O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 10
Capítulo 10




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P.O.V – Hellena di Fontana

-Seu café esta bom? – perguntou.

Já estávamos na cafeteria há algum tempo, e como sempre acontecia, ficamos em silencio. Alec resolveu quebrá-lo, como ele sempre fazia.

-É um mocha de chocolate branco. – falei como se fosse uma resposta.

-Claro... – ele concordou sorrindo. – Tem quantos anos mesmo?

-Por que quer saber? – respondi sem nenhuma petulância na voz, apenas curiosidade.

-Preciso saber mais sobre você. Aro mandou.

-No que isso vai mudar?

-Ele não conseguiu ver sua mente, e quer saber de algumas coisas. Aro é meio excêntrico, ele gosta de saber tudo nos mínimos detalhes. – deu de ombros. Levou a xícara ate os lábios, e bebeu um gole.

-É realmente isso? – perguntei desconfiada.

-Qual seria meu outro interesse?

Fiquei muda. Realmente, qual seria o interesse dele para uma humana?

-Tenho dezesseis.

-Faz aniversario quando?

-Primeiro de abril – relutei em responder.

-O dia da mentira? – ele riu.

-Essa é uma data originalmente americana.

-Eu sei. – disse presunçoso. - Qual o seu bale favorito?

-Isso importa mesmo? – suspirei.

-Não. Só estou curioso.

-O lago dos cisnes.

-É por isso que sua amiga te chama de cisne? – franziu as sobrancelhas.

-Ah... – fiquei muda. – Como você...  Claro. A audição super sensível. – cruzei os braços. – Não sei, ela disse que danço como um cisne.

-Como se ela já tivesse visto um cisne dançar. – sussurrou para si mesmo.

-Ah ta. – revirei os olhos. – Já não duvido de mais nada.

-Tem a audição bem boa. – falou parecendo realmente surpreso. – Falei muito baixo.

-Que seja. – desdenhei com minha mão.

-O que menos gosta?

-Não tem um BALE que eu menos goste. – passei a me envolver com a conversa. – Eu não gosto do terceiro ato de lago dos cisnes. O cisne negro.

-Por quê?

-O príncipe age como um idiota. Ele se deixa cegar por um encanto estúpido, e acaba magoando Odette. Ele trai ela.

-Na verdade, ele a trai sem saber.

-Ele jura amor à outra mulher, que ele viu Odette. Mas se ele tivesse olhado melhor, quer dizer, sentido melhor, ele perceberia que era na verdade Odile. Ele apenas viu o exterior, não teve a capacidade de sentir. Ele não amava Odette o suficiente para perceber a diferença.

-Acha mesmo isso?

-Acho que ele era um cego estúpido, que só ligava para o que ela perecia ser. A coisa que o fez conhecer a princesa, foi a beleza do pássaro que ela era, depois a beleza de mulher dela. Quando percebeu que havia perdido Odette e Odile, foi atrás da princesa para se desculpar.

-Isso para mim é amor.

-Não, isso é culpa. E ai ele morre. A morte pelo amor. – bufou.

-Agora sei por que Aro não te matou. – abaixei os olhos em direção ao biscoito que veio acompanhando minha bebida. – Hellena. – sussurrou meu nome com o seu sotaque italiano. Olhei para ele, estávamos sentados tão próximos que eu podia sentir o frio de sua pele. Segurou com delicadeza meu pulso.

Não disse nada, apenas olhou para a minha pele morena clara. Traçou o caminho das linhas de minha palma. Recuei minha mão, mas ele não dissolveu o aperto.

-Você tem que tocar em tudo que vê?

-Gosto de sentir as coisas. Vai me ver freqüentemente tocando em tudo. – a forma que disse freqüentemente fez com que eu me sentisse estranha.

Desviou os olhos dos meus, e subiu os dedos mais firmemente por minha mão. Traçou a teia de veias azuis de meu pulso, como que com fome.

-Não vai cair na tentação vampirinho. – ri. Ele riu junto comigo. – Há quanto tempo não come?

-Pouco tempo... – deu de ombros.

Roçou as pontas deles mais acima do meu pulso, subindo por meu antebraço. Na hora em que seus dedos tocaram nas finas cicatrizes esbranquiçadas e quase invisíveis, percebi o que ele queria.

-O que é isso Hellena? – disse com a voz rouca e baixa. Ergueu as íris claras para o meu rosto, me olhando levemente de baixo, como se fosse beijar a minha mão, e recuasse.

Dessa vez consegui me desfazer de seu aperto. Puxei a manga da minha blusa de volta, apesar do calor que sentia. Às vezes eles exageravam com a calefação.

-Isso vem do tal papo de “aliviar dor com mais dor” que Aro disse?

-Faz algum tempo que eu parei com isso. – desviei o olhar.

-Espero que sim. – disse com a voz fria. Seus olhos pareciam pretos de tão escuros que ficaram. – Qual musica mais gosta de tocar? – sua voz ainda possuía o tom enegrecido de seus olhos.

