Filha da Paixão: Uma Odisseia de Amor e Guerra escrita por Reader2000


Capítulo 5
Capítulo V - Theo




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   Enquanto arrumava as coisas no quarto novo, a avó apareceu discretamente:

     - Querido, você conhece bem a sua mãe. Sabe o quão teimosa ela pode ser. Então te darei um aviso. Nós saímos da Itália, mas você ainda não está seguro, existem monstros por aqui também. Talvez eles ataquem com menos frequência, mas vão atacar. Sua mãe tem um pequeno arsenal de armas de bronze celestial, como o da flecha que ela usou no Manticore, é um metal capaz de matar as criaturas... e também semideuses. Vamos te colocar em aulas de arco e flecha, equitação, esgrima. Você já tem feito aulas de artes marciais a vida toda, mas cuidado nunca é demais. Mas a questão é: você precisará lutar contra monstros para poder viver aqui e chegará uma hora em que isso se tornará pesado demais, eles chegarão em ondas contínuas porque sentirão o cheiro do seu poder. E não se engane, você é extremamente poderoso. Quando isso acontecer, preciso que venha até mim e me conte. Existe um lugar completamente seguro para você, mas a sua mãe não suporta a ideia de viver longe de você e de que você não tenha uma vida plena, cheia de coisas que um jovem normal deveria fazer - a avó colocou a mão nos ombros do garoto e olhou em seus olhos. - Mas você não é um garoto normal, Theo. É filho de um deus poderoso, e de uma família de artistas magnânimos; não há nada banal em você.

     O rapaz duvidou um pouco da expectativa que a avó colocou nele, mas concordou em avisá-la quando as coisas estivessem ruins. Acabou esquecendo disso por um bom tempo, porque nenhum monstro apareceu em meses. Theo aprendeu a surfar e passava a maior parte da tarde pegando ondas e tomando sol na areia. Seu cabelo ganhou degradês em loiro de tanta exposição solar e seu bronzeado era de dar inveja. Frequentava uma escola perto e fazia as aulas de combate que a mãe e a avó solicitaram. Quando os primeiros monstros chegaram, o filho de Apolo deu conta deles facilmente com flechas e em alguns combates diretos com uma faca de caça que Diana havia mandado fazer para ele com bronze celestial. Descobriu que o pai mandava uma remessa do metal anualmente para ela, para manter Theo a salvo. Conseguiu manter essa vida por cerca de 3 anos, sendo o jovem quase normal que sua mãe desejava, saindo com amigos, praticando esportes, indo a peças de teatro com a família e matando uns monstros aqui e ali. Conseguiu até mesmo se apaixonar, mas não tinha sido a melhor das experiências. O volume de monstros começou a aumentar ao mesmo tempo em que as brigas do casal surgiram, até que um dia ela partiu seu coração.

     Theo estava andando pela varanda à noite, sem conseguir dormir e pensando sobre tudo que tinha acontecido. Tinha cansado de chorar pelo amor traído. E ainda por cima estava em eterno estado de vigia, esperando um ataque a qualquer momento. Quase todos os dias, alguma fera o encontrava e tinha medo de que atacassem também a Diana e Giorgia se ele não fosse forte o bastante. Tomou um susto quando deu de cara com sua mãe o observando.

     - Dificuldade em dormir? - Ela perguntou.

     - Bastante.

     - O que houve? - Ela perguntou, lhe oferecendo uma xícara de chá e sentando-se num banco acolchoado. - Eu vi que ontem você entrou em casa como um furacão. Nunca te vi com tanta raiva.

     - Theo pensou em se desviar da conversa, mas reconsiderou. Sempre havia contado tudo para a mãe e a avó. Eram suas confidentes e melhores amigas. Aceitou o chá e se sentou ao seu lado.

     - Kelly e eu terminamos. Ela me traiu. Me trocou por um melhor. Mais forte, mais tatuado, mais inconsequente, mais corajoso. Um bad boy, como ela sempre quis que eu fosse.

