Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 18
Capítulo 17º


Notas iniciais do capítulo

Não demorei pra postar, dessa vez! Espero que gostem! Boa leitura! :*



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CAPÍTULO 17º

                Aproveitei que estava sozinha, não tinha Branca para me assustar novamente e decidi mexer nos cômodos trancados no corredor de meu apartamento. Se eu iria casar e viveria uma nova vida, precisava desfazer-me da antiga o mais rápido possível. Com um ânimo incomum, peguei novamente as chaves das “portas proibidas” e abri a primeira. A luz refletia no piano de calda exposto no cômodo, as caixas abarrotadas de coisas pareciam que, de uma hora para outra, despejaria em mim todos os seus segredos. Liguei o rádio, antes que eu desistisse de mexer naquela bagunça, e voltei correndo, enfiando-me novamente entre as caixas.

                Não foi fácil revelar as coisas que aquelas incontáveis caixas guardavam. Na primeira, achei meu álbum da faculdade. E lá estávamos, Alice e eu, cercadas de outros colegas num abraço. Alice sempre fora menor em tamanho e em maturidade, mas mais elegante e mais popular. Eu era adulta demais para aquela época da vida em que, na verdade, você só deveria estar preocupado com encher a cara, não engravidar e passar nos testes, no final das contas. Mas lá jazia a imagem de uma Alice mais jovem – mas não menos bonita ou elegante – e eu, com o rosto mais severo, um cigarro queimando entre os dedos e os cabelos mais curtos e mais claros. Separei a foto – eu tinha certeza que ela amaria revê-la.

                A segunda caixa já possuía itens que comprovavam a existência de alguns dos dias mais felizes da minha vida. Quando peguei entre os dedos o álbum de minha festa de casamento com Jacob, encolhi-me, esperando a dor dilacerante que eu já estava acostumada. Mas nada veio, a não ser as risadas que soltei ao analisar minha cara em cada uma das fotos. Eu parecia mais simpática, quase corada e estranhamente diferente de mim mesma na faculdade. Jacob fazia eu me sentir como se estivesse rejuvenescido, encontrado dentro de mim virtudes que eu nem conhecida, como uma garota virgem e boba, vivendo um sonho adolescente com seu príncipe.

Percebi que meu vestido de noiva fazia justiça à época de minha vida em que eu estava quando casei, inocente e quase infantil. Ele era um vestido branco com mangas cumpridas, com o dorso completamente rendado e enfeitado com pequenas pérolas delicadas, que pareciam brilhar diante da luz, enquanto sua barra alargava-se e tornava o vestido tão rodado e bufante quanto o vestido de uma princesa da Disney. Com luvas de renda brancas de cano curto e um buquê de lírios na mão esquerda, eu atravessei a nave da igreja com Charlie, vermelho e choroso, ao meu lado. E Jacob me esperando, ao pé do altar, com um sorriso que chegava aos olhos, como mágica. Tudo parecia como um filme enquanto eu revia as fotos e as lembrancinhas que sobraram daquele dia. Nada de dor, apenas uma saudosa nostalgia.

                Descobri coisas que nem lembrava que existiam. Meu vestido de noiva estava em uma daquelas caixas, assim como a camisola cor pêssego que usei em minha lua de mel.  Havia livros, CDs, discos de vinil de The Smiths à Queen na mesma caixa que uma vitrola, uma pantufa que Jacob me dera e um jeans que eu tinha certeza que não me servia mais. Eu juntei as coisas em pilhas: coisas que quero e são úteis, coisas que quero e não são úteis, coisas que darei e, finalmente, coisas que jogarei fora. Percebi que a pilha de coisas que eu daria e que eu jogaria fora ganhavam fácil das coisas que eu decidira ficar. Na verdade, ficaram apenas os livros, os álbuns de fotos, os porta-retratos e algumas bugigangas que eu procurara como uma louca, mas nem me lembrava de que havia guardado naquelas caixas. Fiquei com a vitrola e os discos também. E o piano que, bem, como se joga fora um piano? Com se dá um piano tão lindo como aquele?

                Peguei o telefone e disquei, esperando ser atendida enquanto olhava para as pilhas separadas confusamente pelo chão de madeira.

