Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 10
IX - Medidas desesperadas


Notas iniciais do capítulo

hello!!

trazendo o 9º capítulo para vocês...

Boa leitura!!



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Capítulo IX – Medidas desesperadas

 

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- Não se esqueça de fechar a loja às dezoito horas em ponto. – repetiu minha mãe mais uma vez.

 

- Tudo bem, mãe, a loja estará fechada as dezoito em ponto.

 

Tratei de empurrá-la porta afora, minha mãe já me lembrava disso pela vigésima vez. No carro Bill a esperava. Ele praticamente não escondia a sua felicidade por levá-la até Suncook e depois na terça-feira seguinte, buscá-la em uma Hospedaria lá.

 

Minha mãe virou-se para mim uma última vez, os olhos cautelosos.

 

- E nada de ficar até tarde acordada. Quero você na cama as vinte e duas horas. Nada mais do que isso. Estamos entendidas?

 

- Sim, senhora. – concordei de imediato com as suas condições.

 

- Ótimo. – murmurou ela – E assim que eu partir, quero que a senhorita pegue o caminho para a escola. E só use o carro em última necessidade.

 

- Tudo bem.

 

Minha mãe olhou para minha figura parada na soleira da porta uma última vez e depois se lançou em meus braços. Eu sabia que ela não iria resistir ao seu lado sentimental por muito tempo.

 

Afaguei seus cabelos tão lisos quanto os meus e depois dei um beijo casto em sua testa.

 

- Eu ficarei bem, mãe, não se preocupe.

 

Minha mãe sorriu só um pouco, depois beijou o alto de minha cabeça e assim partiu, entrando no carro, ao lado de Bill, que não escondeu a sua satisfação por isso.

 

Acenei para ela, enquanto o carro dava a partida e desaparecia no fim da rua. Suspirei, fechei a porta, lançando-me escada acima.

 

Eu ainda tinha que terminar de me vestir para ir à escola. Abri meu guarda-roupa, escolhendo uma blusa de cor salmão, com botões na frente, e a vesti por cima de minha blusinha de alças finas, branca.

 

Escovei meus cabelos mais uma vez e fitei-me diante do espelho. Eu estava pronta.

 

Apanhei minha mochila e disparei escada abaixo, passando pela porta e trancando-a. Segui a pé para a escola, a advertência de minha mãe ainda soava clara aos meus ouvidos; só usar o carro em último caso. E eu o usaria, não agora, mas sim quando tivesse de por meu plano B em ação.

 

O trajeto como sempre foi silencioso, embora a cidade ainda estivesse despertando. Havia um sol tímido, brilhando no horizonte naquela manhã. Mas tudo indicava que mais tarde iria esquentar um pouco.

 

Logo já estava na frente abarrotada da escola. E então avistei a figura alegre de Tamara acenando para mim do meio da multidão.

 

Ela correu até mim, completamente sorridente e radiante. Depois sem a menor cerimônia, abraçou-me, e um abraço muito apertado. De onde ela tirava tanta força?

 

- Er, Tamara, estou sufocando... – a adverti e ela afastou-se de mim, ainda sorrindo.

 

- Desculpe, senti sua falta! – disse ela, praticamente saltando de felicidade.

 

Dei um meio sorriso para ela e depois olhei para a frente abarrotada da escola.

 

- Vamos? – perguntei-lhe, e ela sorriu novamente, enganchando no meu braço como no dia anterior e contando-me cada detalhe do que ela fizera nesse meio tempo em que não nos vimos.

 

 

 

 

A aula seguiu-se novamente como de costume, lenta, tediosa. E tudo o que eu conseguia ouvir era Tamara falando-me de como seria empolgante nós duas observarmos os meninos treinando futebol.

 

Eu tentei demonstrar algum entusiasmo, mas tudo o que eu conseguia imaginar era um bando de idiotas exibindo-se descarados.

 

Eu não olhei para Aidan também. Depois do que ele me disse ontem, eu ainda não havia recuperado a minha coragem para encará-lo face a face.

