Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem? Mais um capítulo saindo do forno para vocês! Estou sendo legal, atualizações rápidas,não acham? :)
Bem, tenho um anúncio a fazer:
Estes serão os últimos capítulos de Coração Satélite. Temos provavelmente mais dois ou três até o final.
Calma, será apenas o final da Fase 1. Em seguida começarei a postar os capítulos da Fase 2, que eu sinceramente espero que sejam menores que a Fase 1. Não vejo a hora de ver essa fic finalizada de uma vez por todas. Apesar de que sentirei falta dos personagens e dos comentários de vocês.
Quero agradecer às minhas leitoras mais fiéis, que sempre estão deixando seus reviews lindos e me incentivando: Kakandrade, Bloon e Romina. Um beijo enorme para todos vocês. Espero que curtam este capítulo!
Boa leitura.



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Ally PDV

Por incrível que pareça, ao contrário do que eu esperava as reações da minha mãe e do Max à notícia sobre meu novo “trabalho” foram bastante positivas. Eles vibraram por mim, entusiasmados com a oportunidade que eu teria de trabalhar com algo novo, sendo intérprete de uma celebridade, o que sem dúvida aumentaria a popularidade do meu negócio. Meu irmão se empolgou com a ideia e chegou até a cogitar me acompanhar, com a desculpa de que eu precisaria de uma companhia para não ficar sozinha em pleno Rio de Janeiro, em meio a desconhecidos. Coitado, mal sabe ele que estarei mais segura que qualquer outra pessoa. Claro que tive que recusar sua generosa “oferta”, não podia arriscar expor minha estranha relação com Roger, especialmente em um momento onde as coisas ainda estão se definindo entre nós.

Essa viagem para o Rio de Janeiro, será um divisor de águas para mim. Não apenas na minha carreira, abrindo portas para uma parcela do mercado na qual eu ainda não havia me inserido, mas também irá determinar, de certa forma, o futuro da minha amizade com Roger. Eu estava ao mesmo tempo ansiosa e aterrorizada pelo que estava por acontecer nas próximas semanas.

Não falei com Roger por alguns dias depois da proposta irrecusável que ele me fez. Eu já estava com saudades novamente, não conseguia evitar, ele é viciante, divertido e tão, tão charmoso.

No sábado pela manhã ele finalmente deu sinal de vida. Eu estava na cozinha conversando com minha mãe enquanto preparava um misto quente com suco para mim, quando ouvi o toque da chamada do skype vindo do meu quarto. Quase derrubei o prato com sanduíche e copo de suco no chão, na pressa de atender logo a chamada. Minha mãe, surpresa com meu alvoroço, questionou:

- Que é isso, menina? Que pressa é essa?

- É o pessoal do trabalho lá do Rio. Preciso atender logo, eles nunca têm um horário certo para me ligar, pode ser algo importante. – Desconversei.

- E vem cá, quem é mesmo o artista que você vai acompanhar nesse trabalho? Você nunca falou... é alguém conhecido?

Quando respondi já estava no corredor em direção ao meu quarto.

- Sim, quer dizer, não sei... depois eu falo, mãe!

Fechei a porta do quarto com o pé, coloquei o prato com sanduíche e o copo de suco sobre a bancada, ao lado do notebook e rapidamente cliquei no botão “Atender Chamada” enquanto me sentava.

Roger apareceu na tela do vídeo, um sorriso preguiçoso no rosto, cabelos meio úmidos e bagunçados – ai como eu queria sentir o cheirinho de shampoo daquele cabelo... – Ele vestia uma camisa de botão azul clara, quase combinando perfeitamente com o tom dos olhos dele, que estavam mais claros do que o habitual, provavelmente pelo excesso de claridade do ambiente onde ele estava. Parecia uma biblioteca, sala de estudos, algo do tipo. As paredes claras com livros enfileirados em prateleiras que subiam até quase o teto do ambiente. A mobília parecia aquelas clássicas, bem pesadas e trabalhadas de madeira maciça. Não parecia nada com o quarto da pousada onde ele estava hospedado durante as filmagens, no interior. Onde será que ele estava?

