Ilusões, Tentativas e Recomeços escrita por gataportuguesa, Darknana


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos à Sara Lecter pela ajuda no capítulo^^
Brigadão, Sara!!



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Segura, a mais nova se afastou por um instante, apenas o suficiente para olhar para os lados e se certificar de que não havia mais ninguém por perto. Tirou a própria blusa e voltou aos lábios da carioca, que com habilidade impensada para seu estado alcoólico girou seu corpo se colocando sobre Helena para beijar seus seios recém descobertos.





– Eu já disse que você não deveria esconder esse corpo com aquelas camisetas. – disse, retomando a carícia.





Helena apertou seus olhos com força e deu adeus à última parte de si que poderia fazê-la desistir. Afagou as costas de Manuella, correu as mãos por baixo de sua blusa e riu baixinho.





– Eu sempre quis fazer isso.





– Sempre quis fazer amor comigo?





– Também. Mas estava falando sobre arranhar as costas de alguém.





A vocalista riu, ergueu seu corpo, livrou-se da blusa e de sua calça e se deteve no zíper do jeans de Helena, notando pela respiração dela que a iminência do que estava para acontecer a deixava apavorada.





– Confia em mim. – disse ao seu ouvido, um pouco antes de deixar a amiga completamente nua e de percorrer seu corpo com carícias que estavam guardadas há muito tempo.





Helena esqueceu completamente onde estava e ignorou todos os riscos. Procurava não gemer muito alto para não chamar a atenção – embora as pedras lhes encobrissem completamente – mas temia que sendo discreta demais não daria à outra a dimensão exata do prazer que estava sentindo. Pensando melhor, viu que Manuella jamais conseguiria ter idéia do que ela sentia. Quando finalmente conseguiu relaxar completamente, muito mais por méritos da garota do que seus, começou a pensar no desfecho do que acontecia, no que a outra esperava que ela fizesse. Compreendeu, amedrontada, que o grande passo, a grande barreira que teria de transpor e o ponto onde sua inexperiência seria realmente testada era o momento em que teria de dar a outra pelo menos um pouco do que ela lhe oferecia. Até aquela noite achava que o mais difícil seria enfim confiar em alguém o suficiente para se entregar. Diante de uma Manu, exausta e extasiada, por pouco não entrou em pânico ao constatar que o que acabara de acontecer era infinitamente mais fácil do que assumir para si mesma que a outra também estava entregue e que ela teria de fazer algo a respeito. A partir dali, além do amor e do prazer físico, Helena poria à prova seu orgulho e passaria por cima de um medo muito mais prático: dar à escritora a impressão de que ela não a amava ou não a desejava o suficiente. Aquele medo era mais substancial que o de perder a admiração e o carinho da amiga...





Pierrot parecia cansada quando se deitou, na areia, ao lado de Helena, mirando o céu. Helena não demorou muito para voltar a beijá-la, nos lábios, nos seios, na barriga, qualquer parte da pele da garota que estivesse ao seu alcance. Sorriu e tentou encontrar os olhos da outra, mas eles estavam encarando o céu, ainda, e seu rosto parecia petrificado em um sorriso. Beijou-lhe a coxa e a mais velha finalmente reagiu, um tanto nervosa, mas estranhamente alheia. Helena, no entanto, estava preocupada demais com seus próprios medos para perceber qualquer coisa de anormal nas reações de Manuella e se deu por satisfeita quando percebeu que na medida do possível fazia tudo certo e que a carioca estava claramente sentindo prazer. A confiança necessária lhe veio aos poucos, assim como o conhecimento sobre o corpo da outra e sobre o que a agradava mais ou menos.





– Eu te amo...





Naná achou que fosse perder o controle e começar a chorar quando ouviu a frase deixando os lábios da amiga, entre um gemido fraco e outro. Ela estava ofegante e repetiu aquilo outras três vezes, na última delas fazendo a mais nova perceber que a levara ao clímax.





