Karina
               Dia 15 de novembro

- Mããe, vou pra casa da Bia, tá?! - Gritei já da porta.

- Não. - Gritou de volta.

- Por quê?! - Perguntei indo para onde ela estava.

- Por que não. - Respondeu ainda de costas.

- Mãe, por favor, eu não vou demorar lá!

- Eu já disse que não, Karina!

- Se você me deixar ir, eu prometo que faço o que a senhora quiser por um mês!

-Porque você quer tanto ir?! - Indagou, parando o que estava fazendo e virando pra mim.

- Por que... - "Se eu falar que é por causa de um menino aí que ela não deixa mesmo."

- Por que???

- Eu tenho que ajudar a Bia... - Ela continuava sem acreditar. - Sério mãe, é um jogo que ela quer instalar no computador e pediu minha ajuda.

- E desde quando você sabe instalar jogo?

- Desde que eu aprendi, ué... - Fiz uma cara de inteligente, e continuei. - Posso ir ou não?

- Só se seu pai deixar. - Respondeu com um sorriso vitorioso.

   Bati o pé, o que estava bom é claro, e saí a procura do meu pai. Procurei, em tudo que é canto, e não achei. Voltei à cozinha e perguntei a minha mãe se ela sabia o paradeiro dele, sabe o que ela disse?! "Não". Acho que essa é a palavra preferida dela, ninguém merece...

   Sem saída, a unica coisa que fiz foi me deitar no sofá e esperar a boa vontade do meu pai aparecer. Quase uma hora depois ele apareceu, passou por mim sem nem dar um bom dia, foi em direção ao banheiro e se trancou. Depois de um tempo saiu do banheiro mais sério do que estava quando entrou. Eu já tinha uma idéia do que poderia ter acontecido. Ele deveria ter tido um dia ruim, como sempre, no trabalho. Era sempre assim, nunca parava em casa, e quando parava não dava bom dia, nem sorria pra mim... Nem me importo mais, já me acostumei.

   Esperei ele sentar no sofá, e me sentei ao seu lado, pronta pra levar quantos foras possíveis.

- Pai?

- Morreu. - Respondeu um tempo depois, seco.

- Nossa, o senhor tá tão carinhoso comigo. - Disse irônica, ele levantou o olhar e me encarou. - Tudo bem?

- Ótimo. - Respondeu, e foi logo ao assunto. - O que tu quer, Karina?

- Posso ir na casa da Bia?

- Vá, mas volte cedo.

- Sim, senhor! - Dei um pulo do sofá, quando já estava na porta dei um grito. - Tchau, mãe!

   Nem esperei a resposta, e saí andando o mais rápido que consegui. Não vou mentir, confesso que foi bem cansativo ir até a casa da Bia, Mas com certeza valeu a pena...

Paula

   Hoje, dia 15 de novembro de 2010, meu aniversário de 16 anos... Era para eu estar feliz?! Pois eu não estou, nem um pouco. Quer saber o porquê? Acho que não vou aguentar mais a pressão do meu irmão. Desde que ele leu as mensagens ele me trata de uma maneira diferente, fica falando sobre homosexualismo, trazendo garotas aqui para casa e me apresentando. Acho que ele quer me testar ou algo parecido, e sinceramente tá me tirando do sério! Bom, vou contar como foi minha noite passada.

   "Quando desliguei o computador eram 20:00 horas, por sorte ou azar, os amigos do Rafael estavam aqui em casa. Luís, Francisco e Daniel...

   Luís, 17 anos, tinha olhos e cabelos pretos, moreno, media 1.75... Desde meus 9 anos de idade que o Luís é meu amigo, sempre estava ao meu lado para me ajudar. Ele foi o primeiro a saber da minha opção sexual, e não tinha problemas nenhum com isso, até gostava de me mostrar diferentes garotas.

   Francisco, 15 anos, tinha olhos castanhos escuros e cabeça raspada, negro, um pouco musculoso, media 1.70... Por ser meu vizinho ele vivia aqui em casa, Francisco era com quem eu tinha menos aproximação, pois ele me paquerava sem parar e eu simplismente odiava isso.

   Daniel, 17 anos, tinha olhos e cabelos castanhos escuros, também moreno, media 1.75... Evangélico, tocava bateria em uma banda gospel. Pode-se dizer que ele era preconceituoso, homofóbico não. Ele era o único que não sabia da minha opção sexual.

   Estava no quarto mexendo no celular quando ouvi um barulho na sala, corri até lá jurando que algum gato derrubara alguma coisa - eu já disse que tenho gatos? Se não, pois é, eu tenho gatos e muitos. -, ao chegar na sala, vi que não tinha sido um gato, e sim três...

- Paaaaaaaaaaaaaula, meu amor! - Gritou Francisco enquanto corria pra me abraçar - Parabéns minha linda!

- Solta ela Francisco - Reclamou Luís me puxando para ao lado dele no sofá. - Parabéns Paulinha, vem cá me dar um abraço.

- Parabéns, mais um ano de vida né?! Vou dedicar uma música a você hoje! - Disse Daniel todo feliz. - Agora fica ai um momentinho, que eu vo ali na cozinha...

- Você não tá nem doido de tacar ovo em mim. - Falei na brincadeira dando um tapa no braço dele. Olhei para a frente e vi o meu PlayStation 2 no chão. - Ah claro, o barulho foi o playstation no chão... QUEM FOI A ALMA SEBOSA QUE DERRUBOU? - Gritei fingindo raiva.

- Francisco! - Daniel e Luís falaram ao mesmo tempo.

- Eu o cacete! Fui eu não meu amor, é mentira deles, acredite não.

- Ta, que seja, se quebrar os três pagam. - Me levantei do sofá e chamei o Luís para a longe dos meninos.

- Luís, tipo, eu poderia ir lá na sua casa amanhã?

- Depende, por que você quer ir?

- Por que eu meio que preciso entrar em um jogo, e tal...

- É para falar com aquela menina, não é? - Perguntou, fiz que sim com a cabeça. - Por que você não entra aqui mesmo?

- Porque o Rafael tá de olho em tudo o que eu faço no computador, eu tenho que mudar minha senha, e aquele computador salva todas as senhas.

- Então tá, eu deixo você ir lá em casa, mas somente um dia, ok?

- Tá - Falei feliz pulando nos braços dele."