequeno devaneio foi interrompido pela voz rouca de Roger sussurrando próximo ao meu ouvido. Senti um arrepio e me encolhi, um reflexo à proximidade inesperada.

– Concordo com o Eric Clapton. – Roger disse.

– Quê? – Perguntei confusa.

– A música. Ela diz que você está maravilhosa esta noite.

– Ah. – Sussurrei um pouco atordoada, e só então percebi a melodia que tocava dentro do elevador. – Hum, obrigada. Você também.

Espiei ao nosso redor e percebi que todos estavam quietos, olhando para a porta do elevador, então relaxei um pouco e encarei Roger sem me preocupar se os outros perceberiam. Ele sorria para mim como se pudesse ler o que eu sentia através dos meus olhos. Sua mão encontrou a minha e me puxou um pouco mais próximo, encostando nossos corpos de lado. Ninguém percebeu o sutil movimento, mas eu estava perfeitamente ciente de sua mão quente junto da minha e seus dedos entrelaçados com os meus. Aquilo foi tudo para mim. E naquele momento eu percebi que mais cedo ou mais tarde eu teria que me acostumar com essa sensação avassaladora que me invadia, descendo pela minha garganta até o estômago, cada vez que Roger me tocava.

Ao chegarmos à cobertura, um homem na faixa dos quarenta e cinco anos nos aguardava no hall de entrada do apartamento acompanhado de uma mulher que tinha cara de parecer jovem demais para a idade que deveria ter. Ambos estavam vestidos elegantemente. Sr. Steiner nos recepcionou calorosamente, cumprimentando Roger e sua equipe em inglês e a nós tradutores em português. Claro que ele sabia diferenciar os brasileiros dos gringos. Sua esposa, D. Carmen, também nos cumprimentou muito gentilmente, porém mais tímida. Ela tinha um jeito elegante de se portar, mas ao mesmo tempo parecia ser uma pessoa simples e amável, o que ajudou a me sentir um pouco menos desconfortável em meio a tanto luxo.

O casal anfitrião nos conduziu para o interior do apartamento, no primeiro piso, que estava repleto de pessoas igualmente elegantes, algumas com aparência muito ousada e modernosa demais para meu gosto. Mas eu estava achando aquilo tudo muito fascinante, como se eu tivesse ganhado um ticket disputadíssimo para visitar Marte e conhecer o estilo de vida dos marcianos. Havia mulheres altas, lindíssimas desfilando de um lado para o outro com taças de champanhe na mão, pessoas um pouco mais velhas reunidas em rodinhas de conversa enquanto fotógrafos os circulavam registrando suas presenças.

Como eu havia previsto, o apartamento, assim como o hall de entrada no térreo, transbordava luxo, com a diferença que aqui os ambientes eram um pouco mais familiares, exibindo muita madeira nos móveis e peças decorativas, vasos com plantas espalhados pelos diversos ambientes da ampla sala do tríplex. A sala estava belamente decorada com folhas de costela-de-adão e helicônias vermelhas com amarelo, dando um aspecto bem tropical ao ambiente.

O Sr. Steiner conduziu Roger através da sala e parou diante de uma enorme mesa de buffet com uma abundância de petiscos, frios, caviar e outras coisas que nunca vi na vida. Ele chamou atenção das cerca de oitenta pessoas presentes; Roger gesticulou para que eu me aproximasse e ficasse ao seu lado. Obedeci, acompanhando a dupla até seu posto, no entanto posicionei-me ao seu lado, um pouco recuada. Sr. Steiner fez uma breve apresentação de Roger e sua equipe, falou sobre a parceria entre sua grife e Roger e sobre os benefícios de ter um astro como Roger representando a marca. Todos aplaudiram calorosamente. Eu podia ver nos olhos dos convidados, especialmente aqueles do sexo feminino, a expressão de adoração e cobiça. Elas pareciam leoas famintas prestes a atacar uma presa na selva. Ugh. Roger estava um pouco desconfortável, eu sabia que ele não gostava de ser o centro das atenções, o que era meio paradoxal, considerando a profissão que ele escolheu. Mas eu podia sentir que ele estava um pouco inquieto, esperando que as pessoas voltassem às suas conversas e esquecessem sua presença ali. Para sorte dele, foi mais ou menos o que aconteceu, se não considerarmos algumas mulheres que não conseguiam disfarçar suas encaradas para ele enquanto conversavam em suas rodinhas.

