Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 11
Visita a dona Margot




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No dia seguinte, cedo, Fabinho chegou na agência. Já estava sabendo que Natan havia ganho o prêmio de melhor publicitário do ano. Quando chegou na agência, viu que estavam todos reunidos para uma comemoração.

— Opa! Tá rolando festa? E aí, Natan? Parabéns, hein? — disse o rapaz.

— Fabinho, vem aqui, na minha sala. — chamou Natan.

Fabinho percebeu que Natan estava furioso. Assim que entraram na sala, Natan disse:

— A mídia inteira tá perguntando sobre o meu filme. Não é curioso que isso tenha acontecido depois da nossa conversa?

— Como assim, Natan? Não sei do que você está falando. — disse Fabinho, se fazendo de desentendido.

— Você foi a única pessoa pra quem eu disse que gostaria de ter sido cineasta. Você, por acaso, comentou isso com alguém? — perguntou Natan.

O clima era de tensão. Porém, Fabinho não se abalou.

— Natan, naquele dia, eu saí daqui, eu fui na casa da Bárbara Ellen devolver os DVDs do Plínio Campana. — disse o rapaz. — Não lembro. Talvez eu tenha comentado alguma coisa, ela perguntou sobre você.

— Bárbara Ellen! Então, agora, tá explicado! — disse Natan.

— Natan, se eu te prejudiquei de alguma forma, perdão. — disse Fabinho.

— Tá bom. Tá bom. Dessa vez, passa. Agora, se você, por acaso, passar adiante mais alguma informação confidencial, você tá na rua, entendeu?

— Tá, é que eu não sabia que era confidencial. — disse Fabinho, se fazendo de inocente, de bom moço. — Desculpa causar algum problema.

— Tudo bem, pode ir. — disse Natan.

— Não vai acontecer, prometo. — disse Fabinho, saindo da sala.

Fabinho foi direto para sua mesa. Edu foi logo lhe dando ordens:

— Aí, Fabinho, vai lá no estúdio, pega as cópias que eu mandei imprimir.

Fabinho não estava nem um pouco a fim de se submeter às ordens daquele idiota. 

— Isso não é minha função não, cara. — disse Fabinho, levantando-se.

— A tua função é fazer o que a gente manda. — disse Cléo. — Anda, rapaz! Vai lá!

— Fabinho, passei uma ligação pra você no ramal da Júlia. — disse Carol. — Tem uma pessoa querendo falar urgente.

— Quem é?  — perguntou Fabinho.

— Da casa da dona Verônica, a esposa do Natan. — disse Carol.

Quem poderia querer falar com ele, ainda mais da casa da Verônica?

— Pra mim? — perguntou Fabinho, achando estranho.

Foi atender ao telefone.

— Alô?

— Alô, Fabinho? Sou eu, Santa.

Fabinho não estava acreditando. Como Santa sabia que ele estava trabalhando na Class Mídia? O que ela estava fazendo na casa da ex-esposa de Natan? Agora que ela o encontrou, vai ficar na cola dele. Ela o conhecia, não ia com a cara dele, sabia tudo o que ele havia aprontado em Ribeirão Bonito. Se ela abrisse a boca, ia prejudicá-lo. Era um grande problema para ele. Ninguém podia saber das coisas que ele havia aprontado. Ninguém podia saber que ele havia participado de um racha, que havia deixado a mãe adotiva pagar por um crime que ele cometeu. As pessoas em São Paulo iriam pensar mal dele. Se Natan, Maurício, e até mesmo Plínio soubessem que ele era um delinquente, estaria tudo acabado. Seus planos estariam todos arruinados.

— Fabinho, tá me ouvindo? Responde! — disse Santa.

Fabinho resolveu desligar o telefone na cara dela. Cléo perguntou:

— E aí? O quê que tá rolando? Era a dona Verônica, mesmo?

— Não, não, era trote. — disse Fabinho.

— Vem cá, o Natan sabe que você anda divulgando o número da agência entre seus amiguinhos, pra se promover? — perguntou Edu.

— E o nível dos coleguinhas é tão alto, que eles se dão ao luxo de te passar um trote? — disse Cléo. — Ah, faça-me o favor! É o fim da picada, como diz minha avó!

Fabinho continuou na agência. Porém, continuava fazendo corpo mole.

— Oh Fabinho, precisa repor aqui urgente o papel da impressora, cara! — disse Edu.

