O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 9
Capítulo 9




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P.O.V – Hellena di Fontana

Acordei quando o sol começou a nascer. Não que eu tenha dormido bem depois da visita surpresa dele.

Não demorei muito para me vestir, e ficar pronta para a aula.
Blake e Quenn tinham saído mais cedo, deixando um bilhete na minha porta.

Tivemos um problema com Hoppe e Georgina,

nos vemos a noite
beijos, Blake e Quenn.

Achei estranho elas falarem que só nos veríamos a noite, elas não iriam para a faculdade? Estranho.
Dei de ombros, e fui para o campus sozinha, como a maior parte das vezes. Sozinha.
Ok. Às vezes era chato ser tão só, não ter muitos amigos, ou um namorado, mas quando eu vivia no Brasil tive tantos problemas relacionados a isso. Eu não estava mais a fim de ter outros, eu estava muito bem assim, só com duas amigas, mas amigas mesmo - Quenn ainda não era minha amiga, mas estava no caminho - não meninas falsas que só tinham amigas por interesse.
A rua estava pouco movimentada, e apenas aqueles que acordavam bem cedo para trabalhar - padeiros, leiteiros, carteiros... - andavam pelas ruas. O dia estava com uma grossa camada de nuvens branca acinzentadas por cima. Uma pena, porque o céu da Itália é o mais lindo que existe. Poucos carros passavam, e bicicletas sonolentas abriam caminho com suas buzinas irritantes. Nada parecido com o clima sempre alegre e agitado dos italianos.
Estranho, pensei de novo.
Enquanto eu tentava me encolher dentro de meu moletom, quando um vento mais frio passou por meus cabelos, dei uma leve olhada para trás, e parada bem ali, vestido todo de preto, como uma figura recortada dos vilões de livros, estava uma mulher, pálida como gesso, e os olhos avermelhados. Um calafrio percorreu meu corpo, e não foi causado pelo frio.
Sua saia preta de pregas balançava com a brisa, junto com seus cabelos castanhos arruivados. Ela parecia uma figura fantasmagórica, parecia ser feita de fogo por dentro, que saltava para fora de seus olhos e pelos fios de cabelo. Seus olhos não eram exatamente vermelhos, eram de um castanho com traços avermelhados, mas não eram lá muito normais. E havia um colar de prata com um pingente de rubi no seu pescoço fino.
Apertei meu passo, e só após eu me voltar para a rua, vi que ela estava totalmente deserta.
Ofeguei com o repentino ar frio que atingiu meus pulmões. Sentia meus saltos baterem no chão de pedras com agressividades. Olhei para trás mais uma vez, mesmo que eu já tivesse andado uns cem metros, ela ainda estava à mesma distancia de mim.
Agora eu comecei a correr, corria e olhava para trás, não via ela se mexer, mas a via cada vez mais próxima de mim.
Pensei em gritar, mas a voz estava travada em minha garganta.
Em uma ultima olhada para trás, percebi que ela não estava mais ali, e ai, senti algo contra meu corpo, tipo uma parede dura.
-Você e sua mania perturbadora de sempre se bater em mim. - Alec falou divertido. Suspirei aliviada.
-Alec... Tem... Tem uma... Uma... - eu tremia e não conseguia me controlar.
-Calma Hellena, o que aconteceu? - ele parecia verdadeiramente preocupado agora.
-Uma mulher Alec, ela tinha... Tinha olhos vermelhos, ela estava me seguindo! - palavras desconexas saltavam de minha boca.
-Quem? - olhou por cima de meu ombro. Segui seu olhar, mas não tinha ninguém atrás de mim. Voltou seus olhos em minha direção. - Pare de brincar Hellena.
-Estou dizendo a verdade! - bati o pé, ainda tremendo. - Ela estava ali!  - gritei de olhos arregalados.
Analisou minha expressão.
-Tudo bem Hellena, eu acredito em você. - murmurou delicado. - Agora precisa ir para a aula, eu levarei você para que ninguém a machuque. - ele falava como se eu fosse uma louca.
-Não sou louca Alec. Você não esta acreditando em mim. - balbuciei.
-Vamos Hellena. - ele segurou meu braço e começou a me guiar pelas ruas.
Ficamos andando em silêncio, um ao lado do outro. O inverno castigava Verona, ultimamente estava com uma temperatura tão agradável, agora devia estar com no máximo 15 graus.
Passamos por uma rua grande e principal, onde uma bela e lisa pista de gelo estava construída há algum tempo, eu ainda não tivera a oportunidade de patinar nela. Seguindo meu olhar, Alec sorriu.
-Bem que eu tinha visto patins em seu quarto...
-Sou uma menina de muitos dotes - disse com o maxilar trancado, e sem sombra de humor algum.
Um esboço de uma risada traçou seus lábios. Caminhamos mais um pouco ate chegarmos aos prédios de ambiente arborizado da faculdade artística.
-Fiquei calma esta bem? - se virou de frente para mim, segurando meus ombros.
-Ok - bufei desviando o olhar.
-Passarei mais tarde para irmos tomar um café juntos. - afirmou.
-Eu passo a tarde toda aqui Alec, não tenho tempo. - falei acida.
-Nem o intervalo para o almoço?
-É de apenas uma hora e meia.
-Tempo suficiente para me acompanhar ate
Caffé Tubino. - falou cético.
Mordi os lábios, o Caffé Tubino era o melhor café de toda a Verona. Um sorriso voluptuoso se desenhou em seu semblante.

