Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 7
Jantar na casa de Amora




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À noite, Fabinho resolveu procurar Bento. Precisava convencê-lo a se afastar de Amora. Amora ficara mexida ao reencontrar o namoradinho de infância. Até colocou seu trabalho em risco para ir visitá-lo. E deu para ver que Bento ainda gostava muito dela. Isso era realmente era um grande problema para ele, Fabinho, e seus planos. Por isso foi até a casa de Bento. Mas jamais diria suas verdadeiras intenções. Resolveu se fazer de amiguinho de Bento. 

— E aí, Bento! — disse Fabinho, cumprimentando-o e entrando na casa. — Tudo bem, cara? Posso entrar?

— Já entrou, né? — disse Bento.

Olhou em volta. Bento morava em uma edícula. Fabinho não conseguia entender como alguém podia gostar de viver naquele muquifo. Mas é claro que não dia dizer ao Bento o que estava pensando.

— Aqui que você mora, é? Legal. Tudo meio... Gostei. — disse.

— Oh Fabinho, você não veio até aqui essa hora pra elogiar minha casa. — disse Bento. — O que que está pegando?

— Sabe o que que é Bento? É que com aquela confusão toda, na hora do almoço, a gente acabou mal se falando. — disse Fabinho. — Eu queria conversar sobre você sobre uma amiga nossa em comum. — pegou um porta-retrato, onde havia uma cópia da foto que ele havia tirado ao lado de Amora e Bento. Apontou para a foto de Amora quando era criança. — Amora.

— Você veio até aqui essa hora pra falar da Amora?

— Não. Eu vim aqui em nome da nossa amizade. — disse Fabinho, olhando para a fotografia. — Afinal de contas, melhores amigos, né? Somos três nessa foto. É muito doido pensar, né Bento, que a gente chegou aqui bebezinho no mesmo dia. A gente cresceu junto. Isso é um laço muito forte. A gente só percebe isso depois que fica adulto.

— E onde é que Amora entra nisso? — perguntou Bento.

— Deu pra ver hoje que você ainda gosta muito dela.

— E daí? O que você tem a ver com isso? O que você tá querendo aqui, cara? — perguntou Bento, impaciente.

— Bento, você é meu melhor amigo. — disse Fabinho. — E é justamente por querer o seu bem que eu vim aqui te dar um conselho de irmão. Esquece Amora. Ela não é pra você.

— Você se abalou até aqui porque se preocupa comigo e pra me dizer pra esquecer Amora? — perguntou Bento.

— Amora é noiva do Maurício.  — disse Fabinho.

— Não me diga! — disse Bento, irônico.

— Bento, tudo bem, ela veio aqui, vocês curtiram um tempinho juntos. Legal, mas... Mas ela ama o Maurício. Está na cara.

— E você como o mais novo chapa do mauricinho, veio até aqui pra defender o amiguinho? — perguntou Bento.

— Não, você está de brincadeira. — disse Fabinho. — Eu não tô nem aí pra esse cara. Eu gosto de você. Você é meu irmão.

— Olha, Fabinho, você pensa que eu não vi você babando ovo pro playboyzinho lá na festa? Te conheço, cara. — disse Bento. — Você tá querendo é ficar bem na foto, já pensando nas portas que ele pode te abrir depois.

— Bento, você está me chamando de interesseiro? — Fabinho se fez de ofendido.

— Não. Mas vamos combinar o seguinte, eu não me meto na sua vida e você não se mete na minha. Beleza?

— Beleza.

— Agora se manda, por favor. — disse Bento.

— Não tô entendendo sua reação. — disse Fabinho. — Mas tudo bem, eu fiz minha parte. Se você quer ficar que nem cachorrinho atrás da patricinha, tudo bem. Quando você quebrar a cara, você vai dar valor pro que eu falei. Sou teu irmão. — colocou a mão no ombro dele. — Sou teu amigo, gato. Boa noite.

Saiu da casa e foi em direção à moto, quando ouviu uma voz:

— Olha, a pensão ali abriu vaga pra rapazes, hein?

— Não entendi. — disse Fabinho, próximo à sua moto.

— Ué. — disse Giane, aproximando-se, fazendo umas embaixadinhas com a bola. — Você não sai mais daqui. Achei que você estava procurando um lugar.