Roger permaneceu conversando com o Sr. Steiner, em inglês, e eu permaneci ao seu lado, quieta, fingindo que estava prestando atenção na conversa, quando na verdade eu estava admirando todo e cada movimento que ele fazia. Cada palavra que dizia. Devo ter admirado Roger um pouco demais, por que a certa altura o Sr. Steiner fez uma pergunta que me pegou completamente de surpresa e me deixou mais desconcertada do que eu já estava.

– Você não me apresentou esta adorável moça que lhe acompanha, Roger. É sua namorada?

Olhei em pânico para Roger esperando que ele estivesse tão chocado quanto eu, mas para meu espanto, ele sorriu orgulhoso?, e respondeu educadamente:

– Me perdoe, esta bela moça é Alicia Curtis. Ela não é minha namorada, apenas tive a grande sorte de contratar uma intérprete que além de muito competente, é uma ótima companhia e agrada aos olhos.

Minhas bochechas queimavam, eu não sabia onde enfiar a cabeça. Eu desejei loucamente dar um beliscão no braço do Roger, mas achei que não seria adequado demonstrar tamanha intimidade. Sem contar que ele poderia reagir de modo inesperado. Tipo, gritando, sei lá.

– Obrigada, Sr. Steiner. Obrigada, Roger. – Agradeci timidamente.

– Oh, desculpem a indelicadeza! Bom, Roger, sorte sua, meu amigo! Alicia, acho que hoje também é seu dia de sorte. Você vai poder aproveitar a noite sem precisar trabalhar tanto, já que, como pode perceber, também falo inglês. O que acha de dar uma folga para que sua bela intérprete possa desfrutar um pouco de nossa festa, Roger?

Prendi a respiração esperando a resposta de Roger. Eu desejava do fundo do coração ficar ao lado dele a noite inteira, mesmo que não precisasse trabalhar. Eu não conhecia ninguém ali além das pessoas da equipe. E não estava afim de acompanhar Sarah, não tinha assunto nenhum com Dave ou André, preferia ficar ao lado de Sarah do que ter que ouvir os comentários deslumbrados da Daniela sobre Roger, Larry, sobre a festa e tudo o que está acontecendo. Só me restava o Larry.

Roger fez uma pequena careta quando olhou para mim, como um pedido de desculpas e respondeu:

– Sim, claro. Boa ideia. Alicia, você deveria aproveitar a festa. Se eu precisar de você, vou lhe procurar. – Ele pressionou levemente a mão sobre meu braço.

Sem alternativa, assenti, cumprimentei o Sr. Steiner novamente e me retirei sentindo-me um pouco inútil, o que era bobagem, considerando que tecnicamente aquele trabalho era apenas uma desculpa para estar próxima do Roger e ele próprio havia me ‘dispensado’ do meu ‘serviço’ naquela noite. Mesmo assim, achei prudente comunicar a decisão de Roger a Sarah. Não queria correr o risco de ser repreendida na frente de todos da festa. Sarah concordou, mas pediu que eu ficasse por perto caso Roger precisasse de mim.

Encontrei refúgio em um pequeno deck na varanda, de onde eu tinha uma vista exuberante da orla do Rio de Janeiro, cercada por montanhas e salpicada de pequenas luzes dos apartamentos, casas e ruas lá embaixo. Algumas pessoas conversavam descontraidamente com suas bebidas em mãos, sentadas em futons e espreguiçadeiras enormes ao meu redor, mas ninguém parecia perceber minha presença, o que foi um alívio.

Meu momento de solidão durou pouco. Larry, o assistente de Roger me encontrou na varanda e aproximou-se para conversar. Não havíamos conversado depois da reunião na suíte de Roger esta tarde, onde ele falou umas coisas meio sem sentido. Ele parecia ser um cara legal, e poderia ser uma companhia agradável enquanto Roger não voltava para me resgatar.

– Ei, Ally! – Larry recostou-se no parapeito, ao meu lado.

– Oi Larry, o que está achando da festa? – Cumprimentei-o virando-me em sua direção.

