O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 4
Capítulo 4




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P.O.V – Alec Volturi.

 

No instante que o elevador se fechou, apertei o botão de apenas um andar a baixo. Sai e peguei as escadas, voltando para o andar no nível da cidade.

A recepcionista sorriu para mim, as marcas de mordidas enfeitando seu pescoço magro e branco. A maioria dos criados humanos que tínhamos eram viciados em nosso veneno, não conseguiam parar de desejar serem mordidos, sonhavam com o barato que lhes proporcionava.

Sem olhar em seus olhos, passei pela porta automática, e comecei a rastrear o cheiro que a humana havia deixado para trás.

Escondido dos olhos mortais, segui todo o seu percurso, ate que ela encontrasse seu grupo, que o fez com facilidade.

Fiquei empoleirado nos telhados mais baixos e protegido da vista de qualquer um. Eu não tinha muito costume de usufruir da mágica que provinha do veneno vampiro no meu sangue, nem da mágica que toda criatura das sombras tinha, mas se me concentrasse bem, talvez eu conseguisse.

Jane me disse que era uma coisa fácil, e extremamente agradável.

Prensei os olhos, e aos poucos senti meu corpo levitar, como se minha alma se desprendesse dele. Como se sombras me engolissem, elas formaram asas e penas a minha volta, e em um redemoinho de plumas castanhas, senti que havia dado certo.

Todo e qualquer vampiro que existira algum dia, não tinha completamente nada a ver com os vampiros que provinham da serie famosa, Crepúsculo. Ok. Somos rápidos, fortes, bonitos, inteligentes, e melhores que os humanos, mas isso não é algo difícil de adivinhar.

E nem metade do que somos ou podemos fazer foi citado nesse livro, somos muito mais poderosos e completos do que as estatuas geladas e brilhantes daquela serie terrível.

Na forma de pássaro, voei baixo, ate estar perto o suficiente para ver seu rosto, e passei a captar parte de sua conversa com a amiga.

-Onde você estava Hellena? – a menina loira lhe perguntou.

-Eu... Eu... – por um minuto senti meu coração de ave apertar, mas logo aliviou quando ela completou a frase. – Fui ao toalete, e acabei me perdendo. – deu de ombros.

-Por duas horas e meia? O tour já acabou, estamos indo para o ônibus, tem sorte da senhora Adreanni estava ocupada demais com os vômitos de Kátia para notar sua falta! – chiou baixinho.

-Hellena di Fontana! – uma mulher velha começou a fazer uma chamada.

-Aqui! – ela ergueu a mão. - Ok, esqueça isso Quenn! Já estou aqui não estou? Está tudo resolvido. – deu um ponto a conversa e se adiantou na fila para sair da cidade.

Sentindo-me mais aliviado, voei ate o lugar que ficava nosso castelo escondido. Uma grande torre medieval cortava o céu, era o lugar que eu sempre ia para pensar e para fugir de Jane.

Passei a formar círculos nas nuvens, bem acima do grande e espaçoso terraço de pedras cinza. Comecei a fazer um espiral, ate alcançar o chão, e antes mesmo de minhas garras de ave de rapina se encostarem na superfície áspera, meu corpo de animal se dissolveu em sombras e voltou a ser meu corpo vampiro.

Toda essa coisa de transformação sempre me confundiu. Se adequar as trevas a minha volta, dobrá-la ao meu bel prazer, e fazer dela um artifício para a mágica que provinha da doença que é o vampirismo, sempre me deixava enojado.

Escorei meu corpo no pequeno muro que separava o chão do céu, e dali, observei a bela cidade. Contemplei as colinas no horizonte que se diluíam na bruma da noite que chegava devagar, a muralha milenar que protegia a cidade, e a teia suave de telhados abaixo de mim. Precisava dessa calma e paisagem para pensar e refletir.

Ouvi uma movimentação um pouco acima de minha cabeça, olhei para as telhas que formavam o cone do topo da torre, e ali estava pousada uma águia com as penas feitas de puro ouro. Com a delicadeza de predador de sua forma de pássaro, ela se aproximou do chão - e como eu - voltou à forma vampira em um redemoinho de penas.

