Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 26
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Oiê!

Mais um capitulinho para vocês! Desculpem a demora.
Esse, na verdade, é metade do que seria um capítulo, mas ficou tão grande, que decidi postá-lo dividido em duas partes. Então enquanto termino a próxima parte, vocês já podem ir lendo esta. ;)

Espero que gostem!

Boa leitura.

Mwah! ;***



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Roger PDV

Cannes – França, início de Maio

Uma das grandes conquistas em minha carreira foi a participação do meu último filme no festival de Cannes, esse ano. Não costumo me sentir o ‘fodão’, mesmo sendo conhecido no mundo inteiro e tendo uma base de fãs enorme, mas hoje estou verdadeiramente orgulhoso das escolhas que fiz em minha carreira, do trabalho que fiz nesse filme, e por mais inseguro que eu me sinta na maior parte do tempo, esta participação em Cannes está verdadeiramente restabelecendo minha autoconfiança.

Trouxe meus amigos Jim e Simon como acompanhantes para o evento e, claro, para curtir o clima maravilhoso no litoral francês, as baladas e todos os privilégios que eu desfruto por fazer parte desse círculo de famosos. Sim, a fama tem seu lado bom também, e poder proporcionar isso aos meus amigos é uma forma de me manter com os pés no chão e não me sentir um completo idiota. Eles curtem os privilégios, mas assim como eu, não se deixam impressionar.

Minha agenda durante a estadia em Cannes estava completamente preenchida com entrevistas, reuniões com investidores, eventos organizados pelos patrocinadores do festival e o festival em si, com exibição dos filmes competidores e a premiação. Essa parte era a que estava me deixando mais ansioso, pois meu filme concorre nas categorias “Melhor filme”, “Melhor diretor” e “Melhor ator”, ou seja, eu era um concorrente. Meu medo de fracassar é terrível e me consome a cada minuto que se aproxima da premiação, mesmo sabendo que eu deveria me sentir orgulhoso só por estar participando de tudo isso.

Aproveitei para afogar esses sentimentos negativos com Jim e Simon, nas festas open bar. Na maioria das vezes procurávamos um lugar reservado onde eu não fosse reconhecido imediatamente e onde pudéssemos ficar conversando à vontade enquanto eu socializava com as pessoas influentes do meio, por que sim, mesmo nas horas vagas, eu tinha que manter o ‘modo negócios’ ativado e expandir minha rede de contatos. Esses eventos costumam ser terreno fértil para semear boas parcerias e conhecer melhor diretores, produtores e pessoas influentes com quem eu gostaria de trabalhar algum dia. Mas é claro que nem sempre eu conseguia escapar dos fotógrafos, especialmente por que Cannes é um evento muito visado, que concentra grande número de celebridades e pessoas influentes.

Outra característica desses grandes eventos era a presença constante do que eu chamo de “caçadoras de atenção”. Mulheres. Muitas mulheres. Maravilhosas, lindas, estonteantes de parar até o tráfego aéreo. Havia muitas atrizes famosas, mas a maioria eram artistas em ascensão, modelos, socialites famosas ou mulheres ricas, porém desconhecidas. Grande parte delas busca apenas os holofotes, e estar com um cara conhecido como eu certamente proporcionaria seu bilhete para os quinze minutos de fama. Mas eu já conhecia o suficiente desse estilo de vida para saber que me deixar seduzir por essas ninfas diabólicas era garantir meu ticket para o fracasso. Desviar atenção do meu trabalho para minha vida pessoal, permitir que a mídia e o público especulassem sobre minhas aventuras amorosas. Isso eu não faria. Sim, meu namoro com Cathy é de conhecimento público, mas até então era um relacionamento estável, o que, de certa forma demonstrava que tipo de homem eu sou quando se trata de vida amorosa. Não posso me dar ao luxo de sair curtindo a vida adoidado. Não se eu quiser ser respeitado como ator.

Já meus amigos não precisavam dessa discrição toda. Mais uma vantagem de ser amigo de celebridade: poder curtir a companhia de garotas lindas sem se preocupar com o que a mídia vai falar, já que não são famosos. E, acreditem, a quantidade de garotas que se aproxima dos meus amigos só por serem amigos de Roger Peterson é desconcertante. Bom para eles.

