Full Circle escrita por Bella P


Capítulo 16
Capítulo 16




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Capítulo 16

Havia alguma coisa sobre lugares antigos e abandonados que não agradava Kaylee, ou qualquer ser humano no geral. Quando estacionou a sua Kawasaki meia hora depois em frente ao velho prédio de tijolos que era adornado por um grande galpão/depósito, algo pareceu descer de maneira gelada pela sua espinha como um mau presságio. Hesitante, desligou o motor e retirou o capacete, o depositando sobre o guidão da Ninja. A passos lentos foi na direção do portão enferrujado, notando que a corrente que antes trancava o mesmo estava quebrada e pendia sobre uma das hastes que o formava. O empurrou levemente, o fazendo ranger por causa da oxidação.

Novamente a sensação gelada desceu pela sua espinha enquanto os seus olhos percorriam todo o ambiente a sua volta.

- Monroe? - chamou em um tom de voz mais alto que o normal, mas não obteve resposta nenhuma. Pensou em dar meia volta e retornar a moto para recolher o seu celular e re-discar o número com o qual Jackson havia a contatado e quando recuou um passo pronta para fazer isto, o som de algo caindo e quebrando, seguido por um gemido, ecoou vindo o galpão. - Monroe? - chamou mais uma vez, seguindo até o armazém a passos suaves e hesitantes. Deslizou a pesada porta de ferro do mesmo, cedendo passagem, e foi prontamente cumprimentada com poeira e um forte cheiro de mofo.

Engradados com garrafas vazias empilhados sobre tapumes de madeira faziam corredores dentro do grande galpão, sendo iluminados pela luz fraca daquele dia nublado e com a claridade refletindo em teias de aranha e poças d'água no chão. A umidade tornava o local mais frio que a temperatura ambiente que estava na cidade e uma goteira batia contra algumas garrafas de vidro criando uma sinfonia ritmada que fazia par com o som dos saltos da bota de Kaylee no chão cimentado.

- Jackson? - repetiu e saltou de susto quando o vento soprou, balançando uma das portas do armazém e a fazendo bater no batente com um estrondo. Kaylee queria rir diante do absurdo daquela cena e como a mesma a lembrava um filme de suspense de quinta categoria, mas a respiração presa em sua garganta e o coração batendo acelerado a impedia de ter tal tipo de reação.

- Kaylee? - veio um gemido entre os vários engradados, tão baixo que a jovem tinha certeza que se não fossem pelos seus sentidos mais aguçados não o teria ouvido. Novamente o som de algo caindo e quebrando, provavelmente uma das milhares de garrafas naquele lugar, soou pelo galpão.

- Monroe! - exclamou alarmada, com vários cenários passando em sua cabeça sobre como deveria estar o estado do amigo. Pôs-se a correr na direção de onde veio o barulho e dobrou uma esquina de engradados apenas para encontrar cacos de vidro no chão misturados a lama e mofo. - Jackson, onde está? - deu uma girada de 360 graus, com os seus olhos esquadrinhando cada canto daquele lugar.

- Aqui... - veio o sussurro trazido pelo vento, junto com outra coisa familiar: o aroma irritante de éter. Kaylee arregalou as íris amêndoas e recuou um passo.

- Me dê uma direção. - falou baixo, esperando que ele a tivesse ouvido, pois se o seu olfato tivesse captado certo havia mais do que garrafas velhas, madeira apodrecida, mofo e um Monroe ferido naquele lugar.

- Estou bem aqui. - veio a resposta ao pé do ouvido que fez Kaylee dar um pulo e recuar aos tropeços ao virar-se e ver o homem que estava parado atrás de si.