– Legal, eu acho. Melhorou agora. – Ele brincou me dando uma piscadela.

– Nossa, quanto entusiasmo! – Brinquei. Ele parecia entediado.

– Você não tem ideia. A cada minuto que passa, eu desejo mais ainda que você fosse minha tradutora. Cara, aquela Daniela está me tirando do sério!

Tentei conter um sorriso e perguntei, séria.

– O que há de errado com ela?

– Nada...Ela é legal, e tudo mais. Mas não para de fazer perguntas sobre o Roger. Ela é um pouco deslumbrada. Não que eu não esteja acostumado com isso. Mas ela poderia se controlar um pouco. Como você.

Essa doeu!

– Você acha que eu sou deslumbrada? –Questionei curiosa.

– Não. Não é isso, você não é deslumbrada. Mas dá para perceber que a presença do Roger lhe afeta. Só que você sabe se controlar.

– Claro, estou trabalhando. Além do mais, ele é famoso, não estou acostumada a lidar com pessoas famosas no meu dia a dia.

– Essa é a diferença entre você e a Daniela. Você sabe ser profissional.

– Hum. Obrigada.

– Mas me diga, você não acha Roger atraente? Você parece imune ao charme dele, o que eu raramente vi ao longo desses anos que trabalho com ele.

Nesse momento eu esperava sinceramente que minha expressão não me denunciasse, por que eu senti meu rosto esquentado, comecei a piscar incontrolavelmente e respondi gaguejando.

– Não. Não, quer dizer, sim. Ele é muito bonito sim, claro. Mas acho que todo esse auê em torno dele é mais uma questão de fama.

– Como assim? Você está dizendo que se ele fosse um cara como eu, não teria o mesmo efeito sobre as mulheres?

– Isso mesmo.

– Você não ficaria intimidada perto dele?

– Acho que não.

– Você acha que se eu tivesse a fama do Roger, as pessoas me tratariam do mesmo jeito que tratam ele?

– Sim, sem dúvida.

– Você acha que sou tão atraente quanto ele?

Agora você me pegou, amigo! E então, como eu poderia responder a essa pergunta? Mentir ou mentir?

– Hum... sim, claro. – Quase engasguei.

De alguma forma, Larry interpretou minha resposta como algum tipo de encorajamento, e disparou a falar uma série de coisas sobre Roger que, por um lado me chocavam e por outro me agradavam. Mas o que me incomodou mesmo foi o modo como ele, assistente pessoal do Roger, teve a cara de pau de falar mal do seu ‘patrão’ pelas costas. Por um segundo lembrei de Daniela, que adoraria estar ali ouvindo aquilo tudo. Mas eu só consegui ficar chateada e aborrecida. Como ele tinha coragem de fazer uma coisas dessas?

– Ally, você não imagina todos os privilégios que caras como o Roger têm. E você acha que ele aproveita? NÃO! Que espécie de idiota tem o mundo inteiro nas mãos e não se sente privilegiado e não faz proveito de tudo?

Eu só conseguia fingir interesse e encará-lo fingindo que queria ouvir mais. Meu estômago estava revirando.

– Quer dizer, ele aproveita algumas coisas, roupas que ganha, entrada VIP em alguns lugares, passagens de primeira classe, esse tipo de coisas. Mais pela conveniência. Mas você acha que ele dá bola para o monte de mulheres que o procura? Estou falando sério, essas mulheres são capazes de tudo para ter seus quinze minutos com ele. E Roger simplesmente ignora! Não sei se ele tem o ego tão inflado que se acha muito superior a todos e acha que essas mulheres não estão à altura dele... não sei. Não é normal. Às vezes me pergunto se ele não é gay.

–Ok, Larry. Eu não o conheço, não tenho como saber.

– Tô te falando! O cara é esquisito demais. Se eu fosse ele estaria aproveitando tudo. O mundo dá voltas. Eu iria usufrir cada momento como se não houvesse amanhã. Livin’ La vida loca mesmo. Mas Deus não dá asas às cobras, não é mesmo?

Com essa eu tinha que concordar.

– É verdade... – Respondi pensativa.

– De todo modo, a fama dele não está sendo desperdiçada totalmente. Eu tenho meus privilégios também. Algumas garotas se aproximam de mim também. Sabe como é, o cara mais próximo do superstar e tal.