Eu sabia que Corin não vinha da forma comum de se despertar um vampiro – troca de sangue e morte convencional – ela vinha da linhagem de demônios femininos, nossas futuras visitantes, as sucumbo.

Isso era muito comum no mundo das sombras. Esses demônios em forma de mulheres acabavam tendo filhos, e os que elas não desejavam, simplesmente se livravam, tiravam seus dons de demônios, e as crianças passavam a serem vampiros. Não comuns, como a maioria. Eles possuíam dons poderosos e beleza acima do comum ate para imortais, mas não passavam de vampiros.

Ela sorriu lasciva para mim, e se aproximou com seu andar sedutor e gracioso.

-Estava aqui há quanto tempo? – sussurrei com a boca seca.

-Dês de que chegou voando. Resolveu assumir sua condição de criatura das trevas? – mexia os lábios de forma sensual e convidativa. Se aproximou o suficiente para que eu pudesse ver cada nuance dourado de suas mechas.

Diferente da águia que era Jane, Corin chegava a ser muito mais poderosa. Ela foi uma sucumbo à vida toda, ate ser destituída do poder por traição a realeza delas.

-Eu precisava dar uma olhada em uma humana... – sussurrei sentindo as mãos quentes dela no meu peito.

-É... Eu ouvi falar dessa humana... Ela me é estranhamente familiar, apenas não sei da onde... – me olhava por baixo dos cílios, e precisava erguer os olhos para poder ver meu rosto, por eu ser mais alto que ela.

Corin já era uma mulher de vinte anos quando virou uma vampira, a maioria dos demônios femininos preferia a forma de mulher na flor da idade, era mais fácil para elas caçarem assim.

Como os vampiros, elas se alimentavam de sangue, mas também da energia vital de suas presas, deixando-as em estado vegetativo por semanas.

E diferente do vampiro, seu poder de persuasão, de transformação, e de controle dos elementos a nossa volta é muito maior, se compara ate maior que os das feiticeiras.

-Só não entendi o porquê de deixá-la viva. – ergueu as sobrancelhas finas.

-Aro a queria viva Corin, eu apenas obedeci.

-Não. Ele te deu a escolha. – colou seu corpo no meu. – E você escolheu que ela vivesse. – depositou seus lábios mornos em meu pescoço. – Gostou dela? Não vai me deixar não é? – ronronou.

-Você que me deixou, ou a palavra melhor seria trocou. – ofeguei. Mesmo destituída de seus poderes, ela continuava irresistível. Passou a língua pela veia principal, onde meu sangue pulsava lentamente.

A troca de sangue entre humanos e vampiros era prazerosa dos dois lados, mas a troca de sangue entre-nos, servos da noite, era mais forte.

-Não... Eu nunca deixaria você... – gemeu em minha pele. Sucumbos eram conhecidas pelo seu grande apetite sexual, para elas, sexo era uma coisa qualquer, comum, tão necessária quanto o sangue. – Ou te trocaria...

Falava tudo pausadamente, suas palavras surtindo efeito em meus sentidos, me deixando tonto e atordoado.

-Demetri foi apenas uma diversãozinha, ele é de Heide... – depositou um beijo ali, e as poucos eles iam descendo por minha pele, percorrendo caminhos já conhecidos por ela.

-Pare Corin! – me desfiz de seu encanto, segurei seus pulsos, forçando-a a parar. Ela me encarou com seus olhos azuis adouradados, a irritação pintada neles. Com um gesto bruto se livrou de minhas mãos.

-Aro quer falar com você. – me deu as costas. – E espero que Jane te torture por horas a fio, por ter protegido aquela mortal! Vai se arrepender por me recusar! – saiu irritada pelo caminho de vinda.

Pigarreie. Fiquei um tempo parado ate ouvir mais os passos fortes dela desaparecerem. Segui o mesmo caminho, e desci grandes levas de escadas, ate chegar ao salão principal.

-Aro te aguarda em seus aposentos. – um subalterno me informou. Passei pelo salão marmoreado, e segui mais um pouco, indo ate as cortinas de veludo vermelho, abri caminho entre elas, e passei por mais três portas ate chegar ao quarto de Aro.

Uma grande cama de dossel medieval ocupava parte do largo quarto. Janelas vitorianas abriam espaços nas paredes, e a decoração que visava o luxo de prata, ouro, seda e veludo inundou minha visão.

