O segundo dia passou voando, como a semana. Os meninos estavam extremamente carregados de lições. Um diario para escrever sobre as estrelas por um mês em Astronomia. Uma redação sobre a nova poção que estavam aprendendo em Poções. Transfiguração estava indo de mal a pior para Alvo. Ele não conseguia fazer nada certo. Sorte de que era Sirius o professor. Tinham uma tarefa sobre História da Magia, que fez o Scorpius amaldiçoar continuamente o Prof. Binns. Com tantas coisas na cabeça, os problemas dos dias passados acabaram permanecidos numa gaveta bem guardada em seus cerebros. Havia passado exatamente um mês, quando Rose começou a ficar extremamente nervosa. Gabryl percebeu imediatamente, e passou para Scorpius, e Alvo a sua preocupação. Perguntaram continuamente a ela o motivo. E ela os repelia com grande grosseria, e as vezes com crises de choro. Scorpius decidiu então ir atrás de Severus, vulgo Morgana. Sem contar a ninguém, pegou "emprestado" a capa de invisibilidade de Alvo e saiu do salão comunal nas pontas dos pés.

Preocupado em acordar o castelo inteiro, foi andando devagar, no escuro. Ainda não sabia o feitiço mais básico, de acender a luz da varinha. Resmugou em voz alta, esquecendo por um momento de ser discreto.

- Ah, o que adianta saber atacar uma cobra, se nem para acender a luz da varinha eu sei?

E então Scorpius escutou ao seu lado uma voz de um velho, e assustado pulou para trás, e olhou rapidamente para ver o que era. Era um quadro de um velhinho sentado em uma cadeira com um charuto na boca.

- Menino, que horas são essas para andar no castelo?? - todos os quadros ao redor resmungaram por um momento.

Scorpius continuou andando ignorando o quadro. Subiu as escadarias pensando seriamente em pedir a diretora para criar um elevador, uma caixa metálica em que os trouxas entravam, para não subir escadas. Chegou extremamente cansado no quinto andar. Esperava que o professor não brigasse com ele. Localizou a armadura barulhenta, mas estranhou por ela estar quieta. Chegou perto e viu um pedaço de pano em torno da armadura. Deu uma risada silenciosa, e parou diante da porta da sala do professor. Levantou a mão, e se preparou para bater, quando escutou um barulho dentro da sala. Encostou o ouvido esquerdo na porta, e tentou escutar o que era. Pensou ouvir a voz de Tiago Potter, e a voz de Morgana. Pegou algumas frases aleatórias, que para ele não fez sentido.

- ... Está avisado Potter. Quando os ponteiros do relógio parar em meia-noite se eu não te ver...

-... Seja prudente. Eu não gosto de pessoas que falam a mentira...

Scorpius escutou passos indo em direção a porta, e correu para a virada do corredor. Chegou bem a tempo, pois escutou a porta sendo aberta. Olhou. Morgana estava com a mão na porta, e Potter estava saindo. Ele passou rapidamente pelo corredor, e virou para o outro. Não percebeu o vulto parado bem perto de uma estátua. Scorpius esperou ele ter ido mais para longe, e foi de volta para a porta do Severus. Incrivelmente, ela estava semi-aberta. Tirou a capa de invisibilidade. Scorpius empurrou a porta, e deu de cara com o professor sentado na mesa, com os braços cruzados. Scorpius se sentiu encabulado por um momento, e ficou olhando para baixo. Severus falou baixo. Rispido.

- Sente.

Scorpius sentou-se na cadeira. O professor olhou demoradamente para ele. E então perguntou.

- O que você estava fazendo espiando-me?

Scorpius engasgou. Tentou falar e não conseguiu por um tempo. Olhou para Severus, e ele estava parado da mesma forma que quando ele havia entrado. Mas seu rosto estava com uma expressão séria, quase que preocupada. Seus olhos estavam sem demonstrar nenhuma expressão, como um poço sem fundo. Um buraco negro.

Scorpius respirou fundo e tomou coragem.

- Professor, eu não estava te espiando - Severus levantou a sobrancelha, e Scorpius olhou para os seus pés, e percebeu que seus sapatos estavam desamarrados - Bom, foi só por um momento. Eu vim correndo aqui, pois eu precisava falar com o senhor.

Severus, sem esboçar nenhuma reação, continuou olhando para ele. Sua cabeça estava em tremenda desordem. A reunião anterior havia afetado tudo o que ele pensava. Não estava nem entendendo o que o menino a sua frente estava falando realmente. Apenas observava como ele era diferente ao seu pai. Sim, ele havia certa arrogancia, um ar de orgulho. Mas também havia sinceridade cravada em seus olhos. Voltou de seus devaneios, quando percebeu que Scorpius estava sem falar, apenas olhando para ele. Passou a mão pelos cabelos.

- Desculpe Malfoy. Eu estou cansado. Poderia repetir o que você veio fazer aqui?

Scorpius estranhou o professor a sua frente. Estava com um certo ar de fragilidade. Cansaço. Também, deveras, era uma hora da manhã. Falou novamente. Dizendo sobre a Rose. Dizendo que ela estava extremamente nervosa, que estava tendo crises de pânico, de choro. Disse que ela não queria falar o que estava acontecendo. Severus ficou preocupado, mas não demonstrou. Apenas dispensou-o falando que tomaria providencias sobre aquilo. O menino saiu com um ar de confusão, mas Severus não se deixou abater.Fechou a porta atrás de si.

Admirava a coragem de Rose em ir falar com ele. Admirava como ela estava segurando as pontas no mês inteiro que passou. Sabia que aquilo começaria de um jeito o de outro. Não era só ela que estava a ponto de explodir. Estava sendo dificil para ele também. O que eles haviam descobrido juntos havia afetado os sentimentos dos dois. Severus sentiu uma lagrima descer por seu rosto, e então deixou aquela muralha contra os sentimentos se derrubar, por um momento. Sua mente resgatando uma lembrança de doze anos antes.

Scorpius havia saido da sala do professor angustiado. Percebera o quanto Severus estava tenso. Andou por um momento, quando sentiu alguém puxar sua mão. Assustado pela segunda vez naquela noite olhou para o lado, e se deparou com Tiago Potter. Se preparou para sair correndo, mas Potter apontou a varinha para ele e colocou o dedo na boca, em forma de silêncio. O empurrou para perto da parede e murmurou.

- O que você estava fazendo lá, Malfoy?

Scorpius murmurou de volta.

- E você?

Tiago Potter respirou fundo. Olhou para os lados.

- Não sei o que está dando em mim. Mas, eu preciso te mostrar uma coisa. É importante.

Scorpius ficou curioso. Afinal, não era sempre que seu inimigo falava normal com ele.