JACOB

Ainda no dia em que Bella esteve aqui, eu resolvi que não iria mais aguardar que o “destino” solucionasse nosso impasse. Eu não podia mais esperar. De repente, ao ver Bella depois de todo o tempo que estivemos afastados, parecia que eu simplesmente não podia tê-la fora de vista.

Ainda tentei falar com ela, mas quando liguei para sua casa, a mãe dela havia dito que ela ainda não chegara. Deveria estar com o sanguessuga.

Eu sabia o que poderia fazer para acelerar o processo todo.

Decidi procurar o Cullen, mas eu não estava autorizado a transpor a barreira do tratado. Sam havia ficado furioso com minha idéia de ir até lá. Agora eles estavam com seu bando quase completo. Eu não acreditava que isso fosse uma ameaça, mas Sam achou que era perigoso e não queria iniciar uma luta por algo tão insignificante. Bah! Insignificante para ele. Bella era tudo para mim. Mas enfim, ele me deu uma ordem estúpida de alfa, e eu não pude ignorar.

Então decidi ficar de vigília, sempre próximo ao limite entre nossas terras, na ponta de cá do penhasco. Eles costumavam vir muito por aqui, o lugar exalava o cheiro insuportavelmente doce deles com intensidade. Eu sabia que uma hora eles iriam sair para caçar, e eu estaria por aqui quando um deles aparecesse. Se não fosse o próprio, eu mandaria um recado. Sam achou que era uma alternativa viável, mas acreditava que eu estava perdendo tempo com todo esse esforço por Bella.

Quando seu imprinting aparecer, você não vai mais querê-la. Vai magoá-la à toa, entrar numa briga por nada. Ele dizia.

Eu ignorava. Sabia o que sentia por Bella. Meu amor por ela estava ainda mais forte agora, do que fora quando namorávamos, um denso desespero atrelado a ele.

Não precisei esperar muito.

Bem no dia seguinte ao meu encontro com Bella, eu acabava de assumir o meu turno na floresta, e lá estava ele, caminhando como um humano até a margem do penhasco, sentando-se lá com uma estranha expressão, que me pareceu dor, no rosto.

Eu sabia do seu “Dom”. Então não me aproximei muito, apenas fiz contato.

Podemos conversar? Perguntei em minha mente.

Como eu estava em minha forma de Lobo, pude ouvir os rosnados desaprovadores de meus irmãos.

Avisei a Sam, através de nossa conexão, que me transformaria para poder conversar com o vampiro. Ele não aprovou, mas não me impediu. E é claro que o Cullen ouviu.

Esperou eu aparecer em minha forma humana no limite de nossas terras e se aproximou num piscar de meus olhos. O olhar era feroz e homicida. Ele sabia.

- Sim... – Sibilou, confirmando minha suspeita.

Ela te contou? Perguntei em minha mente, surpreso.

- Não. Eu senti seu fedor nela. – Sua voz era contida, mas o ódio era patente – O que você quer?

Não vim pra brigar... Não hoje. Apenas queria que ficasse a par de tudo. Pensei conjuntamente com a memória do dia em que Bella me procurou.

O rugido que saiu entre seus dentes foi ensurdecedor.

EDWARD

Ver aquilo não foi tão doloroso quanto pensar em Bella me deixando. Mas a angústia que já se instalara dentro de mim, intensificou minha reação.

Um rugido bestial rasgou minha garganta.

Eu não suportava mais nada daquilo. Eu precisava dar um fim a toda aquela agonia.

Captei o teor dos pensamentos de Jacob enquanto ele observava minha reação. Ele fazia aquilo para me estimular a desistir. Ele não sabia que eu já havia feito isso.

- Não precisa mais me torturar com suas lembranças torpes, Jacob Black. Eu não impedirei Bella de ter o que ela quer, o que ela acha que a fará feliz. – Falei com os dentes trincados – Eu estou apenas esperando que ela me diga as palavras definitivas. Ao contrário de você, eu não tenho pressa, não vou acelerar nada, não tomarei nenhuma atitude.

- Você ainda tem esperança de que ela desista de te deixar... – Não deixei de notar a segurança e ironia na afirmação.

- Confesso que sim. – Admiti – Mas como eu disse, não a impedirei de buscar o que ela acredita ser sua felicidade.

- Quer dizer que não vai comprar a briga? – Perguntou cético, sorrindo sarcasticamente – Isso está sendo mais fácil do que eu imaginei.

- Eu não estou desistindo por covardia... – Contrariei seu pensamento – Estou desistindo porque a felicidade de Bella é mais importante para mim que a minha própria. – Esclareci – Não me importo de entrar numa briga com você. Está mesmo merecendo um corretivo. Nunca lhe ensinaram que cortejar a mulher do próximo é imoral?

- Olha quem fala... Quem foi que cortejou a mulher de quem aqui?

- Ela nunca foi realmente sua. – Citei tranquilamente.

- Ela foi minha antes de ser sua. – Rosnou – E isso nunca deveria ter mudado. Tanto foi que ela percebeu a burrada que fez.

- Ela pode ter sido sua, fisicamente, antes de ser minha. – Minha voz soava cortante – Mas seu coração pertenceu a mim antes mesmo dela olhar para você. E continuou pertencendo enquanto estavam juntos. – Pausei observando sua evidente irritação com a verdade – Ela nunca me esqueceu, por isso voltou.

- É, pode até ser... – A veracidade de minhas palavras o corroeu - Mas não é com você que ela quer ficar. Então não adianta muito esse seu papinho de “Seu coração pertenceu”, blá blá blá...

