O tão esperado dia da formatura finalmente chegou e com ele o irmão mais velho e o pai de Helena. Todos estavam ansiosos para a verem tocar. Em todos os emails e ligações que trocaram, ela comentou o quanto estava feliz com a banda, mas ninguém pensou que o nervosismo com o público pudesse subir a cabeça da guitarrista, que havia acordado às 6 da manhã, e, até chegar à escola, parecia ter tomado umas duas garrafas de café.

– Nossa, que droga você tomou pra estar desse jeito?? - perguntou Manuella vendo o estado da amiga.

– Formatura. Último dia de aula. Festa. Banda. Palco. Irmão. - respondeu a mais nova respirando fundo para não responder tudo de uma única vez.

– Hey, calma. Vai sair tudo bem. Nós já sabemos as músicas de trás pra frente. Vem, vamos até a lanchonete tomar alguma coisa pra te acalmar... – disse a vocalista, solícita.

– Já tomei café... - respondeu a catarinense enquanto mexia freneticamente nos botões da manga de sua camisa.

– Não foi um convite, foi uma ordem. - rebateu Manu, carregando-a até a lanchonete.

Chegando lá, as duas encontraram o resto da banda, e que, para o alívio de Manu, estavam bem menos nervosas com a apresentação do que Helena. Cínthia e Letícia conversavam sobre alguma prova enquanto Bárbara parecia muito entretida com algum de seus desenhos.

– Alguém pelo amor de Deus peça um suco de maracujá pra essa menina... – pediu Pierrot enquanto brigava com a guitarrista para que ela se sentasse.

– Mas o que aconteceu? – perguntou Letícia enquanto Cínthia ia buscar o suco.

– Ansiedade... – respondeu a mais velha enquanto bebia o suco da baixista e lhe roubava alguns biscoitos.

– Aqui seu suco.

– Não precisa ficar assim, finja que é apenas mais um ensaio, que estamos lá na garagem, e tudo vai ficar bem... – disse Bárbara para a ex-namorada, o que fez com que a guitarrista finalmente parasse de batucar na mesa e olhasse assustada para Manu, que respondeu com um sorriso.

– Ahm... Acho que ouvi o sinal, Letícia, vamos ver se conseguimos vender mais alguns convites... – disse Cínthia percebendo que as meninas precisavam ficar sozinhas

– Claro, quase que me esqueço. – ela comentou enquanto se levantava da cadeira e pegava o pacote de biscoito das mãos de vocalista.

Mal as meninas saíram e Babi pulou da cadeira.

– Eu também lembrei que tenho que entregar alguns trabalhos a uns professores. – resmungou, partindo em seguida.

Manuella apenas olhava para a amiga, que parecia um tanto quanto decepcionada ali na mesa.

– Eu ia levantar agora... Mas ela foi mais rápida... – tentou se desculpar.

– Acha que eu ainda tenho alguma chance? – perguntou Naná sem prestar atenção ao que a mais velha tinha dito.

– Uhum. Só acho que vai ter problemas pra conseguir ficar sozinha com ela, como nós acabamos de ver. – Manu percebeu que seu comentário só entristeceu ainda mais a amiga. – Tive uma idéia. Vamos pra sala que a aula já vai começar e no caminho eu te conto...

– Okay. – respondeu Colombina um pouco mais animada em saber que podia contar com o apoio da amiga.

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Helena chegou em casa desesperada. O plano da escritora era bom, mas ela não acreditava que podia dar certo. Babi estava tão distante, que ela já estava desistindo de tê-la novamente.

– Confia em mim... – tinha dito Pierrot. – Tenho certeza que ela vai amar. Você só precisa escrever e do resto cuido eu.

– E se eu não conseguir? – perguntara amedontrada.

– Você a quer? Então coloque tudo que sente nessas palavras. E me mande por email o mais rápido possível.

Se tinha alguma chance, Colombina não poderia desperdiçá-la. Pensando assim, correu para o seu quarto e rapidamente escreveu um poema com tudo o que queria dizer para a baterista e não conseguia oportunidade. Entusiasmada, mandou para a amiga e foi se preparar para o baile de formatura.

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O salão de festas estava ricamente decorado. As pessoas não paravam de chegar e a pista de dança já começava a ferver ao ritmo de um DJ badalado, contratado para tocar nos intervalos da cerimônia.

As meninas logo se reuniram e começaram a comentar sobre a festa e sobre as roupas, como típicas adolescentes.

– Cadê a Babi que não chega? – perguntou a catarinense ansiosa.

– Calma, ela já deve estar chegando. – disse Letícia.

– Oi, gente! – Manu falou ao encontrar as amigas. – Você está linda, Helena! – comentou dando um pequeno sorriso.

– Você também. – a outra disse sem perceber o tom um pouco triste da mais velha.

– Pronto, Naná. A Babi chegou. – disse Cínthia.

– Desculpem o atraso pessoal. Minha irmã não me deixou em paz enquanto não permiti que ela me maquiasse.

– Fecha a boca pra não entrar mosca... – comentou a baixista bem baixinho no ouvido da guitarrista.