Fabinho fez que não ouviu. Ele não era o único estagiário ali. Por que Edu não pedia para a Cléo? Ela era estagiária também. 

 — Ei! Não adianta se fazer de surdo, não, achando que vai sobrar pra mim! — disse Cléo, levantando-se de sua mesa. — Todo mundo sabe que o último estagiário a entrar é sempre o que faz as funções mais toscas. Anda, vai lá!

— Olha, eu tenho que dar uma saída. Desculpa. — disse Fabinho, levantando-se e da mesa e pegando a bolsa.

Jamais iria abaixar a cabeça para aqueles idiotas. Podia fazer o que quisesse. Era amigo do Maurício. Tinha as costas quentes. Cléo ficou indignada.

— Você tá falando sério? — riu, nervosa. — Mas é muita palhaçada!

Fabinho não estava nem aí para o trabalho. Estava preocupado com outra coisa. Santa estava sabendo que ele estava trabalhando na Class Mídia. E se ela resolvesse aparecer por ali, atrás dele? Descobririam tudo. Era melhor dar o fora, antes que Santa o encontrasse ali. 

Ao sair da agência e montar na moto, Fabinho deu de cara com Santa.

— Então, você deixa a sua mãe com a ficha suja na polícia e vem pagar de playboy aqui. — disse Santa, abanando a cabeça. — Te peguei no pulo, hein, moleque!

Acabaram indo para um café.

— Como é que você me encontrou aqui, Santa? — perguntou Fabinho.

— Eu tô dando uma mão pra Verônica. — disse Santa. — E acontece que ela é mãe do Maurício, noivo da Amora Campana. E a Margot me contou que você cismou que é filho do Plínio. Foi só juntar dois mais dois. Já pediu a ele pra fazer o exame?

— Ainda não. Quero ir devagar. — disse Fabinho. — Quero que o Plínio me conheça, se afeiçoe a mim.

— Ah, sei. Entendi. — disse Santa. — Assim, você não precisa esperar ele morrer, pra ter a herança, não é? Ele gostando de você, ele solta a grana mais cedo. É nisso que você tá pensando, né?

Fabinho percebeu a reprimenda no tom. Não estava a fim de ouvir sermão, lições de moral. Não era apenas uma questão de dinheiro, embora dinheiro seja realmente importante. Se tratava da vida dele, da família dele. Plínio era pai dele, claro que ele queria que o pai se afeiçoasse a ele. Quem no lugar dele não iria querer? Claro, seria ótimo se o pai liberasse a grana mais cedo. Até porque ele não queria trabalhar, pegar no pesado. Queria vida boa, viver de herança. Mas ele não queria apenas dinheiro, queria o afeto do pai. Se Santa o julgava um interesseiro por querer se aproximar do pai, conquistar o afeto do pai, por querer ter direito à herança, problema dela. De qualquer forma, Santa não tinha nada a ver com isso. Não era da conta dela o que ele pretendia fazer. Por que ela não dizia logo o que queria com ele?

— Santa, é a minha vida. É a minha história. Não se mete.

— Tudo bem. Mas você vai ter que visitar a Margot ainda hoje. — disse Santa. — Ou então, eu vou contar pra todo mundo o bandidinho que você é! — apontou para ele. — Que jogou a sua própria mãe na cadeia!

E agora? Teria de ir visitar a mãe adotiva, do contrário, Santa botaria a boca no trombone. O problema é que Fabinho não sabia como olhar para a cara da mãe depois de tê-la deixado pagar por um crime que ele cometeu, e tê-la largado, sozinha, em Ribeirão Bonito. Não dava para voltar agora, ir visitar a mãe como se nada fosse. Não sabia como seria a reação dela ao vê-lo, depois de tudo. Com certeza ela devia estar furiosa, daria uma bronca nele. Não estava a fim de ouvir sermão. Além do mais, certamente a mãe não ia querer vê-lo nem pintado de ouro, depois do que fez. Pretendia voltar um dia, quem sabe, visitar a mãe, mas achou que tinha de esperar a poeira abaixar. Porém, Santa ameaçara contar para todo mundo o que sabia.

Resolveu visitar a mãe. Não havia outra saída. Ao chegar na casa da mãe, em Ribeirão Bonito, encontrou-a rezando, sentada à mesa. Dona Margot o viu.

