Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 8
CAPÍTULO 7º




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CAPÍTULO 7º

 

– Pensei que não vinham mais! – Alice nos recebeu na garagem. Para minha sorte, eu tinha boa tolerância a álcool, ou seja, não ficava bêbada tão facilmente. Isso era bom porque, chegar bêbada na casa dos outros é o cúmulo. Melhor ainda é saber que eu não vomitaria nos pés de ninguém, nem no tapete da sala de ninguém. Isso era reconfortante.

 

– Não seja exagerada. – reclamei e saí do carro com a garrafa na mão, sendo recebida com festa por Branca. Acariciei sua cabeça.

 

– E o que vocês dois ficaram fazendo? – vi nos olhos de Alice a malícia surgir, junto com um sorrisinho ridículo. Talvez a nanica maldita tivesse visto a fúria em meus olhos, e por isso sua expressão se desfez.

 

– Não ouse. – apontei-lhe o dedo e marchei escada a cima.

 

         Nunca havia sido tão idiota na minha vida, mas eu tinha um bom motivo. Edward era um amigo que eu havia encontrado em minha vida, e aqueles momentos só serviram para me mostrar isso. Todos os seus toques, todas as suas palavras expiravam carinho, afeição, e acima de tudo, compreensão.

         Em apenas um dia, eu havia lhe contado minha vida, meus momentos ridículos da infância e, acima de tudo, havia falado sobre minha perda. Perder alguém não era fácil, e apesar de admitir que nunca havia passado por tal situação, me acolheu, e me fez sorrir. Eu não precisei fingir estar feliz – porque ele saberia que eu não estava -, não precisei fingir que ria – até porque ele reconheceria uma risada falsa -, não precisei desenhar um sorriso lindo e brilhante na minha cara para lhe satisfazer. Ele apenas me aceitou do jeito que eu estava, quebrada, e assim mesmo, me fez sorrir. O simples fato de tê-lo ali, como se eu não estivesse em pedaços, sem forçar um conserto repentino, me fazia sorrir.

         Corri para o banheiro e tomei um banho demorado, lavando os cabelos, enchendo-me de sabonete e tentando me acalmar, sem sucesso. Enrolei-me numa toalha e saí para o quarto, e sentada na cama, estava Alice. Observei-a passar a mão na roupa de cama, assim como fez em casa, e concluí que era um sinal que significava que ela estava num impasse, indecisa. Eu sabia sobre sua indecisão, e de certa forma, compreendia. Mas só de certa forma.

         Apressei meus pés pelo cômodo e procurei em minha mala algum moletom velho e confortável. Agi como se não a tivesse visto, e não quebrei o silêncio que havia se estabelecido no quarto enquanto colocava a lingerie.

 

– Não vai mais falar comigo? – perguntou tristemente.

 

– Por que deveria? – perguntei seca, ainda sem a olhar, penteando os cabelos em frente ao espelho.

 

– Porque eu sou sua melhor amiga, Bella! – pelo reflexo do espelho pude ver sua expressão de pânico. – Desde a faculdade!

 

– Mas isso não lhe impediu de caçoar de mim. – virei-me furiosa, com a escova na mão e me imaginei enchendo Alice de bofetadas com aquele instrumento de tortura perigoso. Coloquei-o na penteadeira. – Alice, você acha que está sendo fácil pra mim, durante esses anos?! – berrei. – Você passou o natal com sua família, e eu? Passei com Branca, porque não consigo chegar perto de minha mãe e de meu pai sem ver em seus olhos a piedade e o sofrimento que eles passam por mim! Com a família de Jacob?! Nem pensar! Não que a companhia de Branca não seja agradável, porque ela é ótima. Mas antes de você chegar com essa idéia maluca de ‘preciso arranjar um novo coração para Bella’, éramos só ela e eu!

 

         Mais uma vez, comecei a falar pelos cotovelos. Mas agora eu estava furiosa, completamente descontrolada, andando de um lado para o outro.

 

– Adoro te ver, adoro ser acordada por você e adoro ser sua amiga. Mas não agüento mais o jeito que você me trata, como se eu tivesse de ser curada com um final de semana por sua conta, e por conta de sua família! Como se quisesse comprar um coração novo para mim! – respirei e revisei tudo o que estava falando, dando graças por Esme e Carlisle não estarem. – Eu perdi alguém que eu amava , Alice! Tem noção do que é isso?! – ela fitou o chão. – Não! Porque você tem o Jasper e ele é ótimo! Então não me venha com aquele olhar besta, como se eu tivesse transado com Edward. Seu irmão está sendo um ótimo amigo, assim como você! Não me julgue ser capaz de simplesmente esquecer uma dor que ainda sinto com alguém que conheci ontem, por favor!