— Oi docinho. – sorri. Edward costumava atender ao celular dessa forma.

— E se fosse o Emmet? – perguntei.

— Eu já o atendi desse jeito e, não quero me gabar, mas ele ficou muito lisonjeado. – senti o sorriso em sua voz.

— É claro que sim. – olhei pela janela e acendi um cigarro. – Diga-me, querido, por que Alice não me ligou me xingando por não ser a primeira a saber de nosso noivado?

— Ah, querida. Ela deve estar meio temerosa depois do sua reação exagerada pela sua festinha, não acha?

— Bem pensado. – suspirei, me sentindo culpada. – Preciso das habilidades da anã assassina.

— Então você já sabe o que fazer... – respondi com um beijo e disquei outro número.

— Eu não quero falar com você. – ouvi Alice resmungar depois da demora a atender e imaginei sua carranca.

— Por que atendeu, então? – suspirei, sentindo que não deveria ser tão dura, assim.

— Escuta, Isabella! – fodeu, pensei ao ouvir meu nome inteiro. – Como pode me ligar depois do seu surto de ódio na festa que eu te preparei?

— Alice, eu sei, querida... – fiquei tentando convencê-la a me escutar mas, na verdade, eu não sabia o que poderia falar para me desculpar. Eu a escutei me xingar de nomes que eu nem sabia que existiam, deixei que me detonasse, deixei que colocasse abaixo de tudo que ela conhecia de pior. Até que seus xingamentos transformaram-se em fungados.

— Alice? – perguntei em dúvida, me perguntando se ela realmente poderia estar chorando. – Alice!

— Bella, eu sinto tanto... – ela chorou. – Eu amo você. Você é minha irmã!

— Eu te amo. Me perdoa pela minha idiotice. Eu sou idiota, não sei fazer diferente... – funguei um pouco, e engoli o choro. – Preciso de você, Alice. Me perdoa ter ficado brava. Eu sou uma megera... – fui interrompida.

— Idiota, sim. Megera, não. – ela suspirou, parecendo mais calma. – Eu devia ter respeitado seu espaço no dia do seu aniversário... e sobre o seu namoro secreto com o Edward...

—Alice, sobre isso... – bati o cigarro no cinzeiro e suspirei. Como explicar pra ela? – Você precisa vir aqui. Estou em casa e preciso da sua ajuda. Preciso te contar algo.

— Ok, eu já vou. – senti um sorriso em sua voz. – A Branca precisa da mãe dela.

— Corre. – desliguei o telefone e caminhei para o corredor, arrastando os sacos de coisas que eu não queria mais.

                Não passou mais que vinte minutos até que Alice chegasse, carregando Branca pela coleira. Ela entrou no meu apartamento e olhou em volta, estranhando minha faxina, enquanto eu carregava Branca no colo, com dificuldade.

— Você está engordando minha cachorra. – acusei.

— Não comece com seus surtos psicóticos. – ela arrancou o casaco e jogou-o em minha cama na sala/quarto/escritório. – Que diabos você está fazendo?

— Estou me livrando de algumas coisas e preciso da sua ajuda. – apontei para os sacos. – Tudo isso são coisas que eu não quero mais.

— De onde você tirou essa bagunça, Bella? – eu sorri para sua expressão chocada, acendendo outro cigarro, e apontei para o corredor. Ela andou hesitante e entrou no primeiro cômodo, de onde a claridade entrava pela janela e refletia no resto do ambiente. – Puta que pariu! Eu nem sabia que esse cômodo existia!

— Agora ele vai passar a existir. – ela apareceu novamente. – Esse era o meu quarto. Aliás, é o meu quarto.

                Além das poucas caixas que sobraram apenas com as coisas que eu queria, somente o piano se fazia presente no cômodo. Peguei a chave e brinquei com ela em minhas mãos. Branca latiu, parecendo saber que eu estava prestes a abrir outro cômodo.

— Tem outro... – Alice me olhou, com um brilho estranho nos olhos, quase selvagem.