 

Então, concentrei-me apenas em verificar se cada detalhe do meu plano ia ter sucesso e depois de muito analisar tudo mentalmente, sorri de satisfação ao perceber que ele seria executado perfeitamente. Não haveria erro.

 

Seria algo arriscado, mas no fim valeria a pena. Pelo menos era disso que eu me convencia.

 

Quando a hora do almoço chegou, Tamara e eu nos sentamos na mesma mesa, ela mordiscava o pedaço da pizza, eu apenas me contentava com o copo de suco.

 

Ela praticamente quicava na cadeira de tanta empolgação. E até mesmo já havia escolhido os meninos que ganhariam a sua atenção durante o treino.

 

Minha cabeça estava longe naquele momento, eu ainda estava esperando que o irmão de Tamara aparecesse, ele seria a peça chave para o meu plano poder obter resultados.

 

E então como em um passe de mágica, Peter apareceu, assustando a irmã novamente. Só que diferente de ontem, ele sentou-se conosco, os olhos ora ou outra disparavam para meu rosto.

 

Tamara e ele conversavam sobre banalidades, às vezes faziam-me perguntas que eu respondia com a maior tranqüilidade possível.

 

E quando o assunto “testes para o time” surgiu eu não perdi a oportunidade, era perfeito, e eu só tinha a chance de colocar meu plano em ação apenas uma vez.

 

- E então, Peter, resolveu fazer os testes para o time?

 

- Claro. – ele sorriu radiante e depois complementou – Serão depois do período, não é?

 

Assenti para ele, sorrindo. Eu me sentia tão suja e repugnante abusando da boa vontade e da inocência dele, tanto que até senti um pouco de náusea.

 

- Você poderia arrastar alguém com você. Bom, sabe, para não ser o único.

 

Peter pensou por alguns segundos e eu estremeci internamente. Mas ele sorriu novamente.

 

- Ei, tem razão! Não é má idéia! Se eu pudesse encontrar alguém para me acompanhar.

 

Sugeri com a maior inocência possível, embora meu coração estivesse aos pulos.

 

- Que tal Aidan Satoya, ele parece ter porte para entrar no time.

 

Peter estreitou os olhos, claramente ele estava tentando lembrar-se quem era Aidan. E então seu rosto assumiu uma expressão de surpresa.

 

- Ah, mas é claro! Aquele cara italiano, não é?

 

- Ele mesmo. – concordei despreocupadamente.

 

- Mas, ele é tão reservado, não sei se poderia encaixar-se no time.

 

- Bom, não custa nada tentar. – eu o incentivei.

 

- Tem razão, Agatha.

 

Pronto estava feito. Eu só precisava torcer agora para que a educação de Aidan prevalecesse sobre o seu mau humor no fim. Assim ele não teria como recusar um convite tão gentil como o de Peter.

 

Tamara logo exigiu a minha atenção novamente, conversando comigo sobre mais assuntos banais, mas eu vi nos olhos dela aquela centelha de desconfiança. Mas, acredito eu que ela tenha preferido reprimir aquela sensação e apenas confiar em mim.

 

 Se tudo desse certo, se Peter conseguisse convencer Aidan a acompanhá-lo nos testes depois da aula, então ele não voltaria para casa tão cedo. E isso me daria tempo suficiente para colocar meu plano em ação: invadir sua casa e procurar por algo que pudesse esclarecer quem realmente ele era.

 

Claro que eu conhecia a localização do chalé dos Robert, na verdade eu conhecia aquela cidade inteira como a palma de minha mão. Então não seria nada difícil. Mas devido ao relativo afastamento do chalé do centro da cidade eu deveria usar o carro.

 

Minha mãe não iria se importar se a loja não abrisse hoje. O próximo estoque de flores chegaria apenas amanhã, e Bill poderia ajudar-me.

 

E eu tinha o carro, poderia dirigir até lá, chegando muito mais rápido do que ele que vinha a pé.