— Tá louco. — disse Fabinho, subindo na moto. Pegou o capacete. — Fica tranquilo que eu não volto mais aqui, não.

— Poxa, mas que pena! — disse Giane. — Pensei que eu ia ter alguém pra treinar meus dribles.

— E eu tenho cara de quem bate bola com moleque de rua?  — disse Fabinho, descendo da moto e aproximando-se. — Se liga!

— Sabia que o mariquinha ia amarelar. Aliás, como sempre, né?

— Mariquinha? — ele disse, indignado. Apontou para a moto. — Você já olhou essa moto aqui? Você tem noção de quanto custa esta máquina, o marginal?

Giane achava que ele era medroso por não conseguir chutar uma bola. Mas se ele fosse mariquinha, se fosse tão medroso como ela diz, não teria coragem de andar em uma moto como aquela. Assim pensou Fabinho.

— Tô nem aí pra tua máquina, cara. — disse Giane, jogando a bola pra cima. — Quero saber se já virou homem, isso que eu quero saber. Porque da última vez que eu vi, né, você não sabia nem chutar uma bola. Não é, não? Fraldinha!

Giane lembrou do apelido dele de infância. Quando ele era pequeno, a molecada da rua chamava ele de fraldinha, pois era um garoto medroso. Era péssimo no futebol e não era bom de briga. 

Então ela achava que ele não era homem o suficiente. Ela ia ver só uma coisa. Estava disposto a mostrar que conseguia chutar a bola. 

Giane começou a chutar a bola. Fabinho tentava tomar a bola dela, mas não conseguia. Ela driblava de todas as maneiras possíveis.

— Vamo lá, Fraldinha, não era assim que te chamavam aqui no bairro? Quero ver se você virou macho. É isso que eu quero saber. Vamo lá, vamo lá, Fraldinha! — dizia a garota.

Fabinho se desequilibrou e caiu em uma poça d’água. Giane riu.

— O Fraldinha se molhou todo, é?

— Você me derrubou. — ele disse. Sentiu-se humilhado.

— Ih, nem encostei em você, vacilão! — disse Giane, e estendeu a mão para ele. — Vem, mané.

É verdade, não encostara nele, mas ele se desequilibrara por culpa dela. 

— Não toque em mim, seu maloqueiro sujo! — disse Fabinho, tinindo de raiva, levantando-se e indo em direção à motocicleta. Giane riu.

— Já vai, frutinha? — disse a garota. — Ih, amarelou mesmo!

Fabinho montou na motocicleta.

— Vai te catar, seu favelado, morador de rua! — xingou, e foi embora.

No dia seguinte, cedo, Fabinho foi à Class Mídia. A primeira coisa que Maurício fez foi apresentar o novo funcionário à equipe:

— Pessoal, rapidinho! Esse aqui é o Fabinho, nosso novo estagiário.

— Tudo bem? — disse Fabinho, cumprimentando a todos.

— Fabinho começa hoje com a gente. — disse Maurício. — E se eu tiver certo, vai ser contratado logo, logo, né?

Fabinho deu um tapinha no ombro de Maurício.

— Fabinho, seguinte, essas que são as nossas musas — disse Maurício, referindo-se a Cléo, Carol e Júlia.

— Tudo bem? — cumprimentou Fabinho.

— Cléo, Carol, Júlia. — disse Maurício, apontando para cada uma.

— Tudo bom? — disse Fabinho.

— Vê se se comporta, hein, rapaz? — disse Maurício.

Fabinho riu e deu uns tapinhas no ombro de Maurício.

— Prazer. — disse Fabinho, apertando a mão de Júlia. — Precisando de qualquer coisa, só chamar.

— Jura? — disse Júlia, sorrindo. — Olha que eu vou chamar mesmo, hein?

— Prazer. — Fabinho apertou a mão de Carol.

— O prazer é todo meu. — disse Carol.

— E aí, tudo bom? — disse Cléo, apertando a mão de Fabinho.

— Tudo bem? — disse Fabinho.

— Tudo bom. — disse Cléo.

— Bacana. Prazer. — disse Fabinho.

— Vamos lá, que tem mais coisa pra ver. — chamou Maurício.

— Vamos. — disse Fabinho, acompanhando-o.

— Eu acho isso criativo. — disse Maurício, apontando para uma das mesas. — Vou te apresentar uma pessoa que você precisa conhecer, tá? Érico!

