Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 16
CAPÍTULO 15º


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas aí está. DESCULPEM A DEMORA! De uma coisa tenham certeza: não é por maldade. ):



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CAPÍTULO 15º

         Aniversários: eu odiava. Não tinha nenhum valor emocional para mim, envelhecer. E em pensar que os dias passavam, as horas corriam e não podiam ser impedidas... arg!

– Diga que somos apenas nós dois na Incrível Máquina de Sonhos, por favor. – quase implorei e mandei Branca calar-se. Ele abriu os lábios, os olhos brilhando como nunca, mas fora interrompido por Emmet que vinha correndo com Rosalie, sorrindo e acenando.

– Se você quiser, eu ainda digo... – deu de ombros. Eu sempre achara essa mania bonitinha. Mas aquela indiferença pelo meu ódio de aglomerações ao envelhecer foi o fim da picada, e quando percebi, estava num cenário de Tim Burton outra vez.

– Hey! Cunhada! – Emmet veio berrando, acenando, sorrindo. O ódio que eu sentia era tamanho que só pude olhar pra ele, retribuir seu carinho com algo que me pareceu um rugido. Eu não queria carinho de ninguém! Eu não queria envelhecer! Eu não queria estar ali! E por isso, odiei Edward.

– Você não pode estar fazendo isso comigo. – apontei, olhando em seus orbes enormemente verdes. Sim, ele podia; e estava fazendo, de fato.

– Desculpe. – ele me abraçou novamente. Mas eu já havia deixado claro em minha mente: eu não queria carinho. Não queria bolo com velinhas e não queria que dissessem que eu era uma ‘boa companheira’, porque eu não era, e odiava mentira e hipocrisia.

         A partir disso, minha mente maquinou que talvez eu tivesse sido injusta. Mas um pensamento mais forte e incisivo arrebatou o outro: eu odiava mentiras, sim! Mas não havia mentido; apenas omitido. Omiti o fato de que Edward e eu tínhamos uma relação. Fim. Aquilo só podia ser um castigo. Sim! Um castigo por ter omitido tal fato. Um castigo por ter traído meu marido morto. Um castigo por ter doado suas roupas para alguém que não conheço.

         E eu pensei que já havia superado tudo isso... mas por incrível – e ridículo – que pareça, fiquei em choque e levemente entorpecida. Podia ser operada agora, não sentiria nada.

         Tinha plena consciência da mão de Edward nas minhas costas. Mas somente isso. Fui arrastada por ele e acompanhada por Branca, que latia e pulava como se quisesse me dar os ‘parabéns’. Para onde eu havia sido arrastada? Bem, eu não vi.

         Meus olhos estavam perdidos no nada, variando entre a mata verde e a cadela que pulava alegre a minha frente. Até que eles captaram outro ser pulante, dessa vez humana, do sexo feminino. Alguém tão filha da puta que, mesmo ao meu estado quase catatônico, tive vontade de matá-la. A vontade ecoava dentro da minha cabeça, seca, ácida, quente. Vontade de matar Alice.

         Senti as mãos de Edward se afastar de mim, e quase virei-me para perguntar do porquê daquele afastamento. Ele havia aprontado aquilo pra mim também, eu o estava odiando: o mínimo que ele podia fazer era ficar perto, ao menos isso! Mas depois de alguns cálculos e alguns simples segundos, descobri que eu havia me afastado. Minhas pernas se moviam depressa numa ânsia alucinante proporcional ao desejo de enforcá-la. Senti minhas mãos fechar-se em punhos, a loucura martelando em meus ouvidos, tão alto quanto o som do meu coração.

Andei ao que me pareceu ser quilômetros, e quando parei a sua frente, travei. Tão simples que foi, como um estalo, um som insignificante. Eu apenas parei. Seu sorriso brilhante parecia afetado, as mãos fechadas no peito como se estivesse com medo. Eu esperei que ela falasse, como um caçador espera que sua presa se movimente primeiro. Eu esperei, e ela não disse nada, apenas olhava em meus olhos, com uma culpa imensa guardada em cada som que nossas respirações faziam.