 

         Pronto, eu já havia falado mais do que a metade do que estava entalado. Já era alguma coisa. Respirei fundo várias vezes antes de conseguir me acalmar por completo. Virei-me para o espelho e vi a expressão de Alice. Ela havia ficado calada em todo meu discurso, coisa que não era fácil de se fazer.

 

– Tem toda razão, Bella. – virei-me e a encarei, secretamente surpresa.

 

– Tenho? – perguntei em dúvida, com uma das sobrancelhas levantadas.

 

– Sim. – ela sorriu tristemente. – Só queria que fosse feliz, mas este não é o jeito certo e fico satisfeita em perceber em como estava errada, para poder acertar. Eu te amo, e você sabe disso.

 

– Eu também te amo. – não me importei em estar só de calcinha e sutiã, com os cabelos, molhados e com o corpo congelando de frio, apenas corri até minha amiga e a abracei. Era isso que eu precisava naquele momento. – Obrigada por tudo o que você fez e faz por mim.

 

– Obrigada por me agüentar. – tive dó de concordar ou dizer um ‘disponha’, então apenas lhe dei um beijo na testa. – Amei sua lingerie.

 

         Pronto, Alice já estava de bom humor de novo.

 

         Acendi a lareira de meu quarto, peguei o maço de cigarros ingleses – que não eram tão bons quanto os americanos de Edward -, o resto de vodka que havia sobrado na garrafa, e sentei-me no tapete, ao lado de Branca. Pretendia ficar assim até o amanhecer, mas ouvi um barulho estranho em minha porta. Segui devagar até ela e a abri, com um medo indecifrável de ser Alice tentando me matar depois de nosso discussão ou qualquer coisa assim. Relato isso porque Alice Cullen é a anã mais vingativa que conheço. Tá bom, a única, o que é mais assustador. Mas não era Alice ou qualquer outro mostro, ou fantasma, ou vampiro...

 

– Edward? – assustei-me.

 

– Ah, você me pegou com a mão na massa. – olhei para um prato de porcelana no chão com um coockie e um copo de leite. – Sabia que deixar um biscoito na porta do quarto evita pesadelos durante a noite?

 

– Ah! – acenei confusa. – Caramba, na verdade não! – sorri. – Obrigada pela gentileza.

 

– Eu é que agradeço. Depois da sua bronca, Alice ficou quietinha como um anjo o resto da noite inteirinha, até ir dormir.

 

– Ah. E por que está falando tanto diminutivo? – levantei um sobrancelha enquanto ele sorria.

 

– Sei lá. – deu de ombros.

 

– Quer entrar? – apontei para o cômodo enorme e aconchegante atrás de mim.

 

– Tudo bem. – deu de ombros mais uma vez e entrou em meu quarto. Sentou-se em frente à lareira e acariciou Branca. – Quer ver alguns truques de mágica?

 

         Pensei um pouco; acho que nós dois pensamos. Eu havia lhe dito que não acreditava em mágica, mas aquela tarde havia sido tão... mágica. Havia o pôr do sol, havia a cabana na árvore apinhada de folhas alaranjadas, havia a mini-geladeira abarrotada de latinha de coca, havia meu maço de cigarros ingleses – mesmo não tão bons -, havia nós dois...

 

– Claro. – dei de ombros como ele faria. – Pode ser.

 

– Será um prazer, madame. – entregou o biscoito e o leite como um cavalheiro. Mas nós dois sabíamos que o leite seria doado à Branca. Nossa bebida da noite era vodka.

 

– Muito agradecida. – murmurei sem graça, sentando-me no tapete ao seu lado, e não piscando mais durante um bom tempo.

 

 

TRÊS MESES DEPOIS

 

         Era uma vez uma dor, que ainda estava lá, sempre arrumada, dobrada e impecavelmente guardada dentro do baú de memórias que infelizmente não se apagavam como eu desejava. Mas pensando bem, eu não sabia se queria me livrar das lembranças. A malvada dor sempre aparecia, sempre dava o ar da graça quando eu ao menos lembrava dela, e assim que ela vinha, eu me abraçava, me dobrava na cama, e tentava não chorar. Mas havia uma diferença nisso tudo: eu não estava mais sozinha.