Fabinho reconheceu Érico na hora. Era o filho da tia Salma e do tio Gilson. Não gostou nada de saber que Érico trabalhava ali. Érico o conhecia desde pequeno. E se ele abrisse a boca para contar sobre o seu passado, a sua infância em um lar de adoção? Não queria que ninguém na agência soubesse de seu passado de órfão abandonado. Morria de vergonha. Para Fabinho, era uma vergonha crescer em um abrigo, sem família, sem saber sua origem. Não queria que ninguém soubesse disso. Que cresceu órfão, que fora adotado. 

— Oi? Opa! — disse Érico.

— Esse aqui é o Érico, essa aqui a Amanda. — disse Maurício, apresentando uma moça que estava ao lado de Érico. — O Érico está com a gente desde que a gente começou a agência. Érico, o Fabinho está começando hoje com a gente. Estagiário, amigo meu pessoal, então, ó... Pode abusar dele à vontade.

— Eu conheço o Fabinho! — disse Érico.

— Tudo bem, Érico? — disse Fabinho, apertando a mão de Érico.

— Tudo bom, cara? — Érico cumprimentou.

— Não sabia que você trabalhava aqui, não. Bacana! — disse Fabinho.

— Bem-vindo! — disse Érico, sorrindo.

O celular de Maurício começou a tocar. Maurício disse:

— Olha só, Fabinho, essa aqui eu vou ter que atender, tá? Érico, você continua mostrando a agência pro Fabinho?

— Claro, claro! — disse Érico. — Amanda, você termina aqui pra mim, por favor?

A moça fez que sim com a cabeça.

— Obrigado, viu? — disse Érico, e se aproximou de Fabinho. — Vamos dar uma rodada aqui pra eu apresentar como é que é a nossa rotina.

— Bacana! — disse Fabinho. — Eu tô feliz por fazer parte desse time.

— Que legal! — disse Érico.

Érico mostrou toda a agência para Fabinho. Logo começaram a trabalhar.

Natan apresentou a um cliente, Pascoal, uma outra pessoa para fazer a propaganda. Pelo visto, o cliente não quis mais Amora como representante de seu produto. O cliente não gostou de saber que Amora mentira, dizendo que havia se atrasado para o ensaio por ter passado mal, quando na verdade estivera na Casa Verde. A patricinha perdera a campanha da Scarpe Dolcetto. E parecia que Amora seria trocada pela Lara Keller.

— A boa notícia é que Lara, mesmo dentro desse prazo apertadíssimo, topou fazer as fotos da campanha. — disse Natan a Pascoal.

— É verdade. — disse Lara. — Eu estava com a agenda cheia, mas o Natan insistiu tanto, que eu resolvi dar um jeitinho.

— A Lara é famosíssima no mundo inteiro por causa do Manolo. — disse Natan. — Olha, foi uma tremenda sorte conseguir contar com a presença...

Neste momento, ouviu-se um funk da Mulher Mangaba. Vinha do celular da Carol, que desligou imediatamente.

— Desculpa. — ela disse.

— Quem canta isso? — perguntou Pascoal.

— Ah, essa é a Mulher Mangaba, né? — disse Fabinho. Não perdia a chance de mostrar serviço. Procurava sempre fingir ser eficiente.

— Me mostre uma foto dessa moça. — pediu Pascoal.

Fabinho mostrou, pelo celular, uma foto da Mulher Mangaba a Pascoal.

— É essa! — disse Pascoal. — É essa a moça que eu quero pra campanha dos meus sapatos.

— Como é que é? — disse Lara, sem querer acreditar.

— Ele tá brincando! — disse Natan, rindo. — Né, Pascoal?

— Não, eu tô falando é muito sério. — disse Pascoal. — Eu faço sapato pro povão, Natan, e o povão gosta é disso aqui, não de Amora Campana e essa tal de Lara famosa não sei do que por causa de não sei de quem. Quem compra os meus sapatos, Natan, quer ser essa mulher aqui. — aponta para o celular. — Não essas tripas secas que você fica me empurrando.

— Olha só! Pra mim chega, tá? — disse Lara. — Eu nunca fui tão insultada. — dirigiu-se a Natan. — Você me deve uma. E não esquece, que eu vou cobrar!