— Fabinho! Meu filho, você voltou! Você voltou! — disse dona Margot, feliz, abraçando-o.

Fabinho não achou que a mãe ficaria feliz ao vê-lo, depois do que fez. Achou que ela devia estar odiando-o. Porém, Margot o recebeu muito bem. Fabinho tomou um banho, trocou de roupa, foi sentar-se no sofá. Margot estava preparando o jantar.

— Estou fazendo aquela lasanha que você gosta. — disse dona Margot.

Dona Margot estava feliz com a presença do filho. Sentiu falta dele. Esteve o tempo todo preocupada, sem ter notícias dele. O filho havia sumido, e ela ficou sem saber por onde ele andava, com quem, ou o que andava fazendo. Tentara ligar para o rapaz, mas ele não atendia. Então pediu a Santa para ir atrás dele, achá-lo em São Paulo. Esperava que ele não fizesse besteira. 

Continuava amando o filho, mesmo depois de tudo. Mesmo depois de ele tê-la deixado assumir o roubo, largado ela na delegacia e ido embora. Achava que o filho agia assim por culpa dela. Fabinho não tinha limites. Ela não havia dado limites para ele. Fabinho cresceu acostumado a ter tudo o que quer, na hora que quer. Além do mais, nem sempre ele a tratou mal. Fabinho já foi um filho mais carinhoso, antes da falência financeira da família. Claro, o relacionamento deles nunca foi fácil, porque o garoto vivia aprontando. Parecia querer testar sua paciência, seu amor, seu carinho. Mas tiveram bons momentos. 

Fabinho sorriu.

— Ai, quase morri de preocupação!  — disse dona Margot, sentando-se no sofá, ao lado do filho. — Deixa eu ver como é que você está. — passou a mão no rosto do filho. — Ah, o cabelo está bom! — Fabinho riu. — Está meio magrinho, né? Está comendo direito?

A mãe, como sempre, se preocupando com ele. Mas ele não tinha tempo a perder. Precisava que a mãe o ajudasse. Não podia permitir que a Santa o prejudicasse, que colocasse tudo a perder. 

— Mãe, eu estou ótimo. — disse Fabinho. — Eu podia estar ainda melhor se a Santa não tivesse ido me perturbar.

— Ah, ela te achou? — perguntou dona Margot. — Então, pelo visto, você está perto do Plínio Campana.

 — Mãe, eu estou perto de conseguir tudo o que é meu por direito. Mas a Santa não pode atrapalhar tudo. Ela não pode sair por aí falando nada contra mim, entendeu? Por favor, me ajuda! — disse Fabinho.

— Você veio até aqui só pra me pedir isso? — espantou-se dona Margot, levantando-se do sofá. — Depois de ter me largado na delegacia e sumido? Você tem ideia da...

— Tá bom. Tá bom. Eu sei que errei. Foi mal. — disse Fabinho, interrompendo-a. Sabia que a mãe a qualquer momento iria dar sermão, e ele não queria ouvir.

— Foi mal? — disse dona Margot. — Eu mereço um pouco de consideração. Eu posso não ser sua mãe biológica, mas...

— Foi mal! Eu já pedi desculpa! Você quer que eu fale o quê? — disse Fabinho, impaciente. A mãe sempre fazia drama. 

Fabinho sabia que errara ao deixar a mãe pagar por um crime que ele cometeu. Não se sentia bem com isso. Mas também não estava realmente arrependido. Afinal, a mãe assumira a culpa pelo roubo porque quis. Ele não pedira à mãe para assumir o roubo em seu lugar. Tudo o que ele pedira era que a mãe dissesse ao delegado que ele era inocente. A mãe estava sempre livrando-o de encrenca, qual era o mal de ela livrá-lo mais uma vez? Além do mais, ela é ré primária, talvez nem fosse presa pelo roubo. Com certeza teria uma punição mais leve. E para ele era conveniente que a mãe assumisse a culpa pelo crime. Ele não era réu primário. Certamente, ficaria na cadeia por muito tempo. Se ele tivesse sido preso, não poderia ir a São Paulo, atrás do pai. Para ele, os fins justificam os meios. Não que não goste da mãe, mas ele vinha sempre em primeiro lugar. E não tinha nenhuma culpa em se colocar em primeiro lugar. Infelizmente, teve de prejudicar a mãe um pouquinho para poder ir atrás do pai biológico. Não que ele goste de prejudicá-la. Mas também o que estava feito, estava feito. Não tinha como voltar atrás, como desfazer.

