Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 7
CAPÍTULO 6º




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CAPÍTULO 6º

 

                   Abri a janela para sentir o vento gélido correr por meu rosto, lamber meu cabelos, encher o carro de uma impressão quase satisfatória. Continuei olhando para a paisagem enquanto saíamos da cidade e íamos de encontro a um lugar que eu ao menos sabia onde era. De uma coisa eu tinha certeza, não era Londres. Os planaltos começavam a surgir no horizonte quando o sol já tocava meus lábios, como se me beijasse, dando-me bom dia.

         Ao lado de nosso carro, corria um trem e sorri ao sentir o tremor ele que causava no automóvel, sentindo o cheiro da fumaça que saía de sua fornalha, ao observar o impacto de suas rodas pesadas no trilho de ferro. Era lindo.

 

– Nunca viu um trem de perto? – olhei para Edward que me sorria e voltei meus olhos para a máquina que nos acompanhava.

 

– Gostaria de andar num desses um dia. – concluí, respondendo inconscientemente a pergunta que havia me feito.

 

         Silêncio mais uma vez. Mas era um silêncio agradável, que não preenchia o carro por completo, considerando os barulho do vento, o barulho dos pássaros e de tudo o que eu não via muito. De uma hora para outra, o passeio havia se tornado suportável.

         Entramos numa estrada de terra, deixando de acompanhar o enorme trem que parecia despedir-se de nós. Respirei fundo o cheiro de madeira e tentei me localizar. Sem sucesso.

 

– Onde estamos? – perguntei.

 

– Numa cidadezinha no interior, ao lado de Londres. – ele deu de ombros e percebi o quanto isso era freqüente. – Não é longe.

 

– Ah. – acenei, imitando seu movimento e sorrindo em seguida.

 

– Nunca sai de casa, não é?! – vi seu sorriso torto e sua expressão de deboche e bufei.

 

– Não vejo como isso pode te interessar.

 

         Ele riu e eu respirei fundo. Edward me irritava demais, ah, se ele soubesse. A paisagem do lado de fora da janela deixou de se mover e lamentei por isso. Agora seria a hora do terror, estrelado por Alice Cullen, eu sentia isso, no meu ser. Sai do carro e pisei na grama baixa e seca de um vasto campo, que combinava com o dia amarelo que havia se formado. Arranquei minha jaqueta.

 

– Strip aqui não, hein. – revirei os olhos para Emmet, que passava carregando tudo o que pareciam ser toalhas, cestas, barracas, e o escambau.

 

– Não liga não, Bella. – senti meu braço sendo enlaçado pelo de Rosalie.

 

– Não ligo. – concordei. Fui puxada por ela até Alice, que pulava em minha volta como se estive doida. Impossível! Ela era doida, completamente. Tipo, doida varrida, ou seja, ela pular ao meu redor era extremamente aceitável.

 

– Vamos Bella! – gritou. – Vamos brincar de pique - esconde!

 

         Revirei os olhos e tive vontade de bater em sua cabecinha de girico como se ela fosse um cachorrinho, e lhe dizer algo como ‘calma, calma! Querida, você está em choque, bateu a cabeça muito forte e agora, será tratada. Cadê a camisa de força, hein?!’. Contive-me, apertando os lábios firmemente. Ouvi Branca latir.

 

– Ora, mas você está aqui?! – agachei-me e acariciei sua cabeça negra. – Minha linda!

 

– Ela irá me ajudar. – Alice nos olhou como se fôssemos sua platéia, e preparei-me para fugir. Pronto, enlouqueceu de vez, pensei. – Eu vou começar! – ah, me conte uma novidade, please! – Se escondam. Branca tem o direito de ajudar a todos que irão procurar em sua devida vez. – revirei os olhos. – Vou contar até cem, e quando abrir meus olhinhos irei procurá-los!

 

– Rá, rá! – a risada escapou de meus lábios.

 

– O que foi?! – a anã assassina me perguntou, com cara de inocente. Precisava aprender com o resto da galera como ter autocontrole ao lado desse figura, porque todos estavam segurando suas risadas, e eu fui a única estúpida que ri.