 

Voltei para a terra novamente quando ouvi o sinal tocando, agora seria a aula de educação física e Tamara ao meu lado, praticamente gritou de satisfação.

 

Corremos até o vestiário, onde tratamos de trocar de roupa o mais depressa possível. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e Tamara também prendeu o dela. Guardamos nossas bolsas nos armários e então corremos na direção do campo, onde vários alunos já se aqueciam, preparando-se para o treino.

 

Eu e Tamara corremos algumas voltas em torno dele, enquanto o professor nos supervisionava. Depois alegando cansaço, sob o forte sol que agora brilhava, sentamo-nos na arquibancada. Peguei minha garrafa de água e bebi alguns goles, estava exausta.

 

E então Tamara curvou-se para a frente, apoiando o rosto nas mãos, e o cotovelo nos joelhos, e ela sorriu abertamente, enquanto observava os garotos treinarem.

 

Tentei enxergar como ela, ver como ela. Mas não fui muito eficiente. Tudo o que eu via era um bando de garotos exibindo-se.

 

Perto deles, estavam as líderes de torcida, as populares, as garotas mais cobiçadas da escola, cantando em coro, ensaiando seus movimentos graciosos.

 

E foi ali, observando aquele campo e os alunos que treinavam ali, que eu o vi. Era Aidan, disso eu não tinha dúvida.

 

Meus olhos detiveram-se nele e em mais nada, parecia que só existia ele ali agora. Não havia treinador, não havia garotos, não havia líderes de torcida.

 

Era apenas Aidan na lateral daquele campo. Sob o sol forte, sua pele alva ganhava um tom ainda mais bronzeado, praticamente brilhava, era algo totalmente... totalmente lindo.

 

Seus olhos estavam semi cerrados devido ao sol forte, e eu só despertei quando ouvi Tamara gemer ao meu lado.

 

- Ai. Meu. Deus.

 

Ela tinha razão, ele era perfeito em todos os aspectos. Mesmo enquanto caminhava de forma elegante até a lateral do campo e... e... retirava a sua camisa...

 

Eu perdi completamente a fala. Estava sonhando? Não, eu não estava sonhando. Mas, então devia estar alucinando. Aquilo só podia ser uma alucinação. Nada real no mundo poderia ser tão lindo e perfeito e... maravilhoso.

 

Mesmo de longe eu podia enxergar as linhas perfeitas que compunham os seus músculos. O seu bíceps, até mesmo as veias grossas de seus braços. Nada, absolutamente nada escapava de meus olhos.

 

Seus ombros largos e fortes, e o seu abdome...

 

Não encontrei palavras para descrever a perfeição de seu abdome. Mas o peito era igualmente largo, e os músculos da barriga, delineados, torneados, absolutamente perfeitos.

 

Todo o seu corpo brilhava pelo suor, uma fina camada que impregnava em sua pele sedosa, deixando-o ainda mais perfeito.

 

E então Tamara suspirou do meu lado. Agora eu entendia aquela sua fixação por observar os garotos treinando. Só que no meu caso, o único que conseguiu prender a minha atenção fora Aidan.

 

Observei ele apanhar uma garrafa de água, mas ao invés de tomá-la, ele preferiu derramá-la sobre o seu corpo, para aliviar o calor.

 

No momento senti-me quente, como se o sol acima de minha cabeça agora tivesse se tornado em uma bola de fogo gigante e escaldante.

 

Como eu não percebi isso antes? Tudo bem que eu já havia notado que seu rosto era lindo, de traços perfeitos que combinavam entre si como peças de um quebra-cabeça, encaixando-se com perfeição.

 

Que seu cabelo era macio e sedoso, isso eu já sabia também. E que sua pele tinha um cheiro indescritível, isso eu também já sabia.

 

Mas que seu corpo parecia ter sido esculpido por um artista muitíssimo talentoso, isso eu ainda não sabia. Ou pelo menos, acabara de descobrir e comprovar com esses meus olhos.