- Bom dia, minha intérprete favorita! – Roger quebrou o silêncio. Eu provavelmente estava com a boca aberta feito uma idiota admirando sua perfeição.

- Bom dia! Em que parte do mundo você está nesse momento? Não parece o mesmo lugar da última vez que nos falamos...

- Não, não. Estou em Londres, na casa dos meus pais.

Bom, agora eu sei que a família Peterson tem muito bom gosto para decoração. A sala parece ser muito linda e elegante.

- Ah, ok. O dia está ensolarado em Londres, não é?

Roger recostou-se na poltrona, estendeu os braços como se estivesse saudando o sol que entrava pela janela. O brilho dos raios cor de âmbar refletiam em seus cabelos, deixando-os com um tom loiro acobreado, lindo. Simplesmente lindo.

- Uma beleza, não é? E nem é verão ainda! – Exclamou satisfeito.

- O que você está fazendo em casa? Por que não sai para aproveitar o dia ensolarado? –Questionei, ele sorriu.

- Já aproveitei um bocado, aqui somos quatro horas adiantado, esqueceu?

- Ah, é verdade.

- Além do mais, eu queria saber como você está, se já conversou com sua família, etc.

- Estou bem, obrigada. Conversei sim... e ao contrário do que eu esperava, minha mãe e meu irmão acharam que ir para o Rio será uma ótima experiência para mim. Fiquei bastante aliviada.

- Hummm.... bom saber... – Roger pareceu um pouco distraído, como se estivesse pensando em outra coisa.

Para não ficar sem assunto, perguntei a primeira coisa que veio na cabeça.

- Então, o que tem feito nos últimos dias?

- Além de pensar em você e no Rio de Janeiro? – Roger disparou, me pegando de surpresa.

- Ah Roger, para com isso... Você está me provocando – Respondi atordoada. Ele permaneceu tranquilo como sempre, porém um pouco mais sério, encarando a câmera do notebook.

Minha nossa, como ele consegue me paralisar só com um olhar? Ainda mais através de uma tela de notebook!

- Estou falando a verdade.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu realmente não sabia o que dizer. Não conseguia perceber se ele estava de fato falando sério ou se estava apenas tentando me deixar desconcertada. Se a intenção era essa, ele conseguiu sem o menor esforço. Tentei manter os pensamentos em ordem e responder com racionalidade.

- Mas você não pode ficar falando essas coisas. As coisas mudaram; agora você é meu patrão.

Ele caiu na gargalhada e eu fiquei ainda mais inquieta.

- Não até assinarmos o contrato, Ally.

- É, mas eu já estou funcionando no modo 'negócios'.

- Eu sei que está... Mas você não gostaria que nossa relação fosse algo além de patrão - funcionária? Seja sincera.

- Sim. Eu gostaria de ser sua amiga. Isso significaria muito para mim. E você tem sido um bom amigo. Pelo menos eu considero.

- Eu também considero você uma boa amiga. Mas não é só por isso que eu quero te ver. – Confessou, sussurrando com a voz um pouco mais rouca.

- Roger, por favor, para com isso... Não sei aonde você quer chegar com essa conversa. – Desconversei mais uma vez. Não estava preparada para falar sobre meus sentimentos por ele. Aliás, nem mesmo parei para refletir sobre isso. Tinha medo da verdade que poderia constatar. 

- Você sabe sim. Perfeitamente. A gente pode não se conhecer pessoalmente, mas você sabe muito bem que estou falando sério. Você sabe muito bem que esse lance de trabalho como intérprete é apenas uma desculpa conveniente pra gente se ver.

Hesitei em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. Depois respondi, confiante. Ou pelo menos tentando parecer confiante.

