Umbrellas Secret escrita por Pedro_Almada
Notas iniciais do capítulo
Um curto capítulo para entender a estranha amizade entre Paul e Carl. Espero que gostem xD
Apenas Memórias
\t\t Existem momentos e momentos. A vida passa como um borrão, deixando manchas indecifráveis pelo caminho, mas que são incrivelmente necessárias. A vida naquele momento não prometia ser fácil, não prometia perdão ou superação. O crepitar da chama engolia as folhas, que se desmanchavam no ar, carbonizadas, emanando um aroma cinza, pobre.
\t\t Carl assistiu a cena, entorpecido. Não conseguia acreditar no que acabara de fazer. Estava sozinho no pátio da escola, segurando o isqueiro de prata em uma mão, e uma pequeno frasco com álcool na outra. Havia provado, enfim, ser um Bull, um deles.
\t\t Sua mente percorreu em busca de uma saída. Lembrara-se dos lugares onde poderia se refugiar, depois que tudo estivesse reduzido à cinzas.
\t\t Lembrou-se do amigo, Paul. Mas não foi uma lembrança de esperança. Durante meses Carl era perseguido pelo amigo, que tentava afastá-lo dos Bulls. Até o dia em foram levados à quadra de basquete da cidade.
\t\t Era noite, e a lua era cálida em sua vigilância. Naquele dia, eles brigaram. Começou com uma discussão, uma prova de lealdade. Então, quando Carl percebera, já havia nocauteado o amigo. Paul não pensou duas vezes, revidando da maneira que pôde. No ímpeto do momento, o soco acertou o nariz de Carl. O esguicho de sangue manchou a camisa e o chão. Eles se encararam e, silenciosamente, deram as costas um paro o outro. Depois disso, Paul não conseguiu recuperar seu amigo. Simplesmente assistiu ao amigo cair na jaula dos Bulls.
\t\t Agora ali, sozinho, Carl percebia o que havia feito. Sabia que Paul tentou, todo o tempo, ser seu amigo, salvá-lo de uma péssima escolha. Mas o estrago estava feito e, para onde quer que olhasse, não encontrava nenhuma saída. Nem perdão. Era um Bull. Simplesmente.
Flashback
\t\t Era criança, ainda, quando viu o pai beber pela primeira vez, acertar a mãe com uma escumadeira, feri-la no rosto e, ainda, trancafiar o irmão mais velho na garagem por dois dias. O efeito do álcool dificilmente passava, visto que o homem sempre dava uma boa tragada na garrafa de conhaque barato.
\t\t Carl tinha oito anos quando desejou, pela primeira vez, ver o seu pai morto.
\t\t Na mesma semana o Sr. Ford fora baleado na porta de uma joalheria, confundido por um bandido local. O sangramento não foi parado a tempo. Morreu dentro de uma ambulância.
\t\t Não houve um funeral decente. Carl estava com uma camiseta azul amarrotada, com a estampa gasta do Mickey Mouse. Seu irmão estava desaparecido há duas semanas e a mãe... Ela não podia evitar, mas suspirava aliviada. Encarava o filho com certo temor, não queria transparecer tanta satisfação.
\t\t Carl, no entanto, estava ocupado demais odiando a si mesmo para reparar sua mãe. Desejara a morte do pai, e não conseguia derramar uma lágrima de pesar. Esfregou os olhos, irritou-os, tentando desenterrar algum sentimento. Descobriu que não havia nada, não sentia nada pelo seu pai.
\t\t Os Bulls foram os assaltantes da joalheria. Roubaram a loja e, durante a fuga, o Sr. Ford fora confundido. Depois disso, nunca soube entender o porquê, mas passou a alimentar um estranho desejo em conhecer a gangue que sempre saía impune.
\t\t Quase um mês depois, o irmão mais velho havia voltado. Sua mãe estava depressiva, e sua família arruinada. Saiu de casa no seu aniversário de nove anos, desejando, pela primeira vez, ser a próxima vítima, e acabar logo com um sofrimento pesado demais para uma criança.
\t\t Foi quando encontrou Paul.
\t\t - Estou perdido – disse ele.
\t\t - Não, está tudo bem – falou Carl, olhando em volta, certo de que também estava perdido – eu conheço esse bairro.
\t\t Ele não havia percebido, mas, mais tarde, Carl admitiria que seu amigo Paul salvara sua vida.
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