 

Eu ainda o observava de boca aberta, enquanto ele despejava um pouco de água em sua nuca e então quando ele levantou os seus olhos, estes caíram sobre mim e minha expressão completamente petrificada.

 

Eu ruborizei na mesma hora, e desviei meus olhos dos dele. Ele havia me pegado observando-o tão intensamente.

 

Tamara riu de leve e então se aproximou de mim, a mão formando uma conchinha.

 

- Ele olhou para você! – sussurrou ela em meu ouvido.

 

- Não olhou não. – retruquei, tentando desfazer a vermelhidão que aquecia as maçãs do meu rosto.

 

- Claro que olhou! Não seja boba... – ela riu novamente e então se afastou de mim, voltando a encarar os meninos no campo.

 

Por alguns bons minutos não me atrevi a olhar para ele novamente. Mas depois, minha curiosidade venceu a minha vergonha e eu o olhei. Ele agora secava o rosto com uma toalha pequena.

 

Meus olhos tornaram a observá-lo, analisando tudo, processando tudo o que ele fazia. O modo como ele segurava a toalha, como a usava para secar sua face, e então ele ficou de costas para nós duas.

 

E novamente eu perdi a fala. Suas costas eram tão largas, estavam em sintonia com todo o seu corpo, e então eu cheguei à conclusão de que Aidan devia se tratar de algum monumento vivo a algum deus grego. Seu corpo era tão perfeito, tão perfeito, que faria inveja a qualquer atleta.

 

Foi então que eu congelei, todo o calor que eu sentia cedendo ao gelo frio de uma turbulenta tempestade. Porque eu vi quando uma das líderes de torcida, Becki Sunders, a loura escultural, a garota mais cobiçada da escola, aproximou-se sorrateiramente de Aidan.

 

Ela mais lembrava uma leoa, rondando a sua presa, apenas esperando para dar o bote certeiro.

 

Vi quando ela estacou diante da figura dele, um sorriso enorme nos lábios, os olhos cautelosos como os de um felino.

 

Cerrei meus punhos, pela distância a que estávamos deles eu não poderia ouvir nada da conversa, mas eu sabia que não ia gostar de saber.

 

 

Franzi meu cenho, quando Tamara fez um gesto em negativo com a cabeça, desaprovando também a atitude dela.

 

- Olha só para isso! Ela está praticamente se esfregando nele!

 

Eu tinha de concordar com ela, o modo como ela se... se atirava para cima dele era algo tão vulgar!

 

Tamara mordeu os lábios.

 

- O pior é que nós nem podemos saber o que ela está falando para ele!

 

Ela sacudiu a cabeça e os imensos cachos ruivos voaram para todos os lados como molas.

 

- Se ela acha que pode conseguir algo com ele, está redondamente enganada! Rá! Eu não disse?

 

Desviei meus olhos dela para olhar a cena desagradável novamente, mas Aidan não estava mais lá, ele se afastava de Becki, e ela parecia ter uma expressão de fracasso no rosto. Então ele devia tê-la rejeitado. Sorri internamente com essa possibilidade.

 

Porém, antes que eu sequer pudesse comemorar mais aquele fato, uma figura aproximou-se de nós duas sentadas naquela arquibancada, era Peter. Seu corpo estava igualmente suado, os cabelos grudavam em sua testa e sua pele brilhava pelo suor, mas ele estava longe de ter o mesmo porte de Aidan e o mesmo condicionamento físico, muito menos se movimentava com tal elegância.

 

- Ei, garotas! – ele nos cumprimentou. Tamara bufou, mas eu sorri para ele. – Então, vocês vieram observar os meninos, não vieram?

 

Tamara passou um braço por meu ombro, puxando-me para perto dela.

 

- Eu arrastei a Agatha comigo. – murmurou ela vitoriosa.

 

Peter riu, depois tornou seus olhos para mim.