- Sim, e dai? E depois que a gente se encontrar, como vai ser? Você vai embora, eu volto para minha vidinha e para nossas conversas no skype? Não vamos complicar as coisas, ok?

Eu o observava atentamente na tela do notebook, enquanto uma linha se formava em sua testa. Isso significava que ele estava ambos, impaciente e contrariado.

- Não sei o q vai acontecer, Ally. Eu não tenho a resposta para tudo. Eu só quero te ver.

Meu coração se desmanchou em milhares de pedaços. Por que ele estava fazendo isso comigo? Enchendo minha cabeça de ideias e meu coração de sentimentos que não deveriam estar lá. Eu tinha plena consciência de que aquela conversa era completamente descabida por todos os motivos e, por mais que no fundo eu desejasse o oposto, já que Roger recusava a cair em si e admitir que isso era absurdo, não vi outra opção senão colocar um pouco de razão nessa conversa.

- Eu também quero te ver. Mas precisamos impor alguns limites.

- Pelo jeito que você fala, parece até que você é a chefe. Ok boss, você manda, seu escravo obedece. – Ele fez uma reverência boba com a mão na testa, e então mudou de assunto. - Mas falando de trabalho... Preciso que você me envie seu currículo com foto, seus dados e contatos para eu mandar para minha agente e empresário.

Trabalho. Era mais fácil falar de trabalho e concentrar nisso. Eu não precisava lidar com meus sentimentos quando tratava de trabalho. Fiquei sinceramente grata por ele mudar de assunto. E acho que o suspiro de alívio que soltei foi tão alto que ele percebeu. Mas foi gentil o suficiente para disfarçar.

- Pode deixar, vou enviar agora mesmo.

- Anota o número do meu celular e me passa o seu, precisamos de um meio de comunicação mais prático e acessível. Vou te adicionar no whatsapp.

Pois é. Só que meu celular é pré-histórico e desconhece tal recurso chamado “whatsapp”.

- É que... meu celular não tem acesso a internet. – Respondi, sem graça.

- Não??? Não tem skype nem nada?

- Não.

Roger tentou esconder o espanto, por que realmente, qualquer celular baratinho nos dias de hoje tem acesso à internet. Minhas amigas sempre reclamam que eu sou uma excluída digital, mas fazer o quê? Não vejo por que me desfazer do meu celular, se ele está funcionando perfeitamente. A função dos telefones não é fazer e receber chamadas?

- Tudo bem, sem problemas. Não é grande coisa. Ainda podemos trocar sms!

- Ok, obrigada. – Dei uma risadinha. Ele é tão gentil que faz tudo parecer a coisa mais normal do mundo só para eu não me sentir envergonhada. Não sei quanto tempo conseguirei resistir.

Eu queria ter continuado conversando, mas o bendito celular sobre o qual estávamos falando começou a tocar loucamente a música “The Four Horseman” do Metallica, o toque que escolhi para minhas três melhores amigas. A princípio tentei ignorá-lo, mas era meio difícil com aquela barulheira toda. Roger caiu na risada e falou:

- O que é isso?

- Hum, eu preciso ir, meu celular está tocando.

- Metallica? – Ele perguntou quase tão satisfeito quanto chocado. – Ah, Ally, você não cansa de me surpreender!

- Acredite, não é a primeira vez que ouço isso. – Rebati, com um sorriso orgulhoso no canto da boca.

- Tudo bem, vai lá atender seu metaleiro pré-histórico.

Esquece o que eu disse sobre gentileza.

Lancei-lhe um olhar fumegante, fingindo estar com raiva. Ele sorriu ainda mais e se despediu soltando um beijo para a câmera.

            Corri para pegar o infeliz do telefone na cabeceira da cama antes que parasse de tocar.

- Alô?

- Sua bandida! É por isso que você está me evitando? Escondendo as coisas de mim?! – Esbravejou Daisy do outro lado da linha.