 

– Nada, nada. – respondi. – Feche seus olhinhos para nos escondermos.

         Por um segundo, meu subconsciente lembrou-me de como havia esquecido a dor. Senti a luz do sol esquentar meu corpo, mas não a sentir entrar em meu coração.

 

Já! – Alice berrou. Desnorteada, andei rapidamente pelas árvores, evitando seguir os outros. Corri, enlaçando meu peito com meus próprios braços, tentando impedir que os pedaços caíssem pelo caminho e deixassem rastros de onde estava indo. Eu estava quebrada, e queria ficar sozinha.

 

         Enquanto corria, perguntei-me o porquê a dor aparecia assim, do nada. Apenas ao olhar para uma árvore, para a relva, para as montanhas ao longe, olhar o céu. Mas eu sempre soube que a dor estava ali, guardada num baú, lá no fundo do meu peito. As vezes ela era trancada à força pelos sorrisos mal dados e confusos. Mas às vezes, a dor vinha à tona e acabava com meu ser, explorava minha alma, custavam minhas energias. Eu a odiava, e adoraria tira-la com minhas próprias mãos.

         Corri mais do que pensava que poderia correr e percebi que já era quase horário de almoço quando achei o esconderijo que podia se dizer, perfeito. Era uma casinha feita de madeira, no topo de uma árvore de folhas secas e alaranjadas. Fiz um esforço a mais para subir pela escadinha feita na árvore, e me equilibrei na porta do esconderijo. Joguei-me dentro da cabana e senti a poeira voando em minha volta, empreguinando-se em meus cabelos e em minha roupa. Merda!

Mais um esforço e consegui dar uma olhada em volta. Era um lugar relativamente grande, e para quem visse de longe, não imaginaria que aquela pequena cabana feita em madeira, em cima de uma árvore, podia suportar uma pequena saleta composta de livros, uma mini-geladeira, luz elétrica, e por incrível que pareça, alguns cobertores e almofadas em cima de um pufe tamanho GG. Abri a geladeira e quase surtei ao me deparar com latas de coca. Apesar de ter de andar com a cabeça relativamente abaixada para a altura normal, era um lugar confortável, seguro e limpo. Era um refúgio.

         Aninhei-me nas almofadas com uma lata de coca na mão, acendi um cigarro e esperei até que me encontrassem, mas na verdade, torcia para que não acontecesse.

 

         Eu poderia ter ficado ali por anos. Três latas de coca já tinham ido, meio maço de cigarros já havia sido consumidos, a tarde já caía e só me sobrava ficar ali. Encostei-me melhor numa das almofadas e fechei os olhos. Havia ficado vigiando pelas frestas da cabana o dia todo, e já estava cansada.

         Pensei que morrer ali seria legal se não fosse pela fome, pelo cansaço, e principalmente, pela falta de cigarros. Gemi, de desgosto. Eu era uma coitada, e como havia concluído antes, uma humana da pior espécie, do tipo mais desprezível que inseto.

 

– Bella? – abri os olhos lentamente e vi Edward na porta da cabana, com seus olhos verdes emanando preocupação. – Tudo bem?!

 

– Ah, oi Edward. – sorri fracamente e assisti sua expressão preocupada esperar por alguma resposta. – Sabe, o que mais me mata são as horas que não passam, os dias que se arrastam e o pior... – comecei a falar pelos cotovelos, sem para respirar, sem forças para me mover. Pensei que Edward sairia correndo como medo da minha crise, mas só o vi se aproximando. – o pior de tudo é estar viva para ver tudo isso. E saber que ele não está. O amor da minha vida não está mais aqui para viver comigo.

 

         Foi o cúmulo dos cúmulos. Meus olhos captavam a imagem do garoto se aproximando cada vez mais até estar ao meu lado, mas meu cérebro não lia as mensagens que eu mandava. Era como se todas elas fossem em braile e meu sistema não reconhecesse essa leitura.

 

– E agora? – perguntou-me.

 

– Preciso sobreviver. – dei de ombros. Eu não tinha forças para sair do lugar, mas acho que tudo era questão de vontade, e isso eu também não tinha.