No dia anterior à estreia do meu filme, aproveitei a manhã sem compromissos para fazer um passeio aos vilarejos mais afastados de Cannes, na região Provençal. As plantações de lavanda tingiam os campos de lilás e perfumavam o ar por onde passávamos. Visitei uma pequena loja de produtos artesanais de perfumaria, bem singela e cheia de produtos de muito bom gosto, delicados e refinados, o que imediatamente me lembrou duas pessoas: minha mãe e Ally. Decidi que aquilo era o tipo de presente simples que agradaria a ambas. No caso de Ally, estou certo que agradaria mais do que o iPhone que enviei como presente de aniversário adiantado. Ela disse que gostou, mas percebi o quanto ficou constrangida por ser um objeto caro. Às vezes esqueço que essas coisas às quais tenho fácil acesso são consideradas um luxo para a maioria das pessoas. Mas francamente, Ally precisava urgentemente ser apresentada às tecnologias século 21. Seu celular era, como ela própria apelidou, pré-histórico!

   Escolhi para minha mãe uma latinha decorada com ornamentos típicos da região, parecida com aquelas louças antigas todas rebuscadas. Dentro da latinha havia um conjunto com hidratante, colônia e sabonete todos com fragrância de lavanda além de uma toalhinha de rosto bordada. Demorei um bocado na hora de escolher algo para Ally. Apesar de ter uma boa ideia do que combina com ela, foi difícil decidir que tipo de fragrância a agradaria, já que nunca conversamos sobre isso e nunca estivemos próximos a ponto de eu poder reconhecer seu cheiro. Optei por uma caixa de madeira escura do tamanho de um ladrilho de cerâmica, levemente decorada com entalhos em forma de flores e arabescos que continha uma divisão interna formando quatro pequenos quadrados. Em cada quadradinho coloquei raspas de sabonetes em forma de pétalas de rosas, cada um com uma fragrância diferente. Escolhi lavanda, rosas, orquídeas e lírios. Se eu tiver sorte, deve gostar de pelo menos uma das quatro.

Retornei para o hotel me sentindo extremamente bem. Passear pelos vilarejos como um anônimo era uma atividade bastante ordinária e sem importância para a maioria das pessoas, mas para mim era um dos poucos momentos em que me sentia em paz comigo mesmo, algumas horas de normalidade na minha vida, que me ajudavam a ter forças para encarar a maratona louca de compromissos que eu tinha nos próximos dias. Pensar em Ally e fazer planos para nosso encontro no Rio de Janeiro preenchia minha cabeça quando não estava pensando em trabalho. 

Minutos depois que entrei em minha suíte, meu celular vibrou com uma mensagem. Era Cathy: “Onde você está?”. Coloquei as sacolas com presentes na poltrona ao lado da janela, tirei os sapatos, me deitei na cama e respondi a mensagem sem querer estender conversa: “No quarto do hotel.” Esperei alguns segundo pela resposta, mas o celular permaneceu quieto. Fechei os olhos sorrindo enquanto imaginava a reação de Ally quando eu lhe entregar o presente. Sem dúvida sua primeira reação será de surpresa; depois ela ficará envergonhada – sinceramente não sei por que ela acha tão absurdo o fato de eu querer presenteá-la – e por fim ela irá relaxar e demonstrar contentamento. Bem, pelo menos é o que espero. Uma das coisas mais fascinantes sobre Alicia Curtis é sua capacidade de expressar o que sente e pensa através de seu olhar. Todo esse tempo estive um pouco imune a ele, protegido por uma tela de computador, mas em poucos dias eu estava prestes a sentir o poder daqueles olhos em carne e osso, e eu não sei se conseguirei sobreviver.

Toc toc toc

Meu devaneio foi interrompido por batidas suaves na porta da minha suíte. Levantei-me preguiçosamente, me perguntando se tinha algum compromisso marcado para agora do qual eu havia esquecido. Sarah definitivamente estava determinada a me manter ocupado. Eu não a culpo por ser uma profissional tão competente. No entanto, não foi o rosto de Sarah que encontrei ao abrir a porta. Foi o de Cathy Seymour.