– Larry... acho que você não deveria falar esse tipo de coisas sobre o Roger. Você trabalha para ele...

– Ah, mas não estou falando para qualquer um, estou falando para você.

– E daí?

– Eu confio em você.

– Como você pode confiar em mim, você me conheceu hoje!

Ele aproximou-se se mim, esbarrando o ombro contra o meu, como se estivesse me provocando, e respondeu com um ar convencido:

– Você é mesmo uma figura! Ally, eu sei ler as pessoas. Desde que eu te conheci, senti que havia algo especial em você. Você é uma excelente profissional, uma garota de caráter. Entendo perfeitamente por que Sarah a escolheu para nos acompanhar.

– Obrigada. Mas as aparências enganam. Eu também senti que você é uma pessoa confiável. Mesmo assim, não sairia contando para você coisas particulares sobre meu patrão. Não acho certo.

Virei de costas para a vista, apoiando as costas no parapeito. Olhei em direção à sala e meus olhos repousaram na figura de Roger, parado com uma mão no bolso e a outra segurando uma long neck. Estava acompanhado de duas pessoas, um homem e uma mulher. Ele acenava e fingia prestar atenção no que falavam, mas seus olhos estavam fixos em mim e Larry. Quando percebeu que eu o observava, ele deu um leve sorriso e desviou o olhar.

O Sr. Steiner discretamente puxou Roger pelo braço, conduzindo-o até o centro da sala, onde chamou a atenção dos convidados para todos fazerem um brinde.

– Caros amigos. Estamos reunidos esta noite para celebrar um momento especial na história da Karmic*. A colaboração com o grande astro internacional Roger Peterson, que gentilmente aceitou participar de nossas campanhas publicitárias pelos próximos dois anos. Roger empresta seu carisma e elegância à Karmic, formando uma união poderosa que reforça ainda mais o estilo autêntico e despojado de nossa grife. Eu passo a palavra agora ao nosso convidado especial, que muito gentilmente fez questão de estar presente aqui no Brasil para o lançamento da nossa nova campanha. Sr. Roger Peterson!

Roger ouvia atentamente o discurso do Sr. Steiner, e seus olhos fixaram-se diretamente em mim quando ele falou que Roger “fez questão de estar presente aqui no Brasil”. Senti um frio na barriga, meu coração palpitando no peito. Sorri para ele enquanto aplaudia. Só nós dois sabíamos o real motivo dele estar aqui neste momento. Eu estava satisfeita comigo mesma. Era difícil acreditar que uma garota comum como eu tivesse o poder trazer um homem como Roger para o outro lado do mundo, totalmente fora do circuito ao qual ele está habituado a trabalhar.

Roger dá um passo adiante, fica lado a lado com o Sr. Steiner e começa a falar. Ele encolhe os ombros timidamente, depois encara os convidados e começa a falar.

– Obrigado, Sr. Steiner. É uma honra estar aqui para representar a marca Karmic, que já tem renome mundialmente. Desde o início eu sabia que essa parceria seria um passo importante em minha carreira. Nunca pensei em trabalhar no mercado de moda, mas estudando as propostas da Karmic, percebi o quanto me identificava com seu estilo. Foi essa constatação que me abriu os horizontes e me fez perceber que essa parceria seria muito benéfica. Sinto-me honrado pelo convite do Sr. Steiner e agradecido de poder viver essa experiência maravilhosa no Rio de Janeiro. Obrigado. Sucesso!

Os convidados aplaudiam efusivamente enquanto Roger exibia seu sorriso glorioso, aliviado por ter encerrado o discurso. Ele olhava intensamente para mim. Eu estava prestes a chorar. Quase esqueci que Larry estava ali do meu lado. Inventei uma desculpa qualquer e fui até o banheiro para me recompor. Minha respiração estava quase ofegante.

Antes de chegar ao banheiro, fui abordada por um dos repórteres de coluna social que circulavam pela festa. Ele queria tirar uma foto minha para a cobertura do evento. Expliquei que eu não era ninguém famosa, que não tinha por que me fotografar. Mas ele insistiu e eu acabei fazendo uma pose sem graça enquanto ele me fotografava. Depois ele tomou nota do meu nome e disse:

– Querida, você deveria considerar seriamente trabalhar como modelo. Não modelo de passarela, você é muito baixinha. Mas você poderia ter uma carreira de sucesso como modelo fotográfica.