A jovem ofegou quando a pouca claridade que passava entre as nuvens atingiu o ser que havia surgido do nada. Olhos rubis a encaravam intensamente e a pele alva parecia refletir toda a luz do ambiente. O rosto era extremamente belo, de feições perfeitamente desenhadas, com os cabelos negros e desalinhados contrastando com toda aquela palidez. O corpo era de músculos perfeitos abraçados por uma camisa de algodão, jaqueta de couro, jeans e sapatos. Todo o conjunto seria impressionante e de tirar o fôlego de qualquer mulher, se ela não soubesse que por detrás da feições bonitas havia um predador da mais alta categoria.

Um predador que Kaylee atestou com pavor era Monroe Jackson.

- Você não parece ferido. - falou com a garganta arranhando por causa da secura que surgiu nela, resultado do nervosismo ao atestar que havia sido extremamente burra por ter ido direto para uma armadilha. Porém, como é que ela iria adivinhar isto? Era uma Curadora, não uma Vidente como Alice. E esperava que a própria tivesse visto isto e estivesse a caminho com a cavalaria. E o pior de tudo foi a conclusão que chegou ao saber que ouviria o maior sermão de sua vida vindo dos Cullen mas, principalmente, de Jacob.

- Nunca disse que estava ferido. - Monroe sorriu, um sorriso bonito de dentes brancos e perfeitos se não fosse os caninos salientes que davam um ar macabro ao gesto.

- Seu telefonema deu a entender...

- Sebastian havia me falado sobre isto, mas eu não acreditei. - o vampiro deu um passo a frente e Kaylee recuou outro, o que o fez parar de pronto ao ver a atitude dela. - Pensa em fugir de mim?

- Sebastian? - a garota perguntou com uma sobrancelha erguida.

- Deve conhecê-lo... Vocês tiveram um encontro desafortunado com ele um tempo atrás e mataram a irmã dele. - Kaylee ponderou, tentando lembrar-se desta situação, até que os dois vampiros que a atacaram assim que chegou a Lafayette e a mulher que foi morta por Jacob voltou a sua mente.

- Oh... E o que o Sebastian falou sobre mim?

- Falou que se eu a chamasse como se precisasse de ajuda, você viria. Parece que ele estava certo. - e parecia que esse vampiro andava sabendo mais do que deveria para poder conhecer esta pequena peculiaridade de Kaylee. Monroe arriscou outro passo a frente e a menina recuou mais um. - Por que está se afastando de mim? Você nunca se afastou de mim antes. - disse com as sobrancelhas negras franzidas e a adolescente quis rir.

- Bem... Antes você tinha pulsação. Desculpe se pareço mal educada, mas até hoje não tive experiências muito proveitosas com homens mortos-vivos.

- Vive com os Cullen.

- É, eu sei, mas eles agem tanto como humanos que às vezes esqueço que todos são bem mais velhos do que eu e continuarão neste mundo depois que eu partir. - gracejou, recuando lentamente e com os olhos percorrendo os engradados a sua volta a procura de uma rota de fuga.

- Pensa em fugir, Kaylee? - Monroe sorriu de canto de boca ao perceber em como o corpo dela estava tenso e pouco a pouco ela ia se afastando de sua pessoa.

- Talvez. O que pensa fazer sobre isto?

- Ver você tentar. - riu. - Não quero lhe fazer mal, Lee...

- Não me chame de Lee. - o repreendeu ferozmente.

- Por quê? O apelido tem privilégios? - o humor pareceu sumir do rapaz diante do tom dela. Tecnicamente tinha. Somente Jacob a chamava de Lee e não gostava da ideia de um sujeito que apesar de se parecer fisicamente com um amigo de escola, mas no fundo não mais lembrava em nada o Monroe tímido que conheceu, a chamá-la assim também.

- Tem. - rebateu petulante, recuando mais um passo. A expressão de Monroe ficou fechada ao imaginar de quem era tal privilégio.

- Kaylee... Deveria saber que não tem como fugir de mim. Ou me desprezar agora.

- Desprezar? Nunca... - a resposta dela foi cortada com um ofego quando em um piscar de olhos Jackson encontrava-se a metros de distância e no outro a poucos centímetros de seu rosto.