Lara foi embora. Natan pegou o telefone, e ligou para sua secretária:

— Carol, me consegue o contato da Mulher Mangaba pra ontem.

A Mulher Mangaba foi chamada para estrelar a campanha.

À noite, Fabinho foi à casa de Bárbara. A perua o havia convidado para um jantar, e é claro que ele não deixaria passar essa oportunidade. Natan, a esposa e Maurício estariam lá. Fabinho até comprou flores para Bárbara. Faria tudo para agradá-la. Fazia parte do plano. Foi Emília, a governanta, quem atendeu a porta.

— Boa noite. — Fabinho cumprimentou.

— Boa noite. — disse Emília.

— Boa noite. — Fabinho disse a todos que estavam presentes.

— Boa noite, Fábio. Fábio Queiroz. — disse Bárbara.

— Já chegou todo mundo? — perguntou Fabinho. — Espero não ter me atrasado.

Amora fez uma cara de quem comeu e não gostou.

— Uma pequena amostra da minha gratidão por me acolher em sua casa — disse Fabinho, entregando as flores à Bárbara.

Bárbara ficou encantada.

— Meu Deus! — disse Bárbara, sorrindo, feliz. — Mas é um encanto. Nossa, eu é que fico feliz em receber um rapaz tão elegante e gentil na minha casa.

— Maurício. Tudo bem? — Fabinho cumprimentou-o com um aperto de mão e uns tapinhas nas costas.

— Tudo bem. — disse Maurício, dando-lhe uns tapinhas na barriga.

— Seu Natan. Dona Verônica. — Fabinho cumprimentou os pais de Maurício.

— Olha aqui, garoto, não tem nada de seu Natan. — disse Natan.

Fabinho se assustou com o tom de voz de Natan.

— É Natan, rapaz. Dentro e fora da agência. — disse Natan.

Bárbara riu. Fabinho ficou aliviado.

— Que susto! — disse o moço, sorrindo.

— Te peguei! — brincou Natan.

— Bom, eu não tomaria essa liberdade, mas já que liberou... — disse Fabinho. Não tratou Natan com intimidade antes porque achou que pegaria mal. Afinal, acabou de conhecê-lo.

— E minha amiga? — disse Fabinho, aproximando-se de Amora e lhe dando um beijo no rosto. — Como é que tá minha amiga? Tudo bem?

Amora estava com a cara amarrada. Não entendia por que Fabinho ficava se fazendo de amiguinho dela. Alguma coisa ele devia estar aprontando.

— Hipocrisia: dez. — murmurou Amora. — Você não dorme em serviço, né, cara?

Neste momento, Malu desce as escadas. Bárbara apresentou:

— Ah, essa é Maria Luísa, minha outra filha.

— Boa noite! — disse Malu.

— Você conhece o Fabinho? — disse Bárbara. — Fábio Queiroz, amigo de infância da Amora.

— Tudo bem? — disse Fabinho.

— Mau! — disse Amora, chamando o noivo.

— Fique à vontade. — disse Bárbara.

— Obrigado. — disse Fabinho, aproximando-se de Malu.

Então aquela era sua irmãzinha caçula! Malu disse:

— Então você é a terceira pessoa daquela famosa foto?

Pelo visto ela já estava sabendo quem ele era, de onde vinha. Sabia que ele crescera em um lar de adoção com Bento e Amora, certamente já deve ter visto a famosa fotografia.

— Pois é. — disse Fabinho. — Aliás, hoje é aniversário do Bento.

— Sério? — disse Malu, surpresa.

— Sério. — disse Fabinho.

— Nossa, vou ligar pra ele. — disse Malu. — Eu gosto muito do Bento, sabia?

Fabinho pensou que ela ia gostar ainda mais dele, quando soubesse que ele era seu irmão.

— É. Vai gostar muito de mim também. — disse Fabinho. — A Amora fala sempre de você.

— Impossível. Ela só fala de quem interessa. — disse Malu.

Pelo visto, a abordagem não dera certo.

— Então vou começar de novo. — disse Fabinho.

— Por favor. — disse Malu.

— Eu sou um grande admirador do seu pai. — disse Fabinho.

Malu não caiu na conversa dele.

— Ah, é? E qual dos filmes dele que você mais gosta?