– Obrigada, eu já tenho uma profissão. – Sorri e segui para o lavabo.

Ao sair do lavabo, fui surpreendida por Roger, que me aguardava encostado na parede ao lado da porta.

– Ah, aí está você! – Ele sorriu me puxando pelo braço em direção a uma área mais reservada da sala.

– Nossa, você me deu um susto! – Exclamei sem graça, checando furtivamente ao redor, para ter certeza de que ninguém estava nos observando.

– E então, gostou do meu discurso, senhorita Curtis? O que achou da minha dedicação à marca Karmic? – Ele sentou-se no braço de uma poltrona, enquanto eu fiquei de pé diante dele. A expressão no seu rosto denunciava seu estado de espírito relaxado. Ele estava apenas me provocando.

– Hum, gostei muito, Sr. Peterson, especialmente aquela parte que você disse quão benéfica a parceria com a marca seria para você. – Fiz uma caretinha e sorri, acariciando gentilmente minha taça de champagne.

No fundo eu queria estar acariciando o rosto do Roger. Aquela tensão estava me deixando louca. Eu queria ficar a sós com ele novamente. Poder abraçá-lo mais uma vez, beijá-lo. Mas ali, na frente de todos, deveríamos nos comportar como profissionais, por mais íntima que fosse nossa conversa.

– Sei... Quero que você saiba que é verdade o que eu disse. Que eu estou grato por ter aceitado esse trabalho. Você sabe que fiz tudo isso por você, não é?

Roger pegou minha mão de leve, acariciou por um momento, depois a soltou, me encarando intensamente.

– Sim. Quer dizer, eu esperava que sim. Agora você está confirmando o que eu esperava. Obrigada, Roger. Estou muito feliz por estar aqui... com você.

Ele se levantou, ficou em pé diante de mim, mais próximo do que eu achava que era capaz de me controlar sem atacá-lo na frente de todos, baixou o olhar em minha direção e falou em um tom que só eu podia ouvir:

– Eu queria estar em algum lugar sozinho com você agora. A propósito, você está linda. Todos estão de olho em você esta noite. Já está ficando meio redundante dizer isso, mas cada vez que te vejo, você se supera.

Permanecemos parados de pé, imóveis, com receio de que qualquer movimento quebrasse aquela sintonia. Meu coração cavalgava no peito, ambos de felicidade e de atração. Minha visão só conseguia focar no rosto do Roger e minha atenção estava completamente voltada para ele. Ainda assim, ironicamente percebi a música ambiente “I’ve got a crush on you”, na voz deliciosa da Sarah Vaughan. Sorri comigo mesma e acho que Roger também percebeu, seu comentário seguinte confirmou isso.

– Se eu pudesse te convidaria para dançar agora mesmo. Um dia, vou te chamar para dançar essa música na frente de todo mundo, sem ter que esconder o que sinto por você.

– E eu vou aceitar com o maior prazer.

Nós trocamos olhares por alguns segundos, mas logo fomos interrompidos por Daniela, que veio nos perguntar se tínhamos visto Larry. Eu desconfiava que, no fundo, sua intenção era aproveitar a oportunidade para falar com Roger. Depois que ela saiu, dei uma risadinha e Roger me olhou curioso.

– Tem alguma coisa acontecendo? – Roger questionou.

– O quê? Não sei. Por que?

– Quando a Daniela falou do Larry você sorriu. Eu vi vocês conversando na varanda. Pareciam bem... próximos.

Droga! Eu sabia que ele estava observando de longe. Agora tinha que explicar o que estava conversando com Larry. O problema é que na maior parte do tempo, ele estava falando mal do Roger. O restante da conversa, foi basicamente se insinuando para mim. Fiquei em silêncio, sem saber o que responder.

– O que você acha do Larry, Ally?

– Como assim, o que eu acho dele? Não sei.

– Você gosta dele?

– Hum, gosto tanto quanto gosto de qualquer pessoa que acabei de conhecer.

Roger fez uma expressão confusa e recostou-se novamente sobre o braço da poltrona.

