Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 14
CAPÍTULO 13º




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CAPÍTULO 13º

         Cheguei em casa, carregada de sacolas. Alice tinha razão: eu havia sido a Barbie Londres, e ela, a filha da puta que escolhera as roupas para mim. Às vezes, eu odiava Alice. Mas naquele momento, eu me odiava. Odiava-me porque estava parada na porta de meu closet com todas as sacolas na mão, sem ter onde colocar tudo aquilo. Soltei-as no chão, irritada com toda aquela palhaçada. Bati os pés para dentro do cômodo e comecei a andar ali dentro, como se quisesse ver tudo ao mesmo tempo. Meus olhos passavam pelos armários, enquanto eu pensava desespera onde eu poderia guardar todas aquelas roupas. Corri desesperada até minha divisão e constatei o engarrafamento de roupas mentalmente. Não havia mais espaço, merda! Só me havia uma saída agora.

   Eu estou viva, ele não; eu pensava como uma louca enquanto arrancava as camisas de Jacob dos cabides e as jogava no piso de madeira. Senti meus olhos arderem pela segunda vez no dia quando o guarda roupas dele já estava vazio. Caí sem forças entre suas roupas e inalei seu cheiro quase perdido. Sim, ele estava se perdendo. Eu iria lamentar?

    Aproveitei aquela crise de raiva e coloquei as roupas de Jacob em uma mala, como se ele fosse viajar. Ele foi sem bagagens, pensei irônica. Arrastei-as até a porta e respirei fundo antes de pegar o celular ligar para meus pais. Teríamos uma conversa séria sobre aquelas roupas.

– Deixe-me ver se eu entendi. – suspirei, meu pai consegui ser cansativo quando queria. – Você está se livrando das roupas de Jake para organizar as suas e as de Edward?

– Não, pai! – respondi impaciente. – Apenas as minhas!

– Ah, mas isso por enquanto, não é?!

– É, é sim, pois é...! – desisti, xingando-me internamente. Ainda mais por perceber que a idéia não era assim, tão absurda.

– Então, irei aí buscar. – passei a mão nos cabelos nervosamente.

– Quando?

– Hoje não sei se vai dar... – pareceu conferir sua memória para ver se não estava esquecendo-se de nada. Torci fervorosamente e internamente para que não. – Não! Hoje não tenho nada de interessante para fazer.

– Ótimo! – quase berrei. – Pode vir buscar?

– Sim. – ele fez uma pausa e temi que mudasse de idéia. – Agora?

– Claro, pai! – respirei fundo e tentei me lembrar de que fazia poucos dias que a minha vida tinha voltado ao normal. Não tão normal assim, é claro.

    Eu estava mais feliz. Não sentia aquela dor que dilacerava meu peito. Eu realmente havia acabado com ela e a prendido num baú secreto, lá no fundo do meu coração. Mas dentro de mim, eu sabia muito bem que esse baú poderia ser aberto. Respirei fundo, passei os dedos nos cabelos com irritação e me concentrei em meu pai resmungando no telefone. Charlie sempre seria... Charlie! Nunca mudaria!

­– Olha, querida... não tem como ser amanhã?! – perguntou, parecendo se desculpar. Suspirei pesadamente, mais uma vez me rendendo.

– Tudo bem papai. – disse docilmente. – Deixe para outro dia então.

– Obrigada, Bells, querida. – pude sentir e ver seu sorriso pela sua voz. – Até mais.

– Até, papai. – e ele desligou.

    Mal encaixei o telefone no gancho e saí correndo para a portaria. O porteiro – Sr. Benjamin, que sempre me cumprimentava, mesmo quando eu estava bêbada – arrumava as correspondências nas caixas de correio dos apartamentos. Parei ao seu lado e bati levemente o pé no carpete escuro do saguão. O homem magro e calvo, um velho de alma jovem e romântica, virou-se para mim e me sorriu. Não pude deixar de retribuir.

– Boa tarde, senhorita Swan. – entregou-me as correspondências, que se limitava a contas de cartão de crédito e de alguns caprichos via internet.

- Obrigada, e nada de formalidades. Sou apenas Bella. – dei de ombros. – Que horas são por favor?

– Ah! – balançou o pulso esquerdo e observou os ponteiros com dificuldade. Continuei esperando, reprimindo minha angústia e impaciência. – São cinco horas da tarde agora. Mas mocinha, posso saber o que está fazendo aqui?