 

- Ei, Agatha, eu não deixaria que minha irmã grudasse tanto em mim, melhor ter cuidado, porque depois pode ser tarde demais para se livrar dela! – disse ele aos risos.

 

Tamara mostrou-lhe a língua, mas eu ri junto com Peter.

 

- E então, já decidiu fazer os testes? – perguntei a ele despreocupadamente.

 

Seu rosto iluminou-se por alguns segundos, depois ele abriu um grande e sincero sorriso.

 

- Na verdade, sim, até chamei aquela garoto para que ele me acompanhasse.

 

Fingi o máximo de desinteresse possível enquanto lançava a minha pergunta crucial e que definiria o futuro de meus planos.

 

- Ah, e ele aceitou?

 

- Sim, ele foi muito educado, pareceu meio relutante no inicio, mas depois ele cedeu.

 

- Que bom para você! – eu o encorajei.

 

Peter sorriu para mim uma última vez e depois olhou em volta.

 

- Desculpe, meninas, tenho que voltar agora. – disse-nos ele e depois partiu, rumando na direção do campo outra vez.

 

Olhei para Tamara, ela parecia estar entediada. Deixei que a confusão tingisse todo o meu semblante.

 

- O que foi? – perguntei a ela.

 

Eu vi um biquinho formar-se em seus lábios, ela estava muito emburrada.

 

- Ah, é o meu irmão.

 

- O que tem ele? – perguntei preocupada.

 

E então ela explodiu, lançando as mãos para o alto e depois permitindo que elas tombassem.

 

- Ah, Agatha, será que você não vê?

 

- O que eu não estou vendo? – perguntei confusa.

 

Tamara suspirou, parecendo derrotada, depois me olhou cautelosamente.

 

- Agatha, você não percebe que o meu irmão está caindo de amores por você? – perguntou-me ela, a voz firme.

 

- Não. Tamara, isso é... isso é completamente absurdo, ele me conheceu ontem e...

 

- E ele não para de repetir o seu nome, faz-me perguntas de você durante todo o dia! – interrompeu-me ela.

 

Ri de leve, e Tamara foi quem ficou confusa dessa vez.

 

- Tamara, isso é apenas impressão sua! Seu irmão não pode estar apaixonado por mim.

 

 

- Não, não é, Agatha, para você ter uma idéia da gravidade da situação ele até passou horas arrumando-se no banheiro hoje, apenas para chamar a sua atenção.

 

Desviei meus olhos de sua face, completamente envergonhada e um pouco triste, eu tinha de confessar.

 

- Eu entendo você, – sussurrei – não querer que seu irmão... namore alguém como, como eu.

 

Tamara pegou minhas mãos imediatamente, como se tentasse desfazer algum mal entendido.

 

- Não, Agatha, pelo amor de Deus, não é nada disso! É só que... bom, eu não quero perder a minha melhor amiga para o meu irmão!

 

Sorri novamente para ela, um alivio tomando conta de todo o meu ser.

 

- Ah, entendi!

 

Depois, sua expressão assumiu um tom zombeteiro, arqueando uma de suas sobrancelhas.

 

- Mas, é sério que você não percebeu?

 

- Não? – devolvi sua pergunta com outra.

 

Tamara riu novamente, o som de seu riso ecoou em meus ouvidos.

 

- Agatha, você realmente não existe!

 

- Ora e por quê? – perguntei, tingindo o tom de minha voz para que parecesse claramente ofendida.

 

- Bom, um menino paquera com você bem debaixo do seu nariz e você simplesmente não enxerga!

 

- Ah, mas eu não tenho experiência nenhuma com isso! Os meninos nunca olharam com esta intenção para mim. – expliquei-lhe.

 

Tamara escancarou a boca, seus olhos esbugalharam, e ela assumiu uma postura engraçada.

 

- Você está brincando, não está? Por favor, diga que está!

 

- Não.

 

- Você tem espelhos na sua casa? – ela perguntou-me.