Congelei por alguns segundos, sem saber o que responder. Não acredito que Helena e Anita quebraram a promessa e foram contar para Daisy sobre o Roger. Mas agora que ela sabia de tudo, eu não tinha outra opção senão admitir e pedir desculpas. Mas ela estava tão alvoroçada que não me deixava falar.

- Desculpa, Day, eu...

- Desculpa uma ova, sua cretina! Eu vou é com você!

- Como assim? Vai comigo para onde?

- Pro Rio, sua ridícula! Nem adianta esconder, que eu já tô sabendo de tudo.

A essa hora não adiantava mais me desculpar, eu só precisava saber o quanto ela sabia sobre isso. De todo modo, eu terei uma conversinha séria com as amigas do euro trio caguete.

- Daisy, eu vou pro Rio a trabalho, como você já deve saber. Não faz o menor sentido você ir comigo. Será apenas um fim de semana e eu vou trabalhar vinte e quatro horas por dia.

-Escravidão!!

- Não, criatura abominável, é prestação de serviço! E eu vou receber uma grana boa por isso.

- Ha! Grande vantagem receber grana boa e não poder gastar. – Eu quase podia ver sua cara revirando os olhos, indignada.

- Estou investindo no meu futuro. - Coloquei a mão na cintura como se estivesse diante dela.

- Sim, e quem são esses artistas para quem você vai trabalhar? O bocó do Davi nem pra contar as coisas direito...

O quê? Davi? Ah, claro! O bocão do Max tinha que ir fofocar sobre minha vida com o melhor amigo.

- Não acredito que o idiota do Max foi contar logo pro Davi... - murmurei chateada.

- Ainda bem né,  minha filha, pois se dependesse de você, eu só ficaria sabendo depois que você voltasse!

- Ai Daisy, deixa de exagero! E... O que mais o Davi te contou? - Tentei especular, aliviada que ele não tinha como saber sobre o Roger, já que ocultei esse detalhe quando contei a novidade para minha mãe e para o Max.

- Hum, nada mais. Você quer saber como ele se sentiu né, amiga? Eu entendo. Ele ficou feliz por você, orgulhoso até. O Davi está bem mudado depois que vocês acabaram, sabia?

- Imagino... - Só espero que não tenha sido para pior, por que se depender das companhias... - Ele ainda está com a Suellen?

- Que Suellen o quê! Você acha mesmo que meu irmão ficaria com aquela piriguete só por que você deu um pé na bunda dele? Francamente, Alicia Curtis!

- Não sei... Desculpa, eu realmente não sei o que pensar.

- Tá, mas me conta, você tem certeza que não dá certo eu ir com você pro Rio? Pô, eu já estava toda animadinha crente que ia exibir meu corpinho verão pros globais em Ipanema! Hahaha.

Definitivanente é impossível falar com a Daisy sem dar umas boas gargalhadas. Bom, pelo menos consegui fazê-la desistir da idéia absurda de me acompanhar na viagem e tive certeza que ela não sabia sobre o Roger.

***

Uma tarde, no meio da semana em Abril, estava chegando em casa de uma reunião com clientes, mal passei pela porta e ouvi a voz da minha mãe  vindo da cozinha:

- Já está gastando o dinheiro que nem recebeu ainda?

- Do que a senhora está falando? - Joguei minhas coisas na poltrona da sala e segui para a cozinha. No caminho, vi sobre a mesa de jantar uma caixa de papelão toda embalada com aqueles adesivos dos Correios. Peguei a caixa e fui até minha mãe.

- A senhora está falando disso aqui? - Questionei apontando para a caixa em minha mão.

-Sim, está em seu nome. Não fui eu quem comprou, lhe garanto.

Intrigada com essa encomenda inesperada, abri o pacote cuidadosamente sabendo que minha mãe estava observando. Não fazia a menor ideia do que era a encomenda, muito menos quem havia enviado, mas já estava bolando em minha cabeça alguma desculpa para justificar aquilo.