– Então você gosta de mim tanto quanto gosta dele?

Que papo mais sem sentido! Impressão minha ou Roger estava tendo uma pequena crise de ciúmes? Eu não sabia se ficava aborrecida ou preocupada.

– Como você pode me perguntar uma coisa dessas? Eu pensei que você fosse o Peter, - falei com um tom grave, imitando voz masculina - “aquele cara que fala comigo há meses pela webcam e que me faz sorrir com as coisas mais bobas”.

Eu queria ter uma câmera filmando sua reação. Ele arregalou os olhos e abriu a boca fingindo estar chocado, depois começou a rir, aparentemente satisfeito com minha resposta.

– Olha só você, nem bem começamos o relacionamento e já está jogando minhas palavras contra mim! Atrevidinha. Essa foi boa...

Se você me perguntasse, na hora que cheguei, quais a chances de eu me divertir em uma festa como aquela, eu provavelmente diria que era próximo de zero. O ambiente e as pessoas eram incomuns demais para eu me sentir à vontade e, para ser sincera, aquele luxo excessivo era bastante intimidante. Eu podia perceber algumas pessoas se esforçando para parecer à vontade, o que me deixava um pouco aliviada, eu não era a única alien ali. Por mais que Larry tenha me mantido distraída por algum tempo, era perto do Roger que eu realmente me sentia em casa, então eu finalmente estava me divertindo de verdade naquela festa, era quase como se estivéssemos a sós na suíte anexa.

Nossa paz foi perturbada quando sentimos a presença de uma terceira pessoa no pequeno recinto. Paramos de falar quando Sarah apareceu falando, sem se incomodar em interromper nossa conversa:

– Sinto ter que estourar a bolha dos pombinhos, a conversa parece estar boa, mas está na hora de partirmos. Roger, precisamos falar com algumas pessoas antes de partir. Alicia, por favor, reúna o restante da equipe e encontre-nos no saguão de entrada do prédio, no térreo.

Sarah deu as costas e saiu, parando próximo da porta, virou-se e falou em um tom autoritário.

– Roger, vamos.

Os dois carros chegaram quase simultaneamente ao hotel, o que trouxe a mim, Larry e os outros intérpretes chegou poucos minutos antes. Daniela e André deixaram o local em um dos táxis que aguardavam na entrada do hotel.

Quando Roger chegou com Sarah e Dave, eu conversava com Larry no saguão. Quer dizer, Larry conversava comigo, por que eu mal estava prestando atenção no que ele dizia, tamanha era a dor nos meus pés. Não via a hora de subir para meu quarto, tirar os sapatos e tomar um belo banho morno. Mas eu queria ver Roger e dar boa noite antes de ir dormir. Ele valia esse pequeno sacrifício.

– Ei, você sumiu na festa, o que aconteceu? – Larry questionou.

– Eu? Ah, eu fui dar uma olhada no apartamento. Você viu a biblioteca incrível do Sr. Steiner? – Menti, apostando que uma biblioteca seria o último lugar que interessaria a Larry.

– Biblioteca? Fala sério, como você perde tempo em uma biblioteca podendo curtir a festa?

Eu realmente não estava afim de conversar com o Larry, especialmente depois das coisas que ele falou esta noite. Não esperava que ele fosse tão desleal com o Roger. Roger parecia realmente confiar nele, o que me incomodava e me deixava um pouco preocupada também.

Fiquei em silêncio olhando para o chão e rezando para Roger chegar logo.

– Você está bem Ally? – Larry aproximou-se, colocando o braço sobre meu ombro. – Você parece estar muito cansada. Vem, vou lhe acompanhar até seu quarto.

– Oh, não precisa, só estou com os pés doendo. Nada demais. Obrigada.

Estava me esquivando do ‘abraço’ de Larry quando Roger, Sarah e Dave entraram no saguão. Sarah nos cumprimentou com um breve aceno de boa noite e seguiu para o hall dos elevadores acompanhada por Dave. Roger caminhou em nossa direção, com uma mão no bolso e a outra passando lentamente pelos cabelos. Ele tinha uma expressão confusa e decepcionada? no rosto.

– Faço questão, Ally, você está com uma cara péssima. Posso fazer uma massagem nos seus pés, te ajudar a relaxar, o que acha?