- Pensei que fosse isto que você queria! - uma mão de dedos gelados fechou-se em seu braço, com a frieza do membro conseguindo passar através do tecido fino de sua camisa de malha e chegando a sua pele.

- Que eu queria?

- Não é o que prefere? Um animal para estar ao seu lado? - vociferou, a sacudindo com força.

- O quê?

- Não se lembra? Aquela besta dos infernos te bateu naquela noite e você preferiu ir com ele a ficar comigo! Então pensei que era disto que você gostava...

- Jake não estava em seu melhor estado, mas não lembro dele ter se tornado adepto a uma dieta baseada em sangue! - rebateu irritada e com um puxão soltou-se dele, o que causou um rasgo na manga de sua camisa. - Não ter mais batimentos cardíacos afetou as suas ideias? Do que eu estou falando, você está morto! Não tem nem um cérebro funcionando.

- Não me provoque Kaylee...

- Por quê? Vai me matar? Não seria o primeiro a tentar e fracassar!

- Confiante, não? Espera o quê, que os Cullen venham salvá-la? - sinceramente, sim, era o que Kaylee esperava. - Não conte com isto. Eles estão um pouco ocupados no momento com Sebastian e o seu clã. Somos só você e eu minha cara.

- Não... É apenas você. - e com isto rodou sobre os pés e saiu em disparada. A risada de Monroe ecoou pelo armazém, mas Kaylee a ignorou, dobrando uma esquina de engradados e em um deslize caindo de joelhos no chão de cimento e escondendo-se atrás de alguns caixotes.

- Isto é ridículo. - a voz do vampiro soou a uma boa distância de onde ela estava. - Posso farejar você. Ouvir seu coração aos pulos e a adrenalina percorrendo o seu corpo. Sabe, desde que me transformei Sebastian tem me alimentado com sangue animal para não levantarmos suspeitas, mas disse que não é nada perto do sangue humano e ele estava certo. O aroma do seu sangue me faz salivar. Agora eu penso... A queria para mim como companhia, mas não sei se resistirei a tentação.

Era bom ele resistir, pensou Kaylee, pois podia imaginar resultados desastrosos se o vampiro a mordesse. E a possibilidade disto acontecer era grande, pois parecia que não receberia ajuda tão cedo, o que significava que era apenas Monroe e ela. Inspirou profundamente, tentando colocar os seus pensamentos em ordem. Não conseguiria fugir dele, Jackson era um recém-nascido e por isso mais forte e veloz que os vampiros normais, mas também não ficaria parada esperando pelo pior enquanto o reforço não chegasse, porque sabia que eles iriam chegar, tinha que confiar e acreditar nisso.

E então, tomando outra decisão estúpida, a garota ergueu-se do chão e a passos lentos saiu de seu esconderijo. Pouco a pouco foi caminhando pelos corredores de engradados, tentando fazer o menor barulho possível e quase suspirou de alívio quando viu ao longe a entrada do armazém. Inspirou mais uma vez, inalando o cheiro forte de mofo e éter que ardeu em suas vias respiratórias e a fez lacrimejar.

- Se quiser eu lhe dou uma vantagem. - Monroe gracejou e Kaylee não precisou virar-se para saber que ele estava a apenas poucos metros atrás de si.

Fechou os olhos, apertando as pálpebras firmemente e virou-se lentamente para encarar Jackson. Seus olhos amêndoas encontraram as íris vermelho sangue do vampiro e Kaylee fechou os dedos em um punho e imaginou... Imaginou que atrás de Monroe havia alguém, alguém que precisava da sua ajuda, ao contrário do recém-nascido manipulador. Alguém que aos poucos foi tomando forma e corpo. Era um homem grande, de pele morena, cabelos negros e olhos de igual cor. Estava caído no chão, sangrando e gemendo enquanto Monroe a impedia de chegar até ele. Rapidamente a sua respiração começou a ficar ofegante e o sangue latejando pelo seu corpo ecoava em suas orelhas.