Dentro da caixa de papelão estava uma caixinha branca da Apple com uma foto de um iPhone 5. Meus olhos se fixaram no objeto tentando decifrar aquele enigma, quando quase como uma "eureka!", a ficha caiu.

Roger. Só pode ter sido ele! Agora como explicar isso para minha mãe?

- Ah! Finalmente! - Exclamei exasperada. - Demorou tanto que eu já tinha esquecido.

- Esse telefone branquinho não é daqueles bem carinhos? - Isis questionou desconfiada. Ela estava mais preocupada com o dinheiro que eu supostamente gastei do que outra coisa.

- Eu precisava de um celular novo. Já estava até ouvindo piadinha das pessoas, que meu celular era pré histórico. - Ri comigo mesma lembrando das provocações do Roger.

Por sinal, como vou confirmar que foi ele mesmo que enviou?
Peguei o iPhone com as caixinhas e fui para meu quarto. Lá, espalhei tudo sobre a cama e logo identifiquei um envelopinho com um cartão digitado:

"Está na hora de mandar o pré histórico para o museu! Bem-vinda a 2013!

P.S.: Antes que você comece a protestar, isso é apenas um presente de aniversário antecipado. Ou melhor, serviço de utilidade pública!

P.S.2: Eu daria tudo para ver sua carinha indignada agora. ;)

P.S.3: Feliz Aniversário!

Beijos,

P.”

Meu coração disparou. Por mais que eu achasse bobagem gastar tanto dinheiro com essas coisas caras, é lógico que fiquei muito animada em ganhar um. E por mais que eu me sentisse constrangida por receber esse tipo de "mimo" do Roger, eu sabia que não era como se ele tivesse gasto as economias de uma vida inteira para me presentear. Mas como ele sabia a data do meu aniversário? Ah, claro! O currículo que eu havia enviado a algumas semanas continha todas as minhas informações pessoais.

Coloquei o microchip que veio junto e liguei o aparelho. Depois de todas as configurações feitas, baixei o tal do whatsapp. Mal abri o programa, já tinha uma mensagem para mim:

Peter:

Bem-vinda à era digital. ;P

Sério que ele vai ficar me zoando para sempre por causa do meu celular pré-histórico?

Alicia Curtis:

Engraçadinho... Obrigada pelo presente, não precisava se incomodar.

Peter:

Não precisava?? Claro que precisava, você é que não queria.

Alicia Curtis:

Tá, tudo bem. Você venceu.

Respondi fingindo estar contrariada.

Alicia Curtis:

Até que estou gostando desse celular.

Peter:

Não é celular. É smartphone.

Roger me corrigiu.

Alicia Curtis:

Que seja. Você vai se arrepender amargamente quando eu começar a lhe enviar mensagens no meio da madrugada. Hahaha. :D

Peter:

Olha, ela já sabe até usar emoticons!

Ele provocou e continuou.

Peter:

Você está muito enganada, baby, se pensa que uma mensagem sua no meio da madrugada vai me incomodar.

Alicia Curtis:

Roger Peterson, você é impossível!

Peter:

Alicia Curtis, você não viu nada. ;)

A bateria do iPhone descarregou interrompendo nossa breve conversa. Pelo menos a carga que veio de fábrica foi o suficiente para eu agradecer o presente. Coloquei o aparelho para pegar a primeira carga e voltei para meus estudos.

Desde que aceitei a proposta de Roger para trabalhar como intérprete dele por um fim de semana no Rio de Janeiro, me comprometi comigo mesma a estudar sobre minha função de intérprete e me preparar o máximo possível, mesmo sabendo que  ele não estava levando isso tão a sério como eu. Mas ainda assim, aquilo era um trabalho para mim e eu queria fazer valer o  dinheiro que receberia por ele e também queria construir uma boa reputação como intérprete no país.