 

- Muitos. – respondi-lhe, lembrando como minha mãe era uma mulher vaidosa e bela. Ela passava horas em frente ao espelho, arrumando-se.

 

- Já se olhou em algum deles?

 

- Em todos eles.

 

- Ótimo! – ela murmurou.

 

- O que foi?

 

Ela riu novamente de minha expressão confusa, eu não entendia aonde ela queria chegar exatamente.

 

- Você deve ter um grave problema de visão! – ela acusou-me.

 

- Não, não tenho. – respondi-lhe calmamente.

 

- Oh, sim você tem! É a única explicação que encontro!

 

- Para o quê exatamente? – perguntei-lhe ainda mais confusa.

 

- Agatha, você é muito bonita! – ela soltou – Tão bonita na verdade, que em dois dias já conquistou o palerma do meu irmão!

 

Eu ri novamente e depois Tamara voltou a tagarelar.

 

- Claro que você precisa de um pouco mais de cor no rosto, e se você passasse um brilho labial nos lábios, ficaria perfeita!

 

- Tudo bem – disse em meio aos risos – quando quiser uma cobaia para testar maquiagens diferentes...

 

- Você será a primeira da lista. – garantiu-me ela.

 

Olhei ao meu redor e notei que o campo já estava quase vazio, e o sol desaparecia atrás de uma imensa nuvem cinza-claro.

 

- Tamara, acho que temos que ir.

 

Ela olhou para o campo e depois assentiu.

 

Corremos na direção do prédio da escola, caminhando rumo ao vestiário feminino. Estava bem cheio quando chegamos, algumas alunas do terceiro ano encontravam-se lá.

 

Elas falavam em voz alta, comentavam sobre assuntos banais, rindo histericamente. Adentrei rapidamente, passando por todas elas, retirei minha bolsa de lá de dentro e jogando-a em cima do imenso banco retangular revestido de borracha.

 

Abri minha bolsa e puxei o elástico de meus cabelos, sacudindo-os para que caíssem naturalmente em minhas costas.

 

Retirei a blusa de mangas curtas e permaneci com a regata branca que havia posto ainda hoje de manhã. Lá dentro a conversa só aumentava, transformando-se em um verdadeiro inferno de vozes.

 

Vesti minha calça jeans, jogando as roupas da educação física de qualquer jeito dentro de minha mochila.

 

E enquanto as alunas do terceiro ano deixavam o vestiário, todas prontas, o coro desordenado de vozes desaparecendo gradualmente, senti um arrepio que estremeceu todo o meu corpo.

 

Observei que uma última aluna acabava de se trocar, loura, muito bonita, se eu não me enganava devia ser Laura Cornner, o orgulho do colégio de South Hooksett.

 

Tornei minha atenção, enquanto retirava a escova de minha mochila e penteava meus cabelos. Empurrei todo ele para as minhas costas e então expus a minha marca de nascença.

 

Tamara olhou-me na mesma hora, sua atenção toda no desenho em minha pele.

 

- Uau! – ela exclamou – O que é isso?

 

Dei um meio sorriso para ela, depois toquei meu ombro esquerdo.

 

- É só uma marca de nascença. – dei de ombros.

 

- Perdoe a minha sinceridade, Agatha, mas eu nunca, jamais, em toda a minha vida vi algo parecido com isso.

 

Ri de leve.

 

- É, eu sei, é bem estranho. Eu herdei isso do meu pai, e ele por sua vez herdou de meu avô, é algo que é passado na minha família a muitas gerações.

 

Tamara não conteve o seu choque.

 

- É... linda, Agatha, parece uma ave.

 

- É uma fênix. – eu a corrigi.

 

- Aquele pássaro de fogo que ressurge das próprias cinzas, não é? – ela perguntou-me.

 

- Este mesmo.

 

O som de um armário sendo fechado com violência nos sobressaltou. Era Laura ali dentro ainda, ela saiu do vestiário sem ao menos se dar conta de que nós duas estávamos lá.

 

E então Tamara gemeu novamente.