- Interessante. - Monroe sorriu um sorriso que jamais seria característico ao seu rosto se não fosse a sua nova condição vampiresca. Com uma profunda inspirada e exalada de ar ele alargou o sorriso e estreitou os olhos vermelhos na direção de Kaylee. - Ouço seu coração bater e seu sangue correr a alta velocidade por suas veias. Por quê? Está tentando me influenciar? - brincou, mas a garota ignorou os seus comentários, fechando os olhos apertado e recuando a perna direita, a posicionando atrás de seu corpo e dividindo o peso do mesmo. - Oh! - o rapaz gargalhou. - Pretende lutar comigo? Mais interessante ainda. - e em um pulo avançou na direção da jovem.

Os olhos de Kaylee abriram em um estalo e as íris amêndoas estavam completamente mergulhadas dentro de um círculo negro, deixando apenas uma fina linha clara a mostra. A sua mente rapidamente processou os movimentos de Monroe e estranhamente o vampiro parecia vir na sua direção em câmera lenta. Quando o mesmo chegou próximo o suficiente para tocá-la, a jovem usou a perna esquerda como propulsor e ergueu a direita em um impulso, girando o corpo e acertando um chute no rosto do rapaz que foi lançado em cima de uma pilha de engradados, os destruindo no processo.

- Mas que diabos! - rosnou Monroe, erguendo-se em um pulo e batendo as roupas para livrar-se dos pedaços de madeira e cacos de vidro. - Sebastian não havia me falado sobre isto. - comentou, mas na mente de Whitaker o discurso dele entrava por um ouvido e saía por outro. Seu cérebro inteiro estava concentrado na imagem que havia criado de um Jacob ferido e um Jackson servindo de obstáculo entre ela e o lobo. Precisava desse cenário, precisava da descarga de adrenalina que sempre invadia o seu corpo quando os seus instintos de Curadora predominavam a sua racionalidade, isto se quisesse sair viva daquele encontro. Não poderia sempre contar com os Cullen e a alcateia para serem os seus cavaleiros da armadura brilhante. Precisava aprender a ser uma “donzela” independente.

O que veio em seguida a isto foi uma sucessão de socos e chutes provindos de Monroe dos quais Kaylee defendia-se o máximo que podia. O recém-nascido seguia os seus instintos, pois ainda não havia aprendido a lutar, por isso não era tão coordenado como os outros de sua raça enquanto a garota tinha a vantagem dos meses de treinamento dados por Jasper. O problema era que Jackson ainda tinha a força acima do normal para um novato e ela ainda era uma humana cujos dons de Curadora estavam sendo utilizados ao máximo, pois cada golpe que recebia sentia um músculo protestar de dor ou um osso fissurar ou quebrar, sendo prontamente curado pelos seus poderes. Mas uma hora, ela sabia, esta sua vantagem iria acabar.

E tal hora veio quando vinte minutos depois da adolescente resistindo bravamente aos ataques de Monroe, o mesmo a pegou desprevenida, desferindo um soco em seu peito que a fez voar baixo e cair com um baque de costas no chão gelado. Em um piscar de olhos o vampiro encontrava-se em cima dela e com uma das mãos rígidas presa em sua garganta, comprimindo a sua cabeça contra o chão. O impacto e a dor do golpe, unidos ao cansaço, fez os níveis de adrenalina descerem do sangue de Kaylee, a trazendo de volta ao mundo terreno e a fazendo perceber que estava em uma encrenca enorme.

- Eu sempre soube que você seria alguém difícil de se conquistar, mas está sendo ridícula Kaylee! - rosnou, apertando os dedos em torno do pescoço dela, comprimindo a passagem de ar.

- Mon-Monroe... - gaguejou diante da dor em sua traqueia.

- Tentei ser o melhor para você, fazer o melhor, você era diferente das outras meninas fúteis daquela escola... Mas o que eu recebo? - a sacudiu pela garganta, batendo com a cabeça da garota contra o chão e a fazendo ver pontos pretos em frente aos seus olhos. - Nada! Apenas desprezo.