No início de Maio, Roger viajou para um festival de filmes em Cannes, na França. Eu não podia evitar sentir orgulho por ele ter conquistado o respeito das pessoas na indústria cinematográfica. Ele estava exultante e eu também.

Fiz questão de lhe enviar mensagens parabenizando e afirmando o quanto eu estava feliz por ele e como seu futuro será brilhante. Ele agradeceu dizendo que gostaria que eu estivesse lá com ele.

Ah, como eu queria!

Uma tarde, fui ao shopping à procura de uma pequena mala de viagem, afinal, faltavam apenas duas semanas para o Rio, eu precisava começar a arrumar minhas coisas para viajar. Antes de ir até a loja de malas, dei uma passada na livraria para checar se  um título que eu havia reservado já tinha chegado à loja. Quando me virei em direção à saída da loja, vi a figura de um cara alto, lindo, acenando para mim através da vitrine, do lado de fora da loja. Eu poderia reconhecer aquele rosto perfeito em meio a uma multidão. Gustavo, o Gato rock n’roll.

Abri um sorriso enorme, fazia muito tempo que não nos víamos, e, de certo modo ele se tornou um amigo querido depois que me salvou do afogamento no réveillon. Gustavo era uma companhia muito agradável, era sempre um prazer conversar com ele. Aproximei-me rapidamente e lhe cumprimentei com um inesperado abraço. Tão inesperado que ele ficou sem reação.

- Nossa, eu também estava com saudades! – Brincou.

- Que bom ver você, tudo bem?

- Tudo bem sim... – Ele respondeu reticente, olhando para os lados, preocupado. – Aquele seu namorado maluco não está por perto, está?

- Você está falando do Davi?  - Perguntei sorrindo, e já fui respondendo. – Nós não estamos mais juntos, pode ficar tranquilo.

- Posso comemorar? – Brincou e eu caí na gargalhada.

- Acho que pode.

- Ally, você está ocupada? Quer dizer, tem tempo para gente sentar e conversar? Podemos tomar um sorvete ou fazer um lanche, como você preferir.

- Não, estou livre. Um sorvete seria ótimo!

Fomos até a praça de alimentação falando sobre Davi e sobre relacionamentos. Não pude deixar de reparar as garotas olhando para Gustavo quase o engolindo e me fuzilando com os olhos. Eu, curiosa lhe perguntei:

- Você está solteiro? Não consigo entender como um cara bonito e legal como você está sozinho. Não que estar solteiro seja ruim, mas acho que o assédio é grande, não?

Gustavo sorriu surpreso com a naturalidade com que eu falava, talvez por que toda garota que se aproxima dele fique nervosa e sem graça.

- Obrigado. – Sorriu melancólico. - Acho que é por que existem garotas como você, Ally, que não se deixam levar pelas aparências... E é por esse tipo de garota que eu costumo me interessar. Mas elas são difíceis de encontrar, sabe?

Ele me lançou um olhar estranho, não sei interpretar o que estava escrito naqueles olhos ridiculamente azuis. Tristeza? Desejo? Esperança?  Senti minhas bochechas esquentando de vergonha.

- Ah, elas têm que valorizar quem você é por dentro, que é muito mais importante do que sua beleza. Você sim é uma pessoa rara, é lindo por dentro e por fora. Não desperdice seu tempo com pessoas que não enxergam isso.

- Acho que você está certa. – Murmurou. E mudando sua expressão para um ar mais animado, mudou também de assunto, o que me deixou aliviada:

- Ei, você não vai acreditar!

- O quê?

- Estou planejando ir morar fora. Inscrevi-me para uma bolsa de pós-graduação!

- Que máximo, Gustavo! Excelente notícia. E já tem data marcada?

- Ainda não, estou esperando o resultado. Se eu for aceito, não precisarei pagar pelo curso e ainda posso trabalhar meio período para custear minha estadia lá.

- E para onde você vai, afinal? – Perguntei animada.