Quando abri a porta o cheiro de seu perfume doce – até demais para o meu gosto – invadiu o quarto, não pude evitar uma pequena careta, mas acho que ela não percebeu.

- Cathy?

Ela sorriu passando por mim e entrando em minha suíte.

- O que você está fazendo aqui? – Questionei antes mesmo de dizer “Oi”.

- Ora, que pergunta mais boba, Roger. Vim te ver! Você acha que eu perderia a oportunidade de curtir Cannes ao seu lado? Que eu deixaria de prestigiar o sucesso do meu namorado e ainda mais perder todo a diversão dos holofotes e festas ultra glamourosas? Imagine o tanto de gente influente que podemos conhecer!

“Claro que não.” Pensei, concordando mais com a última parte. Flashes são para Cathy o que sangue é para tubarões. Ela fareja de longe e, sem hesitar, corre para o ataque.

Quando ela percebeu meu silêncio e pouco entusiasmo, franziu a testa confusa e fez cara de magoada, mas ela estava sentindo menos do que tentava demonstrar.

- O que há? Não está feliz em me ver?

- Não... quer dizer, sim. Eu não esperava vê-la aqui. – Falei soando um pouco mais aborrecido do que gostaria.

- Por que não? Estou atrapalhando seus planos? Eu sei que Simon e Jim estão aqui. Não quero interromper sua vida de solteiro junto com seus amigos beberrões.

A presença de Cathy em Cannes era um belo lembrete para mim do quanto eu ainda estava amarrado a ela, por mais que nas últimas semanas eu tenha iniciado dentro de mim um processo de ‘desapego’, eu ainda estava preso à maldita promessa que havia feito à Sarah. E quanto mais eu pensava em tudo o que eu queria e não podia fazer por causa disso, mais Cathy se transformava, em minha cabeça, a personificação das minhas frustrações. A cada dia que passava, eu simplesmente não suportava mais olhar para aquele rosto que antes eu tanto admirava e desejava.

- Não Cathy, você não está atrapalhando a bebedeira e eu não estou levando vida de solteiro. Mas honestamente, não acho conveniente nós estarmos juntos nesse evento. Você sabe como a mídia é. Vão esquecer imediatamente do meu filme e o assunto será “O fim de semana romântico de ‘CatSey’ na Riviera Francesa”.

- Não, amor ao contrário! – Ela respondeu entusiasmada. – A mídia vai ficar de olho em nós dois, isso irá atrair mais atenção para o filme!

- Se você quer acreditar nisso... – Respondi reticente. – Mas, já que você está aqui, eu gostaria de aproveitar para termos uma conversa séria.

Cathy passeou pelo quarto, observando tudo até que seus olhos repousaram sobre os pacotes na poltrona.

- Hum, presentes? Para mim?

Droga! Nem lembrei de comprar nada para ela.

Não, na verdade o presente é para outra garota, que mora do outro lado do mundo e que estou contando os dias para ver.

Melhor não falar essa parte.

- Desculpa, esses são para minha mãe. Essas coisas simplórias não fazer muito o seu tipo. Estava pensando em algo mais sofisticado para você. Ainda não tive oportunidade de procurar.

Seus olhos brilharam com a expectativa de uma surpresa.

- Sei... E você não vai ao menos me dar um beijo e nem me convidar para sentar?

Só então percebi que ainda estávamos de pé no meio da suíte. Cathy aproximou-se jogando seus braços em torno do meu pescoço e me beijou, descendo uma de suas mãos até meu traseiro.

Ok, preciso ter essa conversa com ela agora, antes que as coisas fujam do controle e eu me arrependa depois.

Pensei rápido.

- Cathy, por favor, vamos sentar. Não tenho muito tempo, daqui a pouco Sarah me liga chamando para a conferência de imprensa. E nós precisamos conversar.

Ela afastou-se meio relutante, e sentou-se de pernas cruzadas em cima da cama.

- Hum, o que você tem de tão importante para conversar?