- Vo-você era meu amigo. - tossiu quando os dedos afrouxaram um pouco o seu aperto. - E apenas isso.

- Eu não quero ser seu amigo! - gritou enfurecido.

- Sinto muito.

- Por quê? Não sou o que você quer? Olhe para mim! Olhe o que me tornei. Mulheres arrastariam-se aos meus pés se eu quisesse... Por que não você?!

- Eu gostava mais de você do modo antigo...

- NÃO POSSO VOLTAR A SER O QUE ERA ANTES! E A CULPA É SUA! - a ergueu pelo pescoço e a lançou longe, fazendo a jovem cair sobre algumas garrafas quebradas. Kaylee gemeu quando sentiu os cacos afiados rasgarem a perna de sua calça e ferirem as palmas de suas mãos. - Realmente dizem que há uma linha tênue entre o amor e o ódio. Mas no momento, estou sentindo mais ódio do que amor por sua pessoa. - a jovem virou-se sobre o corpo para ver o vampiro se aproximando a passos lentos com uma postura toda de predador e tentou levantar-se, mas o seu corpo dolorido pela batalha de antes e pelos ferimentos que seus dons estavam a todo custo tentando curar a impediu de sair do lugar.

Os olhos claros da garota ficaram largos e ela ofegou quando em um salto ele encontrava-se a metros de distância e depois estava bem na sua frente. Suas mãos tatearam o chão a procura de uma arma, qualquer arma, e seus orbes percorreram o galpão tentando localizar uma rota de fuga para caso desse sorte. E foi com este gesto que ela viu, não muito claramente, mas viu, um vulto cortar os fracos raios de sol que entravam pela porta e janelas e causando sombras ligeiras no chão. Prendeu a respiração esperando que não fosse o tal de Sebastian que surgiu para ajudar Monroe e quase sorriu quando atrás do vampiro surgiu outro de familiares cabelos cor de bronze e olhos topazes.

Jackson levou milésimos de segundos para reconhecer a presença atrás de si e quando virou-se foi para ser segurado pela gola da camisa e arremessado longe por Edward. Bella apareceu atrás de Kaylee, surpreendendo a garota pelo seu surgimento repentino, e enganchou os seus braços pálidos sob os da menina, a erguendo do chão em um puxão.

- Como... - ofegou a garota, sua garganta ainda dolorida travando as palavras dentro da mesma.

- Edward é o mais rápido dos Cullen e eu ainda tenho a vantagem de uma recém-nascida. Chegamos primeiro.

- Jacob? - a vampira sorriu ao ouvir a pergunta da garota. Óbvio que ela esperava que seu herói fosse o lobo.

- Está a caminho. Tivemos um empecilho. Outros vampiros nos atrasaram. - o olhar dourado de Bella voltou-se para o marido que lutava com Monroe e possuía uma desvantagem por causa do status dele de recém-nascido. - Saia daqui Kaylee... Nós cuidamos dele.

- Mas...

- Vá! - ordenou, a mirando intensamente dentro dos olhos claros da garota. Whitaker notou neste gesto que seria uma boa ideia obedecê-la, pois eles tinham mais experiência neste negócio de lutar com vampiros descontrolados do que ela. Porém, era o Monroe, mesmo que agora fosse um sangue-suga, como Leah se referia a eles, ainda sim, em algum ponto era o rapaz com quem ela fez amizade ao chegar em Lafayette e pensar que o fim dele seria um só: desmembramento e fogo, lhe partia o coração. E ela sabia que não conseguiria presenciar isto sem querer ajudar a salvá-lo.