Dona Margot estava chocada com o egoísmo do filho. O rapaz só pensava nele, nos interesses e necessidades dele e não ligava a mínima para tudo o que ela estava passando. Ela ficara com a ficha suja na polícia por causa dele. Mas Fabinho só pensava em ir atrás do Plínio Campana. Isso virara uma obsessão para ele. O rapaz não via mais nada, nem ninguém. 

— Eu não quero desculpa! — disse dona Margot. — Eu quero que você se interesse por mim! Sabia que eu fui indiciada por causa daquele roubo?

— Mãe, você não vai ser presa por isso. — disse Fabinho, levantando-se. — Você vai ter que prestar um serviço comunitário, no máximo. E, olha, eu vou ficar bem. Eu vou te bancar, tá? Você vai voltar a ter boa vida. — colocou as mãos sobre os ombros da mãe.

Ele compensaria a mãe pelo que fez com ela. E estaria tudo resolvido.

Margot ficou perplexa. Fabinho achava que dinheiro resolvia tudo. 

— O Plínio Campana já sabe que você acha que é filho dele?

— Ainda não. — disse Fabinho. — Primeiro eu tenho que descobrir o que que a Bárbara aprontou pra minha mãe. Depois eu abro o jogo pra ele.

Passou a noite na casa de dona Margot. No dia seguinte, acordou cedo e tomou café com a mãe.

— Você promete, então, pedir pra Santa ficar de bico calado? — perguntou Fabinho, tomando um gole do suco.

— A Santa tem um coração de ouro. — defendeu dona Margot, colocando café na xícara. —  Ela só ameaçou te entregar pra você vir me ver. E aí? Promete que você vai me ligar?

— Prometo, mãe. Eu vou te ligar. — disse Fabinho, limpando a boca com o guardanapo. — Vou pra São Paulo, tá? Que eu não posso perder meu emprego.

— Não, peraí! Calma aí, calma aí, a gente tem que conversar. — disse dona Margot, deixando a garrafa térmica de lado. — Escuta, que história é essa de você estar trabalhando numa agência de publicidade sem ter faculdade? E por que que até agora você ainda não contou pro Plínio que você é filho dele?

Fabinho suspirou. Agora a mãe resolveu fazer um interrogatório. Não era hora para isso, ele precisava ir embora, tinha de trabalhar. 

— Você é muito ansiosa, né? Muita pergunta. — deu uma pausa. — Eu acho que a Bárbara tá escondendo alguma coisa sobre a minha mãe. Pra eu descobrir o que que é, eu tenho que ganhar a confiança dela. Por isso, ninguém pode saber quem eu sou, entendeu?

— Então, quer dizer que você está atrás dessa história de Plínio Campana, não é só por causa do dinheiro. — disse dona Margot. — Você tá preocupado com a tua família, né, filho?

— Eu tô pensando no dinheiro, eu tô pensando na família e eu tô pensando em ferrar essa bandida. — disse Fabinho, revoltado. — Se não fosse ela, eu não teria ido parar naquele lar e minha vida não tinha virado esse lixo.

Bebeu um gole do suco de laranja. Dona Margot disse:

— Não, não fala assim, não, porque eu fiz muita coisa por você, viu?

Fabinho estava cansado deste discurso. A mãe era sempre muito dramática. Detestava quando a mãe ficava jogando na cara dele tudo o que tinha feito por ele. O fato de ele ter sido adotado, criado por ela, não anulava a mágoa e a revolta que ele sentia por ter sido abandonado. Tinha de voar para São Paulo. Estava atrasado. Não tinha tempo para ficar conversando com a mãe.

— Eu já conheço, eu já conheço tudo isso. — disse Fabinho. — Tá bom? Sem drama. Daqui até São Paulo são 3 horas. Eu não posso perder meu emprego na agência por tua culpa. — levantou-se. — Não esquece de falar com a Santa.

— Tá. Eu falo. Peraí, me dá um beijinho! — disse dona Margot, levantando-se da mesa e indo abraça-lo.

— Tchau! — disse Fabinho, lhe dando um beijo no rosto.

— Vem cá, olha. Não corre, se alimenta, viu? Me liga! — pediu dona Margot. Fabinho acenou e saiu.


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