Pensei que seria fácil terminar o relacionamento com Cathy, já que meus sentimentos por ela haviam mudado muito nos últimos tempos. Mas encarando-a agora, tão familiar, era difícil imaginá-la sem ser parte da minha vida. Era imprescindível escolher as palavras cautelosamente, não queria ferir seus sentimentos, em consideração a tudo o que vivemos juntos. Foram dois anos felizes e divertidos. Não era justo apagar isso da minha memória como se nunca tivesse acontecido. Cathy esteve ao meu lado em vários dos momentos mais marcantes da minha vida, mas eu precisava seguir em frente, viver outras experiências, buscar um pouco de normalidade, e tudo o que ela mais abominava era ‘normalidade’.

- Cathy, andei pensando... acho que isso não está mais funcionando.

- O quê não está mais funcionando? – Ela me observou confusa, brincando com o celular que estava em seu colo.

- Nós. Nosso relacionamento.

Agora eu tinha sua atenção completamente.

- Do que você está falando, Roger? Por que não está funcionando?

Puxei uma cadeira mais próximo e sentei diante dela, com os cotovelos sobre os joelhos. Esfreguei o rosto com as mãos, nervoso, e continuei.

- Acho que nosso relacionamento está desgastado. Não consigo mais sentir o que sentia por você.

- Isso não faz o menor sentido. Nada mudou, por que você se sentiria diferente, Roger? Está acontecendo alguma coisa? Por acaso tem a ver com aquela fulana que está nesse filme com você? Vocês certamente têm passado muito tempo juntos no set. Os tabloides estão comentando.

- Não, Cathy, não tem nada a ver com atriz nenhuma. Para com isso.

- Então o que é? Esse lance de que ‘deixou de gostar’ não cola. Como assim uma pessoa deixa de gostar da outra de uma hora para outra? Depois de dois anos?

Ela colocou uma mão na cintura, exigindo uma explicação melhor, por que - eu tinha certeza – não entrava na sua cabeça que alguém poderia deixar de gostar de Cathy Seymour. Respirei fundo e tentando manter a calma, comecei a falar novamente.

- Essas coisas não têm explicação. Não sei dizer em que momento isso aconteceu. Eu apenas não sinto mais o que costumava sentir por você e não acho honesto manter um relacionamento sem estar cem por cento envolvido emocionalmente. Você não merece isso.

- Não mereço MESMO! Quem você pensa que é para me abandonar depois de todo esse tempo, Roger Peterson? Nós temos um compromisso. As pessoas irão falar. Isso será catastrófico para nossa carreira!

Eu sabia que a conversa iria acabar enveredando para esse assunto.

- Ai é que está, Cathy. Nós deveríamos nos importar mais um com o outro do que com ‘o que irão pensar’. E você tem que admitir que a muito tempo a opinião pública passou a ter um peso enorme no nosso relacionamento. E eu não aguento mais esse peso. Não quero fazer da minha vida um reality show.

Agora ela estava indignada.

- Ah é? Mas não esqueça que você também se beneficiou disso. Você está sendo um hipócrita. Me usou para ficar famoso e agora que conseguiu, está me descartando.

Cathy cobriu o rosto com as mãos, soluçando alto, seu corpo tremia fazendo a coisa parecer muito mais dramática do que realmente era. Mesmo sabendo que ela estava verdadeiramente magoada, eu a conhecia o suficiente para perceber que ela estava forçando um pouco a barra. Mas eu não estava preparado para a acusação que ela fez contra mim. E rapidamente meu sentimento de remorso desapareceu e foi substituído por mágoa e raiva. Mas eu tinha que manter a calma. A última coisa que eu queria era Cathy fazendo escândalo pelos corredores do hotel no dia da estreia do meu filme no Festival.

- Como você pode dizer uma coisa dessas, Catherine? Você sabe que eu sempre fui contra explorar nosso relacionamento na mídia. Para ser honesto, foi exatamente isso que minou meus sentimentos por você. Quando percebi que você estava mais preocupada em aparecer ao meu lado nos jornais do que realmente desfrutar da minha companhia!

Agora ela parecia realmente triste, e ao perceber minha irritação, ela diminuiu o tom acusador de sua voz.

- Isso não é verdade. Eu amo você mais que tudo!

- Não mais do que você ama a fama, Cathy.