 

- O que foi? – perguntei a ela.

 

Ela mostrou-me o seu braço, estava inteiro arrepiado.

 

- Não sentiu algo sinistro aqui?

 

- Não. – menti.

 

- Tudo bem, eu devo estar ficando paranóica.

 

Sorri novamente para ela e então deixamos o vestiário, rumando na direção da saída da escola. Um novo som sobressaltou-nos. Estranhei, agora pouco ainda estava tão ensolarado e agora o céu havia fechado, sendo coberto com nuvens escuras e medonhas.

 

Ia desabar o céu sobre nossas cabeças e não demoraria muito.

 

- Puxa, acho melhor corrermos para a casa. – murmurou Tamara ainda analisando as densas e tenebrosas nuvens que dançavam sobre o aquele céu enegrecido.

 

- Tem razão. – concordei, embora em minha mente uma vozinha dissesse-me para onde eu teria que correr.

 

- Te vejo amanhã. – Tamara disse-me e depois disparou, correndo para o seu carro, tudo para que estivesse sã e salva em sua casa antes que aquele temporal começasse.

 

Corri também, para o lado oposto do de Tamara, eu tinha que ser realmente muito rápida se quisesse executar meu plano antes que a tempestade decidisse desabar sobre nós.

 

Assim corri para a minha casa, na esperança de chegar a tempo. E então começou uma ventania horrível, tão rude que ameaçava arrancar as árvores das calçadas.

 

Cheguei em casa ofegante, mas não diminui meu passo em nenhum instante, joguei minha mochila de qualquer jeito no chão da sala, apanhei a chave do carro e deixei minha casa novamente, metendo-me dentro do carro.

 

Dei a partida e dei a ré, seguindo pela rua deserta. Eu olhava pelo retrovisor a todo momento, não queria testemunhas para o que estava prestes a fazer.

 

Segui em velocidade máxima até a floresta, um dos locais mais afastados do centro da cidade e logo eu avistei o pequeno chalé de madeira que os Robert sempre alugavam para estrangeiros.

 

Estacionei em frente à pequena casinha de madeira, verificando se não havia ninguém por perto. Lá também ventava muito e o vento ameaçava até mesmo as mais altas e imponentes árvores.

 

Deslizei para fora do carro e então hesitei.

 

Todo o meu plano desenrolando-se em minha mente: invadir a casa de Aidan e procurar por algo que pudesse explicar-me a sua origem.

 

Eu sei que era algo absurdo, se alguém me pegasse ali seria prisão na certa. Mas eu estava desesperada por respostas e faria qualquer loucura para obtê-las.

 

Fitei a casinha de madeira, a chaminé de pedra cinza-escuro, o pequeno caminho composto por pedras brancas.

 

Respirei fundo e olhei para ambos os lados novamente. E então muito que deliberadamente meus pés moveram-se.

 

Dei outro passo, e mais outro, e quando dei por mim estava diante da porta de madeira escura.

 

Meu punho ergueu-se, hesitando, mas então eu dei três leves batidas; precisava certificar-me de que não havia ninguém lá.

 

Eu tinha a absoluta certeza de que Aidan não chegaria a tempo, eu corri como uma louca até em casa e depois vim até aqui, quase extrapolando os limites de velocidade.

 

Não houve resposta ao som. Tentei novamente, mas deu na mesma, não havia ninguém lá.

 

Minha mão moveu-se até a maçaneta, em minha mente uma voz perguntava-me que tipo de pessoa deixava a própria casa destrancada, mas surpreendi-me quando a maçaneta girou sem resistência alguma e a porta abriu-se diante de mim...

 

Fitei o interior do pequeno chalé, parecia muito bem organizado, então Aidan era o tipo de garoto que arrumava o próprio quarto. Ele devia ser o orgulho dos pais.

 

Revirei meus olhos diante desse pensamento e então entrei no pequeno chalé.