Fabinho não sabia nada a respeito dos filmes de Plínio. Não vira nenhum. Não sabia direito o que responder. Não era o sujeito mais culto do universo. Se deu conta de que não sabia absolutamente nada sobre seu próprio pai.

— O último. — disse Fabinho. — O último pra mim é sempre o melhor, é incrível.

— O último? Sei. — disse Malu. — Olha, eu vou pra lá. Esse papo tá meio esquisito. Eu tenho mais o que fazer. Dá licença, Fábio.

A garota começou a se afastar, mas Fabinho a chamou:

— Calma, calma aí... Vamos conversar.

Queria se aproximar dela, quem sabe ficar amigo dela. Era sua irmã, afinal. Além do mais, ela seria útil para dar mais informações sobre o pai. Queria saber tudo sobre ele. Queria conhecê-lo.

— Eu... Eu admiro o seu pai mesmo. — disse Fabinho. — Eu tenho um sonho: conhecê-lo pessoalmente.

— E você vai conversar o que com meu pai? Hein? — perguntou Malu. — Sobre o último filme dele que você não sabe nem o nome?

— Você acha que eu não posso conversar com o seu pai? — disse Fabinho. — Porque eu não sei tudo sobre ele, que pode rolar uma conversa bacana entre a gente?

— Olha, eu acho que você pode tentar, mas o Plínio Campana, ele é muito ocupado pra perder tempo com um playboy como você. — disse Malu. — Dá licença.

Ficou furioso. Aquela garota não podia falar com ele daquele jeito. E se ela pensava que ele iria desistir de se aproximar do Plínio, estava muito enganada.

— Isso é o que você pensa. Irmãzinha. — disse Fabinho.

Todos se reuniram na sala para conversar: Malu, Amora, Maurício, os pais de Maurício, Bárbara e os outros três filhos adotivos dela: Luz, Kevin e Dorothy.

— ... E aí eu falei: “Olha aqui, seu quadrúpede, eu não gravo mais nenhum capítulo dessa sua novelinha chinfrim” — disse Bárbara, e Fabinho riu. — Aí o personagem fez uma viagem pra Paris e eu saí da história. Foi isso.

— Inclusive, o autor fez o avião explodir em pleno ar. — disse Kevin.

— Kevin! — disse Bárbara, séria.

— E durante uma semana todos os personagens da trama festejaram a sua morte. — completou Luz.

— E o elenco também, né? — disse Dorothy, sentada ao lado de Bárbara.

Todos riram. Foi uma gargalhada geral. Bárbara disse:

— Olha, aí eu já não sei porque eu não quis mais acompanhar nenhum capítulo dessa historinha infame.

Natan levantou-se, bebendo o seu champanhe. Bárbara perguntou:

— Ah Natan, você não quer me ajudar a escolher um vinho?

Fabinho observava atentamente cada movimento dos dois. Natan pegou um canapé que o mordomo, Bolívar, estava servindo.

— Ah... Sim, claro. — concordou Natan.

Dirigiram-se à adega. Fabinho viu Bárbara beliscar a bunda de Natan.

Verônica aproximou-se de Malu e conversou um pouco com ela. Logo Malu deu um abraço em Verônica e, em seguida, despediu-se de todos:

— Tchau, gente! Boa noite.

Fabinho foi atrás de Amora, que havia deixado uma taça sobre a mesa e ficou ali parada, pensativa. Com certeza pensava no Bento. Fabinho aproximou-se por trás da moça e quase beija o ombro dela.

— E aí, cocotinha? — disse Fabinho. — Já mandou mensagem pro Bento? É aniversário dele, né? Ele está te esperando. Você não vai deixar a família rica do seu noivo pra ir pra zona mais pobre da Casa Verde, né? Até porque errar uma vez é humano, duas é burrice. E a gente sabe muito bem que de burra você não tem nada, né?

No dia anterior, pouco antes de ir embora da Casa Verde, Fabinho vira Bento se despedir de Amora e convidá-la para seu aniversário.

Fabinho e Amora voltaram para a sala. Amora sentou-se ao lado de Maurício. Verônica resolveu puxar conversa com Amora.

— Sabe que seu gesto me surpreendeu? Não comenta nada com o Natan, mas eu realmente achei lindo você ter ido visitar os seus amigos de infância, as pessoas que te criaram, Amora. Eu achei realmente admirável.