- Como você tem coragem de dizer isso, Roger? – Ela já não se preocupava mais em cobrir os olhos. Seu rosto estava coberto de lágrimas, uma verdadeira bagunça. Eu não consegui evitar de sentir pena dela, mas estava firme em minha decisão.

- Cathy, não vale a pena ficar discutindo sobre isso. Estou sendo honesto quanto aos meus sentimentos e não acho certo continuar em um relacionamento onde não existe amor.

- Mas eu já disse que amo você. Talvez você esteja entediado, acontece em namoros longos, mas nós podemos consertar isso. Podemos tentar novamente. O que você acha de tirarmos alguns dias de férias para ficarmos juntos, longe de tudo e de todos?

- Não Cathy. Acho que não dá mais certo. Sinto muito.

- Isso é impossível! Eu não vou desistir de você, Roger Peterson.

- Se você quiser, para não prejudicar sua carreira ou seja lá quais forem seus planos, ainda podemos posar como casal para a mídia por algum tempo, um ou dois meses até que todos os nossos compromissos com a franquia estejam encerrados. Mas a partir de agora, considere-se livre para fazer o que quiser em sua vida pessoal. Eu me reservo o mesmo direito.

- O que eu devo fazer, agora que estou aqui? Vim para Cannes só para ficar com você, para prestigiar seu trabalho.

Eu realmente não tinha pensado nisso. Agora que Cathy foi vista em Cannes, se não fôssemos vistos juntos, levantaria questionamentos. Não sei que ideia me chateava mais: ter a mídia falando mais sobre nós dois do que sobre meu filme, ou ter que fingir estar junto com uma pessoa com quem não quero estar. Mas eu precisava fazer esse sacrifício. 

- Como eu havia dito, podemos posar juntos, já que você está aqui, vamos aparecer juntos diante das câmeras e em algumas saídas, jantares, festas. Mas nada mais do que isso. Você vai ter que reservar um quarto para você, Cathy. Não vamos dormir juntos.

Seus olhos me fuzilavam, não fazendo a menor questão de esconder sua indignação. Mas ela não questionou minha decisão. Cathy ficou de pé, arrumou o cabelo e foi até o espelho checar se sua maquiagem estava intacta. Para minha surpresa, ela estava praticamente perfeita, o que me assustou um pouco. O que esses fabricantes de maquiagem andam colocando nos produtos?

- Tudo bem. Meu amor.

Cathy virou-se e desfilou em direção à porta, seus cabelos loiros flutuando sobre seus ombros, sem olhar para trás. Algo me dizia que ela não estava tão conformada quanto estava tentando demonstrar.

Ally PDV

Rio de Janeiro, duas semanas depois.

Cheguei ao aeroporto Santos Dumont na quinta feira, 17 de maio, pouco depois das sete da manhã. Não consegui dormir muito bem durante o voo. Estava inquieta, sentindo um frio na barriga maior do que quando apresentei meu trabalho de graduação na faculdade. Eu estava prestes a conhecer o Rio de Janeiro, prestes a fazer um trabalho que nunca fiz na vida e principalmente, prestes a encontrar o homem dos meus sonhos. Antes de sair para o saguão do aeroporto, corri até o banheiro para retocar a maquiagem e arrumar meu cabelo.

Havia uma pessoa com uma plaquinha “Srta. Alicia Curtis” me aguardando na saída da área de desembarque. Me senti bem com a formalidade. Gosto das coisas ordenadas, pelo menos no trabalho. Também era bom saber que não precisaria me aventurar pela cidade com um taxista qualquer. Não pude deixar de me perguntar se os outros tradutores vinham de outros estados e se estavam recebendo o mesmo tratamento. Provavelmente sim, mas eu gostava de imaginar que Roger estava cuidando de mim.

O dia estava ensolarado, mas uma brisa fresquinha entrava pela janela do carro. O caminho do aeroporto até o hotel não era muito longo, mas deu para ver quão majestosa o Rio de Janeiro é.  Finalmente entendi por que as pessoas são tão apaixonadas por essa cidade. A orla é convidativa, a paisagem varia entre montanhas e praia, cheia de espaços com muito verde e áreas recreativas com equipamentos para atividades para todas as gerações. Simplesmente apaixonante. Eu adoraria viver em uma cidade como essa.