– Eu também amo você, Manu. – disse Helena, deitando sobre seu ombro e acariciando o braço da outra que pousara sobre o próprio corpo. – Tá tudo bem?





– Tá tudo ótimo, Beta. Eu sabia que você nunca tinha me deixado...









Manuella não tinha certeza se estava acordada ou não. Viu o sol forte entrando pela janela, mas não fazia idéia de onde estava. Sua cabeça doía, sua visão estava turva, seus ouvidos nada captavam e seu corpo parecia incapaz de reagir. Fechou os olhos e perdeu a consciência. Acordou algum tempo – não sabia quanto – depois, o sol estava ainda mais forte e ofuscou seus olhos, que ela apertou com força se arrependendo logo em seguida, sentindo uma pontada tão forte que urrou de dor e sentiu um gosto amargo que vinha do estômago, subindo pelo esôfago e chegando no fundo da garganta sem que ela pudesse contê-lo. Ergueu o tronco e se surpreendeu ao ver um balde ao lado da cama, quase pela metade. O vômito lhe deu efêmera sensação de melhora e mais uma vez ela perdeu a consciência. Acordou pela enésima vez sentindo seus dentes ásperos, a dor de cabeça ainda mais aguda e o sol um pouco menos brilhante. O aroma de café lhe deu alguma coragem e ela encarou a garota em pé que lhe alcançava uma caneca.




– É melhor você beber isso. – ela aguardou alguns instantes e como a carioca não reagiu, emendou: - Quantos dedos têm aqui?





– Não sei... quatro?





– Dois.





– Onde estou?





– Meu quarto. São duas da tarde.





– O quê!? – a vocalista se levantou bruscamente e logo se arrependeu, completamente tonta. – Caraca, eu morri e não me avisaram.





Helena não respondeu e a outra percebeu que ela estava séria, o que não era comum, e que fugia do seu olhar – o que era ainda mais estranho. Buscou em sua memória alguma explicação para o comportamento da mais nova, contudo a última coisa que lembrava era da aula de música na praia, durante a tarde. E então lembrou do beijo e por alguma razão seu subconsciente avisou que havia mais o que recordar.





– Bebe o café, Manu.





– Eu dormi aqui?





– Sim.





– Preciso ir.





Mais uma vez a catarinense não disse nada. Deu um passo para o lado e apontou o caminho da saída. Pierrot não soube o que dizer, procurou por uma bolsa ou mochila que porventura tivesse trazido – e se esquecido – mas nada encontrou. Apenas as coisas de Helena.





– Tchau, Naná.





Ao ver que a porta se fechara e que estava novamente sozinha, a garota caiu no chão e assim ficou por um longo tempo. A dor que dilacerava seu pequeno coração não permitia que ela se mexesse nem por um segundo. A lembrança de cada toque da amiga ainda estava presente em seu corpo e ela se viu dividida entre tomar banho para arrancar de si as digitais da carioca ou permanecer ali parada, tentando não apagar o momento mais lindo e mais decepcionante de sua vida.





Agradeceu por sua mãe não estar em casa e poder ficar sozinha naquele momento pois apenas a reclusão poderia lhe devolver um pouco da paz de espírito que perdera naquela praia.





Aos poucos, a lucidez foi voltando e ela finalmente se levantou. Procurou a lista telefônica e discou um número até então desconhecido. Depois tomou banho e se esfregou o máximo que pôde, apagando todos os vestígios externos do que acontecera na noite anterior e sabendo que não seria tão fácil apagar os vestígios que ficaram na sua alma e no seu coração.





Abriu o armário, pegou algumas roupas e as jogou numa pequena mala. Em seguida, procurou uma folha de papel e uma caneta e se deitou após encontrá-las.











Manuella quase desmaiou dentro do ônibus. Ainda estava enjoada e o sol forte não ajudava em nada. Depois de algum tempo tentando manter a cabeça erguida e os olhos abertos começou a lembrar, em flashes confusos, do que acontecera depois do beijo na praia. Lamentou a péssima escolha da garrafa de uísque e teve finalmente a resposta para a ressaca. Só lembrava-se de ter chegado à praia, o resto era um branco total.