 

Edward sentou ao meu lado, passando a dividir o cobertor comigo, colocou seus braços envolta de meus ombros e apoiou minha cabeça em seu peitoral firme. Suspirei e reafirmei minhas conclusões, acrescentando algumas coisas, que nem eu mesma sabia o que era. Eu poderia ficar ali para sempre, contanto que Edward estivesse ali, só para apoiar minha cabeça em seu ombro e fumar comigo o restante de cigarros que havia sobrado.

 

– Devem estar preocupados com a gente. – sussurrou.

 

– Eu não ligo. – soltei a fumaça pela boca e passei o cigarro para ele.

 

– Nem eu, na verdade. – ele riu. – Eu sinto muito por ontem.

 

         Ah, ele tinha que lembrar disso?!

 

– Eu também. – admiti, o que era muito, muito raro. Algo vibrou ao meu lado e meus olhos se abriram mais. – Edward...

 

– Ah. – ele pegou o celular. – Oi Alice. – suspirei aliviada, sentindo meu rosto queimar um pouco por ter pensado o que não devia. Inconscientemente, claro! – Estou com ela, sossegue. Iremos para casa assim que... – ele me olhou. – Assim que Bella quiser ir.

 

– O quê... – tentei sussurrar, mas seu dedo indicador interrompeu-me e eu revirei os olhos irritada.

 

– Estamos nos divertindo, sim. – ele sorriu torto para mim. – Só me faça o favor de deixar os cigarros e a bebida no carro, okay?! Obrigado.

 

         Olhei pelas frestas da cabana mais uma vez, e ao ouvir o silêncio a minha volta, concluí que Edward havia encerrado a conversa.

 

– Isso aqui é seu? – perguntei.

 

– Quando Alice, Emm e eu éramos crianças, costumávamos vir aqui. Aí o tempo passou, - eu o olhei. – fomos para faculdade, achamos pessoas que nos completam, e isso aqui ficou abandonado. Só eu me lembro daqui. – ele parou e pensou um pouco. – Sim, aposto que só eu me lembro desta cabana, afinal, a abasteço todos os finais de semana. Então, acho que por direito...

 

         Eu sorri, esforçando-me para não lhe mostrar uma careta.

 

– É sua, claro. – completei. – Esta fazendo um ótimo trabalho. É um refúgio e tanto.

 

– Obrigado. – ele mexeu em meus cabelos, a sensação era incrível. – É seu também, se quiser.

 

– Eu adoraria. – sorri, sentindo a dor em meu peito inflamar com seu ato. Eu estava num estado em que aceitava tudo de todos, e isso era preocupante.

 

– Então, está combinado. – disse, continuando a passar os dedos em minha nuca, roçando meus cabelos com os lábios.

 

– Uhum.

 

         Enquanto o sol ainda se punha, ficamos ali, conversando sobre nada de interessante, fazendo algo menos interessante ainda. Quando foi preciso acender as luzes, concordamos que era hora de voltar, e enquanto ele dirigia, eu bebia vodka da garrafa e fumava os cigarros dele. Não tinha como ser melhor.

Pelo menos em algo Edward e eu concordávamos: coisas simples podem trazer felicidade, ou a breve sensação de bem estar. Foram desenvolvidas justamente para nos fazer esquecer dos problemas, mesmo que por o mínimo de tempo que seja. E enquanto voltávamos para casa, eu sentia o buraco ser curado e a dor ser guardada naquele baú amaldiçoado, enquanto eu os encharcava de álcool.

 

 



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Notas finais do capítulo

Gente, não demorei, hein?!
Se você está gostando dessa história, aposto que vai gostar muito mais de ler outras das minhas fanfics: Evidence of the Crime, Hipérbole, Ballet For a Friend. Com excessão da ultima, todas são da saga. Apenas Ballet For a Friend é de categoria 'original'. Mas qual não é, sim?!
Bom, mais uma coisa, deixem reviews, please! Eu preciso deles para viver, meu! @_@
Agradeço a atenção de todos. Muito obrigada. Até a próxima.