- Para a terra da Rainha.

- Inglaterra? Tá falando sério?

- Seriíssimo.

- Cara nem acredito... é meu sonho! Espera, você falou bolsa de estudos?

- Sim.

- Será que ainda dá tempo eu me candidatar? Gustavo, essa é minha única chance!

- Nossa, não pensei que você fosse ficar tão empolgada com isso. – Ele sorriu, - As inscrições estão abertas até o início de Junho. Você preenche o cadastro pelo site da universidade, imprime, paga as taxas e envia junto com as cópias dos documentos solicitados. Os resultados saem no final de Junho e as aulas iniciam em Setembro, mas eles exigem que o estudante vá com um mês de antecedência para fazer um curso intensivo de inglês, dentro da própria universidade. Vale muito a pena, Ally.

- Ai. Meu. Deus! Eu não estou acreditando nisso! Você não tem noção do quanto é importante para mim. Eu desisti dessa pós-graduação por que não tinha dinheiro para bancar. E agora você me aparece, como um anjo, com essa notícia maravilhosa. Obrigada mesmo, Gustavo!

- De nada! Fico feliz em ser o portador dessa notícia que está lhe fazendo tão feliz.

- Estou torcendo demais para você passar. Já pensou, podemos ir para a Inglaterra!

- Sim! E quem sabe, podemos dividir um apê para rachar as despesas, que tal?

- Ótima ideia! Você pode me enviar o endereço do site da universidade por email?

- Claro. – Gustavo balançou a cabeça, sorrindo, ainda incrédulo com a coincidência.

Eu mesma não estava acreditando. Essa era minha oportunidade de realizar meu sonho de morar na Inglaterra e poder ficar perto do Roger. Gustavo não sabia disso, mas eu desconfiava que a alegria dele com a possibilidade de irmos juntos tinha outra motivação. Em outros tempos, quando Davi e Roger não tinham acontecido na minha vida, talvez Gustavo fosse exatamente o tipo de cara com quem eu namoraria. Mas agora, apesar de sua beleza irresistível, acho que fiquei imune e só o vejo como um amigo muito querido. Saber que podemos viajar juntos nessa jornada para Londres me deixa muito mais segura e feliz.

 - Bem, preciso ir. Tenho que comprar uma mala para outra pequena viagem que farei. Desta vez a trabalho. – Sorri lhe dando um abraço de despedida.

- É mesmo? Bacana. Boa viagem e vamos manter contato sobre a viagem!

- Combinado!

Cheguei em casa exultante de felicidade. Tratei de acessar o site para ver mais detalhes sobre a inscrição na pós, reuni meus documentos e preparei tudo o que era necessário para enviar para a universidade. Coincidentemente, a data final para o envio era justamente no dia do meu aniversário: 6 de Junho. Acho que isso é um sinal.

        Eu queria sair contando para todo mundo essa notícia maravilhosa, mas pensei melhor e decidi que não era legal criar expectativas. Melhor esperar o resultado, para então, se eu conseguir, contar para todo mundo e comemorar. Como minha mãe reagiria? Como o Roger reagiria?

            Meu currículo acadêmico era impecável, eu não deveria ficar tão ansiosa como estou, mas tem tanta coisa em jogo, minha felicidade, meu futuro, tudo depende do resultado dessa seleção. E eu não posso fazer nada além de esperar.

Eu estava sentada no chão do meu quarto com uma pilha de roupas espalhadas ao meu redor, tentando reduzir pelo menos a um terço o que eu colocaria na mala que comprei para viajar para o Rio. Meu voo estava marcado para cedo da manhã do dia seguinte. Quando eu digo cedo, quero dizer quatro da manhã. Só que preciso estar no aeroporto pelo menos uma hora antes. Já passava das dez da noite e eu ainda não estava com minha mala pronta. Cada roupa que eu escolhia era pensando “Será que o Roger vai gostar de mim nesse vestido? Será que a cor dessa camisa fica bem na minha pele?”. Nessas horas eu gostaria de ter minhas amigas por perto. Elas podem ser loucas, mas têm um senso de moda muito mais apurado que o meu. Bom, pelo menos acho que tenho bom senso.