Chegou em casa e tomou um banho demorado, sentindo-se miserável. Os pais não estavam e ela agradeceu por isso, não conseguiria trocar nem duas palavras com eles, pensava apenas em seu travesseiro, em poder fechar os olhos, em não precisar lembrar-se de nada. Havia, entretanto, a estranha sensação de que fizera uma besteira das grandes, talvez a maior da sua vida.



Olhou a guitarra que ganhara de Beta e mais um flash se formou em sua mente. Julgou estar ficando maluca, mas podia jurar que a ex-namorada passara a noite com ela. Como então acordara no quarto da amiga? Deitou em sua cama, fechou os olhos e dormiu profundamente pelo resto da tarde, acordando com a volta dos pais. Quando despertou já conseguia lembrar-se de como chegara à praia, com a bebida.





– Filha, precisamos conversar. – disse-lhe a mãe, batendo à porta.





– Entra, mãe.





– Manuella, você quer nos matar de preocupação?





– Eu... – ela não fazia idéia do que dizer.





– Se a sua amiga não tivesse ligado nós teríamos chamado a polícia!





– Amiga? Ligado?





– A Naná. Ela não te avisou?





– Ah, claro. Sim.





– Manuella?





A escritora conhecia aquele olhar de sua mãe. Ela sabia detectar suas mentiras.





– Eu bebi demais. – começou, devagar. – Acho que a Naná me levou para a casa dela. Eu me senti mal, acabei dormindo por lá.





– Só isso?





– Sim.





– Iria me contar se fosse mais alguma coisa? Sabe que pode confiar em mim, não sabe?





– Claro, mãe.





Embora tivesse conseguido ser convincente, Manuella não parava de pensar na estranha lembrança de que estivera com Roberta naquela noite. Mais do que isso, poderia quase afirmar que transara com a ex-namorada, o que era tecnicamente impossível. Depois que a mãe deixou o quarto ela forçou sua mente o quanto pôde, até que sua dor de cabeça voltasse. Foi inútil. Lembrava apenas dos beijos e carícias de Beta e concluiu que fora um sonho, como tantos outros que tivera com ela desde sua partida definitiva. Apanhou o telefone e voltou para a cama.





– Alô?





– Naná?





– Oi, Manu. Tá se sentindo melhor?





– Hum... Mais ou menos.





– Eu gostaria de poder receitar algo para ressaca, mas não sou muito boa nesse assunto.





– Ouvir a sua voz me parece um ótimo remédio. – Manuella não sabia que ao ouvir aquilo, Helena prendera a respiração por muito tempo. – Naná, mamãe contou que você ligou pra cá. Quando acordei estava tão mal que nem lhe agradeci. Quer dizer, eu não me lembro de nada, mas é óbvio que você me levou da praia para a sua casa e deve ter agüentado minhas chatices de bêbada por horas.





– Eu achei que isso era melhor do que bater na casa dos seus pais altas horas da noite e lhe entregar naquele estado.





– Nunca fiquei tão mal... Nunca... Sei lá. Acordei com uma sensação estranha.





– Vai passar. – disse a mais nova, vagamente.





– Tá tudo bem com você?





– Sim.





– Não parece.





– Sono.





– Não é tão tarde.





– Dormi pouco.





– Tá monossilábica.





– É o telefone.





– Hum.





– Era só isso, Manu?





– Quer desligar?





– Quero.





– Posso ir praí?





– N... Sim. Mas-





– Até daqui a pouco.





A vocalista vestiu a primeira roupa limpa que encontrou e apanhou as chaves da moto.





– Manuella, aonde você vai? – perguntou a mãe, ao vê-la sair intempestivamente.



– Explico depois. Tchau.





– Manu! Filha, espera!





Mas já não adiantava. Era tarde demais...








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Notas finais do capítulo

hihihi... reviews, galera,^^