-Não sei, faz muito tempo que não toco. Mas... – pensei um pouco, e uma resposta sagaz preencheu meus lábios. - Acho que gosto mais dos noturnos. – dei minha resposta de segundas intenções.

Me encarou abertamente, sentindo o ar de especulação em minha voz, e a minha grande capacidade de figuras de linguagem. Sorri convencida, e me sentindo vitoriosa de deixar-lo sem palavras.

-Musico? – continuou com o interrogatório.

-Debussy, Clementi... – dei de ombros.

-Ler?

-Ham... Meus gostos para leitura lembram uma menina de cinco anos. – comentei constrangida.

-Para quem tem tantos livros.

-Eu gosto muito de livros de literatura fantasiosa, o mundo em si já é muito chato, porque eu deveria ler sobre ele também? – mordi um pedaço de um biscoito de aveia.

-Gosta bastante da Itália. – não era uma pergunta. – Seu sobrenome é italiano, mas creio que não nasceu aqui. – ele mudava de assunto como quem muda de roupa.

-Não... Eu sou do Brasil. Minha família por parte de avó morava aqui, mas na segunda guerra fugiram para o sul do Brasil. Meus pais se conheceram lá, se casaram. Eu nasci lá. – desviei meus olhos em direção a uma janela. – Quando eles morreram, eu estava na casa de minha avó. O mais obvio era eu me mudar para a casa dela e viver o resto da minha adolescência lá, mas ao abrirem o testamento, descobriram que eu tinha uma bolsa em um colégio interno aqui, e por aqui fiquei.

Alec de um gole na água com gás que sempre acompanha os cafés.

-Sempre vou para o Brasil passar os natais, e datas de feriados, mas o dinheiro não é infinito. Sou muito ligada as minhas irmãs por parte de pai, mas não tenho ido muito mais para o Brasil, esse ano não vou passar o natal nem o ano-novo com eles.

-Por quê?

-Eu teria uma apresentação de natal aqui. A faculdade sempre encontra uma desculpa para inventar apresentações, e as datas comemorativas são as mais usadas.

-Fará que papel?

-Não tem um exato papel, eu fui tirada da apresentação de natal, e me mudaram para me apresentar no carnaval de Veneza. Em fevereiro. Quer ver?

-Seria ótimo. – ele concordou com a cabeça.

Olhei meu relógio de pulso, vendo que ainda tinha uns quarenta minutos.

-Temos tempo para um tour por Verona... – sorri atrevida. – Creio que não conhece a cidade. – dei meu ultimo gole.

-Dei uma voada por cima. – deu de ombros.

-Que ótimo, vai poder me explicar melhor essa “voada” e ainda vai conhecer meu lugar favorito aqui em Verona. – tirei uma nota da bolsa, mas ele me impediu, colocando antes de mim.

-Estou louco para conhecer esse lugar.

O lugar que eu pretendia levá-lo era o jardim mais lindo de todo o mundo, o Giardino Giusti. Tudo bem que estávamos no inverno, mas ele era lindo em qualquer época do ano.

Seguimos pelo centro, andamos de longe pelo Anfiteatro Romano, passamos pela ponte Nuovo e fomos pela via Ca Rducci. Foi uma boa caminhada, mas fizemos em cerca de vinte minutos.

-Foi criado no século XV – comecei a ensinar um pouco da historia, mesmo prevendo que ele já devia saber de tudo aquilo. Seguimos pelo caminho de cipestres, nos deleitando com o suave sossego e o cheiro de arvores. Nem estava tão frio, deveria estar uns vinte graus, o ápice do inverno era mais para perto do natal.

-É realmente lindo. – comentou depois que subimos no observador.

-Sempre venho aqui quando quero pensar, ou quando estou triste. – tracei os caminhos dos labirintos com os olhos. Voltei-me para Alec. – Que tipo de pássaro você vira?

-Um falcão. – disse lacônico. – Eu não me transformava muito, não gostava de usar essa magia. Mas depois que o fiz pela primeira vez... É uma sensação muito boa. – respirou fundo.

-Aro tem o mesmo dom de ver mentes com um toque, mas você e Jane têm mesmo aqueles dons?

-Tenho. – sorriu em minha direção, e vi em seu sorriso os longos e pontudos caninos. Estranho, eu não havia visto esses dentes em Aro, e em nenhum outro deles.

No minuto seguinte senti uma leve cegueira, e era como se eu estivesse mergulhada na inércia.

-Pare Alec. – reclamei rindo.

-Nossa. Parece que você tem alguma coisa protegendo sua mente... – falou ofegante. Minha visão foi se estabilizando devagar. Olhei meu relógio, como eu costumava fazer freqüentemente, e vi que tinha pouco tempo para voltar.

-Tenho que voltar para a faculdade.

-Quer que eu te leve? Faço o caminho em menos de dez minutos.

-Hoje não, eu comi demais. – ri. – Quando nos veremos de novo?

-Quando quiser, você tem meu telefone. – virou-se de costas e sumiu entre as arvores.


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Notas finais do capítulo

opa, foi mal, eu postei o capitulo depois desse, mil desculpas, ai o certo"