 

Estava realmente vazio;

 

E então não contive o meu impulso, eu não tinha muito tempo de qualquer forma.

 

Lancei-me na direção do criado mudo ao lado da cabeceira da cama de casal, vasculhando cada gaveta.

 

Havia muitos papéis, um passaporte, uma certidão de nascimento, podiam ser falsisficados, pensei comigo mesma.

 

Desisti do criado e parti para embaixo da cama, eu não sabia porque exatamente procurava lá, apenas procurava, mas só havia pó e uma mala enorme.

 

Lancei-me na direção da cômoda desta vez, havia muitos pertences seus ali. Vasculhei as gavetas da cômoda, mas só havia roupas.

 

E então meus olhos detiveram-se em uma pequena caixinha em cima da cômoda. Cessei imediatamente minhas buscas, toda a minha atenção voltada para a pequena caixinha retangular de madeira negra.

 

Hesitei, eu não sabia o que poderia encontrar lá dentro, mas trinquei meus dentes e obriguei minhas mãos a abrir a tampa da caixinha onde lá dentro só havia uma coisa.

 

Meus olhos fixaram-se naquele objeto, era tão belo. Obriguei minhas mãos a mergulharem no interior da caixinha e de lá de dentro eu retirei um colar.

 

Observei-o na palma de minha mão, a corrente parecia de ouro, fina, toda trançada. Mas o que realmente chamava a atenção era o enorme pingente rubi pendurado nela.

 

Era meio oval adornado e preso por um suporte também de ouro, todo entalhado. Parecia mais uma obra de arte a uma jóia.

 

Observei-a completamente encantada, eu jamais ligara para jóias ou bijuterias, mas parecia haver algo de encantador naquele colar, algo que atraía toda a minha atenção, algo completamente inacreditável.

 

Observei a jóia de todos os ângulos possíveis, mas não havia mais nada, nenhuma inscrição, nem mesmo uma pista de que a quem poderia ter pertencido.

 

Já estava prestes a devolver a jóia para o seu esconderijo no fundo da caixinha, quando algo me impediu.

 

Encarei perplexa ao que meus olhos estavam presenciando. Sacudi minha cabeça, mas eu não estava sonhando, aquilo estava mesmo acontecendo.

 

Encarei aturdida enquanto o pingente rubi em minhas mãos cintilava, lançando feixes de luz avermelhadas para toda as direções.

 

Não era um brilho chamativo, era suave, como se houvesse um pequeno sol dentro da pedra vermelha.

 

Aproximei o pingente de meu rosto, enquanto a jóia brilhava cada vez mais. E só então notei uma figura atrás de mim.

 

Congelei instantaneamente, meu coração acelerou e eu me preparei para virar para trás e encontrar a pessoa que havia me pegado ali.

 

E enquanto a jóia ainda brilhava em minhas mãos, eu encontrei aquele rosto novamente, todos os meus temores assumindo o controle sobre mim, enquanto eu ficava sem qualquer reação e petrificava no meio daquele cômodo.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

ahhhhhh!! Agatha foi pega no pulo!! mas por quem??
*levanta do capote*

meu Deus, eu tenho que confessar algo: eu já enfrentei muitos dilemas nessa minha pequena jornada como ficwritter, como chorar ou escrever, rir ou escrever, mas eu confesso!!
babar ou escrever foi a 1ª vez!! OMG!! Agatha tu é muito sortuda mulher!! kkkkkkkkkkkk'

*limpa a baba* e então gostaram do nosso lindo-moreno-sexy-italiano-megacapotante-perfeito-maravilhoso-deusgrego Aidan sem camisa??? kkkkkkkkkkkkk' *eu gostei!!*

*pigarro*
mas eu devo adiantar, meus queridos, a vdd está perto de vir a tona!! e no próximo capítulo grandes acontecimentos estão para vir!! rsrsrsrsrs

e que sim, essa joia é a msm q ela segura na despedida...laaaa no inicio...deixei vcs curiosos??

Até a próxima!!

Beijoss