Mancando, afastou-se de Bella e foi a passos arrastados para a saída, não olhando por cima do ombro quando ouviu a vampira soltar um rosnado e partir para a batalha e também ignorou o grito de dor que Monroe deu. Chegou ao pátio da fábrica, vendo a sua moto ao longe, e suspirou de alivio, acelerando o passo até o veículo, mas congelando em seus movimentos quando o vento soprou e trouxe o cheiro de mais vampiros. Torceu, por tudo que fosse mais sagrado, que o aroma fosse referente aos Cullen e amaldiçoou sob a respiração quando viu a mesma criatura de pele oliva desbotada e olhos rubis pousar do outro lado da moto em um deja vu.

- Não vivemos este cenário antes? - Kaylee recuou um passo quando Sebastian abriu um sorriso feral e soltou um “tsc” sob a respiração.

- Talvez. Mas garanto que desta vez o final será diferente. - retrucou e com um salto passou por cima da moto, pousando em frente a garota que ofegou.

- Será? - a jovem sorriu de canto de boca, o que fez o vampiro arquear as sobrancelhas diante da reação dela frente ao perigo. Entretanto logo compreendeu de onde vinha a confiança dela quando um rosnado chegou aos seus ouvidos. Sebastian olhou por cima do ombro para ver que havia um enorme lobo pardo a poucos metros de distância dele e que mostrava os caninos afiados de maneira ameaçadora. O vampiro gargalhou.

- Sim... - disse presunçoso. - O final será diferente. - e esbofeteou Kaylee, a arremessando longe, e com um salto partiu na direção de Jacob no mesmo instante em que o lobo atacou. Com um movimento fluído o vampiro deu uma pirueta sobre o dorso do lupino, pousando as suas costas e Jacob pausou a investida no meio do caminhou, girando o corpo com um impulso das patas dianteiras e com o focinho aberto pronto para abocanhar o homem que em um gesto rápido saiu da direção dos dentes mortais.

Kaylee sentou-se no chão, ainda zonza pelo tapa recebido de Sebastian, e mirou seus olhos amêndoas nas duas criaturas brigando.

­- Por exemplo... - o vampiro sorriu macabro. - Os lobos têm como ponto fraco as costas. - soltou em um tom como se estivesse dando uma aula de ciências a menina e com outro pulo passou sobre Jacob no momento que o transmorfo investiu sobre ele depois de fazer a curva e com um pouso suave, uma girada de perna e um movimento rápido, foi em direção ao lobo e envolveu os seus braços em torno das costelas dele, o erguendo do chão e o esmagando contra o seu peito. Kaylee ofegou ao ouvir o ganido que o nativo soltou e um baixo latido quando foi arremessado contra a parede dos fundos da cancela de vigia.

- Sei que ele fará tudo para protegê-la, como o bom Guardião que é. - a jovem sentiu o coração vir a boca ao ouvir a declaração de Sebastian. Como ele sabia disto? Onde ele conseguiu tal informação? Seus olhos ficaram largos ao ver o lobo erguer-se em um pulo quando viu que o vampiro fez menção de ir até ela na intenção de atacá-la e com um impulso Jacob voou em cima de Sebastian. A criatura gargalhou e lançou-se em um salto na direção do lobo e Whitaker esperou o encontro dos dois corpos acontecer em pleno ar. Mas como um felino, o vampiro torceu o corpo durante o voo e passou por baixo de Black, segurando em sua pata esquerda traseira e foi com pavor que a garota ouviu o som estalado de osso quebrando soar pela velha fábrica.

O transmorfo caiu no chão com um outro ganido e o seu corpo grande deslizou pelo cimento forrado de areia e cascalho. Kaylee tentou levantar-se para poder ajudá-la de alguma maneira, pois poderia ver a dor e a apreensão estampadas nos grandes olhos escuros do lobo que estavam lacrimejando. Pelo que havia presenciado ao menos ela contabilizada três costelas quebradas e uma perna partida, juntando com o cansaço da batalha anterior os mesmos ferimentos deveriam estar demorando mais que o normal para se curar.