Larry tentou manter o braço em torno da minha cintura, mas eu gentilmente me afastei dele, a uma distância que ele não pudesse me tocar. Tentei disfarçar minha cara de aborrecimento o melhor que pude, mas a dor nos pés não estava ajudando. Roger aproximou-se, parando de frente para mim, ele estudou minha expressão e em seguida perguntou, quase diretamente para mim:

– O que está acontecendo aqui?

– Nada. Eu estava desejando boa noite ao Larry antes de subir.

Não convencido, Roger encarou Larry, com uma sobrancelha arqueada, exigindo uma explicação.

– Eu estava me oferecendo para acompanhar a Ally até a suíte dela. Ela parece muito cansada, você não acha? – Larry piscou para Roger, como se fosse uma espécie de código secreto.

– Eu já disse que não precisa, obrigada, Larry. Só estou com os pés doendo. Bom, vou subir. Boa noite para vocês.

Larry não me acompanhou, mas falou num tom de voz mais alto do que deveria.

– E eu disse que sou um ótimo massagista. Deixa comigo, vou fazer você se sentir andando nas nuvens.

Ugh. Que cara impertinente!

– Brother, você não a ouviu dizer que não? Deixa a garota em paz!

– Qual é meu irmão, ela está se fazendo de difícil. Não que eu ache isso ruim, pelo contrário, adoro um desafio. Mas estou confuso, por que você está tão incomodado? Você nunca se importou que eu saísse com outros funcionários, por que isso agora?

– Por que ela disse que NÃO! Que parte do NÃO você não entendeu? - Roger esbravejou.

Algumas pessoas no saguão olharam assustadas em sua direção. Larry congelou onde estava, chocado com a reação exacerbada. Roger estava tenso e extremamente irritado. Eu nunca tinha o visto daquele jeito. Ele olhou de relance em minha direção, provavelmente para checar se eu ainda estava ali. Fiquei parada diante da porta do elevador, como se estivesse esperando, mas na verdade não tinha nem apertado o botão de chamada. Eu não sabia se deveria ir falar com Roger para tentar acalmá-lo ou se era melhor subir e deixar que eles se entendessem sozinhos.

Tive medo de demonstrar mais do que deveria se fosse falar com ele, e que as pessoas percebessem o que rolava entre nós, mas então me dei conta que a reação normal de qualquer garota, pelo menos qualquer garota de bom senso, seria tentar apaziguar a situação. Então sem pensar outra vez, fui até onde Roger e Larry estavam se encarando e implorei:

– Por favor, olha a cena que vocês estão fazendo! Vamos embora, cada um para seu quarto.

Roger desviou o olhar de Larry para mim e falou por entre os dentes:

– Você não deveria estar aqui. Não deveria ter ouvido aquilo.

Eu estava tão nervosa, que nem argumentei. Em um impulso peguei sua mão e tentei conduzi-lo até o elevador. Larry ficou parado no saguão, de cabeça baixa.

As portas do elevador fecharam-se e lá estávamos eu e Roger, a sós novamente. O clima ainda estava pesado, Roger encarando o chão, de vez em quando me olhando de soslaio, carrancudo. Eu mal conseguia olhar para seu rosto, não sabia se ele estava chateado comigo. Será que interpretou algo errado quando me viu conversando com Larry?

O silêncio estava me incomodando profundamente, eu sentia que tinha que falar alguma coisa, me desculpar? Mas pelo quê, eu não havia feito nada errado. Então lembrei o que Larry havia dito para Roger, que eu ‘estava me fazendo de difícil’. Não era verdade. Não em relação a ele, mas analisando a forma como tenho me comportado desde que conheci Roger, independente dos meus motivos, realmente tenho dificultado as coisas um bocado para ele.

Sempre esperando ele tomar a iniciativa, sempre com medo de ser rejeitada e nunca pensando que ele poderia sentir o mesmo. Decidi que aquele era o momento para acabar com isso. Eu tinha que quebrar o iceberg que se instalou entre nós dentro do elevador e mostrar que estava tudo bem.