– Estou amolando, não estou? – desisti de minha impaciência e fiz uma careta, cruzando os braços no peito.

– Não, não é isso! – parou de arrumar as cartas e me olhou incrédulo, como se eu tivesse falado um absurdo. – É que não é normal.

– Hm. – fitei meus pés sem graça antes de começar, a histeria e a angústia começando a surgir dentro de mim. – Sr. Benjamin, eu estava pensando... – ele me olhou com atenção, e de repente, quis que ele continuasse seu trabalho e não me desse muita bola. – Lembra-se de Jacob, meu marido?!

– Ah! – ele franziu o cenho, a pele branca e enrugada se distorcendo em uma careta de dor. Pensei em perguntar se ele estava passando bem, mas continuei calada. – Sim, eu me lembro. O que houve menina?! Saudades?!

    Engoli seco. Saudades?! Sim, demais. Mas eu estava viva, e tinha que continuar meu caminho. E desconfiei que Sr. Benjamin, talvez, estivesse imaginando que eu me arrependera de passar tantas noites com Edward. Poderia lhe criticar e lhe responder mal, mas eu sabia que essa era a função dele, a qual ele fazia muito bem, mesmo com seus setenta anos e trá-lá-lá. Era função dele observar quem ia e vinda dos apartamentos naquele edifício, então, mordi minha língua.

– Na verdade, eu quero viver. – vi um brilho intenso em seus olhos formando-se e encarando-me. Então, pensei que talvez ele fosse avançado demais para sua idade, moderno demais, vivo demais. – Sempre sentirei falta de Jacob mas...

– Pare! – olhei-o assustada. Ele jogou as cartas na gaveta do balcão de mármore claro e trancou-a, guardando a chave no bolso interno de seu uniforme sofisticado. Com a voz firme, ordenou ao seu aprendiz – um adolescente cheio de espinhas e com os cabelos pretos desarrumados, que parecia magro e desengonçado – que cuidasse da entrada do edifício por alguns minutos. E eu não entendia mais nada.

Empurrou-me gentilmente pelo saguão, passando pelas pessoas tão mortas e cinzas. Éramos arco-íris perto delas! Andamos até o pequeno café. Era um ambiente sofisticado e arejado. Como um cavalheiro, empurrou a cadeira para que eu me sentasse. E como uma dama, eu sorri e aceitei o lugar de bom grado. Lembrei-me de Edward, mas se fosse ele a oferecer-me um lugar, eu lhe questionaria o porquê daquela melação toda e não lhe sorria, a não ser, se fosse um sorriso cínico, daqueles dos quais ele mais gostava.

   O senhor de gentileza digna de outro século olhou contente e passou o cardápio.

– O cafezinho hoje é por minha conta! – sorri feliz e lembrei-me da vez em que o chamei para um cafezinho e disse a mesma frase.

– Obrigada. – agradeci como uma dama deve fazer. Eu podia ser louca varrida, desmiolada e sem noção, mas eu reservava em mim uma natureza um tanto quanto cavalheiresca, lotada até o topo por glamour do século passado. Aquilo não parecia pertencer a mim.

– Então, quer viver?! – o sorriso maroto voltou a sua face.

– Sim. Mas as roupas dele... – gaguejei. – Eu não posso mais tê-las, como se fosse ele que estivesse ali! Sou uma adulta e tenho um relacionamento com outra pessoa agora. Não dá mais para eu ficar procurando Jacob no meio de suas roupas, não dá!

    As mãos de Sr. Benjamin atravessaram a pequena mesa de mármore e seguraram as minhas com delicadeza, reconfortando-me.

– Queria lhe pedir para que me ajudasse. – olhei para a mesa, o silêncio se instalando entre nós dois, misturado com meu constrangimento.

– Se você quiser menina, conheço um lugar que recebem doações de roupas. – franzi o cenho.

– Como? – saí de meu transe, um pouco surpresa por aquele senhor ter adivinhado minha vontade.

– Ora, mas não queria se desfazer das roupas de Jacob? – o rosto de Sr. Benjamin se distorceu em confusão.

– Ah! Claro, claro! – lhe abri um sorriso. – Pode ser agora?!

– Bom, se não se incomodar em deixar as roupas aqui em baixo...

