Helena odiou a nova escola. As pessoas não foram simpáticas e ela não fizera nenhuma amizade.

Resolvera pedir a mãe para trocá-la de colégio. Queria estudar no Ph e se tivesse sorte, ficaria na mesma sala de Pierrot.

- Não sei se vou conseguir, Naná. Já foi muito difícil conseguir te matricular em setembro. Contudo, prometo tentar! - falou a mãe dela quando a garota tocou no assunto.

A catarinense passou a tarde inteira escolhendo a roupa que usaria. Era seu primeiro ensaio numa banda e precisava estar linda.

Escolheu uma bermuda jeans surrada e ultra confortável e colocou o seu inseparável allstar preto e sua nova blusa do Frank.

Estava tão nervosa que acabou chegando meia-hora mais cedo.

- Oi! - Manu disse ao vê-la. - Como foi o primeiro dia de aula?

- Horrível! Pedi pra minha mãe me trocar de colégio. O que tu está fazendo? - perguntou ao ver a garota voltar ao computador.

- A Bárbara escreveu uma canção e estou deixando a música cifrada pra entregar uma cópia pra cada garota poder ensaiar.

- Quando eu fizer uma tu também cifra?

- Claro! - respondeu Manu sorrindo. - Você gosta de escrever?

- Sim, mas nunca gosto do que escrevo... Parece texto de uma criança de cinco anos.

Pierrot riu bastante.

- Não tem graça. - comentou Helena ficando levemente corada. - Isso é triste...

A carioca riu ainda mais, deixando a mais nova irritada.

- Desculpa! - pediu Manuella depois de um tempo.

- Não! - falou a outra magoada.

A vocalista ficou séria.

- Não estava rindo de você, Helena. Estava rindo da situação.

- Que situação? - perguntou ela sem estar convencida.

- Eu acho a mesma coisa dos meus textos. Minhas amigas vivem me dizendo que minhas histórias são toscas e bobas e concordo com elas... Parecem de uma criança de cinco anos, mas mesmo assim tem gente que lê... Viu? Não somos tão diferentes assim. - comentou sorrindo.

A catarinense relaxou e sorriu também.

- Estou perdoada? - a mais velha perguntou manhosa.

- Sim. - respondeu a outra no mesmo tom e logo depois ganhando um beijo estalado na bochecha que a fez corar novamente.

- Agora é só imprimir e a gente vai pra garagem... - disse Manu mudando de assunto.

Helena adorou a garagem que na verdade parecia um salão de festas de tão enfeitado. Estava muito limpo e muito bem cuidado. Nas paredes tinham pôsteres de bandas famosas e quadros com fotos das garotas.

- Essa moreninha é a Letícia, a loira de cabelo liso é a Cínthia., essa sou eu, essa ruiva é a Roberta, a ex guitarrista da banda e essa branquela de cabelo cor de carvão - falou rindo. - é a Bárbara.

- Ela tem cara de má!

Manu explodiu numa gargalhada e a outra que já estava se acostumando com essas "explosões" apenas sorriu.

- Tem mesmo, mas é a melhor pessoa que eu conheço, faz tudo para ajudar os amigos. Tem o maior coração do mundo, como te disse ontem.

- Essa Roberta é ruiva de nascença? - perguntou desconfiada.

- Você tem um bom olho. Não, ela tinha cabelo preto, porém pintava porque achava estiloso. Isso me lembra que quero te pedir desculpas mais uma vez por ontem. Sei que estraguei tudo. Queria que aquela noite tivesse sido perfeita pra você... Por isso, resolvi te compensar. - comentou misteriosa.

- O que tu tá querendo fazer? - perguntou a mais nova preocupada.

- Você tem alguma foto 3x4 por ai?

- Sim, pra quê?

- Ah, isso é surpresa. - respondeu enigmática enquanto recebia a fotografia.

Naná não teve tempo de "exigir" uma explicação porque o resto da banda chegou naquele momento.

- Olá, garotas! - cumprimentou Manu. - Essa é a Helena.

Cínthia que amava o Frank se apaixonou pela camiseta e foi logo cumprimentá-la.

- Finalmente alguém que gosta do MCR nessa banda! - exclamou alto. - Elas são umas idiotas por não gostarem, você não acha? - emendou baixinho. - Meu nome é Cínthia e eu sou a baixista. - comentou.

- Ei, o que você disse baixinho pra ela? - perguntou Lê enquanto cumprimentava a catarinense. - Sou Letícia, a tecladista. Muito prazer.

- Apenas disse a verdade. - respondeu Cínthia enquanto tirava seu instrumento da capa. - Disse que vocês são um bando de idiotas. - continuou começando a rir alto.

As garotas se olharam e acabaram por rir também.

- Elas são todas malucas, né? - perguntou a baterista. - Olá, meu nome é Bárbara, mas todos me chamam de Babi.

- Então vou te chamar de Babs. - respondeu Helena sorrindo. - Eu acho muito mais bonito. - explicou.

- Gostei de você! - a menina comentou começando a sorrir também.

- Desculpa atrapalhar o papo - Cínthia interveio. - mas estou morrendo de curiosidade para saber como a Helena toca.

Dizendo isso todas as garotas se sentaram e olharam para a guitarrista que corou levemente.