     - Jamais gostei dessa garota - a mãe disse num muxoxo e passando as mãos nas costas do filho para o consolar.

     - Eu sei, só não queria que estivesse tão certa assim - ele respondeu cabisbaixo.

     - Eu também não. Eu sinto muito mi amore, mas essa foi só a sua primeira paixão. Outra virão, melhores e acompanhadas de uma pessoa mais íntegra e certa para você.

     - Não sei não. Acho que estou de saco cheio de amores.

     - Tudo bem tirar um tempo para curar o coração, filho. Mas não se feche para o amor. Ele aparece quando você menos espera. Nem sempre tem um final feliz, mas frequentemente ele vale a pena enquanto dura. Vou te contar uma história - ela colocou as xícaras na mesinha ao lado e puxou o filho para deitar em seu colo, fazendo cafuné em seus cabelos. - Seu pai me viu pela primeira vez enquanto eu cantava ópera em um teatro majestoso de Roma. Ele disse que passeava pela cidade, quando ouviu a música e decidiu que tinha que entrar para ver quem era a cantora. Depois da apresentação, enquanto eu me arrumava no camarim, ele apareceu com um buquê de lírios e um sorriso deslumbrante. Disse que para cantar dessa maneira, tinha mesmo que ter o nome romano de sua irmã, Diana. Ele era jovem, despojado e me encheu de elogios, disse que minha voz era como o som da primeira lira que ele havia tocado. Eu não acreditei no início que ele era um deus, mas ele me levou para passear em sua carruagem voadora e vimos o Sol nascer de cima de uma colina, com um campo de flores lindas se estendendo pelo vale. Apolo ia me cortejar todos os dias daquele verão e assistia a todas as minhas apresentações, me levava em seguida para jantar nos lugares mais exóticos. Uma vez fez até um jantar à luz de velas em pleno Coliseu. Vivemos um amor de verão digno de Shakespeare, até ele precisar de dedicar mais às suas funções e se despedir de mim. Quando descobri que estava grávida de você, rezei a ele e ele veio me visitar. Estava feliz, radiante. Me deu o colar que você usa hoje no pescoço - Theo passou a mão pelo pingente dourado em forma de lira. Achava que sua mãe havia ganhado pelos seus dons musicais em alguma peça. - E também me deu uma bênção, dizendo que jamais me faltaria emprego na música. Falou que eu não precisava, por meu nome de família e minha voz, mas queria garantir. Desde então ele me manda bronze celestial com frequência e também mandou vários instrumentos musicais enquanto você crescia. Quase todos que estão no seu quarto hoje são presentes dele.

     - Por que nunca me contou?

     - Bom, falar sobre isso dói um pouco. É uma das minhas melhores memórias, então gera saudades - Diana olhou para o céu, nostálgica. - E eu gostaria que você se sentisse por mais tempo como um garoto comum.

     - E você nunca se ressentiu dele ter te deixado? - Theo franziu a testa.

     - Não. Ele me disse desde o começo que não poderia ficar por muito tempo e eu aceitei. Por isso te disse que estar de coração aberto pode te trazer coisas maravilhosas. Claro que eu senti falta dele e que gostaria que estivesse comigo quando você nasceu ou cantou pela primeira vez. Mas, se eu não tivesse aceitado o tempo que tive com ele, não teria uma história tão feliz para lembrar e um filho tão incrível para amar. Um pedacinho dele que ele deixou comigo.

     Theo sorriu para ela, mas logo o sorriso se desfez e ele se sentou de frente para a mãe.

     - Madre, eu preciso ir - achou que ela iria fazer perguntas, mas ela só suspirou, emotiva. - Estou sendo atacado todos os dias. Temo chegar a hora em que não vou perceber a presença de um deles e colocar você e vovó em risco. Ela me disse que há um lugar seguro para ficar.

     - Infelizmente, acho que tem razão, querido. Eu segurei você comigo por tempo demais. É hora de você encontrar os seus semelhantes.