– Não! Claro que não! – não tentei diminuir o tom quando notei as pessoas me olhando com desprezo pelo meu pequeno escândalo. Mas Sr. Benjamin continuava a me fitar, com um sorriso feliz no rosto. Algo naquele sorriso me fez admirá-lo ainda mais.

    Minhas costas doíam terrivelmente enquanto eu puxava a mala lotada de roupas pelo corredor, a caminho do elevador. Logo, este se abriu e eu entrei, soltando um suspiro de alívio, tentando estralar minhas costas aparentemente travadas. Com um olhar desconfiado e amedrontado, meu querido vizinho nipônico, do andar de baixo, entrou no elevador e se encostou bem no cantinho, quase entrando no espelho.

– Boa tarde, senhor. – cumprimentei-o com um sorriso falsamente malicioso. Ou talvez, minha mente fosse mesmo criminosa. Ele se encolheu e balançou a cabeça como cumprimento. E até o térreo, o silêncio foi completo.

    A porta do elevador se abriu, e com as pernas curtas e ágeis, o japonês saiu correndo até a porta de entrada do prédio. Não pude evitar, no meio de tantos sentimentos embolados e confusos, eu ri.

– Obrigada, mais uma vez. – os braços magros e acolhedores de Sr. Benjamin me envolveram, e eu, incapaz de negá-lo, correspondi.

– Seja muito, muito feliz. – desejou-me, segurando meus braços e olhando fundo em meus olhos.

– Eu serei.

   Curada, era a palavras que deslizava em minha mente.

– Yeah, Branca! – pulei com minha cadela parecida com uma mancha de óleo. A culpa por ter esquecido-a com Alice parecia maior agora. Mas eu pensava muito naquilo. – Agora seremos muito felizes!

\t    Liguei o rádio, Elvis Presley no ultimo volume enquanto eu arrumava minhas novas roupas no closet, cantando para o meu retrato de casamento, vangloriando-me por não sentir o esperado remorso ao fitá-lo.

We've got to patch it up baby

(Nós temos que consertá-la, querida)

Before we fall apart at the seams

(Antes de cair e arrebentar pelas costuras)

We've got to patch it up baby

(Nós temos que consetá-la, querida)

In the time we travel in our dreams

(Na hora de viajar em nossos sonhos)

Let's go back and test it again

(Vamos voltar a testá-la novamente)

One more ride is all I ask

(Mais um passeio é tudop o que eu peço)

Get that feelin', that old feelin', it is here

(Obter essa sensação, esse sentimento de idade)

We can patch it up baby,

We can patch it up baby,

We can patch it up baby,

(Nós podemos consertá-la, querida)

Patch it up with all our dreams

(Consertar com nossos sonhos)

We can patch it up baby,

(Nós podemos consertá-la, querida)

Sweep out all the trouble of our heart

(Varrer todos os problemas do nosso coração)

We've got to patch it up baby,

(Nós podemos consertar, querida)

Before our difference pulls us apart

(Antes a nossa diferença nos puxa mais além)

Let's go where the good luck lies

(Vamos ir anode a sorte está)

Let us give it one more try

(Vamos dar mais uma chance)

Do you feel it? That old feelin'?

(Você sente isso? Aquele velho sentimento?)

Do you feel it?

(Você sente isso?)

http://www.youtube.com/watch?v=20VJ5S5J4b

    Berrei as músicas do - meu – rei do rock pelo apartamento, enquanto Branca, vezes balançava a cabeça, vezes uivava em conjunto à minha voz desafinada. Pulei pelo corredor, sentindo realmente o velho sentimento em mim. Felicidade. Pulei até meus pés doerem, sentindo-me leve, como se toda a carga de energias ruins tivessem saído de dentro de mim. Pulei, pulei, pulei. E caí, em frente à porta que eu mantinha trancada. Bom, ali eu havia percebido que não estava assim, tão leve.


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Notas finais do capítulo

Seeeei que demorei. Fui má por isso, mas tive meus motivos! Fim de ano é uma loucura por aqui. E sabe, fico feliz em estar postando.
*Para os fãs de Evidence Of The Crime, já estou terminando mais um capítulo. Até o final de semana, estará disponível.
*E para os que seguem Hipérbole, fiquem tranquilos. Este também já está quase pronto.
Obrigada por tudo, até mais. ♥