- Vai lá, pega a tua guitarra! - incentivou Letícia.

- Não vai me dizer que você só sabe tocar para a Manu! - falou Cínthia pondo fim ao "cessar fogo".

A catarinense, dessa vez, corou completamente e a vocalista veio salvá-la.

- Cala a boca, Cínthia! A Helena não deve estar acostumada a ficar tocando pra um monte de gente. Quer que eu vá cantando pra te acompanhar? - perguntou solidária.

- Quero, Pierrot! - disse ela se virando para pegar o seu instrumento e ficando sem ver a cara de espanto das outras garotas.

Manuella podia praticamente ouvir os pensamentos das amigas: "Ela falou Pierrot mesmo? Mas se a Mamá é Pierrot, então ela é a Colombina? Elas estão tendo alguma coisa?"

A vocalista suspirou. Aquele comentário acabaria com as piadinhas naquele ensaio, porém traria muita dor de cabeça quando estivesse no colégio.

- Toma essa cifra aqui. Assim começamos ensaiando a nova música. - disse Manu em tom indiferente.

Naná olhou pras outras garotas e soube que não deveria ter chamado a vocalista de Pierrot. Imaginou que deviam estar pensando que ela só estava ali por estar tendo algo com Manu e ficou envergonhada. Sua vontade era sumir dali o mais rápido possível.

- Apenas toque! - sussurrou a carioca. - Mostre o teu talento e elas vão te aceitar novamente. - comentou em tom baixo.

Aquilo lhe relaxou. Manuella não estava chateada, pelo contrário, estava ao seu lado e isso te deixou mais segura.

Ela começou a tocar e logo depois a vocalista começou a cantar.

Aqui recomeço tudo de novo
Pra você setembro pra mim ano novo
Não esperava que fosse assim
Você que foi sempre tão insegura
Passando uma imagem que nunca foi sua
Vivia com medo e não sei por quê?
Agora finge que não pode me ver

Não me olhe desse jeito
Como alguém que nunca me viu
Se não me reconhece
Pra mim você nunca existiu

Ás vezes sozinha, deitada no quarto
Eu lembro de quando fizemos um trato
De você nunca me esquecer
Te dei todas provas de amor que pediu
Você não se lembra será que não viu
Me diz se a culpada de tudo fui eu
Sempre dei mais do que você mereceu

Não me olhe desse jeito
Como alguém que nunca me viu
Se não me reconhece
Pra mim você nunca existiu

Não sei quem é você e nem mais quantas são
Seus olhos não podem me ver por que está cego seu coração

As outras três sorriram. Mamá não era mentirosa, Helena era realmente excelente.

- Você toca como o Frank! - comentou Cínthia toda animada. - Só precisa mudar seu visual...

- Cínthia - as outras três falaram em uníssono.

- Mas isso pode ficar pra depois... - ela completou envergonhada.

Helena apenas riu do jeito da loirinha.

- Viu, ela não se importa. - comentou Cínthia triunfante. - A partir de agora você é a minha colega de banda favorita. - disse dando-lhe dois beijinhos.

- Manu não mentiu. Você é excelente, Helena. É fantástica como ela mesma disse. - comentou Letícia.

- Ela disse isso? - perguntou a catarinense surpresa e muito feliz.

- Sim. - respondeu Babi mal humorada. - Você toca bem mesmo.

- Essa sua música é linda, Babs. Parabéns! - a guitarrista falou fazendo a garota sorrir.

- Obrigada, Helena. - disse num tom mais doce e a olhando profundamente.

- Chega de conversa pessoal! Vamos ensaiar! - pediu Manu.
- Calma! - gritou Cínthia. - Primeiro quero saber por que a Babi fez uma música como essa.
- É verdade... - comentou Letícia. - Por que uma música tão amarga?

A baterista abaixou a cabeça e suspirou. Tava na hora de abrir o seu coração para as melhores amigas.
- Tenho uma coisa pra contar. - ela disse. - Estou solteira!

As garotas logo passaram a lhe dar total atenção e ela continuou:

- Há algum tempo que não estava dando certo. Fui deixando e deixando, mas cansei.

- Nunca gostei daquela garota! - falou Cínthia solidária.
- Não existe chance de reconciliação? - perguntou Letícia.

- Nesse momento não.

- Mas você a amava tanto... - comentou Manu.

- E ainda amo, eu acho. Nossa relação estava desgastada e pra gente não sofrer mais era melhor terminar. A Vanessa mudou muito nesses últimos meses, se a gente continuasse namorando íamos acabar nos odiando.

- E quem deu o pé na bunda? Você ou ela?

As garotas riram com a pergunta de Cínthia.
- Comecei a discutir com ela, que me disse coisas desagradáveis. Então me virei e fui embora. Isso foi na sexta a noite e até agora a gente não se falou. - comentou tristemente.

- Então deixa pra lá, amiga... A vida continua... Ou pelo menos foi isso que vocês sempre me disseram. - falou a vocalista conseguindo algumas risadas e deixando o clima mais leve.

Elas ensaiaram suas músicas e as de outras bandas e depois de duas horas o ensaio terminou.

Cínthia e Letícia foram embora com seus namorados e Babi, que morava muito perto de Helena, a acompanhou.