     E foi assim que Theo chegou ao Acampamento Meio-Sangue havia 5 anos, quando tinha 15. Como já tinha feito vários treinamentos, pegou logo o ritmo das aulas e desafios e logo já estava bem integrado entre os campistas. Com seu jeito gentil e simpático, tinha conquistado logo todos à sua volta e seus irmãos o admiravam pela habilidade em arquearia em cima de um cavalo. Seus testes na cozinha também ajudava a fazer amigos, tinha muito jeito para cozinhar. Sem as belíssimas praias da Califórnia para surfar e Diana e Giorgia para passear, o garoto se dedicou a aprender novas funções.

     Se apaixonou pela medicina e aprendeu sobre ervas medicinais, compostos e comportamentos naturais que geram cura. Aprendeu um pouco sobre magia e profecias com os irmãos, mas não eram suas melhores habilidades, lhe demandavam muito esforço. Adorava conversar sobre arquitetura e design com Annabeth e os dois ficavam horas reconstruindo mentalmente os maiores monumentos da história na visão deles. Gostava de jogar basquete, vôlei e praticar esportes aquáticos com Percy.

     Um dia, o filho de Poseidon usou seus poderes para criar ondas fenomenais na praia do acampamento e Theo ensinou uma galera a surfar. Como ficava no acampamento o dia todo, tinha pilhas de livros de faculdades e vários cursos baixados no notebook, já que não podiam usar a internet por causa dos monstros. Quando ia visitar a mãe e a avó, que tinham se mudado para Manhattan para ficarem mais próximas dele, Diana baixava os conteúdos para ele. Seus interesses eram diversos, entre Psicologia, Farmácia, Gastronomia, Arquitetura e claro, vários sobre artes e talentos na área, mas seu amor maior sempre fora a música. Tinha ouvido absoluto e conseguia tocar qualquer instrumento, adorava compor e tinha uma bela voz, mas preferia tocar do que cantar.

      Tentou se aprimorar em outros tipos de armas além do arco, como espadas e lanças e até conseguia se virar, mas sem nenhum destaque. Se fosse para lidar com lâminas, preferia facas de caça, ótimas para pegar o inimigo de surpresa quando ele se aproximava demais e para serem lançadas no alvo. Na guerra contra Cronos, havia liderado a arquearia nos momentos em que Will estava ocupado como curandeiro, se destacando na estratégia de batalha e levando o chalé de Apolo a um novo nível de velocidade de resposta ao inimigo. Também lutou contra as forças de Gaia, dessa vez focado com sua faca de caça e no corpo a corpo. Nunca teve uma posição de muito destaque nem havia saído para missões, até Will lhe confiar o cargo de conselheiro-chefe e seu chalé aprovar. Desde então vinha se esforçando mais do que nunca para merecer essa confiança.

     Theo se perdeu tanto no tempo lembrando de sua trajetória até ali que mal percebeu o Sol baixando enquanto procurava as ervas aos pés de algumas árvores. Quando deu por si, a iluminação já estava baixa e tratou de sair dali rapidinho antes que algum monstro o encontrasse. Guardou sua coleta no chalé, num local adequado, tomou um banho e guiou a fila do chalé de Apolo para o pavilhão de refeições. Foi um jantar animado, estavam todos empolgados com o começo do verão e a quantidade de campistas ao redor, quase duas centenas, depois do esforço de Piper e Jason para aproximar mais outros deuses e, consequentemente, seus filhos semideuses. Reparou que Quíron não estava sentado à mesa principal. Ele viu o centauro chegar mais tarde, quando voltava da fogueira para o chalé. Seu semblante estava pesado quando ele entrou na casa grande.

     No outro dia, assim que o Sol raiou, Theo ouviu batidas leves na porta do chalé e foi atender. Encontrou no chão um bilhete, escrito:

Reunião do Conselho imediata na Casa Grande. Conselheiro-chefe, venha com urgência. 

 


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Notas finais do capítulo

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