– Você viu como ela está linda? – perguntou bobamente.

– Sim, eu vi. Mas não dê bandeira. Quero ver como ela vai reagir à surpresa.

– Você ficou sabendo?

– É claro! E adorei a letra, você escreve cada poema!

– O que vocês tanto cochicham? – perguntou Babi, curiosa.

– Estamos comentando como te fez bem obedecer a tua irmã. Você deveria fazer isso mais vezes. Está linda!

– Alguém me belisque! – brincou a baterista. – Pela primeira vez na vida a Cínthia disse que estou linda! Isso é um sonho?

Todas caíram na gargalhada.

– Olá, meninas! – disse a diretora. – Finalmente você chegou, Bárbara. Vamos, a cerimônia de entrega dos diplomas vai começar.

As cinco meninas acompanharam a diretora e se juntaram aos outros alunos. Muitos choraram, muitos brincaram com os professores, foi um momento muito único na vida de cada um dos formandos.

Manu tinha sido eleita a oradora e fez um discurso muito bonito, deixando muitos com lágrimas nos olhos ao relembrar de como Roberta estaria feliz se estivesse ali.

– E pra terminar esse discurso que já ficou muito longo... – ela disse. – Quero agradecer ao colégio por nos permitir tocar aqui. É uma grande honra para mim e para o resto da banda. Espero que todos vocês gostem do nosso som.

O público aplaudiu e em 15 minutos elas começaram a tocar.

Helena, que estava visivelmente nervosa, foi relaxando e após a segunda música já estava totalmente relaxada.

– Quem diria que a minha irmã tocaria tão bem, né? – disse o irmão da catarinense para a mãe.

– Ela aparenta estar muito feliz. – comentou o pai. – E essas meninas tocam muito bem.

– Sim, são todas muito boas. – emendou Heloísa.

O público estava adorando o show e muitas vezes cantavam as letras com Manu. Definitivamente, aquele era um dia inesquecível para essas cinco garotas.

– Bem, gente! – disse a vocalista ao término de uma música. – Vocês não tem noção de como estamos felizes por tocar aqui esta noite. E queríamos a colaboração de todos vocês. Peço que me acompanhem nessa próxima canção acendendo fósforo ou isqueiro, ou então o teu celular. Essa próxima música foi feita pela nossa guitarrista, a Naná e é dedicada a uma pessoa muito especial que está aqui essa noite.

– Que música é essa? – perguntou Babi sem entender nada.

– Apenas escute. – disse Cínthia.

Letícia começou a tocar o seu teclado e logo uma melodia suave e um pouco triste começou a soar no salão de festas.

Manu fechou os olhos e deixou a sua voz sair.

Minha vida, minha história
Só fez sentido quando te conheci
Seus olhos, sua face
Me levam além do que pensei

Se às vezes me escondo
Em você me acho
Nem dá pra disfarçar
Preciso dizer você faz muita falta
Não há como explicar

Foi sem você, que eu pude entender
Que não é fácil viver sem te ter
Meu coração me diz que não
Que eu não consigo viver sem você...

A baterista não sabia dizer se as lágrimas que insistiam em escorrer incansavelmente pelo seu rosto eram devido à escuridão do salão, combinada com a iluminação fraca dos refletores e com a luz vinda da platéia, que tinha atendido ao pedido da vocalista, e tornava aquele momento ainda mais encantador. Se eram por causa do tom de voz tão triste de Manu, que tinha deixado aquela letra ainda mais sofrida ou se era conseqüência daquela letra tão linda que Helena escrevera.

Quando a música terminou, uma salva de almas bem demorada invadiu o silêncio que tinha sido criado.

– Muito obrigada! – disse Manu com a voz embargada. Gostaria de chamar a Naná para que desse algumas palavrinhas. Por favor, uma salva de palmas para a nossa guitarrista!

Colombina, apesar de muito envergonhada, deu um passo a frente e pegou o microfone enquanto as pessoas aplaudiam.

– Muito obrigada, gente. Estou muito nervosa, então peço que me desculpem se fizer ou falar algo errado. Cometi um erro com uma pessoa que é muito importante para mim e foi por isso que escrevi essa canção. Eu quero o perdão dessa pessoa porque já não sei viver sem o amor dela. Eu fiz essa canção para você, Bárbara! – ela disse se virando para a baterista que ainda não tinha parado de chorar. – Eu te amo como jamais pensei amar alguém e não me importo com o que as pessoas possam dizer. Me perdoa, Bárbara? Volta pra mim? – pediu com lágrimas nos olhos.

Um silêncio profundo se instalou no salão. Ninguém sabia o que dizer diante de uma revelação daquele tipo.

E então, surpreendendo à mulher e ao filho, o pai de Colombina começou a gritar:

– Volta, volta, volta!

Logo, muitas pessoas aderiram e um coro bem forte continuou gritando:

– Volta, volta, volta!

Sem se importar com o que as pessoas diziam, a guitarrista chegou um pouco mais perto da ex-namorada e disse:

– Eu te amo mais que tudo! Volta pra mim?