Tirei os sapatos que estavam me matando e sem pensar duas vezes, envolvi meus braços em torno do seu corpo, aninhando o rosto contra seu peito. A princípio ele ficou tenso, surpreso com minha atitude. Depois ele foi relaxando aos poucos, envolvendo minha cintura com um braço e afagando meu cabelo com a mão livre. Encostei o ouvido em seu peito e fiquei escutando as batidas de seu coração desacelerando até ficarem no ritmo normal, em compasso com o meu. Desde que nos abraçados esta tarde na suíte anexa, eu fiquei meio viciada nesse abraço, no cheiro, na sensação maravilhosa que eu tinha quando repousava a cabeça sobre o peito dele. Me fazia feliz saber que eu era capaz de acalmá-lo também, mesmo sem dizer uma palavra.

Fechei os olhos, me permitindo desfrutar daquele momento usando meus outros sentidos. Minhas mãos deslizavam por suas costas, subindo e descendo, em um ritmo tão lento que era quase como se estivesse o colocando para dormir.

O elevador parou no meu andar e, por mais que eu desejasse o oposto, usei toda minha força interior para largar o abraço gostoso do Roger. Eu realmente estava morta de cansaço, tive um dia cheio.

Antes de sair, beijei Roger no peito, agradeci e desejei boa noite. Quando estava passando pela porta do elevador, Roger segurou minha mão e me puxou em sua direção. Delicadamente, ele segurou meu rosto entre as mãos, acariciando minha bochecha com os polegares, me encarou por alguns segundos, e então me beijou. Longa e profundamente. Não tive tempo para me preparar mentalmente, fui pega de surpresa. Seus lábios quentes ainda estavam tensos e se pressionavam contra os meus avidamente, marcando território. Então entendi que Roger realmente estava inseguro em relação a Larry. O que era absolutamente ridículo.

Retribuí o beijo com a mesma vontade, porém mais gentilmente. Sonhei com aquele beijo por tanto tempo. Mais ainda, desejei tanto um dia beijar alguém que correspondesse meus sentimentos com a mesma intensidade. E estava acontecendo agora. E essa pessoa era Roger Peterson!

Eventualmente tivemos que interromper o beijo por que ambos estavam quase sem fôlego. A expressão no rosto do Roger tinha mudado completamente. Era meu Roger, meigo, gentil e engraçado novamente.

– Você não tem ideia de como foi difícil me segurar para não fazer isso na frente de todo mundo, desde o primeiro momento que te vi. – Confessou, acariciando meu rosto com os lábios.

– Também não foi fácil para mim. – Murmurei, admirando seus olhos azuis esverdeados, dois lagos profundos.

– Desculpa te puxar daquele jeito...

– Que coisa mais feia, Roger Peterson, roubar minha virtude com tamanha... hum.... voracidade! Tamanha ofensa merece uma punição severa.

Roger riu da brincadeira e respondeu apertando de leve a ponta do meu nariz.

– Tal pecado, minha bela donzela, vale qualquer punição. Mas diga-me senhora, a qual castigo serei condenado?

– Oh, meu senhor, sofrerás a mais cruel das torturas. Deverás repetir a ofensa e provar que és homem de verdade.

– Espera, você acha mesmo que não sou homem de verdade? – Roger perguntou preocupado.

– Claro que não, só estou cansada demais para elaborar respostas criativas.

– Então me deixe pagar logo minha penitência, amanhã testaremos outros métodos de tortura.

Nos beijamos novamente, tão intensamente quanto na primeira vez. As mãos de Roger percorriam minhas costas, ombros e pescoço com urgência, até se entrelaçarem em meus cabelos. Percebi que ele gostava de acariciá-los, então fiz uma nota mental para sempre andar com os cabelos soltos.

Diante dos últimos acontecimentos, eu não conseguiria dormir revivendo a memória de cada beijo, cada abraço, cada conversa que tive ao longo do dia com Roger. Mas houve outros acontecimentos não tão agradáveis que me abalaram emocionalmente também, além do desgaste físico da viagem e de todos os eventos que vivi hoje. O cansaço falou mais alto e adormeci mais rápido do que se pronuncia o nome “Roger Peterson”.


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Notas finais do capítulo

Olha Allyger se soltando! Iuuuuuuu!

Obrigada por aguardarem pacientemente. Não deixem de comentar!
Beijossss