A escola pareceu bem comum e normal aos irmãos Suli. As carteiras eram normais e as paredes estavam recém-pintadas, o que causou boa impressão a eles. Enquanto Natan preferiu sentar no fundo, pensando que as outras carteiras já tinham dono, Karla fez o mesmo porque não queria ser incomodada. Já Lucas, sentou-se no fundo porque gostava de fazer parte da turma do fundão.

Tainara foi a única que sentou bem na frente, querendo prestar atenção na professora.

—Relaxa, vai dar tudo certo - Natan declarou para a irmã, vendo que ela estava cabisbaixa - qualquer coisa, eu estou aqui.

—Eu sei, eu agradeço por isso - ela sorriu, por mais que também quisesse que o irmão se preocupasse um pouco mais com ele mesmo.

Eles ouviram o sinal bater e a sala se encheu dos seus agora companheiros de turma. Alguns olharam para os dois, com certeza estranhando os novatos ali. 

Um garoto em particular olhou com certo interesse em Karla, o que fez Natan ficar de olho nele automaticamente. Primeiro, para o mais velhos dos Suli, achou que era mera curiosidade, depois se tornou um certo desdém. Ele fez questão de olhar para o garoto de forma séria. 

Por outro lado, o aparente amigo do senhor encarador parecia mais gentil. Ele se sentou na frente de Karla, chegando a se virar pra trás.

—Desculpa perguntar, mas vocês dois são os alunos novos? - ele quis saber.

—Isso, eu sou o Natan, essa é a minha irmã Karla - respondeu ele.

—Oi - ela respondeu timidamente.

—Eu sou o Rian - se apresentou o garoto - vou falar pra vocês, deram a sorte de sentar em lugares que ninguém senta.

—Foi por isso que sentamos aqui - Natan explicou.

—Vocês já pegaram o horário? - Rian perguntou querendo ajudá-los.

—Ah não, a gente só sabe que essa é nossa turma porque meu pai contou depois de fazer nossa matrícula - confessou Natan.

—Bom, a primeira aula hoje é de matemática, professora Roseli - Rian explicou - ela pode ser meio chata, mas explica bem, só detesta conversa na aula dela, ela manda direto pra coordenação.

—Obrigada por avisar - Karla o achou muito gentil.

Não demorou para que a tal professora chegasse, assim a aula do 1° ano tinha começado.

—Eu conheço esses dois - o encarador de Kiri sussurrou para Rian.

—Como assim? - seu amigo ergueu as sobrancelhas, sem entender.

—Te explico depois - o outro garoto prometeu.

Enquanto isso, na sala do 9° C, um certo nervosismo tomou conta de Lucas, fazendo-o balançar as pernas freneticamente. Podia parecer orgulhoso e descontraído perto dos irmãos, mas a realidade podia ser bem diferente agora que estava por conta própria. O sinal bateu e ele esperou pelo começo da aula.

Ele ajeitou o caderno e o estojo por cima da mesa, mas sem deixar de notar duas meninas conversando e olhando para ele, de modo nada discreto.

—Qual o problema, Laís?  - Tamires perguntou à amiga.

—Tem um garoto novo no meu lugar, como é que eu vou pedir pra ele sair dali? - Laís constatou seu problema.

—Como assim? Quem? - Tamires se virou para trás, de modo que seu cabelo solto, comprido e cacheado, rebateu em suas costas.

Quando ela viu Lucas, o reconheceu de imediato. O garoto magricela, com o boné pra trás e o cabelo comprido de trancinhas preso por debaixo do boné, menos as duas que caiam sobre seu rosto, era seu vizinho skatista que tinha enfurecido sua mãe. Vendo-o o mais de perto, teve que admitir que o achava bonito.

—Espera um pouco - Tamires saiu de seu transe para ajudar a amiga.

Lucas não pôde acreditar quando aquela menina bonita e simpática estava indo diretamente em sua direção.

—Oi, tudo bem? - ela foi gentil, falando diretamente com ele - eu não sei se você me conhece, mas eu acho que te conheço.

—Nós? Eu não sei como - ele respondeu com um sorriso contido, ainda surpreso com a abordagem.

—Você acabou de se mudar, não é? Você anda de skate e seu pai tem um carro azul - ela citou as características que conhecia - seu pai... meu pai contou que ele chama Tiago.

—Eita, você é adivinha? Acertou todas! - Lucas se espantou - sabe meu nome também?

—Ainda não, esse eu não adivinhei - Tamires riu do bom humor dele - eu sou sua vizinha da  frente, meu nome é Tamires.

—Oi, Tamires, quer dizer que você é fi... - ele pensou que ela era filha daquela mulher surtada do jardim, mas segurou a língua - legal te conhecer, eu sou o Lucas, eu e meus irmãos estamos estudando aqui também.

—Legal, seja bem vindo - ela desejou com um sorriso - eu só queria te pedir um favor agora.

—Claro - ele estava disposto a ajudar.

—Você sentou no lugar da minha amiga Laís  - ela explicou e a amiga dela deu um sorriso sem graça, mostrando quem era.

—Ah desculpa, eu não sabia, erro de novato, sabe?  - Lucas sorriu.

Ele gentilmente tirou suas coisas dali, procurando outro lugar para se sentar.

—Pode sentar do meu lado, se quiser - Tamires ofereceu, enquanto Laís franziu as sobrancelhas atrás dela.

—Brigado - Lucas olhou para ela, agradecido, já se sentando no lugar indicado.

Tamires deu outro sorriso para ele, aliviada por tentar desfazer um pouco da má impressão que com certeza a mãe dela tinha deixado.

Tainara também teve a sorte dos irmãos, uma garotinha tagarela, chamada Lívia, a avistou como novata e deu um suspiro animado antes de fazer uma porção de perguntas.

—Você é nova? Qual seu nome? Você tá morando em Meticaína agora? - ela perguntou.

—Sim, eu sou - Tainara sorriu de volta - eu sou Tainara Tiscarra Suli, tenho 7 anos, moro em Meticaína agora, mas eu vim de Omaticaia.

—Omaticaia? Já ouvi falar, é legal lá? - Lívia quis saber.

—É sim, eu sinto falta de lá, mas agora tô começando a me acostumar - contou a Suli mais nova - espera, você não me falou seu nome.

—Hum, verdade, eu sou a Lívia - ela se apresentou - quer ser minha amiga?

—Sim! - Tuk chegou a dar um gritinho de empolgação - eu trouxe bolo de chocolate pro recreio, você gosta?

—Eu amo bolo de chocolate! - Lívia contou completamente empolgada.

Foi assim o primeiro dia dos Suli, tendo a sorte de ao menos encontrar alguém disposto a ajudá-los. Talvez a escola nova não fosse tão ruim assim.