O ambiente do único bar da ilha era bastante parecido com Tortuga. A única excepção era o idioma falado pela maioria dos presentes: francês.

- Onde se meteu a cachopa? – Jack perguntou enquanto bebia uma caneca de rum e Lara olhava desconfiadamente para os desconhecidos.

- Alicia e Grace levaram-na para o navio. Achas que eu ia deixar a minha filha num ambiente destes? – Lara olhou para Jack.

- Nossa, love. Eu também tive uma quota-parte no que se refere à existência de Mary Rose SPARROW! – Jack sorriu.

- Stevens. – Lara rosnou.

- Sparrow, love. Mary Rose… - Jack ia repetir mas sorriu deliciado ao ver a cara brava de Lara. Adorava quando ficava assim. - … Stevens Sparrow!

Lara cruzou os braços e olhou de soslaio para Barbossa. Este coçava a barba com ar preocupado.

- Aconteceu alguma coisa? – Lara perguntou.

- Estive a pensar. Talvez tenhamos de parar em Singapura. – Barbossa disse. – Acho boa ideia recrutar mais alguns piratas.

- Mas estamos em Madagáscar! Aqui não faltam bucaneiros e flibusteiros. – Lara disse.

- Sim, mas em Singapura existe gente mais "qualificada"! – Barbossa arregalou os olhos deixando Lara confusa.

- Não bebe nada, senhor Darius? – Jack olhou com um falso sorriso para Darius. Este encontrava-se numa mesa ao lado. Lara quase não lhe falava e sabia que tinha culpa no cartório. Afinal quase arruinou o casamento desta.

- Eu não sou muito de bebidas. – Darius evitou olhares cruzados.

- A sério? Nem sabe o que perde! Há certos prazeres que são difíceis de recusar. – Jack sorriu.

- Mon chérie! – Uma mulher bastante maquilhada, com cabelos louros soltos e roupa escarlate bastante desbotada aproximou-se de Jack e passou a mão pelo ombro.

- Oh, Françoise! – Jack riu abertamente. – Apresento uma velha conhecida!

Barbossa rolou os olhos, Darius ficou estático e Lara não modificou o semblante carrancudo, olhando furiosa para a mulher que sorria sem saber patavina. Jack disse qualquer coisa em francês e esta deu uma risadinha olhando para Darius.

- Aproveite bem! – Jack exclamou, enquanto a francesa caminhava em direcção a Darius.

- NON! – Lara berrou entrepondo-se entre a mulher e Darius. – Dê meia volta. Ninguém está interessado nos seus serviços. Aliás, já está bastante tarde, Jack. – Disse, olhando para o marido com reprovação.

- Como é que é? – A mulher arregalou os olhos. – Está me chamando de prostituta?

- Ah agora fala inglês! Vai dizer que esse não é o seu trabalho? – Lara semicerrou os olhos.

- É melhor acalmarem-se. – Darius levantou-se mas conservou distância, prevendo uma briga das feias.

- Oh é seu petit ami? – Françoise atirou, deixando Lara num autêntico caldeirão.

- Que petit ami ou coisa que valha! Eu sou o marido dela! – Jack exclamou.

- Sérieux? – Françoise abriu a boca. – Bem, digamos que já te passou coisa melhor pelas mãos!

- SUA GALDÉRIA! – Lara berrou partindo para cima desta. Enquanto lhe tentava arrancar os cabelos, Françoise gritava perante a plateia estupefacta de piratas que tinham deixando de beber, jogar, conversar e até lutar para assistir à cena.

- Love, acho que já chega, ou ainda a vais transformar numa pobre pedinte! – Jack agarrou Lara pela cintura.

- Tu é que começaste! – Lara bateu-lhe no peito, mas este agarrou-lhe os braços.

- Love, isso é ciúme! – Jack sorriu e Lara soltou um grito de fúria. A verdade era essa. Não era só Alicia que ficava ciumenta. Lara era calma mas ai de quem pusesse uma unha feminina em cima de Jack. Principalmente sendo este um antigo Don Juan dos mares.

- Vão para o Inferno todos vocês! Miserables! – Françoise deu um empurrão a Darius, desaparecendo pelas escadas do bar.

- É melhor voltarmos para o navio. – Barbossa levantou-se com cara de quem perdera a paciência.

BUUMMMMMMM….

Um barulho ensurdecedor fez o chão tremer e os candelabros com velas já gastos balançarem.

- O que foi isto? – Lara disse ainda agarrada a Jack.

- Bala de canhão. – Jack sussurrou.

- O capitão Barbossa tem razão. É melhor voltarmos. – Darius disse, desembainhando a espada.