O funcionário da produtora contratada para prestar assistência à equipe de Roger era um rapaz simpático e educado, que procurou me fazer sentir à vontade no caminho até o hotel. Ele me disse algumas informações básicas sobre o Rio de Janeiro, aquelas dicas típicas que se dá para turistas. Só que no meu caso, eu não estava ali para passear. Mas as informações eram válidas mesmo assim.

Quando chegamos ao hotel, dei graças a Deus por ter tomado a decisão acertada de me vestir com um traje ‘business’, vestindo calça e um terninho social na cor creme, com uma camiseta sem mangas de cetim azul claro. O saguão era amplo e gritava luxo por todos os lados, com suas superfícies cobertas de mármores claros, tapetes vermelhos e ornamentos dourados. Era muito lindo, e comparando com os albergues em que fiquei em Londres, era quase uma metáfora das diferenças entre eu e Roger Peterson. Esse pensamento me deixou um pouco triste por alguns segundos, mas logo em seguida eu estava no modo “negócios”, fazendo check in na recepção. A reserva estava em meu nome, mas vinculada ao nome da produtora. Havia também um envelope com uma correspondência endereçada a mim, que a recepcionista gentilmente me entregou junto com as chaves da minha suíte.

Eu sabia com certeza que ficaria hospedada na suíte mais simples, mas ao entrar no meu quarto e dar uma olhada geral, cheguei à conclusão que havia um engano. Fui colocada em uma suíte com padrão mais alto, então me certifiquei de ligar para a recepção para comunicar o engano. Mas para meu espanto, a recepcionista me informou que aquela era sim a suíte ‘standard’. Fiquei muda, sentada na cama enorme, quase afundei no colchão, de tão fofo e tão macias as cobertas. Olhando ao meu redor, ainda estava maravilhada com a imponência dos móveis de madeira maciça em tons escuros, provavelmente mogno ou imbuia.

Tirei a roupa e pendurei-a cuidadosamente em um cabide no closet, depois me joguei na cama novamente, abrindo o envelope que me foi entregue na recepção. Estava curiosa para ver seu conteúdo. Seria alguma mensagem de Roger? Decidi que seria muito audacioso e arriscado da parte dele deixar em mãos de terceiros uma correspondência com conteúdo potencial para gerar um escândalo. O envelope era pesado, provavelmente com várias folhas de papel dentro. Era um cronograma das atividades dos próximos dias, de quinta a domingo, informando horários e ocasiões onde meus serviços seriam requisitados. Junto com o cronograma havia um bilhete impresso e assinado por Sarah Holland, agente do Roger, desejando as boas vindas, agradecendo minha participação e pedindo para ler com atenção a programação e cumprir religiosamente os horários solicitados.

Folheei o cronograma dando maior atenção aos eventos programados para o dia de hoje, para calcular quanto tempo teria para recuperar o sono, já que não dormi no voo. Eu não queria que Roger me visse com a cara de derrota que eu costumo apresentar após desconfortáveis horas dentro de um avião. Meu estômago deu um nó quando percebi que nosso encontro poderia estar mais perto do que eu imaginava. De acordo com a programação, às 12h haverá um almoço de apresentação, onde toda a equipe pessoal de Roger Peterson será apresentada à equipe local de apoio (eu inclusa nessa categoria). Em seguida teremos uma reunião na sala de estar da suíte presidencial – a suíte de Roger, eu presumo – onde serão definidas as atribuições de cada pessoa da equipe, será assinado o contrato de confidencialidade e serão discutidas outras questões logísticas. À noite haverá um jantar em homenagem a Roger na residência do proprietário da grife que ele irá representar. Coisa fina, com certeza.

Ainda eram oito da manhã, isso me garantia umas três boas horas de sono antes do almoço. Uma hora era tempo suficiente para tomar um banho, me vestir e descer para o restaurante do hotel.

Ajustei o alarme do meu celular para as onze horas, e sem muito esforço, caí no sono. 

***

Continua....


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Notas finais do capítulo

Comentem, comentem, comentem! Amei os vários reviews que vocês deixaram. Queria agradecer muito pelo apoio e as recomendações! OMG, quase caí dura quando vi.
OBRIGADA!

Beijos e até breve!