Senti duas presenças ao meu lado e pelo cheiro compreendi que uma delas era Edward. O silêncio descomunal tomou conta da imensidão verde. Pareceram se passar horas desde que ele havia me abraçado pela ultima vez, mas eu sabia não fazia ao menos dez minutos que havia começado a ser arrastada. Por um momento, tive que analisar toda a situação e ainda procurar pelos motivos da minha angústia. O ódio parecia paralisado dentro de mim e quase inativo, mas ainda sim, para alguém que é feita de sentimentos como eu, eu podia senti-lo. Com a amargura nos lábios e a cabeça zonza, fui obrigada a deixar meu transe quando minha mãe saiu não-sei-de-onde com um pequeno bolo, que 25 velinhas cor de rosa acesas e quando surgiram palmas ao meu redor.

Alice não me pareceu tão interessante agora, assim como todos pareciam ter perdido a graça. Eu encarava o bolo, entorpecida. Há quantos anos não me reunia numa festa com todas as pessoas que eu amava? Senti-me culpada, e ingrata. A chama das velas pareciam reconfortantes, e quando percebi o quanto estava sendo idiota, gargalhei. Não me importei com o silêncio que havia prosseguido após meus lábios abrirem-se; eu apenas ri dos meus medos. Medo de quê? De ser querida. Porque querer alguém poder ser doloroso às vezes, e era um medo idiota, mas ainda sim, verdadeiro. E eu realmente estava rindo na cara do perigo, com todas as letras.

         O som me perseguiu e me embrulhou o estômago. Risadas, de todos os lados. Felicidade transbordante de pessoas que me queriam bem, e meus sentimentos embaralhados. Fui abraçada, beijada por todos, passada de braços em braços, sentindo o vento bater em nossos cabelos, agitar a toalha extensa na mesa de piquenique. O medo tinindo dentro do meu coração, a fobia prestes a me atacar, mas ainda sim, me mantinha bem o bastante para agradecer por terem sido tão bons comigo naquele dia fatídico. Mas haviam duas pessoas naquela reunião que eu não conseguia falar: Edward e Alice.

         Os olhares com culpa não haviam cessado entre eles e a tarde já estava surgindo quando resolveram ligar o rádio para dançar o bom e velho rock’n’ roll. Sentei-me à mesa de piquenique e observei meus pais dançarem, os pais de Edward, irmãos, parentes, amigos. Corpos com sentimentos requebrando sem parar ao som das minhas músicas favoritas, e ri. Sem energia alguma para acompanhá-los, os observei. Nenhum deles havia mencionado o meu relacionamento com Edward, e o ódio inativo em meu peito pareceu inflamar quando pensei que tudo era óbvio demais, e que todas aquelas pessoas ali presentes já sabiam o que aconteceria entre nós antes de mim. Mas uma vez: a vida é injusta!

– Filha, vem conosco. – meu pai pegou minha mão, o sorriso feliz no rosto pela minha súbita aceitação. Ainda não tinha – por algum motivo – coragem de enfrentar o silêncio que viria a seguir no carro de Edward. Isso era reconfortante, um tempo. A saudade poderia ajudar, talvez.

         Despedida coletiva com alguns gritinhos, e deixei os Cullen em baixo daquela casa na árvore, com cervejas e salada de batatas. Edward e Alice continuaram em sua tensão, como se eu os afastasse. Talvez eu estivesse afastando todo mundo com meu ódio, mas meus pais eram obrigados a me abrigarem. Coitados, é claro. Entrei no velho Impala do meu pai, me sentindo como se tivesse 14 anos, encostei a cabeça no vidro, e vi o tempo correr junto à paisagem brilhante de uma noite de sábado em Londres. Logo, estávamos em casa.

         Minha mãe abriu a porta branca ornamentada, e meu pai foi logo entrando, cansado, subindo as escadas como de costume a fim de colocar seus chinelos ortopédicos. E mais uma vez eu parei. Eu havia voltado pra casa. Iria dormir no meu quarto infantil, tomar café e pegar o jornal para o papai. Aquilo não era muito justo com nenhum de nós, porque eu não era mais a boa e pequena Bella, e eles não eram mais o casal jovem que me colocavam pra dormir. Mais uma vez, medo.



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Notas finais do capítulo

Olha gente, eu sei que tá curto e tal. Mas é a partir desse capítulo que a história toma um rumo diferente. Fiquem ligados, que talvez eu poste mais essa semana. Desculpem a demora, mais uma vez. E não esquentem: não vou abandonar a fic! Até mais, e não se esqueçam dos reviews. ):