Amora, pelo visto, não recebeu muito bem o elogio da sogra.

— Você me acha assim tão fútil a ponto de valorizar tanto o simples ato de eu visitar alguém? O que você sabe sobre mim? — disse Amora.

— A gente só sabe das pessoas aquilo que elas nos dão a conhecer, Amora. Desculpa. — disse Verônica.

Natan e Bárbara voltaram para a sala.

— Com licença. — disse Verônica, levantando-se do sofá e saindo de perto de Amora. Foi atrás de Natan.

— Sua mãe é fogo, hein? — disse Amora a Maurício.

— Amora, a minha mãe, ela só quis ser gentil. — defendeu Maurício. — Ela falou pra você que você é admirável.

— Essa é a sua leitura. — rebateu Amora. — Pra mim foi mais uma forma polida da sua mãe deixar bem claro que ela não vai com a minha cara.

 — Dinned is served! — disse Bárbara, batendo as mãos. — O jantar está servido.

— O jantar está servido. — disseram os filhos adotivos de Bárbara, imitando-a, e fizeram o mesmíssimo gesto com as mãos.

Durante o jantar, Fabinho elogiou o vinho:

— Esse vinho é incrível, né?

Sabia que provavelmente fora Natan quem escolhera. Bárbara não levava jeito de quem tinha conhecimento sobre vinhos. E Fabinho não perdia uma oportunidade de puxar o saco do chefe.

— Natan que escolheu, porque eu infelizmente não entendo nada de vinho. — disse Bárbara. — O meu penúltimo marido, sim. Ele entendia tudo de vinhos. Ainda bem que ele teve a gentileza de deixar a adega cheia antes de se converter ao islamismo, não é?

Riram. Bárbara perguntou:

— E você, Fabinho, está gostando da Class Mídia?

— Eu gostei muitíssimo. — disse Fabinho. — Só espero corresponder à oportunidade que o Maurício e o Natan estão me dando.

Maurício levantou a taça.

— Obrigado. — disse Fabinho.

Bolívar ia servir vinho à Amora, porém ela recusou:

— Não, Bolívar. Obrigada. Eu tô com dor de cabeça.

— Não admira. — disse Natan. — Seu dia deve ter sido muito pesado hoje, não é, Amora? Mas é assim mesmo. Quando se é jovem, a gente dá muitas cabeçadas. O importante é aprender com elas pra não repetir.

— Antes que você continue com a sua lição de vida, vamos deixar bem claro que eu jamais quis fazer essa campanha. — disse Amora. — Os sapatos Scarpe Dolcetto pra mim é a coisa mais brega...

— A sua opinião não interessa. — interrompeu Natan. — No momento em que você aceitou fazer essa campanha, era sua obrigação ser profissional.

— Eu só aceitei porque você me pediu. — disse Amora. — Aliás, você implorou pra fazer bonito com seu cliente novo, que desde o começo deixou muito claro que não me queria na campanha, mas eu deixei tudo isso de lado, eu fui profissional, eu fui...

— Ah, foi, foi! — interrompeu Natan. — A mídia mostrou muito bem o seu profissionalismo.

— Eu me atrasei sim. — disse Amora, mostrando-se alterada.

— Amora... — Maurício tentou acalmá-la.

— Peraí, Maurício. — disse Amora. — Eu me atrasei sim, mas eu fui lá e eu fiz o ensaio!

— Ela fez, Natan. — defendeu Bárbara.

— E eu ainda aturei quieta todas as grosserias daquele sujeitinho ignorante. — disse Amora. — E pra quê? Pra no final disso tudo, em cima da hora e por puro capricho, o seu cliente me trocar por uma funkeira cheia de banha e celulite!

— Eu não me incomodo com a celulite da Mulher Mangaba. — Kevin.

— Kevin! — disse Bárbara, irritada. — Pelo amor de Deus, você não repita nessa mesa essas palavras: celulite e Mulher Mangaba.

Amora levantou-se da mesa:

— Olha só, eu já engoli sapo demais por hoje. Bom jantar pra vocês.

— Amora... — disse Maurício.

— Obrigada. — disse Amora, retirando-se.

— Você também, hein, pai? Tinha que falar sobre esse assunto na mesa? — reclamou Maurício.

— Quem ia imaginar que ela ia explodir desse jeito? — disse Natan, atirando um guardanapo na mesa.