- Será que atacaram o Pearl? – Lara perguntou já em pânico.

- Não creio. Parece um ataque de piratas, que estão mais interessados em pilhar do que outra coisa. Além do mais o navio não está sozinho. – Barbossa disse.

Ao virar da esquina um bando de piratas esgazeados disparando em tudo o que mexia veio em direcção ao grupo.

- Fujam, eles estão aí! – Exclamou um dos piratas.

- Eles quem? – Darius perguntou, mas a resposta surgiu mais à frente, quando se depararam com o pequeno porto.

No meio da escuridão, o luar reflectia um grande navio que disparava bolas de fogo de encontro à ilha. Botes avançavam até à pequena baía e homens vestidos de trajes militares irrompiam de espada na mão e pistola, atirando indiscriminadamente em quem passava.

- Franceses! – Exclamou Jack. – Eu sabia. Estes franceses só arranjam problemas!

Alguns habitantes apenas se ajoelhavam pedindo misericórdia e eram levados pelos guardas. Tratava-se de uma "operação de limpeza", levada a cabo pela marinha francesa. Um dos guardas aproximou-se de Lara dizendo algo em francês, mas esta não esperou para compreender. Sacou da pistola e deu um tiro na perna deste. Por mais que detestasse as autoridades, só matava em último recurso. Olhou para o lado e viu Jack lutando com dois guardas.

- Uma pequena ajuda? – Jack gritou. Lara atendeu ao pedido, desembainhando a espada e evitando um golpe do guarda. A espada deste passou rente ao seu pescoço e Lara aproveitou para acertar no estômago deste.

- Parece que te safei desta vez. – Lara disse quando viu o outro guarda tombar para o lado.

- Eu safava-me sozinho. – Jack disse.

- Então porque pediste ajuda? – Lara olhou Jack de maneira divertida.

- Não de uma mulher. – Jack fechou a cara.

Outro guarda investiu neles, mas ambos conseguiram derrotá-lo com facilidade.

- Vá lá. O grande Jack Sparrow não quer admitir que foi salvo pela mulher! – Lara exclamou rindo.

- Eu não fui salvo, love. Nós é que fazemos uma boa equipa. – Jack botou a língua de fora.

O barulho de canhões aumentou e viram que outro navio atacava o galeão francês.

- O Pearl está a atacar? – Jack abriu a boca.

- O Barbossa disse que ficou lá alguma tripulação. Sem contar com a Grace e a Alicia e… ai Meu Deus, a Mary! – Lara exclamou levando a mão à testa.

- Impossível. Gibbs ficou em terra e deve andar por aí e Pintel e Raguetti são uns imprestáveis! – Barbossa exclamou.

Correram até ao bote mais próximo e remaram até chegar ao navio. Com a atrapalhação do ataque, o navio francês nem notou que mais gente chegara ao estranho navio que o atacava.

Barbossa e Jack foram os primeiros a subir empurrando-se para ver quem atingia o convés mais depressa.

- Isto é que são uns cavalheiros! Nem deixam as mulheres passar. – Grace gritou lá do alto. – Ainda vem que vieram, o menino Will precisa de ajuda.

- WILL? – Jack e Barbossa gritaram ao mesmo tempo.

- Sim. Já que os dois capitães decidiram se divertir na noite… - Grace olhou carrancuda para Barbossa. - … alguém tinha de tomar conta do navio.

- Mas o Will? – Jack ouviu a voz deste junto dos canhões. – O meu navio nunca levará ordens de um eunuco! – Exclamou correndo para o porão.

- Onde está a Mary? – Lara perguntou mal subiu ao convés, seguida por Darius.

- Está no quarto. É melhor amansarem aquela fera. Tive de trancar a porta para ela não sair. Imaginem, Mary queria vir lutar! – Grace deu uma gargalhada.

- Filha de pirata, pirata é! – Darius exclamou sorrindo, mas levando com a cara amuada de Lara.

- Alicia vem com o resto da tripulação? – Will perguntou quando subiu ao tombadilho.

- Alicia? – Lara abanou a cabeça confusa. – Mas ela não tinha ficado aqui?

- Não. Ela foi para a ilha contra a minha vontade. – Will disse.

- Se quiserem eu vou lá buscá-la. – Darius ofereceu-se, mas Will já avançava para o bote.

- O que é que vais fazer? – Lara colocou a mão no peito deste impedindo-o de passar. – Sabes que não podes ir a terra.

- Eu não vou deixá-la ficar lá. É um ataque da marinha francesa. Se a apanham ela é presa e condenada à morte! – Will exclamou completamente alterado.

- Eu vou lá. – Darius olhou os presentes e desceu para o bote enquanto Will punha as mãos na cabeça.