- Ela carrega um filho meu em seu ventre. – Falei calmamente, notando as palavras derrubarem por terra sua atitude audaz – Ela pode decidir me deixar, voltar para você, mas existe um fruto do que vivemos, uma conexão inquebrável entre nós, algo que nada no mundo vai poder destruir, e você terá de conviver com isso. Com um pedaço meu, lembrando-o a todo o momento a minha representação na vida dela.

Jacob ficou mudo. A mente maquinando cada uma de minhas palavras, absorvendo a verdade. Por um momento eu vi o quão difícil seria para ele aceitar aquilo, e quase me vangloriei. Mas seu amor por Bella era forte e verdadeiro, isso eu nunca poderia negar, e por isso ele estava disposto a aceitar a criança, de boa vontade. Confesso que aquilo me tranqüilizou de alguma forma. Apreciando ou não, se ele ficasse com Bella, ele conviveria com meu filho, e eu preferia que o fizesse de bom grado, assim não o destrataria.

- Você sabe que eu sou capaz de aceitar isso... – Falou sincero – Sei que pode ver em minha cabeça que estou falando a verdade...

- Você suportará a minha presença constante, Black? – Questionei.

- Se for pela criança, sim, e não teremos problemas. Posso conviver com você civilizadamente, desde que você não interfira mais do que deve. – Respondeu confiante.

- Você está certo de que ela irá voltar para você, não é? – Perguntei num tom irônico, mas o real sentimento era de pavor.

- Sim... E você sabe que tenho razão. Posso ver a agonia em seus olhos, Cullen. Essa agonia que eu conheci quando você arrancou ela de mim. – Sua voz era ressentida.

Nos encaramos por alguns segundos. Sua mente ia de sua própria imagem, quando Bella o deixou para voltar para mim, e para meu semblante em sua frente. Ele tinha razão. A dor era evidente em seu olhar na memória passada, tão evidente quanto a minha agora.

Depois ele relembrou o beijo que deu em Bella há apenas um dia.

- Se você veio apenas para me deixar a par dos fatos... – Falei, enquanto bloqueava a imagem – Serviço feito. Já são todos de meu conhecimento. Agora me deixe em paz.

- Eu não vim aqui para lhe provocar. Quer dizer... – Disse sorrindo debochadamente – Não só pra isso. Eu queria saber se você iria criar problemas quando... No caso de Bella decidir voltar. – Se corrigiu. Ele estava mesmo arrogante em relação à decisão dela. – Mas vejo que você está tranquilo.

Tranquilo... Isso era tudo que eu não estava.

Contive-me.

- Se for uma decisão dela... Eu não a impedirei, como já disse. Não a quero ao meu lado infeliz.

- Então boa sorte Cullen... Vai precisar. – Seu tom era de escárnio.

Ignorei sua postura audaciosa.

- Eu não preciso de sorte, mas você precisará se magoá-la. – Avisei – Não me importo se ela não está mais comigo. Se você fizer algum mal a ela...

- Eu não sou você. – Me interrompeu.

- Com certeza não é... Mas isso não vem ao caso. O fato é que, se você feri-la, ou fizer alguma coisa a meu filho... Eu juro que arranco fora essa sua cabeça de cachorro. –O ódio transbordava a cada palavra.

- Magoá-la é o seu trabalho, Cullen. Ninguém faz isso melhor que você. Eu nunca a magoei, e nunca farei isso. Como eu já disse... Eu não sou você. E em relação à criança, pode ficar tranquilo. Eu nunca faria mal a um ser indefeso, ainda mais sendo ele quem será... Filho de Bella.

- Eu estou a par das lendas de sua tribo, Jacob. Sei sobre o imprinting. E essa é a minha real apreensão. Vai chegar o momento em que você a deixará.

- Eu não vou deixá-la, nunca! – Vociferou.

- Eu realmente espero que não... Eu não gostaria de saber que Bella foi infeliz. Mas a mim, parece que você está tentando convencer a si mesmo, quando sabe que é exatamente assim que vai funcionar.

- Chega desse papo. Eu venci. Você perdeu. – Falou apontando um dedo em sua direção e depois para mim – Encare os fatos. Foi para isso que vim. Para expor a verdade da situação. Talvez assim você assuma de uma vez por todas que não serve para ela e recue.

- Sabe Black, às vezes, quando se ganha, se perde. – provoquei – E isso nem ao menos é uma competição. Pelo menos não para mim, e Bella é muito mais que um simples prêmio. – Respirei fundo, tentando controlar minha frustração – Acho que já dissemos tudo que deveríamos. – Falei meneando a cabeça – Não há mais nada a ser esclarecido, então adeus. Mas não se esqueça do que falei. Você está avisado. – Ameacei.

E antes que ele pudesse responder eu corri na direção oposta. Não queria mais meus sentimentos expostos ao bel prazer sádico do inimigo e rival.

Enquanto as árvores passavam voando ao meu lado, eu analisei sua atitude mais uma vez.

Arrogante, confiante. Ele estava seguro de que Bella iria voltar para ele. Ela devia ter lhe dito algo que lhe causasse tamanha audácia. E se era assim, então era só uma questão de tempo, como eu havia concluído.

Um buraco incomensurável se abriu em meu peito.

Diminui a velocidade inconscientemente.

De pé, entre as musgosas bétulas gigantes, elevei meu olhar até a pálida e tímida luz que se infiltrava por entre as folhas.

A minha existência, como eu a conhecia antes, mudara à presença de Bella, e depois à sua ausência. Tudo em mim foi absolutamente modificado. O amor por ela havia me transformado.

Eu sentia uma nova mudança se aproximar, irrestrita e esmagadora. Incontrolável.

O abandono intencional de Bella me faria sofrer alterações novamente. Os sentimentos já se agitavam e convergiam dentro de mim. A ira sendo a mais real e intensa emoção em meu ser.

Eu tinha consciência de que nada mais seria o mesmo. Nunca mais.