Sebastian gargalhou ao ver os movimentos dela e ao pressentir a intenção da jovem apareceu em um piscar de olhos na frente dela, fechando a sua mão gelada na garganta da garota e a erguendo do chão pelo pescoço. Por cima do ombro do vampiro, Kaylee pôde ver Jacob levantar-se com dificuldade do chão, sacudir a enorme cabeça peluda para espantar o torpor e a dor e partir na direção do vampiro.

- E por último... O veneno de um vampiro no sangue de um lobo é fatal. - os olhos rubis brilharam com algo que parecia o prelúdio de um grande desastre e com um movimento brusco de braço ele arremessou Kaylee sobre uma pilha de caixas vazias. A adolescente girou o corpo durante a queda para evitar muitos estragos diante do ataque e virou a cabeça em um estalo na direção das duas criaturas que estavam prestes a entrar em um novo embate.

A cena que veio a seguir pareceu acontecer em câmera lenta para ela. No momento que Jacob investiu em um outro ataque, o vampiro rapidamente o envolveu pelo pescoço, lhe dando uma chave de braço e rodou o lobo no ar, o jogando de costas com um baque violento no chão. E antes mesmo que o transmorfo pudesse reagir, ele já o havia mordido no pescoço, arrancando um pedaço de pele e pelos e originando um alto ganido de dor do lupino.

- JACOB! - Kaylee gritou ao ver Sebastian afastar-se do lobo em um salto ao mesmo tempo em que sangue começou a jorrar da ferida em seu pescoço. Foi com horror que a menina viu o transmorfo retornar a sua forma humana, debatendo-se e se contorcendo em convulsões que faziam os seus braços e pernas torcerem de maneira não natural.

- Agora somos você e eu, minha jovem. - o vampiro soltou divertido, mas Kaylee não mais o ouvia, ou via alguma coisa. Seu cérebro havia desligado subitamente, seu mundo inteiro estava concentrado no rapaz que gritava e retorcia-se no chão úmido e no homem entre ele e ela. Com um pulo a garota colocou-se de pé e avançou para cima de Sebastian, o que arrancou gargalhadas divertidas dele diante da tentativa de atacá-lo. Porém as risadas morreram quando um soco o acertou no rosto, o derrubando no chão, e antes que ele pudesse reagir e se levantar, um corpo estava sobre o seu, com joelhos o prendendo contra o cimento pelo torso e mãos quentes estavam em seu rosto.

Os olhos rubis do vampiro ficaram largos quando sentiu os dedos da garota fecharem com força sobre a sua pele, criando rachaduras na mesma, e o estalo de pedra quebrando soou pelo pátio da velha fábrica. Com força, Kaylee girou os braços e com um puxão quebrou e deslocou a cabeça do vampiro de seu pescoço, a arremessando longe. Com outro salto saiu de cima do corpo inerte da criatura e correu até Jacob, deslizando de joelhos pelo chão, sujando e rasgando mais a sua jeans, e parou ao lado do jovem que gritava e se contorcia.

A pele morena dele continha uma fina camada de suor frio, os olhos estavam fechados firmemente, os lábios sangravam por Black tê-los mordidos ao tentar impedir os gritos ou como uma reação instintiva. Kaylee podia ver as veias destacando-se ao logo do corpo dele, sob a pele, latejando como se estivessem prontas para estourar e quando ele abriu os olhos em um estalo diante de uma nova onda de dor os mesmos estavam marejados, vermelhos e com as íris dilatadas e desfocadas.

- Jake... - ofegou, com lágrimas escorrendo de seus olhos e levou ambas as mãos ao ferimento profundo no pescoço e que sangrava copiosamente, sentindo o líquido quente e viscoso banhar os seus dedos em questão de segundos. - Aguente firme Jacob... - sussurrou com um soluço brotando de sua garganta. - e com um gesto brusco raspou a palma da mão nos cascalhos que haviam no chão, causando cortes na pele sensível, e a levou ao machucado no pescoço do rapaz. - Eu vou curar você.


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