-Tom? –eu perguntei para o nada.

Não ouvi resposta alguma. Senti essa tal “pessoa” se agachar ao meu lado e me pegar no colo. Pela tal ação podia jurar que era o meu irmão até porque o Mike era gordinho, mas não tinha força o suficiente.

Aos poucos fomos saindo da mata densa e escura. Olhei para o meu “herói” e quase cai do colo dele ao ver que não era nem o Tom e nem o Mike e sim o Fred, nosso instrutor.

-Hey! Não precisava se aventurar na mata já que esse é o seu último dia aqui! –ele sorriu.

-Desculpa... –eu respondi.

Eu jurava que era o Tom e não esse cara!

-Seu irmão já esta no portão a mais de 20 minutos te esperando! –ele me colocou no chão.

-Eu já estou indo! –sorri envergonhado. –Obrigado por me salvar!

-De nada pequeno! –ele sorriu de volta.

Sai de perto dele e peguei a minha mala. Juntei-me ao meu irmão na frente do portão principal. O Tom estava com um boné preto e olhava para o chão, talvez evitando me olhar nos olhos. O Mike estava aqui também e ria do clima entre eu o meu irmão.

Para a minha surpresa o Tom agiu naturalmente ao ver nossos pais saindo do carro.

-Oi mãe! –eu disse me aproximando dela.

-Oi meu amor! –ela beijou a minha testa.

-E ai, Gordon? –o Tom bateu na mão dele.

-Tá jóia Tom? –ele perguntou sorrindo.

-Tenho que estar! –meu irmão disse entrando no banco de trás do carro.

Sorri para o meu padrasto e entrei no carro ao lado do Tom. Não consegui dizer nada. As palavras estavam entaladas na minha garganta. O que eu podia dizer? “Sinto muito Tom? Não foi minha culpa!” ou “Ah Tom deixa disso! Foi só um beijo de nada!” - tenho que admitir que eu ri sozinho dessa última opção, o que fez meu irmão ligar seu ipod no último volume e virar para o outro lado.

Vi minha mãe e meu padrasto conversarem com o Fred. Isso demorou 40 minutos, eu acho.

O clima entre eu e o Tom estava tenso. De vez enquanto nossos olhares se cruzavam e ele logo virava a cara.

Cutuquei-o e ele me olhou tirando um dos fones do ouvido. Isso já era um bom passo.

-Tom, eu sin... –ele colocou o fone no ouvido de novo e aumento mais ainda o volume da música do Samy Deluxe. –Eu sinto muito... –ele agora estava me ignorando mais ainda. –TOM! –eu gritei e ele começou a fingir que estava tocando guitarra.

-Odeio você... –eu sussurrei.

-E ai meninos? -nossa mãe entrou no carro e fechou a porta do passageiro. –Gostaram do acampamento? –ela sorriu.

- Não! –eu disse.

-Sim! –o Tom tirou um fone do ouvido e respondeu a minha mãe. –O Bill também deve ter adorado o lugar! Ele curtiu tanto! –o Tom estava sendo irônico e o único que deve ter percebido essa ironia fui eu.

-Ah o Tom também gostou daqui! –retruquei. –Ele adorou aquele menino que está ao lado do Fred ali! –apontei para o Mike-Ele foi tão legal com o Tom. Você não tem nem noção mãe! –eu não ia deixar barato, não mesmo!

-É... Pelo menos ele não traiu o irmão dele! –o Tom respondeu.

-Eu não te trai! –eu disse.

-Do que vocês estão falando? –minha mãe estava boiando na conversa.

-Do seu filho! –o Tom respondeu como se ele também não fosse nada da nossa mãe.

-Hãm? –a mamãe disse.

-Não é nada mãe! É o idiota do Tom enchendo o saco mais uma vez!

-Eu? –ele se irritou. –Eu não fiz nada! Foi você que fudeu com a nossa vida aqui!

-TOM! –minha mãe gritou. –Que palavreado é esse?

-Afff! –o Tom colocou seu fone de ouvido de novo.

Ficamos em silencio, só esperando o Gordon chegar para irmos embora.

Meu padrasto entro no carro e ligou o motor. Em poucos minutos nós estaríamos em casa de novo. Encostei-me na porta do carro e fiquei observando a chuva, que estava recomeçando a cair.