Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 10
Segundo encontro com o pai




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No dia seguinte, Fabinho foi trabalhar na agência, como sempre. Viu Júlia se despedir de Xande. Cléo e Edu resolveram provocá-la, como sempre:

— Quanto é que ele cobrou pela performance, hein? — perguntou Edu.

— Será que ele tem algum amigo gatinho, que aceite carteirinha de estudante? — perguntou Cléo. — Eu fiquei a fim de provar.

Júlia deu uma risada sarcástica. Cléo riu também.

— Podem sacanear, podem falar à vontade, porque uma mulher, uma mulher bem amada, ela vive assim, numa proteção, sabe? — disse Júlia. — Contra inveja, contra fofoca... Vamos trabalhar! Vamos trabalhar! Vamos lá!

Carol, a secretária, aproximou-se de Érico, que estava sentado na mesa ao lado da de Fabinho.

— Ô Érico! — disse Carol.

— Oi. — disse Érico.

— O Kléber do financeiro tá na linha. — disse Carol. — Ele já ligou duas vezes pra falar com o Natan e me parece bem preocupado.

— Qual é a linha dele? — perguntou Érico.

— É a três. — respondeu Carol.

— Três? Obrigado, Carol. — disse Érico, e foi atender. — Oi, Kléber!

Fabinho resolveu saber o que acontecia. É sempre útil saber tudo o que ocorre dentro da agência. Quem sabe tirava algum proveito. Foi atrás de Carol.

— Carol!

— Oi. — disse Carol, voltando-se.

— Quem é Kléber? — perguntou Fabinho.

— É o cara das finanças da agência. — disse Carol. — E ele só vai aumentar o teu salário, Fabinho, quando você deixar de ser futriqueiro.

Na hora do almoço, Fabinho foi atrás de Plínio novamente. Plínio havia ido à Pinacoteca, conhecer a Galeria Tátil de Esculturas Brasileiras. Quando Fabinho chegou, Plínio estava falando ao celular. A princípio, Plínio não notou a presença do rapaz, que desceu da moto e o seguiu enquanto falava ao celular com Malu:

— Ei, ei, que voz é essa? Hã? Sei. Ô, filha, que chato! Escuta, vamos jantar hoje. A gente conversa com mais calma, tá? Combinado, mas olha, não fica assim não, não fica assim! Não fica assim, tá, querida? Bola pra frente! Um beijo, tchau, tchau! — disse Plínio, pegando um folheto que estava sobre um balcão.

Fabinho também pegou um folheto e ficou observando Plínio, que estava olhando para uma escultura. Aproximou-se do pai e o cumprimentou:

— Plínio, tudo bem? — Plínio olhou para ele. — Que surpresa lhe encontrar aqui.

— Fábio, não é? Como vai? — cumprimentou Plínio.

— Tudo bem! — disse Fabinho. — Eu não conhecia. Vim conhecer a galeria... Galeria Tátil! Que coincidência! Eu tenho um apreço muito grande pelo trabalho com os deficientes visuais.

Na verdade, Fabinho não era idealista, nem se interessava pelos cegos. Mas faria de tudo para impressionar o pai, para agradá-lo. Queria que o pai gostasse dele, então faria de tudo para ser o filho que todo pai gostaria de ter.

Plínio desconfiou. O rapaz sempre aparecia em todo lugar que ele ia, parecia estar seguindo-o. E sempre tentava impressioná-lo, bajulá-lo, por que? O que aquele rapaz queria com ele? Qual o interesse do rapaz nele?

— Você tem apreço como? — perguntou Plínio. — Você faz alguma coisa por isso? Você faz algum tipo de trabalho voluntário? Como ler pra eles, por exemplo?

— Não, ainda não faço, mas tenho muita vontade de fazer. — disse Fabinho. — Por exemplo, essa obra de arte... — colocou a mão sobre a escultura. — O deficiente visual tem a oportunidade de tocar na escultura, de sentir a... Isso altera a sensibilidade, né? Isso é uma beleza muito grande, né?

Passaram uma meia hora na galeria. Observaram um quadro da Tarsila do Amaral. Fabinho perguntou:

— Tarsila do Amaral foi aquela da Semana Futurista, né?

Para Plínio, estava na cara que o rapaz tentava mostrar ser culto, ter mais conhecimento do que realmente tinha.

— Nunca houve Semana Futurista. — disse Plínio. — Houve a Semana de Arte Moderna, da qual a Tarsila não participou, porque morava em Paris e ainda não era modernista.

— Modernista. É isso que eu quis dizer, modernista. — disse Fabinho.

— Não, você não quis dizer nada, você não sabe do que está falando.  —disse Plínio, impaciente. — E eu não sei o que é você está pretendendo com tudo isso.

— Eu não pretendo nada, Plínio. — disse Fabinho.

— Então, pare de tentar me agradar ou me impressionar com coisas que você não tem o menor conhecimento. — disse Plínio. — Afinal, qual é o seu interesse em me bajular? Por que, a toda hora, você tá cruzando comigo?

— Não, Plínio, é coincidência, só isso. — disse Fabinho.

— Pois parece que está me seguindo. — disse Plínio. — O que você quer de mim, rapaz? Seja franco e diga.

Fabinho ficou calado. Achava que ainda não era a hora de dizer a Plínio o que ele queria. Não era hora de contar a Plínio que ele era seu pai. E não seria bom dizer a Plínio que ele tinha interesse na herança. Não queria que o pai pensasse que ele só estava se aproximando por interesse. Antes, tinha de investigar mais, saber mais, precisava encontrar um modo de provar que era filho do Plínio. Senão, Plínio podia desconfiar que ele queria dar um golpe.

— Então? — Plínio insistiu. — Por que não diz de uma vez o que você quer comigo?

— Por que você está falando assim comigo? Você acha que eu te segui, que eu planejei te encontrar aqui? — disse Fabinho, dissimulado.

— E também acho que seria mais simples você poupar o seu tempo e o meu e ir direto ao ponto. O que você está querendo ou pretendendo comigo? Eu gostaria de saber.

Fabinho resolveu ser sincero, mas ainda não diria tudo. Não era hora.

— Tá bom. Eu te segui e eu planejei te encontrar aqui. E naquele dia que a gente se encontrou no MIS. — disse o rapaz. — Porque você, Plínio, é uma pessoa muito importante pra mim. Eu gostaria muito que você me admirasse, que você me conhecesse, que você gostasse de mim. E eu acabei tentando parecer mais inteligente, mais informado do que eu sou. Mas não funcionou.

— E por que eu seria tão importante pra você? — questionou Plínio. — Você, por acaso, quer ser cineasta ou tem alguma aspiração na área de cinema?

— Eu não posso dizer agora. — disse Fabinho. — Mas quando for a hora, eu te procuro. Eu vou te deixar em paz agora.

Fabinho já ia se afastando, mas Plínio tentou impedi-lo:

— Como assim? Como assim? Do que você está falando, rapaz? Espera!

— Até mais. — disse Fabinho, despedindo-se.

Saiu da galeria. Subiu na moto e foi embora.

À noite, passeava pela rua e parou em frente a uma banca de revista. Viu que uma das revistas tinha uma foto de Bárbara com os filhos adotivos. Resolveu dar uma olhada na revista. 

— Espera, pai. Eu vou provar que foi essa mulher que separou você da minha mãe. E aí, você vai me conhecer, vai saber o que eu passei, vai gostar de mim e vai me dar a vida que eu mereço.


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