Sulpicia estava sentada em uma cadeira de madeira real, vestindo um robe translúcido, mostrando todo o seu corpo, que estava apenas coberto de verdade, por uma lingerie sensual.

Ela me olhou com seus olhos tão sexy’s quanto os de Corin, só que diferente dela, Sulpicia era, e sempre foi, uma vampira comum, ela era verdadeiramente dotada da sensualidade, não provinha da magia negra das sucumbo, mas sim de si mesma.

Eu já estava acostumado a ver-la vestida dessa forma, Aro não se importava, ele confiava em mim, só não deveria confiar na esposa, assim como ela não deveria confiar nele.

Os olhos escuros dela me atingiram, sorriu graciosa, os cabelos caiam em uma cascata negra por suas costas, e uma vasta franja cobria metade de seu rosto. Levantou-se e com o andar teatral, foi ate Aro, beijou-o com ferocidade, e passou para uma porta, indo para outra parte do cômodo.

-Sim mestre? – perguntei rígido.

-Qual o seu interesse na humana? – ele estava olhando a vista pela janela, as mãos presas atrás das costas, e nem sequer me encarou.

-Nenhum Aro. – pisquei confuso.

-Ela esta viva Alec. E ela sabe.

-Mas... Ate o senhor disse que ela podia viver.

-Eu não sei o que aconteceu naquele salão, mas não tinha coragem de matá-la, ate porque acho que ela pode ser uma boa aquisição para nos, mas não sei o que havia nela... Algo me impediu de... De dar à palavra final... – ele parecia tão confuso quanto eu.

-Acha que ela pode ser a descendente de alguma criatura? – era comum haver humanos com poderes por terem o sangue mestiço.

-Não sei... Mas acho melhor você ficar de olho nela... Está dispensado de qualquer missão que eu já tenha lhe concedido. Vá para Verona, compre uma casa por lá, e só saia quando tiver a humana ao nosso lado. – ordenou. – Acho que ate será melhor, não terá que enfrentar a fúria de Jane, e nem será forçado a ficar na mesmo presença que...

Ele não completou a frase, sabíamos de quem ele falava.

-Ela vem? – perguntei baixinho.

-Não sei Alec... Não sei... Todo dinheiro que precisar estará em uma conta em seu nome. – fez um gesto com a mão, me mandando sair.

Obedeci, e voltei para o meu quarto. Precisava pegar algumas poucas coisas, e sair antes que Jane me encontrasse.

Mas para a minha extrema falta de sorte, ela já esperava no meu quarto. Senti o cheiro dela antes de chegar perto do corredor. Grunhi, eu precisava ir ao meu quarto, não tinha como fugir disso.

-Porque a deixou viva? E não me venha com essa de que Aro mandou! – ciciou na porta do meu quarto, impedia meu caminho.

-Não devo satisfação a você Jane! – abri uma brecha, e delicadamente passei por ela. Parada ainda na porta ficou me encarando com fúria.

-O que esta fazendo? – rosnou enquanto me via arrumar uma mala pequena, e com poucos objetos.

-Aro me deu uma missão!

-Para onde?

-Não sei... – menti. Odiava mentir para ela, mas não tinha o que se fazer, se eu dissesse aonde ia, ela desconfiaria e me perseguiria o tempo todo.

Jane não disse nada enquanto eu terminava minha mala, ela não gostava quando eu viajava sem ela.

Levantei-me e nos olhamos por um tempo.

-Me desculpe Alec... Conversaremos com mais calma depois. – falou mansamente, usando o tom que sempre usava para conseguir o que queria.

-Esta tudo bem Jane. – abracei-a. – Te ligarei quando chegar.

Concordou de má vontade.

Deixei-a no quarto e sai rápido pelos corredores. Acertei tudo com nossa secretaria que eu nem mesmo sabia o nome. Peguei o cartão que me daria acesso à conta.

Já sentado no banco de meu carro, e com os documentos falsos no carona, dei uma ultima olhada em Volterra. Engatei a marcha, e sai a mais de cem quilômetros por hora.

Nos veremos mais cedo do que pensa senhorita di Fontana.

 


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