         Depois daquele final de semana maluco na casa de Alice, havia acrescentado à lista de ‘amigos infelizes de Bella Swan’ pessoas que não mereciam estar nesta lista, simplesmente por ser uma lista patética, feiosa e reduzida. Mas não acho que isso fosse mesmo uma desculpa. Lá estavam o Dr. Cullen com sua linda esposa, Esme. Alice – claro! – e Jasper, Emmet e Rosalie, e por ultimo, mas não menos importante, Edward Cullen, o dono dos orbes esverdeados e dos cabelos acobreados, um conjunto de tentações.

         Edward e eu havíamos ficado próximos consideravelmente, agora éramos amigos. Quando eu menos esperava, lá estava ele na cafeteria, dando-me um ‘oizinho’ ou um ‘joinha’ de longe. Sem contar as várias vezes que nos encontrávamos na casa da árvore e passávamos horas rindo, conversando, bebendo, sempre acompanhados do meu maço de cigarros. Mas as coisas estavam sendo tão irônicas que agora eu só conseguia fumar cigarros americanos, ao invés dos ingleses. Simplesmente porque Edward estava mudando meus hábitos. Não é isso que os amigos fazem?, eu me perguntava.

         Os encontros na casa da árvore eram tão... mágicos, que resolvemos lhe dar um nome especial. ‘A Incrível Máquina de Sonhos’, era seu nome. Simplesmente porque era lá que imaginávamos nosso futuro, desenhávamos nossas invenções, construíamos nossos castelos, e víamos tudo isso sendo destruídos por uma sociedade fechada à imaginação.

         Cinza, disse-me uma vez...

 

– Já percebeu como essa cidade é cinza. – ele apontou de dentro do vidro do café, e eu ri na hora em que passou um ônibus. – Tá, tirando o ônibus, que é vermelho... Tudo é cinza!

 

         E ele tinha razão. O filho da puta sempre tinha razão. Cada vez mais eu me aproximava de Edward, e quando ele inventou de me fazer uma surpresa, eu concordei, lógico. Mas para ser sincera, estava morrendo de medo. Medo de ser como as surpresas de Alice, que eram sempre estrambólicas, berrantes, e acima de tudo, caríssimas. E se você vai falar alguma coisa, ‘não custou nada’, ela diz. Um dia havia me irritado e lhe perguntei se ela havia dormido com o dono da loja para ter sempre na mão presentes assim, caros. Ela me respondeu que era uma ótima idéia. Daquele momento em diante, não disse mais nada quanto às suas surpresas, e tentava aceitar tudo de bom grado para evitar catástrofes e uma possível traição à Jasper.

         E lá estava eu. Nem acreditava que estava vestida daquele jeito. Um mês sem calça jeans rasgadas e surradas, all stars rasgados e surrados, camisetas simples e nada dondocas e minha jaqueta de couro preta, estavam me fazendo a maior falta. Tudo porque Alice e Rosalie haviam pegado a mania horrorosa de me vestir, e com tudo isso, eu acabei me tornando uma Barbie Londres.

Enfiada numa saia tubin preta, com meia-calças finas de fios negros, calçando sapatos azuis escuro, com uma jaqueta de courino da mesma cor, lá estava eu. Como se não bastasse, forçaram-me a repicar o cabelo, e agora, além de um pouco mais claro – quase ruivo, o que havia me deixado muito estranha – estava mais curto e ondulado. Eca! Pelo menos, havia lhes convencido a me deixar ir com a camiseta dos Rolling Stones. Pelo menos!

 

         Sentei-me numa das mesas do café, batendo um papo descontraído com as funcionárias, e esperei até o ponteiro do relógio marcar sete horas da noite, em ponto. E ele apareceu, fascinante, como sempre. Vestido com um terno preto e elegante, gemi revoltada, fazendo com que sumisse o sorriso lindo que havia se formado em seus lábios. Frustrei-me mais ainda por isso.

 

– Droga, Edward! Por que não me disse que tinha que vir em traje social, hein?! – ele riu suavemente, colocando seus dedos em minha nuca e me puxando para um beijo estralado na testa. – Está tão lindo...

 

– Você está perfeita. – sussurrou em meu ouvido e eu lhe sorri. Aquilo era uma mania que ele tinha, assim como dar de ombros, assim como fumar cigarros americanos e falar com um sotaque fingido, assim como fazer xixi depois de um filme de terror, assim como beber coca com limão e gelo, assim como colocar leite condensado em todas as frutas que comia... eu já deveria saber todas!

 

– Obrigada. – ele pegou minha mão entre os dedos frios e puxou para um ônibus. Eu não sabia para onde estava indo, nem sabia que horas iria voltar. A única coisa de sabia era que estava com Edward, e isso bastava.

 

 



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Notas finais do capítulo

Mais um, hein?! REVIEWS! *O*