- Mas porque é que ela voltou lá? – Lara perguntou, mas não obteve resposta.

Na ilha…

Alicia desviava-se dos habitantes e piratas que corriam para salvar a própria pele. Já tinha procurado em todos os locais, mas não tinha achado Lara, Jack e os restantes. Encostou-se a uma parede observando as tropas francesas. Amarravam as pessoas umas às outras e encaminhavam-nas para os botes, enquanto um dos oficiais lia em voz alta, algo em francês.

- O que é que a menina faz aqui? – a pergunta atrás de si fez com que tivesse um ataque de susto e saca-se a pistola, deparando-se com Gibbs.

- Caramba, Gibbs! Sabia que não se deve aparecer atrás das pessoas sem elas contarem? – Alicia levou a mão ao peito e espreitou mais uma vez para os prisioneiros.

- Temos de sair da ilha antes que nos apanhem. Estes franceses não estão para brincadeiras. – Gibbs disse.

Alicia seguiu-o mas uns gritos estridentes e choros fizeram-na voltar-se. Os oficiais levavam crianças agrilhoadas como se fossem cães, deixando-as à beira de um dos botes.

- Não podemos fazer nada. – Gibbs disse.

- Mas… são crianças! – Alicia exclamou completamente desnorteada. – Que mal é que elas lhes fazem?

- São filhos de piratas que mais tarde se tornarão saqueadores também. É injusto mas é a verdade. – Gibbs disse, tentando levar Alicia pelo braço.

- Não. – Disse soltando-se. – Vá você e leve todos da tripulação que aqui estiverem. Eu irei ter ao Pearl logo a seguir. – Disse correndo em seguida.

- Volte aqui! – Gibbs exclamou. - Aquela mulher é doida!

Alicia escondeu-se atrás de um rochedo observando o local onde se encontravam as crianças. Só havia um guarda a vigiar e trazia pendurado no bolso um molhe de chaves. Todas as crianças estavam agrilhoadas e algumas estavam bastante maltratadas. Uma delas, um rapazinho franzino começou a chorar, chamando a atenção do oficial. Este gritou-lhe e vendo que o menino não parava o choro mandou-lhe uma valente bofetada, deixando os outros apavorados.

Alicia notou a raiva crescer dentro de si. Num acesso de fúria caminhou lentamente até ficar atrás do oficial e perante o olhar arregalado das crianças, desferiu um golpe na garganta deste, não se importando com o sangue que lhe sujou as mangas da camisa. Retirou o molhe de chaves e abriu os grilhões soltando as crianças.

- Ide. – Disse, enquanto as soltava. Eram como pássaros quando soltos da gaiola, mas o menino que tinha sido esbofeteado ficou parado a olhar para si. – Vai antes que te apanhem de novo.

- Merci. – O miúdo disse num sussurro, sorrindo timidamente e fugindo em seguida.

Alicia ficou parada um tempo esperando que as suas pernas deixassem de tremer. Mas isso não chegou a acontecer quando ouviu alguém gritando atrás de si. Virou-se lentamente e viu que tinha uma arma apontada a si. O oficial empunhava um mosquete e falava bastante depressa gritando palavras em francês. Alicia sabia alguma coisa da língua, mas os nervos eram tantos que tudo lhe parecia chinês.

De repente o homem arregalou os olhos e Alicia viu vidros voarem atrás da cabeça deste. Deu um passo atrás quando o homem despencou a seus pés. Olhou em frente e viu James Norrington com uma garrafa partida na mão e em pânico.

- Eu matei-o? Oh Meu Deus, eu não queria eu… - disse parecendo uma autêntica donzela em perigo.

- Você não o matou, só salvou a minha vida. – Alicia disse.

- Eu sei. Eu tentei explicar-lhes que as pessoas de cá não eram piratas, mas eles não ligaram prendendo tudo o que se mexesse. – Norrington parecia doido. – Iam matá-la e você nem sequer é uma pirata.

Alicia engoliu em seco. – Venha comigo senhor…

- John Lawrence, lembra-se?

- Sim, senhor Lawrence. – Alicia levou o homem pelo braço enquanto este olhava horrorizado o oficial estendido.

- Para onde vamos? – Perguntou.

- Para um sítio seguro. – Alicia apontou para a silhueta do Pearl.

- Eu não vou meter-me naquele navio! – Exclamou.

- Ouça senhor… Lawrence! – Alicia tentou acalmar-se. – Se você quiser ficar tudo bem, mas só lhe aviso que neste momento só possui duas chances: Escapar ou morrer!

Lawrence engoliu em seco e deixou-se arrastar por Alicia até ao Black Pearl.

Continua…