— Amora pode não estar conseguindo se controlar, mas ela está mostrando aquilo que ela realmente pensa. — disse Verônica.

Após o jantar, Fabinho foi ao quarto de Amora e bateu na porta, que estava aberta. Viu que ela estava com o celular na mão.

— Já ligou pro Bento? — perguntou ele.

— O que você está fazendo aqui, Fabinho? — perguntou Amora.

— Uau! — disse Fabinho, olhando ao redor. — É aqui que Amora Campana dorme e sonha, é?

Realmente, o quarto dela era muito bonito, para uma moça.

— Fabinho, sai daqui! — disse Amora, tentando empurrá-lo.

— Calma aí. Que lindo isso, parece quarto de princesa. — disse Fabinho, sentando-se na cama. — Você sempre quis um desses, né? — cheirou um lenço que estava sobre a cama.

— Agora dá pra você sair do meu quarto? Sai daqui agora. — disse Amora.

— Amora, eu tô preocupado com você. — disse Fabinho. — Lá embaixo, ficou todo mundo assustado com seu piti. Mas eu sei.

— Sai, sai, sai, sai, sai! — disse Amora, expulsando-o.

— Você tá assim porque você queria ir na festa do Bento. Eu sei. — disse Fabinho, pegando um porta-retrato.

— Não mexe aí. — disse Amora.

— Calma aí. — disse Fabinho, dando uma olhada na foto.

Fabinho colocou o porta-retrato de volta no lugar.

— Eu acho que eu posso te ajudar, sabia? Você gosta de andar de moto? — ofereceu Fabinho, pegando uma pulseira. — Tenho uma bem legal.

— Chega, sai daqui! — disse Amora, tomando a pulseira da mão dele e colocando-a de volta onde estava.

— Maurício adora minha moto. — disse Fabinho.

— Sai do meu quarto agora! — disse Amora.

— Que isso aqui? — disse Fabinho, indo até o closet. — Que isso, Amora?

— Fabinho, não entra aí! — disse Amora.

Fabinho abriu a porta dupla do closet. Ficou chocado. Amora tinha centenas de sapatos repetidos. Que loucura!

— Meu Deus do céu! — disse Fabinho, pegando um par de sapatos. — Isso aqui não é um closet, é um shopping, né? E essa quantidade de sapato repetido, Amora? Que isso? Tá louca?

— Não te interessa. — disse Amora. — Se você não sair daqui agora vou chamar o segurança.

— Amora! — disse Fabinho, colocando o par de sapatos de volta no lugar. — Você é muito mais louca do que eu pensava. Isso aqui é caso de terapia.

— Um, dois... — Amora começou a contar.

— Vou sair. — disse Fabinho. — Amora, você sabe que esse closet é maior do que a casa do Bento, né? Eu acho que você tinha que pensar duas vezes antes de voltar pra Casa Verde.

— Fabinho, por que que você tenta me afastar tanto do Bento, hein?

Porque Bento não era o homem certo para ela. Assim pensou Fabinho. Ele, sim, era homem para ela.

— Já te falei, Amora. — disse Fabinho. — Quero seu bem. Quero te ver no caminho certo. Por isso trata de tirar o Bento da sua cabeça.

— E por que que ela tem que tirar o Bento da cabeça, Fabinho? — perguntou Maurício, que acabara de entrar no closet e ouvira parte da conversa.

É claro que o clima ficou tenso. Porém, Fabinho nem se abalou. 

— Sabe o que que é, Maurício? — disse Fabinho. — É que hoje é aniversário do Bento e Amora prometeu que ia, só que a festa é num barzinho de pagode. Tô falando pra ela. Imagina se alguém tira uma foto, bota na internet.

— Amora, isso não seria bom. — disse Maurício.

— É. — disse Fabinho.

— Meu amor, por que que você não faz uma coisa? — disse Maurício à Amora. — Dá um tempo, preserva sua imagem. Deixa a mídia esquecer essa história toda, senão eles vão continuar inventando fofoca atrás de fofoca.

— É, manda uma mensagem pro Bento. Ele vai entender. — disse Fabinho.

— Eu sei muito bem o que eu faço, tá? — disse Amora. — Obrigada, Fabinho. Você pode voltar lá pra sala. Dá licença pra gente, por favor?