-Ok, você venceu, mas só por causa do café! Passe aqui há uma. – chiei com a expressão de deleito em si.

Dei-lhe as costas, indo em direção à minha sala. Carreguei os olhares das minhas colegas, que cochichavam pelo lindo e perfeito garoto que havia me trazido ate aqui. Revirei os olhos.

Entrei na sala espelhada e de piso de madeira. A professora já estava na frente, e a maioria dos alunos sentados no chão.

Larguei minha bolsa em um canto, e me sentei junto com os outros alunos. Cruzei as pernas.

-Quem era aquele garoto com você? – uma menina atrás de mim perguntou.

-Hã? – franzi o rosto.

-Ele ta solteiro? – me preparei para responder com uma boa visualização do meu dedo do meio, mas a professora nos interrompeu.

-Muito bem alunos... Estamos a menos de dois meses para o natal e o fim do ano – falou com aquela voz afetada. – E eu gostaria de saber quem não se inscreveu para a apresentação de fim de ano.

A maioria ergueu a mão, havia outras turmas.

-Senhorita di Fontana?

-Sim professora?

-Você esta na dança? – passou os longos dedos pelos cabelos crespos.

-Sim. Eu sou uma das damas do passado. – falei breve. Faríamos uma apresentação de natal no fim do ano, aquela historia dos fantasmas dos tempos, e eu ficara com uma secundaria do fantasma do passado.

-Se importaria de sair? Eu tenho um papel melhor para você em outra apresentação.

-Qual?

-Vamos para o carnaval em Veneza! – ela bateu palmas, divertida.

-Hã... – murmurei confusa. – Quando?

-Entre o dia 5 ou 16 de fevereiro, não tenho certeza. Já tenho ate a coreografia em mente... – olhou sonhadora para as altas janelas. – Muito bem, quem não é da apresentação de natal de um lado, e quem é do outro, venha senhorita di Fontana. – me puxou para o lado dos que não estavam na peça de natal.

Ela nem mesmo esperou eu dizer se queria ou não. Simplesmente me mudou! Ai que raiva!

Durante o dia inteiro, a professora passou uma dança para cada um dos grupos. Ta, eu tinha que admitir que ela sabia o que fazia, alem de ensinar duas danças ao mesmo tempo, elas estavam lindas.

A escola tinha sido convidada para fazer uma... propaganda. Fomos convidados com as despesas pagas para ir ate Veneza, lá usaríamos aquelas mascaras famosas, e dançaríamos. Seria tipo uma mistura de bale com dança contemporânea.