Meu celular tocou e eu demorei um bom tempo tentando desenterrá-lo debaixo da pilha de roupas no chão. Era Helena.

- Oi amiga! Não esperava uma ligação a essa hora. Tá tudo bem com você?

- Oi Ally. Liguei para desejar boa viagem e... boa sorte... você sabe, com o trabalho e, bem, com o Roger. Olha, eu preciso saber uma coisa. E preciso que você saiba de uma coisa também.

- Ei, Hel, calma. Uma coisa de cada vez. – Ela suspirou ao telefone, fez uma pausa e começou o sermão.

- Ally, eu sei que você é super centrada e responsável. Eu sei que você não é de se meter em roubadas por causa de homens. Mas eu preciso saber o que você está sentindo pelo Roger. Você está muito envolvida com ele? Você contou tudo mesmo naquele dia?

Por essa eu não esperava. Se fosse qualquer outra pessoa falando isso, eu simplesmente não daria importância e inventaria uma desculpa esfarrapada. Mas eu sei de onde vem sua preocupação, sei que ela me conhece o suficiente e sabe o quanto posso sofrer se me envolver demais com o Roger.

- Fica tranquila amiga. Estou tentando manter o controle. Eu e Roger somos apenas amigos. Estou feliz em poder encontrá-lo para conversarmos pessoalmente, mas não alimento maiores esperanças. Não romanticamente falando.

- É que... eu vi umas fotos na internet. Eu juro que não estava espionando a vida dele. Mas estava na página inicial do meu email. Umas fotos dele com aquela Cathy Seymour na França, Ally. No maior romance. Se ele se insinuar para você, amiga, não vai na onda dele. O Roger tem namorada, como todo famoso, ele vai só se aproveitar de você e depois vai embora.

            As palavras de Helena foram descendo como ácido, me queimando por dentro. No fundo por que ela tinha razão em tudo o que dizia. Eu não o conhecia suficiente para ter cem por cento de certeza que ele não me enganaria. E pensar no modo como ele me trata, com tanto carinho e atenção... pensar que isso pode ser só fingimento para me enganar, dói demais. Mesmo que eu queria me convencer de que meu interesse é apenas amizade, as palavras da Helena abriram meus olhos para a inevitável verdade: eu estava apaixonada por Roger Peterson. E estava disposta a aceitar o que ele tivesse a me oferecer, fosse apenas uma amizade inocente ou algo mais.

E era por isso que saber que ele ainda estava envolvido com a Cathy Seymour me incomodava tanto. Eu precisava tirar isso a limpo.

- Eu sei. Não se preocupe, sei o que estou fazendo. Não estou criando expectativas nem sonhando com o impossível. Vou lá, vou fazer meu trabalho e quando você menos esperar, estarei de volta. Inteira.

- Tudo bem. Fico mais tranquila. Mas você sabe, se acontecer alguma coisa, me liga na hora, certo?

- Certo, mamãe!

- Para com brincadeiras! Estou falando sério.

- Eu sei. É que você às vezes é tão séria que parece minha mãe. – Sorri ao telefone, agradecendo a Deus por ter amigas como Helena.

Às duas da madrugada, meu irmão e sua namorada Gabi me deixaram no aeroporto.

Agora não tem mais volta. Estou indo para o Rio de Janeiro encontrar Roger Peterson. 


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Notas finais do capítulo

Se preparem que vem mais emoção no próximo capítulo! Rio de Janeiro vai abalar as estruturas de Coração Satélite! Iuuuuuu...
Comentem muuuuito, só vou postar o próximo capítulo se passar dos 100 reviews. Agora é na base da ameaça! ;D
Beijosssss