— Tá bom. Vou deixar o casal. — disse Fabinho, colocando a mão nos ombros de Amora e Maurício.

— Tchau, Fabinho. — disse Maurício.

— Tranquilo. Um abraço.  — disse Fabinho, despedindo-se.

Fabinho acabou pedindo emprestado uns DVDs do Plínio Campana. Afinal, ele precisava se aproximar do pai, e esse seria um assunto para conversar. E é claro que queria impressionar o pai com seus conhecimentos.

— Aqui os filmes do Plínio Campana. — disse Luz, trazendo os DVDs.

— Obrigado. — disse Fabinho. — Adorei. Você não sabe o favor que está me fazendo. Eu vejo e depois devolvo, tá?

— Ah, nem precisa. — disse Luz. — Pode demorar mais tempo se quiser. Acho muito legal você ser fã do Plínio.

Claro que era fã, afinal era seu pai. Assim pensou Fabinho.

— Eu acho ele o maior cineasta vivo do país. — disse Fabinho.

— Ah, pena que vocês já estão indo. — disse Bárbara, descendo as escadas. — Tão cedo. De qualquer forma, muito obrigada pela noite tão saborosa.

— Agridoce, eu diria. — disse Natan.

— Bom, esse é o preço que pagamos por sermos tão singulares, não é? Tanto gênio, tanto espírito, também cobra o seu pedágio. — disse Bárbara.

— Muito obrigado pelo jantar, Bárbara. — disse Natan, despedindo-se.

— Claro. — disse Bárbara, enfiando um lenço no bolso do Natan sem que ele perceba. Fabinho observou tudo. Decidiu tirar algum proveito disso. Daria um jeito de conquistar a confiança de Natan.

— Nos vemos. — disse Natan.

Bárbara murmurou algo no ouvido de Natan.

— Até mais! — disse Natan.

— Ah, Verônica! Maurício, por favor, perdoem a Amora, porque a culpa é toda minha. — disse Bárbara. — Eu sempre fiz todas as vontades dessa menina, mas eu sou assim mesmo. Eu mimo demais as minhas crias.

— E aí, quando eles crescem, acabam virando uma bomba-relógio. — disse Verônica, fazendo um carinho no ombro do filho.

— Ah, vai me dizer que você também não mima o Maurício? — perguntou Bárbara.

— Eu mimei, sim. — disse Verônica, sorrindo. — Mas eu não fiz todas as vontades dele, não.

— É, mas o papai fez, né? — rebateu Maurício. — Vambora. Tchau, Kevin. Tchau, crianças.

— Tchau, meninos! — disse Verônica, despedindo-se.

Fabinho acenou, em despedida.

— Bárbara, obrigada pelo jantar, tá? — disse Maurício, despedindo-se de Bárbara com um beijo no rosto.

— Bárbara. — disse Verônica, dando um beijo no rosto de despedida.

— Tchau. — disse Bárbara.

Maurício e Verônica foram andando na frente de Natan.

— Boa noite. — disse Natan, saindo.

— Boa noite. — disse Bárbara.

— Bárbara, obrigado pela noite adorável. — Fabinho despediu-se.

— Ah, imagine! — disse Bárbara, dando-lhe um beijo no rosto.

Viu que Fabinho estava levando uns DVDs.

— Que isso? — Bárbara tomou os DVDs das mãos dele, olhou-os e riu. — Você sofre de insônia.

— Eu sou um grande admirador do Plínio. — disse Fabinho.

— Ah, eu também sou uma grande admiradora do Plínio, mas aí assistir os filmes dele vai um certo exagero, não vai? — ela disse, devolvendo os DVDs.

— Boa noite. — disse Fabinho.

— Boa sorte. — disse Bárbara.

— Obrigado. Tchau. Tchau. — disse Fabinho, indo embora.

— Tchau. — disse Luz.

Na saída, Fabinho chamou Natan.

— Natan. — disse ele.

— Oi. — disse Natan, virando-se.

— Acho que a Bárbara deixou cair alguma coisa no bolso da sua jaqueta.

— É?

— É. Boa noite. — disse Fabinho, despedindo-se.

— Boa noite. — disse Natan.

Fabinho, montado na moto, viu Natan tirar o lenço do bolso e atirar no chão.

— Mas que pistoleira. — disse Natan, indo embora.


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