Enquanto eu andava apressada pelo vasto gramado, em direção ao local marcado com Alec, eu vi de longe a mesma menina de cabelos e olhos avermelhados. Ela ainda me encarava, mas dessa vez, era um misto de curiosidade com respeito.

E estranhamente, não senti o medo crescer dentro de mim, apenas... A mesma curiosidade que ela demonstrava. Parei no meio do caminho, e com a mão, chamei-a.

A menina de negro arregalou os olhos, e se preparou para sair.

-Não vá! – tentei soar o mais simpática possível, mas o meu pedido delicado saiu como uma ordem severa. E ela obedeceu. Voltou-se em minha direção.

Fui o mais rápido que consegui ate onde ela ainda permanecia parada, e estática. Percebi que a pele dela não era pálida como eu havia visto antes, era uma suave mistura de rosado com pêssego e dourado, como um bronzeado fraco e corado.

E os olhos não eram vermelhos, eram de um castanho forte, como a cor de um pau-brasil, ai o brilho vermelho. Seus cabelos eram lisos como fios de linho, de um castanho arruivado.

-Oi – cumprimentei-a com um aceno. A menina que devia ter um dezoito anos, apenas moveu a cabeça. – Era você que estava me seguindo hoje mais cedo? – me aproximei cautelosa.

-Sim. – franzi a sobrancelha, divertida.

-Quem é você?

-Meu nome é... – parou por um minuto – Não posso dizer. – falou firme e decidida.

-Tudo bem... Hum, por que você estava me seguindo?

-Minha senhora mandou.

-Quem é a sua senhora?

-Não posso dizer. – repetiu.

-Ta bom... – o clima estava levemente constrangido. Uma coisa passou por minha cabeça. Ela era bonita demais, muito bonita. Será que... – Você é daqui? – tentei não perguntar se ela era humana, seria meio estranho, mas o jeito que ela falava, não podia ser.

-Não. – argh, desse jeito não iríamos a lugar algum.

-Você é humana?

Ela negou com a cabeça.

-O que você é? – perguntei já sabendo a resposta dela.

-Não posso dizer. – eu deveria estar assustada de estar com algo que não era humano, mas se fosse para me machucar, ela já teria, estávamos completamente sós.

-Não posso te chamar de nada? Sei lá... – pensei. – Não pode ser um pseudônimo? – dei de ombros. Ela me encarou divertida.

-Não esta com medo? – levantou uma sobrancelha ruiva.

-Minha vida anda muito distorcida ultimamente. E eu acho, que nem todas as “criaturas das sombras” devem ser más. – sorri.

-O próprio termo “criatura das sombras” já sugere maldade. – falou séria.

Engoli em seco.

-Não precisa ter medo de mim. – murmurou olhando para os lados. – Me chame de “protetora”. E deve prometer para mim que não ira sucumbir aos Volturi, nem por mais tentador que pareça ser o termo deles.

-Mas... Mas... – gaguejei.

-Prometa! – ordenou, me pressionando.

-Eu não contarei, mas tem que me dizer o que você quer. – chiei.

-Eu voltarei para te contar. Mas precisa me esperar. Não vá com ele. Não sucumba! Não pode sucumbir. – que adoração pela palavra sucumbir.

-Ok. Tudo bem! – gritei quando ela começava a me apertar. – Mas tem que prometer que não demorara. – murmurei.

-Precisara esperar um pouco, mas prometo-te quem voltarei.

E com um piscar de meus olhos, a “protetora” sumiu. No lugar onde ela estava à grama ficou queimada e preta, e o ar com cheiro de fogueira e madeira.

Olhei de um lado para o outro. Senti um formigamento esquisito nas minhas costas, como um pressentimento, e no minuto seguinte, Alec apareceu.

-Esta atrasada Hellena. – percebeu minha expressão perplexa. – Tudo bem?

-Eu... – falei baixo, e olhei para onde a grama começava a crescer de novo. – Estou ótima. Vamos? – apertei a alça de minha bolsa.

Ele gesticulou com a cabeça. Seguimos juntos pelo resto do gramado.


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