                Andamos até ele e eu respirei fundo. Estava Alice de um lado e Branca de outro, e eu suspeitei que toda aquela formação fosse para que eu não fugisse. Impossível fugir agora, pensei com meus botões, a dor já havia passado e eu não precisava mais daquela escolta. Então eu girei a chave na porta e ela se abriu, revelando a escuridão em minha frente e um leve cheiro de mofo. Sem hesitar, andei até a janela e a escancarei. A luz do fim da tarde revelou uma mesa de escritório com a madeira levemente empoeirada, prateleiras abarrotadas de livros, um tapete elegante cobrindo o chão de madeira e um sofá de couro preto. Aquele era o escritório de Jacob.  Alice andou pela sala, avaliando as coisas enquanto eu só franzia o cenho para tudo aquilo, me perguntando como havia ficado tanto tempo sem entrar naquele cômodo.

— Olhe só para você! – ela estava com um porta-retrato nas mãos e mostrou-me uma foto minha sorridente, com Jacob ao meu lado. Estávamos num restaurante, bebendo e conversando quando ele pediu que um senhor que ali passava batesse aquela foto, por gentileza.

— Eu não sei se me vejo loira, novamente. – dei de ombros, surpreendendo-me novamente por não sentir nada a não ser a alegria da lembrança. Peguei o porta-retrato colocando-o na mesa e Alice pegou em minha mão, virando-a para si. Ela examinou o anel e eu paralisei, xingando-me silenciosamente por não ter lembrado de avisá-la assim que passou pela porta, carregando minha cachorra fora do peso.

— Então, parece que teremos um casamento... – seus olhos analisavam o anel, e eu temi que ela começasse a me esculachar de novo, mas ela virou com um sorriso genuíno. – Finalmente!

— Ué! – cruzei os braços no peito. – Você...

— Eu já sabia, bobinha. – ela me interrompeu enquanto fuçava pelo cômodo. Xinguei-a silenciosamente. – Você acha mesmo que Edward não pediria minha ajuda para escolher uma peça tão maravilhosa quanto essa?

                Ela sorriu triunfante e eu trinquei os dentes. Edward não me contou apenas para que eu sofresse com a hipótese de despertar a ira da anã assassina e pela culpa de tê-la magoado. Por mais que eu merecesse, teríamos uma conversinha sobre seus métodos pedagógicos para com meus surtos de ódio. Resmunguei enquanto separava, novamente, coisas daquele cômodo que não me interessavam.

Na verdade, nada ali parecia me interessar, era tudo de Jacob, a sala cheirava a Jacob e, por isso, a mantive trancada. Sentei-me em sua mesa e abri as gavetas. Papéis de tudo quanto é tamanho pareciam dar o ar da graça. Observei Branca subir no sofá e colocar o focinho entre as patas e, enquanto sorria para o fato, toquei em algo diferente. Segurei entre meus dedos um caderno com capa de couro preto e franzi o cenho.

— Parece um diário. – Alice pegou de meus dedos e mostrou-me o cadeado que o trancava. – Vê se você acha a chave.

                Revirei as gavetas, perguntando-me se estaria, de fato, agindo certo. Se Jacob havia deixado um diário e este encontrava-se trancado com um cadeado, não seria invasão de privacidade tentar abri-lo? Lembrei a mim mesma que Jacob estava morto quando meus dedos identificaram uma calosidade estranha na madeira e, sem muito esforço e levantei uma placa leve de madeira compensada que parecia ser um fundo falso.

— Mas que diabos...? – resmunguei. Vivi naquela casa todo aquele tempo, com Jacob e sem Jacob e nunca soube que seu escritório pudesse ter esse tipo de esconderijo. O que eu encontraria se começasse a tirar os livros, um por um, da prateleira? Uma passagem secreta para Nárnia?

                Mas a pergunta que me instigava sobre meu falecido marido era: porque ele teria a necessidade de possuir uma gaveta com um fundo falso? O que ele tinha de esconder que eu não podia saber?

— Alice, quem é? – perguntei debilmente, entregando a foto que havia dentro do fundo falso para que ela examinasse. Enquanto ela o fazia, peguei a única chave que havia dentro da gaveta e girei-a nos dedos, examinando-a. Procurei por mais coisas, mas aquilo era tudo. Uma pequena chave e uma foto de Jacob com uma mulher ruiva.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Quero saber se estão gostando, ok? Beijos :*



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